Fernanda

Eu entrei no meu quarto e continuei pensando em tudo aquilo que eu havia conversado com Felipe. No começo quando cantamos foi bem legal, nós estávamos nos dando super bem. Se ele não tivesse feito aquela pergunta provavelmente teríamos conversado durante muito mais tempo. Mas eu não o culpo. Ele apenas perguntou, provavelmente não esperava que eu iria reagir desse jeito, ele não tem culpa de nada disso.

Mas de qualquer forma, ficar conversando com Felipe me fazia lembrar demais de Jason. Não sei por que, mas quando eu toco com mais alguém que não seja ele, ou canto alguma coisa, eu sinto que estou traindo ele. Sei lá, desde sempre nós dois tocamos juntos, e a única outra pessoa com quem eu toco é o meu professor. Não é bem uma traição, mas é... Estranho...

De qualquer forma, eu gostei bastante. E o que o Felipe disse que eu deveria confiar neles e acreditar que a minha voz é linda, eu até posso considerar isso, e confiar neles, mas o problema é não confiar em mim mesma. Eu mal consigo falar na frente da sala, como eu poderia cantar na frente de outras pessoas? Soltar a minha voz? Até parece, isso não é coisa que eu faria. Não é coisa minha isso...

Acho que a única vez que eu cantei na frente de todo mundo de verdade, foi quando eu e Rebecca começamos a cantar feito loucas uma música que a gente ADORA no quarto do Zac enquanto ele tocava bateria e os meninos tocavam guitarra e violão.

Foi bem legal aquele dia. Foi a única vez em que eu os ouvi tocando juntos. E isso faz muito tempo. Foi bem na época em que eles decidiram formar uma banda... E eles deveriam formar mesmo. Eles faziam um ótimo grupo, e o Jason canta muito bem. A voz dele é linda. E, pelo que eu vi hoje, o Felipe também canta bem. Eles fariam muito sucesso. Mesmo que não fosse de imediato, eles com certeza poderiam acabar se tornando famosos. Já pensou? Nós não poderíamos sair todos juntos sem fotógrafos a volta deles... Nossa... Agora eu olhei pro lado ruim da situação...

Mas eles poderiam lotar o Garden, isso seria demais! Nós poderíamos criar fã-clubes pra eles, e ser as primeiras fãs de verdade! Eu sei que eu estou me precipitando aqui, mas eu realmente quero que eles se deem bem, e quero que eles sejam felizes fazendo o que eles querem fazer. Eu quero que eles realizem os sonhos deles.

Eu terminei de me arrumar e me encontrei com todos os outros na nossa sala.

- Vocês chegaram faz muito tempo? – eu perguntei.

- Não. Nós chegamos faz só uns 5 minutos. – falou Rebecca sorrindo. – E aí? Onde vocês querem comer?

- Nós estávamos querendo comer comida mesmo, e não lanches, essas coisas.

- E nem podem. Vocês precisam ingerir alimentos saudáveis que não possam afetar o desenvolvimento de vocês nos treinamentos a partir de hoje. – falou Zac.

- Zac... Desde quando você fala Português do jeito certo? – eu perguntei.

- Ha-ha. Como você é engraçada Fernanda! – ele falou. – E, pra sua informação, eu estou falando o texto que eu decorei.

- Um texto? – eu perguntei.

- Rebecca preparou pra mim um texto pra eu não ficar falando mais do que devia, ou ficar ensinando coisas erradas. – ele riu. – Como se eu não soubesse o que dizer...

- Ah tá... A Becca fez certo – eu ri. – E aí, onde vamos comer? Eu to morrendo aqui!

- Tá... Eu conheço um lugar ótimo onde podemos comer e não é muito longe, nem caro. – Rebecca falou. – Todos vocês comem peixe, não comem?

Todos nós assentimos.

- Ótimo. Se vocês não se importarem, podemos ir lá agora. Não precisa levar carteira nem nada, é só passar nossos códigos. Vocês ainda não têm seus códigos, então nós passaremos nos nossos mesmo.

- Tá. – falou Felipe.

- Agora vamos. São quase oito horas já, daqui a pouco o restaurante enche. – ela falou e todos nós a seguimos e passamos o portão de luz. Nós estávamos em frente a um restaurante. Não era muito grande, pelo menos não parecia ser. Era feito de madeira, havia algumas árvores espalhados a sua volta. Era lindo. O nome estava escrito em letras grandes e um pouco coloridas na frente “Down the Isle”.

Havia uma pequena fila em frente a ele, e logo Rebecca entrou na frente de outras pessoas que estavam chegando pelo outro lado. Ela nos chamou para ir com ela e nós entramos poucos minutos depois no restaurante.

Nos sentamos em uma mesa para quatro, eu ao lado de Felipe de um lado, e Rebecca e Zac se sentaram do outro.

- Boa noite, bem-vindos ao Down the Isle, meu nome é Juan, e eu vou atendê-los esta noite. Qualquer coisa, é só chamar. – ele nos entregou quatro cardápios e saiu.

Nós abrimos os cardápios e começamos a olhar.

- Aqui não vende refrigerante não? – perguntou Felipe.

- Não. – Rebecca falou. – E mesmo se vendesse, seria melhor se vocês não tomassem.

- O treinamento é a pior fase que tem por causa disso: você não pode comer o que você quiser. – Zac falou.

- Bela forma de animar! – eu ri.

Eu continuei olhando o cardápio.

- E se a gente pedisse um peixe assado pra gente dividir? Um desses grandes? – perguntou Zac.

- Isso! Eu adoro esses peixes, eu sempre peço um desses! – Rebecca falou.

- E aí? O que vocês acham? – perguntou Zac.

- Por mim tudo bem. – falou Felipe.

- Por mim também. – respondi.

Logo nós pedimos o peixe, e as bebidas.

- A gente vai comer só o peixe mesmo, ou vai vim mais coisa junto? – Felipe perguntou.

- Vai vim mais coisa junto. Mas se você quiser nós podemos pedir umas batatas fritas – falou Rebecca rindo.

- Ha-ha. Como você é engraçada Rebecca, você tá me matando de rir. – falou Felipe.

- Isso foi uma piada? – perguntou Zac. – Porque eu quero batata frita.

- É, eu também! – eu ri.

- Ok, então... Quando trouxerem as bebidas nós pedimos uma porção de batata frita tá? – Rebecca riu. – Ai, gente... Só vocês mesmo! – e continuou rindo.

Foi uma noite bem agradável. Eu não estava muito no clima pra sair, mas eu gostei de ter uma última noite com eles antes de começar os treinamentos. Do jeito que eu sou, provavelmente vou ficar mal humorada por causa da dor, ainda mais se vai parecer que eu vou morrer. E ainda vai ter o baile pra pôr mais pressão ainda em mim no final de semana.

Pelo que eu li antes de ir levar os convites dos outros pra eles, o Baile começaria umas 7 horas e acabaria as 2 horas. “Horários de trabalho e treinamento continuam os mesmos” estava escrito. Eu provavelmente iria embora mais cedo, mas era crueldade com as pessoas que ficariam.

Eu não sabia se eu deveria aceitar ou não ao pedido de Kevin. Tudo bem, poderia não ser nada demais, e ser apenas chegar e ir embora junto, se sentar junto e tal, mas não sei se conheço ele suficiente. Provavelmente nós iremos interagir durante os treinamentos, mas não muito...

E ainda tinha os outros membros da equipe.

Nathália estava super animada quando eu falei com ela, e ela começou a querer conversar. Fiquei até com pena de ir embora, mas nós provavelmente iríamos conversar alguma hora. Caio, por outro lado, nem olhou direito na minha cara e continuou mexendo no celular enquanto eu falava com ele. Provavelmente ele nem vai ao Baile e nem esteja se importando com nada disso.

Talvez.

- E eu quero dizer – falou Zac levantando o copo dele – que vocês vão quase morrer nessa próxima semana. Então... Ao nosso último dia juntos sem ninguém reclamando de dor!

- Ao nosso último dia! – levantou Rebecca rindo.

Eu ri e levantei meu copo também.

- Ao nosso último dia – falei.

- Ao nosso último dia! – falou Felipe por fim levantando seu copo também.

Nós brindamos e bebemos um gole de nossos copos. Logo voltamos a nossa conversa normal, e eu voltei a tentar me concentrar na conversa, mas continuei perdida em meus pensamentos.

Pois é.

Ao nosso último dia.