A Fabulosa Mooresville escrita por Luma


Capítulo 10
Capítulo 10 - Olhos fechados, Cadáveres e Cabelos


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui está!!



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música: http://migre.me/cVWx3 (mesma do último, não precisam ouvir se não quiserem)



Estava muito perto do meio-dia. O sol se tornava cada vez mais insuportavelmente quente e Joanne se tornava cada vez mais insuportavelmente bonita. Tão perfeita que qualquer pessoa duvidaria se ela era real ou não. Porém, algo naquilo me deixava consideravelmente assustada.



Alice andava um pouco à frente de mim. Mantinha a cabeça erguida, parecendo procurar os raios de sol para adicionarem cor a sua pele de porcelana. Havia momentos em que a luz batia em pontos estratégicos de seus óculos, me permitindo olhar para o que estava atrás deles.




Ela andava de olhos fechados.





Não errava o caminho, nem ia de encontro a um dos vários bancos.





Qual seria a cor dos olhos dela?





Nos aproximávamos cada vez mais do restaurante que eu havia conhecido ainda naquela manhã. Nada era longe naquele pequeno centro comercial. Apenas uma rua interditada para que pudéssemos andar a pé pelo asfalto e algumas paralelas. Todos negócios familiares. Não haveria uma única lanchonete no local?





Havia um pequeno aglomerado de pessoas na porta do estabelecimento. Em sua maioria, garotas. Deveriam ter a mesma idade que eu. Talvez menos. Conversavam entre si, soltando risadas ocasionais que faziam um arrepio correr ela minha coluna. Eram todos, sem uma única exceção, bonitos. Lindos. Personagens que saem dos contos de fadas.





Reconheci uma pessoa que Joanne havia me apresentado. Jessica estava lá, apoiada na parede de madeira escura. Parecia conversar com outra pessoa que, para minha surpresa, eu também havia conhecido. Oliver. Eles riam de alguma coisa, porém a garota dos olhos azuis parecia chateada.





Passei meus olhos por cada pessoa que estava ali, procurando mais pessoas familiares. Alan estava lá, assim como a primeira pessoa que eu havia conhecido. Helena, senão me falha a memória.





Joanne conservava um de seus enormes sorrisos estampado no rosto. Aqueles com certeza eram o grupo seleto de amigos da maravilhosa Joanne Thibault, os únicos que ela deixava se aproximar. E dos quais ela falava mal enquanto não estavam ouvindo.





Ela veio até mim, enlaçando meus ombros com o seu braço mais uma vez naquele dia. Sua pele continuava incrivelmente gelada em contraste com a minha que estava quente. Ela sorriu para mim, me puxando para andar em seu ritmo.





–Gente, essa aqui é Sofia. –Falou alto, chamando a atenção das pessoas ali. Nunca me senti tão observada na vida. –Aquela ali é Mary. –Joanne apontou para a minha amiga com o braço livre. Mary já estava ao lado de Alan, sorrindo para ele. –Vem, deixa eu te apresentar pros seus mais novos amigos. –Ela me puxou, não me dando escolha. Nos aproximamos de uma pequena criaturinha peculiar. Ela tinha cabelos azuis, levemente puxados para o preto. No dia que essa garota fez isso no cabelo com certeza se tornou a notícia da cidade. Os olhos dela eram cinzas, e deixavam todas as emoções dela escaparem. Ela estava visivelmente animada. –Sofia, esta é Lyanna.





–Muito prazer, Lyanna. –A cumprimentei educadamente, o que arrancou um sorriso doce dela.





–O prazer é todo meu! E, por favor, me chame apenas de Lya. Fica muito mais íntimo e eu prefiro. Lyna também serve. –Disse sorrindo. Ela era tão diferente que era difícil desviar os olhos dela. Se Joanne parecia uma boneca, Lyanna parecia a boneca de porcelana mais cara e mais rara do melhor colecionador. Pois ela, mesmo sendo estranha, conseguia ser linda.





–Vem, têm outros para você conhecer. –Joanne me puxou, me obrigando a desviar o olhar da garota do cabelo azul. Nos aproximamos de dois garotos que usavam jaquetas, mesmo com o calor que envolvia a cidade. –Rapazes, Sofia. Sofia, rapazes. –Falou rindo. Eles sorriram para mim, e eu não conseguia dizer quem era o mais bonito.





–Eu sou Newton. –Um garoto alto, de cabelos pretos e olhos claros, falou. Ele tinha um pouco de barba, o que contrastava com sua pele branca e sem imperfeições. Pelo jeito que se vestia e se comportava, eu poderia arriscar dizer que ele era rico. Exalava poder. Era possível ver que ele se achava superior.





–Anthony Levian Junior. Mas, por favor, apenas Junior. –O garoto que estava ao lado dele falou. Seus claros cabelos brilhavam ao sol, provavelmente até mais que os da própia Joanne. Os olhos eram de um azul profundo, denso. Ele estendeu a mão para mim, e eu, sem hesitar, a envolvi com a minha.





Ótimo, mais um com a pele fria.





–Prazer. –Falei educada, fazendo ele sorrir para mim. Um belo sorriso.





–Sofia, este é Alec Starwood. –Joanne agarrou o braço de um garoto que não parecia prestar atenção em nós, o puxando até mim. –Seja educado e a cumprimente. –Ordenou.





–Olá Sofia. –Ele obedeceu Joanne, que sorriu abertamente para ele. Ela definitivamente gostava de ser obedecida. Alec tinha os cabelos castanhos bem claros e seus olhos eram bem verdes, porém rajados de várias outras cores. Muito bonito e ao mesmo tempo diferente do tipo de beleza que meus olhos estavam acostumados.





Pude perceber que Alec não sorria, no máximo um leve levantar de um dos lados da boca. O que ele não se permitia sorrir, ele se permitia observar. Podia sentir seus olhos em mim, examinando cada pequeno movimento que eu fazia. Isso era intimidante.





–Vem, tem gente para conhecer ainda. –Joanne exclamou, me puxando pela mão. Mary, que me viu passar ao seu lado, voltou a nos acompanhar. Ela não parecia muito satisfeita.





Ela nos levou para perto de Jessica, onde duas meninas conversavam. Uma delas era a Helena a outra uma garota de cabelos escuros e olhos claros. Mais gente linda. O que colocavam na água desta cidade?





A forma com que ela enrolava os cabelos nos dedos e se movimentava chegava a ser cômica. Ela parecia não conseguir ficar parada.





–Sofia, está é Helena. –Joanne apontou para a garota, que sorriu para mim, me reconhecendo.





–Eu já a conheço. Conversei com essas duas assim que elas chegaram no centro esta manhã. –Explicou rapidamente, tomando eu e Mary num abraço. Hospitaleira demais...





–Ah sim. –Joanne murmurou desinteressada. –E esta é Alexis. -A garota do cabelo escuro a olhou com raiva.





–Lexi. –Sibilou lentamente, fechando os olhos.





–Ela tem que saber seu nome primeiro para poder te chamar pelo apelido.





–Apenas Lexi, entenderam? –Falou ignorando Joanne, que bufou, mas logo depois voltou a expressão de felicidade costumeira. Eu apenas assenti. –Ótimo. Acho melhor a gente entrar. A Alice já está lá dentro. –Ela apontou para dentro do restaurante. Suas mãos eram finas e grandes e suas grandes unhas estavam pintadas de vermelho. –Nunca vi ninguém tão esfomeada quanto ela.





–Já viu sim. –Joanne levantou uma das sobrancelhas, sorrindo de lado. Não era um sorriso amigável.





–Mortos não contam. –Cantarolou, rindo no final. Um riso compartilhado por Joanne. Como se o que foi dito fosse uma piada. E, mais uma vez naquele dia, meu corpo gelou. Engoli em seco, me forçando a respirar. As pessoas brincavam assim com a morte?





–Falando em mortos, vocês já souberam não é? –Jessica disse, entrando na conversa. Atrás dela, o belo Oliver parecia me observar. Ela sorria de forma quase infantil, como se estivesse plenamente satisfeita em passar a notícia a diante.





–Do que? –Perguntei sorrindo para ela.





– Uma pessoa foi achada morta. –Lexi falou, rindo ao ver meu sorriso sumir. Morta?





–Mais uma? –Joanne falou com a voz arrastada.





–É incrível o jeito que vocês tratam a morte. –Não resisti a comentar. Na outra idade onde eu morei, mortes eram algo comum. Atropelamentos, balas perdidas e overdose. Mas morte não parecia algo que acontecesse em Mooresville. Talvez morte por velhice. Ou talvez nem isso.





–Somos todos cadáveres adiados Sofia. Estaremos todos mortos no fim. –Falando isso, Jessica abriu o mesmo sorriso que eu já havia a visto abrir. Bem lentamente, todos os dentes dela ficaram a mostra e seus olhos adquiriram um brilho quase insano. –É claro que alguns de nós estamos destinados a ir antes que os outros.





–Dá pra dizer quem foi que morreu desta vez? –Quando Joanne falou isso, estava parecendo realmente irritada. Quem sabe ela não se sentisse mal com a morte assim como qualquer pessoa normal?





–A secretária de nosso querido tesoureiro. –O adjetivo foi pronunciado com forte ironia por Lexi.





–Ai, gente! A Nicole. Ela havia acabado de se mudar, coitada! –Helena pronunciou alterada. Alterada demais. Sua mão estava repousada em uma das bochechas, como se estivesse surpresa.





–E quem foi o outro? O que vocês disseram que era esfomeado. –Mary perguntou, falando pela primeira vez desde que nos aproximamos delas.





–Ian O’Connel. –A pessoa que falou isso não estava ali conosco, e sim atrás. Me virei rapidamente para olha-la, e pude ver que ela já havia sido apresentada a mim. Aria Huntress estava ali, nos olhando com seus incríveis olhos claros. Ela segurava um pequeno reprodutor de música entre seus dedos finos e pálidos. –E, curiosamente, as cabeças deles não foram achadas.





– E isso é comum de acontecer aqui?–Perguntei, tentando não parecer assustada. Aria sorriu amigavelmente, se aproximando e parando ao meu lado. Ela realmente parecia uma fada.





–Mais do que você imagina. –Falou misteriosa, sorrindo após terminar. Eu poderia viver sem essa informação.





Mais do que eu imagino. E eu já estou imaginando muito.





–Como foi sua viajem a Veneza Aria? –Joanne perguntou, fingindo interesse. A garota sorriu falsamente. Era possível perceber que elas não se davam bem. Seria talvez por aquele garoto, que se eu não me engano se chama Thomas? Algo ali me fazia ter certeza que era por isso.





–Foi ótima. –Disse sorrindo, o que fez Joanne disfarçar uma careta. –Obrigada por perguntar.





–Eu fui a Veneza no ano passado. –Comentei. Por que não dar uma chance a garota? Ela parecia legal. Meio peculiar, mas isso não importava. Aria sorriu para mim abertamente, parecendo genuinamente animada.





–Que coincidência! –Ela exclamou. Pude perceber Joanne estreitar os olhos. –Eu adoraria conversar mais, mas acho que não sou bem-vinda aqui. –Disse um tanto sem graça. Joanne me olhava em expectativa, com uma das sobrancelhas perfeitamente desenhada levantada. Parecia me dar uma ordem silenciosa para eu não me aproximar de Aria.





–Não, fique! Nós iremos almoçar agora e mais tarde iremos para a minha casa. Elas irão me ajudar a organiza-la. Sei que não é um ótimo programa, mas está convidada. –Falei amigavelmente. Senti os olhares de todas as garotas em mim, até mesmo Mary. Parecia que eu estava quebrando uma regra que não deveria ser quebrada.





–É claro que eu irei. –Respondeu. Joanne se virou para a porta do restaurante, completamente aborrecida. Ela abriu a porta num rompante, entrando no local, depois deixando a porta bater. Fechei meus olhos prevendo o estrondo, que veio logo após o cheiro de comida chegar as minhas narinas.





Eu havia acabado de desobedece-la. E ela não pareceu gostar nada disso.




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Notas finais do capítulo

A maioria foi apresentada neste!Mas, se o seu personagem não apareceu e você MANDA COMENTÁRIOS REGULARMENTE, não esquente que ele ainda irá aparecer.
Eu alterei a capa!!! O que acharam?
Também fiz umas alterações no segundo capítulo!
A história começa agora...