Para Harry, era um dia um tanto quanto estranho na casa dos Potter.
Tendo recém-completado seus três anos de idade, ele agora se via entendendo um pouco mais do mundo e das pessoas a sua volta.
Ele sabia, por exemplo, que morava com a mamãe e o papai em um lindo sobrado, e que tinham um gatinho alaranjado que ele, por muitas vezes, puxava carinhosamente (ou tão carinhoso quanto uma criança pode ser) os pelos de seu rabo.
Ele sabia que tinha três tios muito legais que quase todos os dias apareciam para visitá-los. Ele sabia que tinha mais três tias, também super legais, que eram amigas da mamãe.
Ele sabia que todos os dias, quando o papai saía de casa pouco tempo depois do café, ele saía para trabalhar. Entretanto, ele sempre voltava durante o horário de almoço (ainda que fosse apenas por uma hora) e sabia que ele sempre voltaria pouco antes do pôr do sol. Esses momentos eram os favoritos de Harry, pois assim que chegava, o papai dava um abraço na mamãe, logo depois de falar ‘’oi, meu amor’’, fazia um carinho na cabeça do gato e sentava-se no tapete da sala com o filho, para que pudessem brincar e conversar.
Ele sabia, também, que a mamãe trabalhava em casa. Sempre depois do almoço, mas ainda antes da soneca da tarde de Harry, ela prendia os cabelos acaju em um coque, passava um avental pelos ombros, e entrava em uma salinha nos fundos da casa, onde era seu ateliê. Lá, a mamãe pintava lindos quadros, cheios de cores e sentimentos. Depois que havia completado dois anos, Harry havia passado a ter sua entrada permitida, mas só se prometesse ficar bem quietinho, e, principalmente, se prometesse não colocar nada que não devia na boca. Muitas vezes, a mamãe até o deixava ajudar a pintar os quadros.
E, por último, mas não menos importante, Harry sabia de sua rotina. Por já saber descer do berço sozinho, quando acordava, ele levantava-se e atravessava o corredor até o quarto da mamãe e do papai. Às vezes os encontrava já acordados, deitados na cama bem juntinhos, somente apreciando a companhia um do outro. Outras vezes, ele encontrava os pais em atividade, com o papai já de pé, terminando de se vestir, e com a mamãe já pronta, apenas prendendo os cabelos em um rabo de cavalo. E, em algumas poucas ocasiões, ele encontrava os pais ainda dormindo profundamente. Nessa última opção, Harry subia na cama sem fazer barulho e deitava-se no meio dos dois, logo em seguida enchendo-os de beijos para que acordassem cheios de muito amor, como ele gostava de dizer.
Em seguida, a mamãe o levava para o andar de baixo, onde fazia o café da manhã de todo mundo e servia a mesa. Após o café, o papai dava um longo beijo na cabeça de Harry, seguido por um longo beijo na boca da mamãe, e despedia-se dos dois dizendo ‘’tchau, Harry! Tchau, meu amor! Até mais tarde’’. E aí, depois disso, Harry normalmente ia para a sala, onde ficava brincando com seus brinquedos ou assistindo a algum desenho animado na tevê, enquanto a mamãe limpava a bagunça da cozinha. Quando ela finalmente terminava, juntava-se a ele, na sala, e divertiam-se ao assistir a um filme infantil ou ao brincar com algum jogo.
Algumas horas depois, a mamãe sempre voltava para a cozinha, junto com Harry, e enquanto ele brincava com o gato, ela fazia o almoço, sempre embalada em cantorias. Normalmente, quando o papai chegava, ele ajudava a mamãe a terminar de cozinhar e punha a mesa. Então, eles todos sentavam-se e comiam. Ao terminarem, o papai precisava sair novamente, e mais uma vez ele despedia-se da mamãe e do próprio Harry com mais beijos e chamando-a de meu amor.