Quando cheguei na primeira aula do dia, biologia, Edward já tinha chegado, mas estava sentado literalmente no meio da sala. Nossos olhos se conectaram por um momento, mas eu os desviei rapidamente. Depois do drama que eu tinha feito ontem por ele não ter vindo, fiquei mais que satisfeita quando simplesmente não agi que nem uma idiota por ele estar lá hoje. Minhas amigas fizeram de tudo para que eu não lembrasse dele ontem, e eu fiquei emocionada com a atitude delas que, de fato, foi um dos melhores dias naquela escola. Eu tinha amigas legais que se importavam comigo.

Fui para o meu lugar convencional e falei com minhas amigas normalmente. Eu estava tentando ao máximo não virar meu rosto para onde Edward estava sentado, e nesse ignora, não nos falamos até a terceira aula, que seria inglês.

— Se ele não estiver um idiota, pergunte se está melhor — aconselhou-me Nessie. Graças a Irina, sabíamos o porquê dele ter faltado ontem, tinha passado mal. — Senão, deixe para lá.

— Vou perguntar se ele teve um coma alcoólico — brinquei.

Edward tinha a péssima mania de beber, e muito. Se você quer ver esse menino conversar, discuta sobre bebidas com ele. O garoto já deve ter provado de tudo, inclusive álcool puro.

— Que coma alcoólico o quê! — repreendeu-me ela. — Não se esqueça, seja simpática.

— Não irei sentar perto dele na aula de química hoje.

— Por quê?

— Você não viu o que ele fez na aula de história na terça? — indaguei indignada. — Ele se afastou de mim, como se tivesse nojo!

— Ele não fez isso, deve ter pensado que queríamos mais espaço quando eu disse que estava apertado.

— Não foi — insisti e ela me ignorou.

Quando eu subi, ele estava lá, do lado de fora da sala. O professor ainda estava dando aula à turma anterior a nossa. Eric tinha me acompanhado, e Quil estava enchendo o saco de outra sala vizinha. Edward me olhou e saí de perto dele, indo ler os avisos do curso a noite que estava pregado no mural na parede. Fingi que aqueles papéis eram superinteressantes, e senti um olhar queimando sobre mim. Eric estava alguns passos atrás, e Edward alguns ao meu lado.

Ele veio em minha direção e parou, lendo os papéis também. Meu coração disparou naquele momento e fechei os olhos com força. Por que ele fazia essas coisas comigo? Ignorei-o mais uma vez e ele, parecendo se tocar, saiu do meu lado e voltou para onde estava. Respirei fundo e virei para encará-lo.

— Piores poderes de vampiro, brilhinho em primeiro lugar — gozou, mexendo os dedos de forma cômica.

Era muita falta de papo entre a gente mesmo. Edward só tinha assunto comigo quando era para esculhambar minha Saga amada.

— Se tivesse um Top 5 dos garotos mais idiotas do mundo, Edward ganharia em primeiro lugar — Eric se acabou de rir de minha ironia.

Edward sorriu, satisfeito por eu ter entrado em sua brincadeira.

— Pelo menos isso não é gay.

— É sim — contrariei-o, olhando diretamente em seus olhos. Sempre quando isso acontecia eu era a primeira a quebrar a conexão. Era como se ele pudesse ler minha mente e seu sorrisinho presunçoso apenas afirmava “Eu sei que você gosta de mim”.

Quil agora estava do nosso lado.

Edward começou a cutucar minha testa com seu dedo, como sempre fazia.

— Para, Edward — pedi entediada, enxotando seu dedo como se fosse um mosquito chato voando perto de mim. Quil nos encarava fixamente.

O professor abriu a porta e logo entramos na sala, sem esperar a outra turma sair. Joguei minhas coisas na cadeira no meu fiel canto, mas havia um pequeno tumulto ao meu lado, já que o povo da outra turma ainda estava catando suas coisas para sair. Acabou que Edward teve que sentar do outro lado da sala. Quando a última pessoa vazou, eu levantei com meu lindo texto que tinha escrito para tirar minhas dúvidas com o professor.

Por todo o momento, Edward não tirou os olhos da gente, morrendo de curiosidade para saber sobre o que era.

— Mas o que você quis dizer nessa frase aqui? Eu deixaria com o “to” mesmo.

— É no sentindo de se apaixonar — expliquei, referindo-me ao trecho “Think twice before you look different to someone”.   

Ele continuou me explicando e quando terminou fui para minha cadeira. Os garotos estavam entregando a atividade da semana passada a ele. Nem Edward nem eu fizemos.

— Bella, vem cá — chamou-me Edward. Fiquei tão feliz por estar sendo chamada por ele, ainda estava com o texto na minha mão. Parei ao seu lado. — Rock, paper or scissors?

Eu confesso que ainda estava deslumbrada por Edward ter me chamado, tanto é que não estava pensando direito quando eu disse “paper” e fiz o símbolo de papel na mão. Deus, como eu era idiota!

— Mas você disse o que ia colocar, maluca! — disse ele, recolhendo a mão e me olhando como se eu fosse a pessoa mais idiota do mundo. Naquele momento eu era mesmo.

— Eu sei — falei em meio a risadas, fingindo ter feito aquilo de propósito. Tratei logo de sair perto dele, sua presença me afetava. Ele me acompanhou com os olhos até eu me sentar.

Idiota. Idiota. Idiota. Você estragou uma oportunidade perfeita!

Ele chamou o professor para jogar, e pelo visto, o professor também fez algo errado. Edward devia estar pensando nesse momento que nenhum de nós tivera infância, pois não sabíamos jogar seu joguinho besta.

Eric voltou ao seu lugar — atrás de mim — e me explicou que Top 5 tinha feito no seu dever, “As melhores sagas de todos os tempos”. Esse era a atividade que o professor passara semana passada. Pedi para ler e comecei a abraçar o papel e girar o corpo de um lado a outro.

— Awnnnnn, a Saga Crepúsculo está em terceiro lugar!

Edward me olhou e disse:

— Eu ia fazer as melhores séries.

— The Vampire Diaries em primeiro lugar! — tratei logo de dizer.

Ele me olhou, sério.

— Não!

— Once Upon a Time então!

— Também não — revirou os olhos. — Em primeiro lugar estaria The Big Bang Theory, em segundo Supernatural e em terceiro The Walking Dead.

Ele iria se dar bem com minha melhor amiga, Alice, já que tinham gostos parecidos.

— E depois The Vampire Diaries e Once Upon a time!

— Não! Eu iria procurar outros.

O professor começou a dar aula, hoje estava falando sobre legenda e dubladores. Para isso, colocou um trecho de um filme original e depois dublado. No meio do filme meu celular começou a tocar, chamando a atenção de todos, tratei logo de desligá-lo.

— A atividade de vocês será a seguinte: vocês terão que montar um discurso político com exatamente 30 segundos em português. Essa atividade terá duas fases. Semana que vem vocês deverão trazer o seu discurso em inglês, então iremos gravar um vídeo e o seu colega irá dublar em português.

— Vídeo? Vai filmar a gente? — perguntei preocupada.

— Não, será só o áudio.

— Vamos ficar famosos — disse Eric, brincando. Edward e eu rimos.

— Então, por exemplo, o dublador da Bella será Edward — disse o professor, continuando. Olhei para Edward e me acabei de rir de sua cara cômica. — Ele irá ter que acompanhar o áudio dela e as convicções em sua voz.

— E Bella vai dublar quem? — ele perguntou, rindo.

O professor riu.

— Comecem logo, darei o visto ainda hoje.

Eu não fazia ideia do que escrever.

— Eu não quero ser prefeita — murmurei.

— Você pode ser vereadora, presidente, rainha...

— Então vou ser rainha — brinquei e Quil se acabou de rir. Jessica dois esse.

Edward acabou primeiro. O professor veio com um cronômetro para ver se tinha atingido a meta, então ele leu seu discurso. Parei para encará-lo, os outros estavam ocupados fazendo o deles.

— ... vote no Edu! — terminou, sorrindo para mim. Derreti-me toda nessa hora.

— 16 segundos.

— Leia o seu agora — Edward pediu, ainda sorrindo para mim.

— Não terminei ainda, espera.

Mais alguns minutos e terminei de escrever meu discurso falido. Chamei o professor para gravar o meu. Ninguém parou para escutar, apenas Edward. Confesso que teve uma hora que fiquei com vergonha; assim como eu, ele não havia desviado os olhos de mim um minuto sequer. 22 segundos.

— Ahá! — gabei-me, olhando-o. — Você tem que colocar emoção na fala e dizer mais devagar. — Joguei meus cabelos para trás de um modo dramático, e Eric riu. Edward não tirava os olhos de mim.

Quil terminou um tempo depois, e reparei que dessa vez Edward não o olhou. E nem quando Eric leu o seu. Muito estranho...

Edward acrescentou mais no seu discurso e pediu novamente para ler, dessa vez ficou em 27 segundos.  Ele pediu que o professor colocasse o cronômetro em sua frente, pois ficaria melhor para calcular o tempo; atingiu 30 segundos certinho dessa vez. Quil também obteve sucesso na atividade, assim como eu. Eric que demorou um pouco mais.

Ao sairmos da sala, por incrível que pareça, Edward desceu na frente, ao meu lado.

— Vote em Bella e você ficará purpurinado. — Revirei os olhos.

— Começando por você, irei te pintar com purpurina preta, para combinar com sua personalidade.

Nossos braços se tocavam de tão juntos que estávamos.

— Deus é mais — murmurou, empurrando-me de leve. Chegamos no final das escadas e viramos o corredor, ele ainda do meu lado. — Eu aperto o seu pescoço antes — brincou e veio para cima de mim, segurando meu pescoço de forma dramática. Puxei sua mão e disparei na frente, rindo.

— Idiota!

A aula de química, para minha surpresa, foi em nossa sala mesmo. Hoje a professora iria fazer uma espécie de jogo. A sala foi dividida em cinco grupos, sendo que o de Edward ficou ao lado do meu. Elaboramos as perguntas que deveriam ser feitas de um grupo para o outro e ficamos batendo papo. Edward fazia as do grupo dele sozinho, fiquei com pena por alguns segundos, mas era escolha dele estar lá.

Ao começar o jogo foi uma confusão atrás da outra. Minha sala não era o modelo perfeito de união, pelo contrário, estava bem longe disso. A professora de química havia feito um jogo como esse no começo do ano. Meu grupo preparou questões dificílimas, achando que os demais fariam o mesmo. Como no sorteio caiu que perguntaríamos a um grupo arrogante do fundo — cuja maioria era tirada a sabichão —, colocamos a pior de todas para eles responderem, e lógico, não conseguiram.

Temíamos que eles se lembrassem desse ocorrido; como um modo de levantar a bandeira branca, preparamos questões mais fáceis dessa vez. Edward ficara no mesmo grupo que esses meninos e, pelo seu interesse nas aulas de química passadas, já esperávamos questões bombásticas.

Dito e certo, de todos os grupos, apenas os deles fizeram esse tipo de questão. O fuzuê tomou conta da sala, e hora ou outra eu pegava Edward me olhando fixamente, sendo que duas vezes eu tive que desviar o olhar, tamanha era a intensidade e sua insistência.  Reparei que nessas conexões eu era sempre a primeira a desviar, e isso porque já tínhamos ficado segundos naquele jeito. Mas e se eu não desviasse? Eu tentaria isso da próxima vez.

Depois da confusão a professora achou melhor nos liberar logo antes que cadeiras voassem. O grupo dos sabichões estava reclamando, dizendo que dessa vez as pessoas resolveram colaborar, enquanto eles continuaram na briga. Edward, indignado, pegou suas questões elaboradas e veio reclamar com a gente, mostrando como estavam difíceis.

— Olhe, Bella — disse, mostrando-me o papel. — Eu perguntei ao Quil a mais fácil de todas.

Eu não tinha achado a do Quil fácil, havia muitas perguntas, uma dentro da outra. Imagine como estavam as outras...

Depois do incidente, fomos todos embora, e não tive mais contato com Edward. Amanhã não haveria aula, então só nos veríamos na semana que vem; eu rezava para que ele estivesse em seu melhor humor.