A Fabulosa Mooresville escrita por Luma


Capítulo 3
Capítulo 3 - Sangue e Poeira


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demoraaa!!!!!!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/280642/chapter/3

A cada passo que nós dávamos era mais um rangido da velha escada. Era linda, sem dúvidas, mas o medo que ela desmoronasse era cada vez maior. Há quanto tempo ninguém pisa naquela escada? Pelo que eu me lembro o quarto dos meus avós sempre fora no primeiro andar.


Com muito cuidado nós conseguimos chegar à porta que abria para o segundo andar. Estendi minha mão hesitantemente e envolvi a maçaneta enferrujada, fazendo um pouco de força para direita. A maçaneta fez um barulho estranho, mas a porta não abriu.



O que abriu foi a minha mão.



Do pequeno corte da palma saia um pequeno filete de sangue e escorria até meu punho. Soltei um grunhido e estanquei o corte com a blusa, eu devo ter pegado tétano.



–Acho melhor nós acamparmos lá na sala. Sabe-se lá o que podemos encontrar atrás dessa porta, que por sinal está querendo dificultar nossa entrada. Vamos obedecê-la! – Mary sussurrou me dando um susto e puxou meu braço pra trás, o qual eu sacudi levemente para fazê-la me soltar.



–Deixa de ser medrosa. Eu quero dormir numa cama, não num sofá. Pode ir se quiser. –Falei e envolvi novamente a maçaneta, só que dessa vez eu estava usando minha blusa como proteção. Usei toda a força que tinha e a porta continuava fechada.



–Tenta girar pro outro lado. –Mary falou e eu quase a chamei de idiota, mas nada naquele lugar parecia normal, a maçaneta também poderia ser diferente.



Girei a maçaneta novamente, só que dessa vez para a esquerda. Estiquei levemente o braço e a madeira velha se rendeu aos poucos deixando a porta abrir. Olhei para Mary que me encarava com um sorriso tímido, pude perceber que suas mãos tremiam.



Empurrei a porta novamente, dessa vez abrindo o suficiente para uma pessoa magra passar. Um bafo quente e úmido bateu no meu rosto. Mofo, madeira, um fraco cheiro de canela e novamente o cheiro de livro antigo. Cheiro de casa com personalidade, viva por mais de cem anos, carregada de histórias.



A tosse tomou conta de nós duas. Mary abanava o ar e eu tampava o nariz e a boca com a blusa. Tomei coragem e entrei no corredor. Logo a minha frente estava à escada que dava para o terceiro andar. Olhar para ela me fez estremecer. Podíamos avistar a porta mesmo com quase nenhuma luz, e nela, além de uma fechadura comum, havia outras três pesadas e corpulentas. Seja o que for que estivesse ali dentro, não era a intenção que nós descobríssemos.



O longo corredor tinha seis portas e em cada extremo uma janela. O chão de madeira estava coberto por uma espessa camada de poeira e pegadas ficavam para trás a cada passo nosso. Minúsculas partículas dançavam a nossa volta, saindo do papel de parede vinho desbotado e se apresentando para nós, pareciam pequenas fadas agradecendo a nós por termos as libertado. Aquilo de certa forma me assustou, não havia luz suficiente para fazer as partículas de poeira brilhar.



Continuamos andando até chegar a última porta. Dessa vez quem a abriu foi Mary, que empurrou a porta e se afastou. Ri da reação dela e adentrei no quarto, deixando minhas malas e uma da Mary no canto. O quarto era um breu total, e dentro dessa escuridão toda eu tateei a parede até encontrar o interruptor. As luzes piscaram, devido ao longo tempo sem uso, mas logo se acenderam.



O quarto era maravilhosamente mobiliado com os móveis do conde Drácula e decorado ao excentricamente. Caminhei cuidadosamente pelo quarto, passando os dedos na estante repleta de perfumes e pequenas caixas de músicas. Aquele quarto era o da minha avó e do meu avô. A cama estava coberta por um lençol que no passado era branco, mas agora era amarelado. O quarto era lindo, mas o jeito que foi descuidado por todos esses anos o deixou sinistro. A porta do armário estava aberta, e apoiado nela estava um cabide com um vestido florido que devia dar numa mulher magra de seus trinta anos. Será que havia tanto tempo assim que ninguém entrava ali? Se for, minha avó abandonou aquele quarto quando ela ainda era nova.



–Sofia, estou indo lá no corredor abrir as portas dos outros cômodos. –Mary falou já na porta. Eu a alcancei e segurei seu braço.



–Não abra nada, já está difícil de respirar agora, imagina se você abrir os outros. Vem me ajudar a abrir essa janela. –Ela assentiu e me acompanhou até o outro lado do cômodo.



A janela abria de baixo pra cima e do jeito que estava enferrujada foi um trabalho extremamente complicado abri-la, mas nós conseguimos. O cheiro de laranjas entrou no quarto junto com a brisa fria da noite. Aquele cheiro me fez sentir-me melhor. Nós duas nos apoiamos no batente da janela e ficamos com o rosto do lado de fora do casarão, sentindo os nossos cabelos voar.



–Ei, quer saber nossa programação para amanhã? –Perguntei para Mary que olhava para as estrelas.



–Não. –Ela falou e começou a rir. Dei um pequeno empurrãozinho nela.



–Idiota. –Falei rindo ainda mais. –Não quer saber, mas eu vou falar mesmo assim. De manhã nós vamos logo cedo à cidade comprar mais produtos de limpeza e arranjar um lugar para comer e depois nós vamos passar o dia inteiro arrumando os quartos aqui de cima. –Ela fez uma careta de desgosto e voltou a encarar as estrelas. –Não fica assim, foi você que quis vir comigo. –A abracei de lado olhando para o seu rosto, mas ela não me olhou.



–Estou pensando nas minhas futuras falecidas unhas. Nos dê um minuto a sós por favor. –Ela falou chorosa e eu a larguei. O pior é que ela podia realmente estar triste pelas unhas.



Coloquei o cabelo atrás da orelha e fui arrumar a cama. Não tirei a coberta antiga, apenas coloquei um lençol por cima e tirei as fronhas do travesseiro colocando novas, dei um jeito de fazer um rápido curativo em minha mão e joguei minha blusa suja de sangue e poeira e meu short num canto do quarto e coloquei um pijama quente, deitando na cama me cobrindo. Dormi rapidamente sendo acalentada pelos sons da floreta e pela suave luz da lua. A última coisa que vi foi Mary deitando ao meu lado e arrancando minha coberta.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!