O policial abriu a porta da sala de visita para Jacob, o qual passou com a cabeça baixa. Olhou cuidadoso a sua volta ate identificar Nicole sentada no centro do local. A sua tia mantinha um sorriso em sua face, enquanto em seus olhos não havia nada. Nenhuma expressão que pudesse denunciá-la ou esclarecer o motivo de ali estar. Sem jeito foi ate onde ela estava, sentando-se em sua frente.

–O que faz aqui, tia? – Jacob perguntou inquieto.

–Vim te ver – falou tentando transparecer tranquilidade, enquanto o olhava – Você está bem? Está tendo..problemas?

–Tia, não há motivos para vir aqui fazer essas perguntas, mas devo presumir que a sua visita seja para pedir algum conselho sobre Alec – Jacob tornou sério. Por mais que ele não quisesse, aquele episodio havia o deixado mais perspicaz e mais maldoso com as questões da vida.

–Está mais sério, meu sobrinho – Nicole sorriu levemente ocultando o seu sentimento interior – o que acha de sair daqui?

–Sair dessa prisão? – indagou surpreso – O que Alec está tramando? – perguntou em seguida.

–Sua esperteza realmente me impressiona – sorriu ao vê-lo olhar para ela com seriedade.

–Nicole, não se renda a ele. Ele é um louco. Um louco prestes a matar e a morrer pelos seus próprios princípios e desejos, a senhora merece mais.

–Todos nós merecemos, mas me pergunto.. por qual motivo isso está acontecendo conosco?

–Como assim?

–Já se perguntou o motivo de ter vindo parar aqui?

–Por causa dele, e ambos sabemos disso.

–Não – negou ao menear a cabeça – o único culpado somos nós, pois fomos que cegos pelas nossas ambições e desejos mesquinhos que começamos isso. Alec apenas deu o inicio e nós, prosseguimos. O que isso faz de nós e dele? Ele é realmente tão cruel quanto imaginamos?

Jacob a encarou em silêncio, enquanto as duras palavras de sua tia ecoavam em sua mente. Ele sabia que o único culpado por sua prisão foi ele mesmo. Primeiro por aceitar ir contra a sua família por uma herança e em seguida por tentar ser nobre. Uma nobreza que não lhe cabia, pois começou o plano como um bandido e assim terminou.

–Você está certa – murmurou por fim ao abaixar a cabeça – mas imagino que ele propôs algo cruel.

–Um pouco – concordou.

–E o que foi?

–Que eu continue ao seu lado.

–Fará isso?

–Eu não sei, mas é provável que sim.

–Mesmo o amando?

–Sim. O amor é mais cruel que a própria vingança, mas ele ainda não deve ter percebido isso.

–Não precisa fazer isso por mim. Nunca fui um bom sobrinho.

–Eu também nunca fui uma boa tia, não é a hora de nos redimirmos?

–E como poderíamos fazer isso? Um sendo solto e a outra sendo presa?

–Não, precisamos buscar a verdade.

–Verdade?

–Sim, sobre a história dele.

–Mas..

–Se confrontarmos a nossa família com isso, ele poderá ter a paz que deseja e nos deixar em paz.

–Acredita nisso?

–É no que desejo acreditar.

–Faremos assim – concordou pensativo tentando não enxergar a dor nos olhos de sua tia.

***
A secretaria de Alec olhou com surpresa para a mulher parada em sua frente. A mesma mulher que dispensou o seu chefe agora estava a sua procura. Sorriu discreta ao informar a Alec que ela tinha chegado, pois de alguma forma ele já havia adivinhado que ela iria procurá-lo. Nicole entrou na mesma sala em que prometeu nunca mais retornar. Assim que olhou para Alec, o homem parado em pé em frente a porta, sentiu um calafrio percorrer o seu corpo.

–Veio mais cedo do que eu esperava – a voz de Alec soou agradável aos ouvidos de Nicole, a qual o encarou sem expressão – seu rosto combina com uma expressão doce e gentil, e não fria como está agora.

–E eu enfim conheço-o bem – disse ao andar ate onde ele estava, passou por ele e foi ate o sofá, sentando-se – Já deve imaginar o motivo de minha presença.

–Sim – concordou.

–Então qual o meu papel nessa vingança?

–Um simples.

–Estou ouvindo, mas antes terá que soltar Jacob. Não farei nada antes de vê-lo solto.

–Tenho certeza que sim – assentiu ao voltar-se em sua direção – Mas, tenha em mente que posso enviá-lo para a prisão novamente quando eu quiser, então não faça nada de errado, está me entendendo?

–Perfeitamente – disse.

–Seu papel não será ficar ao meu lado, o que a deve deixar tranquila, estou certo?

–Muito correto, na realidade.

–Preciso que assine um documento.

–E o que devo esperar? Irá casar-se comigo? Tirar todos os meus bens?

–Não – negou com um sorriso sombrio – O seu irmão pretende lhe entregar a empresa. Ele nunca confiou em seu filho ou em sua esposa, o que é curioso, pois fez tanto para tê-la ao seu lado.

–Meu irmão não é um homem sem escrúpulo como você.

–Claro, ele é perfeito. Não tenho duvidas.

–Sim, ele é.

–Eu não me importo com a sua perfeição, mas me importo com a sua empresa. Empresa que foi culpada pelo meu destino.

–Então o que deseja enfim?

–Desejo que me passe todas as suas ações.

–Porque isso?

–Por que será necessário para o próximo passo.

–Que passo seria esse?

–Não precisa saber.

–Mas esta me envolvendo nisso, eu devo saber.

–Estou envolvendo todos de sua família e ninguém imagina o que vem a frente. Não desejo que todos acabem descobrindo e eu tenha que me livrar de você, minha doce Nick.

–Não me chame mais assim – disse ao levantar-se – Nunca mais me chame de Nick.

–E por qual motivo?

–Porque isso me remete a um homem que nunca existiu.

–Um homem que você idealizou, foi o que eu fui quando estava ao seu lado.

–Eu sei – concordou sem emoção – e é isso que me da raiva.

–De mim? – perguntou bem humorado.

–Não, de mim. Por ter me apaixonado por você. Eu irei assinar os papeis, apenas me envie por fax.

–Não irá falar nada a Alexander?

–Por qual motivo? Para acabar na prisão como Jacob ou ser um fantoche como meu irmão está sendo em suas mãos? Eu opto pela minha liberdade e minha vida – disse o surpreendendo – Faça o que quiser com eles, mas espero que não se arrependa ao perceber que a vingança é tão vazia quanto toda a sua vida se tornou após perder a mulher que amava.

–Ainda acha que estou fazendo isso por Elena?

–E por quem mais seria? Não está fazendo por você.

–Fala dessa forma porque nunca passou pelo que passei – disse frio ao recordar-se de seu tempo na prisão – sempre teve tudo, e nunca precisou lutar por nada ou ninguém nunca retirou tudo o que lhe importava.

–Ainda acha que é o único que sofreu nesse mundo? – Nicole perguntou com o semblante gentil – não é, Alec. Todos sofremos, mas sobrevivemos. Não consigo entender o motivo de querer ir ate o fim.

–Nunca irá entender – argumentou frio sem entrar em detalhes – é melhor ir agora.

–Eu irei – o assegurou ao ir em direção a porta – mas lembre-se que em um momento irá hesitar e em outro irá querer desistir, e nestes momento se pergunte: realmente precisa levar todos a ruína para ser feliz? Precisa ver a mulher que amou sofrer para ser feliz? – saiu deixando-o com um estranho sorriso na face sem perceber o quanto aquelas palavras não surtiram efeito nele.

–Não se preocupe – falou sozinho em sua sala – eu irei fazer com que toda a minha vingança tenha um sentido para todos. Irei tirar de cada um deles, o que eles tiraram de mim: de Alex irei tirar todo o seu dinheiro e de Elena, tirarei a sua vida – revelou com o olhar sombrio e um sorriso nefasto – Ela irá morrer pelas suas próprias mãos, e nada irá salvá-la.