Fernanda

Eu estava sentada em minha cama, meu celular no criado-mudo, um caderno de música aberto na minha frente, pernas cruzadas e um violão em minhas mãos.

Eu escrevia uma música sobre tudo o que havia acontecido entre eu e Jason de manhã. E de tudo que mudou entre nós desde então. Se fosse um dia normal, eu não estaria sentada na minha cama. Estaria sentada na cadeira do meu quarto, e Jason estaria ao meu lado com o violão dele em seu colo sentado em outra cadeira, e nós dois estaríamos tentando escrever uma música juntos – o que nunca dava certo.

“It’s like being kicked out from something I wasn’t in

Just like everything I used to have is slipping out of my fingers

I wished I could explain all this to you

But you just don’t care how much I love you”

Eu cantava baixinho. Eu ouvi um barulhinho. Uma mensagem havia chegado. Era Rebecca.

“Fe, to indo pra aí. Abre a porta pra mim, por favor? To levando o Kevin, um dos treinadores sabe? A gente tá indo pra aí.”

Eu coloquei meu violão de lado e vesti meu All Star novamente. Fechei meu caderno de músicas e o deixei debaixo do travesseiro, onde eu sempre deixava quando ia gente em casa. Ah não ser com Jason, que era a única pessoa com quem eu compartilhava a minha música. Não sei o que faria se não tivesse levado meu caderno sem querer para escola, meu caderno teria ficado em casa e eu teria que ficar só com os meus cadernos normais. Já tentei escrever neles. Desastre total.

Eu fui até a porta e assim que a abri, vi Fernanda e Kevin saindo do salão deles do outro lado do corredor.

– E aí, Fe! – falou Rebecca entrando, com Kevin logo atrás.

– Oi... – ele falou meio tímido.

– Então, Fe, esse é o Kevin. Kevin, Fernanda. – ela falou animada. Eu conhecia aquele sorriso dela. – Você sabe que ele é um dos seus treinadores não sabe? – ela perguntou.

– Claro... Eu prestei atenção nessa parte. – eu ri.

– Pelo menos não é que nem na aula de Matemática que você não presta atenção em nada, né.

– Não fala nada de mim que quem fica conversando comigo é você! – eu ri.

Kevin deu uma risadinha.

– Então... É... Fernanda, eu... Vim entregar pra vocês os convites para os bailes. Só com eles vocês podem entrar. Onde estão os outros?

– Ah... Eles devem estar em seus quartos. – falou Rebecca.

– Se você quiser eu entrego pra eles. – eu falei.

– Não precisa, o trabalho é meu. – falou Kevin.

– Eu juro que não conto pra ninguém – eu ri. – Vamos, é só fingir que eles não estão aqui e você precisa que eu entregue.

– Tá bom... – ele sorriu e olhou diretamente pro meu rosto.

Eu senti meu rosto ficando rosado, mas não me importei e ele me entregou os cartões.

– Valeu, Fe. – ele deu um sorriso caloroso ainda olhando pra mim.

– Não foi nada, Kevin. – eu sorri.

– Então... Nós nos vemos amanhã.

– Amanhã? – eu perguntei me virando pra ele que saía do salão.

– O treinamento. Começa amanhã, esqueceu?

– Ah, é, verdade. – eu ri. – Então... Até amanhã.

– Até. – ele disse saindo com um grande sorriso.

– AI. MEU. DEUS. – falou Rebecca quando ele foi embora e encostou a porta.

– O que foi? – eu perguntei.

– FERNANDA. EU PRECISO TE CONTAR UMA COISA! – ela falou toda animada. – Entra no quarto – ela sussurrou – Felipe e Zac não podem ouvir nada disso de jeito nenhum.

– Ah tá. – eu sussurrei de volta e nós entramos no meu quarto e encostamos a porta.

– O KEVIN TÁ A FIM DE VOCÊ.

– O QUE?? – eu perguntei meio confusa.

– FE. ELE TÁ A FIM DE VOCÊ. Ele perguntou pra mim se você tinha namorado e tal, e eu falei que não né, não ia mentir, mas AI MEU DEUS! – ela riu. – E ele quer te chamar pra ir ao baile com ele. Não perde a chance hein! – ela deu mais uma risada.

Eu ri junto com ela e disse:

– É, pode ser. Se eu não receber mais nenhum convite... – eu sorri.

– Jason não vai aparecer aqui do nada e te chamar, Fe. – ela falou brincando, mas a brincadeira machucou e quando ela percebeu isso ela logo completou: - QUER DIZER... É... É que todos já têm par e tal... E... Desculpe.

– Tudo bem. – eu sorri. – Só não... Fala dele...

– Mas... Você já conversou com ele? Hoje? Depois da discussão?

– Não. Ele ligou mais algumas vezes, mas eu não tive a menor vontade de atender nenhuma das vezes. Eu sei lá, eu acho que eu tenho que parar de falar com ele de uma vez e seguir em frente...

– NÃO. – ela soltou.

– Que foi?

– Quer dizer...

– Rebecca, ele já deve estar ficando com a menina que ele ama a essa altura. Ela deve estar nos braços dele, no cinema, na lanchonete, no sofá, e até mesmo num parque. Ele é apaixonado por outra. Entende isso. Eu não tenho mais chances.

– E você não vai nem tentar?

– Não. Eu já tentei demais. Minha vontade é de pegar qualquer um lá fora e ficar com ele de uma vez. Nem que seja um mendigo.

– Não fala assim... Daqui a pouco ele termina com essa daí – ela pareceu estar se controlando pra não falar nada – e percebe que você é o amor da vida dele.

– Tá, ok. Possível.

– Tá bom então. Pensa no Kevin. Vai lá, perde qualquer chance. Só não diga que eu não avisei. – ela falou saindo do quarto. E pela primeira vez na minha vida eu desconfiei que Rebecca estivesse escondendo alguma coisa de mim.

Eu tentei esquecer a conversa que havíamos tido, mas ao mesmo tempo lembrar das partes boas. Mas tudo que veio na minha cabeça foram letras de música inspiradas nessa conversa. E a música acabou representando exatamente tudo que eu estava sentindo.

“They say I should wait, and I don’t know why

You love another girl, and I am just the friend

It’s like everyone wants me to believe in something impossible

But I don’t wanna believe, I wanna stay with the truth

That nothing’s gonna happen, and you’ll be happy without me

And it hurts me a lot, you should’ve known how I would feel

You know everything about me, every single detail

And I think I don’t know you as much as I thought I did

I don’t know anything right now, I just know that I shouldn’t love you”

Uma lágrima escorreu de meu rosto quando eu cantei o último trecho da música. Pela primeira vez na minha vida eu havia terminado uma música em um só dia. Foi como se todos os meus sentimentos estivessem escorrido para o papel e foram se dissolvendo aos poucos.

Assim que eu acabei, eu entrei no Tumblr. Rebloguei alguns posts, e um deles me chamou muita atenção. Era uma frase que dizia “Não fique sofrendo por quem não merece. Siga em frente sem olhar pra trás.”, outro dizia “E quando alguém lhe perguntar sobre o passado responda: eu não vivo mais nele”. Foi o suficiente pra que eu tivesse inspiração para escrever mais uma música:

“It's hard to say about this girl

She was a normal kind

But she waited too much

From who doesn't have a thing to give

All her happiness was him­­­­­­­­­­­­­­­-

And all her world revolved around him

She don't know what to do

She don't even know what to wait for

Everything's different

She doesn't know where to begin

So... She start writing

A brand new song

Just a brand new song

To inspire herself

Just to show world how she feels

She needed to tell her story

Needed to not feel alone

She needed a new reason to smile

Hey, you might think that

She was just being dramatic

But do you know how she's feeling?

Do you know exactly what it's like to feel this way?...

She don't know what to do

She don't know what to wait for

Everything's different

She doesn't know where to begin

So she start writing

A brand new song

Just a brand new song oh oh

To inspire herself

Just to show world how she feels

She needed to tell her story

She needed a reason

She needed a new reason to smile

Hey-ey-ey-ey, move on this time will be different

Will be different

Hey-ey-ey-ey, take a look around

There is a possibility

Stop living in the past, just go on and fly away!

Just write a brand new song with a brand new meaning

Stop thinking about it, this time just let it go...

Oh oh oh oh, oh oh oh oh oh oh...”

Eu toquei a primeira vez, a segunda, a terceira... Não parei de tocar até que a letra ficou gravada na minha cabeça e os acordes também. Eu simplesmente PRECISAVA colocar aquela ideia na minha cabeça.

Peguei o lápis e escrevi em cima da folha A BRAND NEW SONG e voltei para olhar a outra música. Com certeza A Brand New Song não seria tão verdadeira quanto Shouldn’t Love You, mas demonstrava muito mais o que eu deveria fazer, era como um sinal de esperança na minha cabeça e uma forma deu dizer para mim mesma para seguir em frente de uma vez, porque vale mais a pena do que ficar sofrendo pelo Jason.

Foi aí que eu finalmente me animei pra fazer alguma coisa e decidi voltar para o computador e conversar com o pessoal. Poderia até falar que eu estava viajando e que não iria até a semana seguinte. Não sabia, já que Nicholas só me disse quando voltamos da escola e logo depois embarcamos.

Isso mesmo. Mentira perfeita. UMA VIAGEM SURPRESA.