Nicole sorriu diante do ramalhete estendido para ela. Há alguns dias que Alec vinha lhe visitar na galeria trazendo-lhe presentes. Suas conversas eram agradáveis e a deixavam inebriada por aquele homem misterioso. Apesar de tudo ela admitia não saber nada sobre ele.

-Alec, nunca me contou o que faz – Nicole falou em um fim de tarde em sua sala. Eles estavam sentados confortavelmente em um sofá na sala dela. Duas xícaras repousavam sobre a mesa em frente a eles juntamente com as flores.

-Nunca lhe disse? – indagou a si mesmo pensativo. Olhou para a mulher ao seu lado e sorriu gentilmente – provavelmente estava encantado pela sua beleza de tal forma que não consegui pensar em mais nada. – sorriu – tenho uma empresa de eletrônicos.

-És algum tipo de famoso excêntrico? – gracejou ao olhar para ele. – “Não importa o quanto eu olhe para os seus olhos.. Nunca estão iguais” pensou.

-Não, sou apenas um empresário reservado. Faz pouco tempo que comecei meu negocio. Estou começando a expandir por agora. Provavelmente é este o motivo de não ter escutado a meu respeito.

-Entendo. – murmurou – diga-me Alec, porque continua insistindo em mim?

-Já lhe disse..

-Não. Sinto que algo não está certo nessa historia – falou o interrompendo. Ela não era uma mulher ingênua. Sabia detectar quando algo estava errado e apesar de seu interesse percebeu que havia algo de errado com o homem a sua frente. Por mais que ele lhe sorrisse e fosse gentil, ela sentia que ele estava mentindo.

-Nicole.. – falou com a voz arrastada. Ele sabia que tinha que fazer algo para não perde-la. Olhou em seus olhos e deu um sorriso malicioso ao se aproximar dela. Passou a mão pela sua nuca e a puxou para si de uma só vez. Seus lábios se encontraram. Enquanto Nicole fechava os olhos afim de sentir o beijo do homem a sua frente, Alec mantinha seus olhos abertos. Em sua mente havia apenas uma palavra e uma pessoa. Elena. Ele sabia que não poderia fracassar naquela altura. Seu plano tinha tudo para dar certo, bastava ele segui-lo com maestria.

Seis anos atrás...

Anthony esmurrou a cela da prisão mais uma vez em desespero. Ele não conseguia acreditar no que havia lhe acontecido. Seus pensamentos estavam tumultuados a tal ponto de não perceber ou sentir a sua mão machucada. Encostou a sua testa na parede gelada e deixou as lagrimas caírem pelo seu rosto em sinal de desespero. Todas as imagens de Elena surgiam em sua mente deixando-o atordoado. Ele indagava-se desde quando ela havia planejado tudo. Temeu que a resposta fosse pior do que imaginava.

-Ela...me enganou durante esse tempo todo? – se perguntou ao recordar-se dos pedidos estranhos dela nos últimos meses. Toda a vez que ia ao banco, ela ia com ele com a desculpa de querer estar ao seu lado por mais tempo. – Não...ela não faria isso – murmurou em desespero.

-Parece que tens problemas jovem – o companheiro de cela de Anthony falou tirando-o de seus devaneios. Ele estava observando o jovem desde que entrara na prisão. Ele sabia que Anthony era inocente.

-Isso não é de sua conta – falou raivoso, pois a ultima coisa que pretendia era escutar conselhos de um presidiário.

-Talvez esteja certo – sorriu ao passar a mão pelos seus cabelos espessos, os quais já possuíam alguns fios brancos contrastando com os fios negros – ou talvez eu possa lhe ajudar.

-Me ajudar? Ninguém pode me ajudar..

-Esta certo.. o único que pode fazer isso é você – sorriu sentando-se no duro colchão – porque não me conta o que houve?

-Se eu lhe contar, isso me ajudará? Duvido muito.

-Talvez sim.. Talvez não. Porque não tenta?

Anthony o olhou com desconfiança. Ele sabia que o velho a sua frente desejava brincar com ele, mas talvez por precisar desabafar acabou lhe contando toda a sua historia desde que conheceu Elena, foi abandonado pelos pais ate o trágico dia em que foi preso por roubar uma empresa que ele nunca havia sequer entrado.

-Então ela lhe enganou – o velho falou após o desabafo do mais jovem.

-É o que parece – Anthony murmurou tristemente.

-O que faria se pudesse sair daqui mais cedo?

-Iria atrás dela e pediria uma explicação.. isso.. não tem lógica. Eu nunca.. nunca roubaria nada. Ela sabia disso. Ela sabe.

-Estais pensando da forma errada meu jovem. Quando estiveres com a mente tranquila pensará coerentemente e ai.. poderemos conversar novamente – tornou misterioso ao deitar-se na cama e virar de costas para Anthony.

-Mas.. o que quer dizer com isso? – se perguntou pensativo.

Atualmente....

Elena passou a mão pelos cabelos loiros nervosamente. Alec não lhe saia da cabeça, nem mesmo Jacob, o seu mais novo divertimento, conseguia tirá-lo de sua cabeça. Ela tinha medo do que Alec poderia fazer. Ela temia pelo seu futuro dali em diante.

-Não.. ele nunca faria algo contra mim. Ele me ama – balbuciou para si mesma ao olhar o seu reflexo no grande espelho do banheiro. Passou a mão com força pelo seu rosto deixando-o levemente marcado – Anthony, parece que teremos que nos encontrar e rever os velhos tempos – disse divertida. Deixou a toalha cair no chão revelando o seu corpo bem feito. Olhou para si mesma com orgulho. – Realmente... senti a sua falta, Thony – murmurou pensativa.

***
Jacob folheou a revista entediado. Encontrava-se jogado no sofá próximo as escadas quando avistou Elena descer imponente. Ela trajava um vestido branco curto, seus cabelos estavam presos algo raro e em sua pele pouca maquiagem era vista. Em um salto, levantou-se do sofá e caminhou ate onde ela estava, a abraçou sugestivamente por trás sentindo o seu aroma doce.

-Minha querida, se esta tentando me seduzir.. esta conseguindo – murmurou em seu ouvido sensualmente. – que tal irmos para o meu quarto?

-Enteado – disse sorrindo ao afastar as mãos dele de seu corpo e virar-se, olhando-o de frente – tenho coisas mais importantes a fazer que brincar com você hoje. Vamos deixar para uma próxima vez – piscou para ele antes de depositar um beijo rápido em sua testa – nos vemos mais tarde – despediu-se ao sair rapidamente deixando Jacob intrigado para trás.

Elena entrou em seu carro e ao dar a partida percebeu não saber o seu endereço. Riu diante de si mesma ao dirigir em direção a empresa Lorrenzi. Ela estava decidida a encontrá-lo o mais rápido possível.

***
Peter olhava tudo com atenção. Todos os relatórios pedidos por Alec haviam chegado. E a surpresa estampava o seu rosto a medida que lia e  via as fotos. Ele não conseguia acreditar que a mulher naquelas fotos fosse a mesma por quem Anthony, o velho Alec, havia se apaixonado.

-Como pode existir alguém tão simulada assim? – se perguntou ao prosseguir a sua leitura.

***
Alec fechou os olhos com força ao estacionar o seu carro na garagem de sua casa. Por mais que soubesse estar tomando o caminho mais fácil para sua vingança não sentia-se bem consigo mesmo ao usar Nicole. Lembrava-se dela com remorso. Saiu do carro com o semblante inexpressivo. Entrou pela porta dos fundos e ao abrir a porta do seu escritório deparou-se com Peter sentado em uma das poltronas concentrado nos papeis em sua mão.

-Pelo que vejo estais realmente trabalhando – Alec disse atraindo a sua atenção. Retirou o seu casaco deixando-o cair no chão. Olhou em sua volta sem deixar de sentir uma pequena alegria brotar em seu ser. Aquela era  a sua primeira casa. A primeira casa que comprara em Nova York, onde a sua vida havia sido destruída e reconstruída.

-Estava lendo os relatórios sobre Elena Piatti – esclareceu ao levantar-se e encará-lo – acho que ficará surpreso com o que irá descobrir.

-Duvido – retornou amargurado ao estender a mão. Pegou os relatório e começou a ler um por um. A medida que lia e via as fotos perceberá o quão desconhecida era Elena Scott Piatti para ele.

-Surpreso? – Peter indagou minutos depois.

-Não – disse sério ao depositar os papeis em cima de sua mesa – estou aliviado.

-Aliviado?

-Sim, por ter a completa certeza de que estou correto. Irei dar a Elena a redenção, mas de uma forma que desejará a morte, Peter. – falou com um brilho sádico em seu olhar.