Só mais uma história de amor escrita por Sali


Capítulo 23
Do som, do ar, do tom, da voz e de nós.


Notas iniciais do capítulo

Olá, moças.
Sim, estou de volta. O lapso criativo ainda não passou e os dez reviews - recorde aqui, diga-se de passagem - no capítulo anterior me encorajaram bastante.
Bom, o título desse capítulo é inspirado na música Um Branco, Um Xis, Um Zero, da Cássia Eller. Não tem muuito a ver com o capítulo, mas é uma das músicas que eu ouvi para servir de inspiração. As outras foram All The Things She Said - T.a.t.U., The Con - Tegan and Sara, Light Up - Tegan and Sara, Walking With a Ghost - Tegan and Sara e... Acho que só. São as que eu lembro agora.
O capítulo de hoje tá bem curtinho (provavelmente o mais curto da fic), mas tem lágrimas, drama e choro, como toda boa história de amor. Aproveitem :3



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Eu não gostava de Isabel. Não nutria nenhum traço de amor ou paixão por ela. Mas, quando ela me beijara, eu simplesmente não consegui ter uma reação. Talvez fosse por culpa do meu sentimento mal-resolvido ou apenas por causa do choque, mas eu não consegui pensar com coerência até ouvir o rangido da porta, e ver o vulto que era a minha namorada.

Quando eu identifiquei seus cabelos e a camisa azul-escura, senti um aperto tão forte dentro de mim que perdi o chão por alguns instantes. Sem conseguir olhar para Isabel, saí do banheiro com passos apressados, com uma culpa esmagadora a tomar o meu corpo. Deixei o prédio sem diminuir o ritmo, procurando em todas as pessoas o rosto de Mariana.

– Júlia! O que aconteceu? – A voz de Ana me despertou e eu vi que havia esbarrado nela enquanto andava.

– Mari! Vocês viram a Mari? Ela passou por aqui? – Perguntei a beira do desespero.

– O que aconteceu, Júlia? Calma, relaxa. O que está acontecendo? Por que a Mari estava daquele jeito e por que você está assim? – Pedro perguntou.

– De que jeito? Como ela estava? – Perguntei, aflita.

– Não sei, Júlia. Ela saiu daqui correndo, chorando, eu acho. Passou pela gente como se nem tivesse visto. Foi para o estacionamento. O que aconteceu?

Senti como se meu coração estivesse se partindo. Mariana nunca chorava.

– Júlia! – Ana sacudiu meus ombros. Eu estava em choque.

– Preciso ir. – Respondi baixo, vagamente, e me dirigi com pressa para o estacionamento.

Ao chegar ali, comecei a procurar inutilmente pela moto azul de Mariana. Obviamente, ela não estava lá, e muito menos a sua dona.

À beira das lágrimas – lágrimas de ódio de mim mesma, por ter cedido à Isabel, e de culpa, também – entrei no meu carro e dirigi quase por instinto em direção ao prédio de Mariana.

Ao chegar ao meu destino, tive de secar meus olhos e o rosto, respirando fundo antes de sair do carro. Ainda assim, estava trêmula o bastante para ter de me segurar na porta até firmar meus passos suficientemente para andar. Meu estômago se embrulhava, mas eu não podia fraquejar; precisava falar com ela.

. . .

Eu não fazia ideia da velocidade que havia usado na moto, mas eu tinha a impressão de ter chegado ao meu prédio em tempo recorde. Ou talvez isso se devesse ao estado de transe em que eu me colocara desde a hora que eu saíra do prédio do campus, isolando-me dos meus sentimentos e de tudo que acontecia ao meu redor.

E continuei assim até, finalmente, entrar no meu apartamento. Ali, encostei-me à porta de entrada e finalmente deixei que meus sentimentos todos fluíssem em forma de lágrimas, que desciam em torrentes pelo meu rosto, junto àqueles sentimentos torturantes que me atingiam como pancadas. Com uma dor que parecia ultrapassar a barreira emocional, tornando-se quase física, sentei no chão. Com as costas contra a porta de entrada e os braços apoiados nos joelhos, me permiti lembrar do que eu acabara de ver.

O que me devastava não era Júlia ter beijado Isabel. Esse fato, isolado, podia ser compreendido errado, como acontecera quando Fernanda, a garota com quem Ana ficara, me beijou a força. O que realmente me doía era o modo que Júlia abraçara Isabel e correspondera ao seu beijo, em vez de afastá-la.

Meu sentimento não era de raiva, ódio ou qualquer coisa do tipo. Nada direcionado à Isabel. Era apenas uma dor, uma tristeza imensa, uma sensação de perda tão forte que parecia transformar meu chão em céu, em abismo.

Apoiei os cotovelos nos joelhos e deslizei os dedos pelos meus cabelos, agarrando-os sem força e deixando que as lágrimas descessem torrencialmente pelos meus olhos, acompanhadas de soluços que faziam meu corpo inteiro tremer.

De repente, ouvi batidas na porta onde eu estava encostada e levantei a cabeça, secando o rosto molhado com as palmas das mãos.

Mari? Mari!

Mordi o lábio inferior, ouvindo a última voz que eu gostaria de ouvir naquele momento: quem batia era Júlia.

Baixei a cabeça e agarrei novamente meu cabelo, sem me mover ou dizer nada, esperando que ela simplesmente fosse embora. Eu não confiava na minha voz, e não queria falar com ela.

Mari! Eu sei que você está aí. Me responde, por favor. Eu quero falar com você. Por favor, Mari.

Fechei os olhos, sentindo ainda mais lágrimas descerem pelo meu rosto. Através da porta, a voz de Júlia parecia triste e desesperada, e eu sentia uma mão invisível agarrando o meu coração, tentando puxá-lo para fora de mim.

Suspirei.

– Eu não quero falar com você. Por favor, vai embora.

Houve uma pausa, e eu ouvi um som que pareceu o de alguém se encostando do outro lado da porta.

Por favor, Mari. Me escuta. Eu não... Eu...

Soluços soaram do outro lado da porta. Dei um soco no chão e me levantei, me virando e encostando a testa junto à madeira.

As palavras que eu disse depois, mal lembrei. Mas, depois que finalmente ouvi os passos de Júlia se afastando, senti meu coração doer como se houvesse sido quebrado e bati com força na porta de madeira, voltando a sentar no chão e deixando que mais lágrimas descessem pelo meu rosto.

. . .

Quando chamei seu nome, ela não me respondeu.

Mordi com força o lábio, tentando segurar as lágrimas.

– Mari! Eu sei que você está aí. Me responde, por favor. Eu quero falar com você. Por favor, Mari. – Eu implorei, entrando em desespero.

A resposta não demorou. Ela não queria falar comigo.

Encostei a testa contra a madeira, tentando não soluçar

– Por favor, Mari. Me escuta. Eu não... Eu...

Ouvi alguns ruídos do lado de dentro do apartamento, soluçando sem conseguir me conter.

Eu não quero te ouvir agora, Júlia. Me deixa em paz. Amanhã nós conversamos.

Senti vontade de gritar. Ou de arrombar aquela porta. Ou de... Eu não sabia. Meus sentimentos se confundiam. A tristeza se fundia ao ódio, à mágoa, e tudo saía em forma de lágrimas. Eu nunca me sentira tão devastada por dentro, e nunca imaginara que havia dor tão extensa em ser a responsável pela dor da pessoa que ama.

Suspirei, derrotada.

– Tudo bem. – Respondi, sem conseguir parar de chorar. – Eu te amo, Mari.

Eu sabia que não haveria resposta, mas aguardei por ela alguns segundos antes de finalmente começar a andar em direção ao elevador.

Quando a porta dele se abriu, ouvi um som que se assemelhava a uma pancada forte na madeira, mas ignorei, adentrando o elevador e sentindo o silêncio oco da dor que o choro de Mariana causava em mim.


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Notas finais do capítulo

Sim, são três PoVs. Foi o melhor jeito que eu consegui. De qualquer forma, espero que tenham gostado do cap dramático. O próximo vai ser ainda mais, mas aí acaba o drama (ou não u_u).
Enfim. Agradecimentos especiais às leitoras novas e todas as moças que comentaram. Vocês deviam comentar mais, poxa.
Well, é isso.
Até mais o/



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