Good Charlotte escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 1
I - Perdida Com Ele


Notas iniciais do capítulo

Super animada pela minha primeira fic original!
Ela é dedicada á todas as pessoas que tem medo de aproveitar a vida, e tem o intuito de mostrar como ela pode ser bela quando nos arriscamos!
Primeiro capitulo dedicado á Lavinia e Krishna, que leram e me deram algumas ideias, mesmo que indiretamente! Amo vocês!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/278070/chapter/1

I

Perdida Com Ele

O tempo parecia querer brincar com a minha cara. Os segundos pareciam se arrastar, levando consigo minha paciência.

Meu coração acelerado me fazia pensar no que poderia acontecer enquanto estivesse fora de casa. Eram tantas opções, e nenhuma delas eram no mínimo passáveis. O vagão estava vazio, as luzes meio azuladas me davam a impressão de estar num pesadelo e o frio que se instalara ali fazia eu me arrepiar a cada longo segundo. Olhando mais uma vez para a lista de estações, ainda faltavam seis para chegar á minha.

Apertei meu livro contra o peito e fechei meus olhos, imaginando meu quarto morno e seguro, com as paredes brancas delicadas e a cama com dossel azulado aconchegante; uma visão reconfortante diante da situação em que me encontrava no momento.

Senti o metrô diminuir a velocidade, mas não me incomodei em abrir os olhos. Até as portas se abrirem. Quase pulei no banco e senti meu coração falhar quando um garoto entrou. Ele não fazia do tipo perigoso, mas eu fazia do tipo assustada, medrosa, paranoica e problemática. Ele olhou para mim como se estivesse avaliando e me forcei a não demonstrar o desespero que sentia. Revirando os olhos, o garoto – que devia ter entre dezesseis, dezessete anos – foi para o outro lado do vagão. Estava tão óbvio assim meu medo (desespero, pavor, pânico, covardia, etc.)?

Respirei fundo repetindo em minha mente “não há motivo para medo” como se fossem palavras mágicas que salvariam minha vida.

Depois disso não consegui mais fechar os olhos, e só faltavam quatro estações.

Na penúltima estação, o garoto estranho desceu, olhando para mim como se eu fosse maluca (acho que pelo fato de ficar tentando disfarçar que estava olhando para ele e segurar meu livro como se fosse uma arma mortal), e então suspirei aliviada. Mas para minha infelicidade, esse sentimento não durou muito tempo.

Um homem, que devia ter entre dezenove e vinte anos, entrou. Minhas mãos tremeram e o capuz que usava não ajudou muito. Ele esquadrinhou o vagão e seus olhos pararam em mim, olhando dos pés á cabeça. Minha respiração ficou presa na garganta e meu coração parecia estar em todas as partes do corpo. Mas ele me ignorou e foi se sentar no ultimo banco do vagão e colocou os pés no banco ao lado, colocando os fones de ouvido e fechando os olhos.

Senti a inveja tomar conta de mim. Como ele conseguia ser tão relaxado assim? Eu queria conseguir fazer a mesma coisa, ou pelo menos não achar que cada pessoa que passa por mim é um ladrão, um assassino, ou coisa pior. Mas essa é a consequência de ter uma mãe hiper mega superprotetora que só deixa sair acompanhada por um adulto e que faz os filhos acreditarem que todas as outras pessoas são más, perversas, mentirosas, e querem algo de você. Não que ela estivesse errada, mas colocar isso na cabeça de uma criança é pedir para ter que levá-la ao psicólogo depois.

Com meus pensamentos á mil, nem percebi que havia chegado minha estação. A porta estava aberta e então me levantei, mas para minha infelicidade, quando cheguei a ela, ela se fechou e o metrô recomeçou a andar. E eu, sem acreditar, continuei parada onde estava, boquiaberta. Sentia minhas bochechas queimarem e sabia que devia estar muito vermelha. Mas eu nem ligava; estava mais preocupada pelo fato de ter perdido a estação e de que não fazia a mínima ideia de onde ficava a próxima e não tinha mais dinheiro. Na verdade tinha, mas nada relevante que pudesse resolver meu problema.

Ouvi um barulho estranho, e então percebi que eu estava arfando. Sentei-me ainda sem acreditar e então comecei a surtar.

- Droga! Eu sou muito burra! Imbecil, estúpida, idiota! – praticamente gritei, segurando minha pequena bolsa e batendo-a no ferro ao lado.

- Algum problema? – o garoto falou do outro lado do vagão, fazendo-me parar com a bolsa a centímetros do ferro.

Olhei para ele, que estava com os fones de ouvido pendurados no pescoço e uma careta engraçada, como se quisesse rir, mas quisesse manter a expressão preocupada. Mordi o lábio inferior, sendo tomada pela vergonha que fazia meu rosto esquentar ainda mais.

- Me desculpe. – pedi, olhando para o chão, extremamente envergonhada.

- Porque está pedindo desculpas? – ele perguntou, levantando-se e vindo em minha direção. – Por perder sua estação?

Ele agora sorriu abertamente, mostrando suas covinhas, o que fez eu me sentir mais ridícula ainda. Como eu podia ser estúpida a ponto de fazer algo assim na frente de um cara tão fofo?

- Não, estou pedindo desculpas pela cena que eu fiz aqui. – expliquei em voz baixa e alternando os olhos entre o chão e minhas mãos que se mexiam nervosamente, já que não conseguia mantê-los em seus olhos azuis por mais de dois segundos.

- Então está pedindo desculpas por ser você mesma? – ele perguntou, me encarando de um jeito sombrio, que me fez arrepiar.

Não respondi. Apenas me joguei no encosto do banco, sentindo os olhos lacrimejarem, e a única coisa que passava por minha cabeça eram milhares de palavrões, um pior que o outro – desculpa, mamãe, mas sua ideia de ser superprotetora não funcionou contra a escola.

- Posso ajudar em algo? – o cara de quem eu ainda não sabia o nome perguntou, ainda com um claro desejo de gargalhar da situação. Quanto apoio moral!

Respirei fundo. Por mais que a voz de minha mãe martelasse em minha mente repetindo para não aceitar ajuda de um estranho, mas considerando que estava perdida, sem dinheiro, sem nenhum modo de me comunicar com alguém conhecido – eu até poderia ligar, se tivesse um celular – e minha personalidade medrosa e paranoica, não tinha opções.

- Se souber algum jeito de voltar para a outra estação que não seja necessário dinheiro, eu já ficaria agradecida.

Ele fez uma careta e foi até o mapa, fazendo sinal para que eu o acompanhasse. Ele apontou para uma linha em laranja fluorescente.

- Esta é a rota do metrô. – ele colocou o dedo sobre um dos pontos cortava a linha – Aqui é onde, pelo que percebi, você devia ter descido. As próximas três paradas estão fechadas por causa das reformas, então vamos passar direto, o que significa que você terá que descer na estação final.

- E quanto isso fica longe da estação onde eu devia ter descido? – perguntei receosa, sentindo meu estômago revirar.

- Cerca de dois quilômetros e meio. – Ele respondeu como se fosse a coisa mais banal do mundo.

- Está brincando, não é? – indaguei esperando que ele começasse a rir da minha cara e dissesse confirmasse. Mas ele apenas riu.

- Está perdida mesmo, hein! – ele quase gargalhava agora, balançando a cabeça.

- Não tem graça! – reclamei indignada, com uma vontade imensa de bater nele.

- Ah, relaxa! O mundo não vai acabar por causa disso. – o homem revirou os olhos, se jogando no banco ao lado.

- Tem razão! Vou simplesmente relaxar, enquanto me perco sem dinheiro e com um cara estranho! – falei com ironia - Também vou relaxar quando estiver voltando para casa á pé e um cara vier me roubar, e depois me matar, e vou sair no lucro que se ele não usar meu corpo pra alguma coisa depois!

Ele começou a gargalhar, como se minha revolta o divertisse enormemente. Qual era o problema dele? Só sabia rir? Talvez estivesse drogado. Bufei e cruzei os braços, esperando que ele parasse de rir para quem sabe poder me ajudar de verdade.

- Ok, ok. – ele falou respirando fundo, quando conseguiu parar de rir – Não se preocupe. Vou descer na mesma estação que você, e por acaso estou indo trabalhar. Posso pedir a alguém para te levar para casa.

- Ir para casa? Com um desconhecido? – engoli sem seco.

- Pense por esse lado: se você for para casa de ônibus, estará com um bando de desconhecidos. De carro estará apenas com um. – ele sorriu vitorioso.

- Não mesmo! Prefiro voltar á pé. – falei e me sentei no banco em sua frente, encarando-o.

- Tudo bem, se prefere assim. – falou me olhando como se eu fosse maluca, mas com o casual sorriso nos lábios. – Não pode ligar para alguém te ajudar?

- Até poderia se eu tivesse um celular. – respondi, e naquele momento senti uma raiva enorme por minha mãe ter me proibido de ter “um desses parelhos tecnológicos que estragam a mente das pessoas”. – Será que não tem um para me emprestar?

- O meu está descarregado. – suspirou recostando no banco relaxado, batendo a mão na perna fazendo um ritmo engraçado.

Alguns minutos depois o metrô parou e o cara se levantou, me chamando. Estávamos na estação final. Sai do vagão olhando em volta e percebendo que na estação não havia mais que umas dez pessoas além de nós dois. Respirei fundo me abraçando sentindo o vento frio. Subimos as escadas e quando saímos da estação, percebi que minha vida era realmente uma droga. Porque não bastava eu estar perdida. Não. Eu tinha que estar perdida no meio de um temporal. Olhei para o homem ao meu lado que me olhava com uma expressão divertida.

- Ah, qual é? Não aguenta uma chuvinha? É bom tomar uma de vez em quando. Deixa tudo mais interessante! – falou meio rindo.

- Posso aceitar aquela carona agora? – perguntei, minha voz saindo como uma súplica. Ele riu e retirou um casaco grosso da mochila que carregava, entregando-o para mim, e por sorte ele tinha um capuz.

- Acho que teremos que andar um pouco mais rápido que o normal.

Saímos correndo pela chuva, e eu quase caí algumas vezes. Teria que anotar que sapatilhas não eram uma boa opção para correr na chuva. Chegamos á frente de um bar que ficava num beco estranho no qual eu nunca entraria, do tipo em que só há pessoas estranhas e uma banda de rock tocava. As paredes de tijolos beges com estranhas manchas pretas não eram convidativas e o letreiro em neon vermelho acima da pequena porta muito menos. Respirei fundo antes de seguir o homem para dentro do local, e nunca me senti tão deslocada. Enquanto as pessoas ali se vestiam com roupas largas ou de couro pretos, cabelos coloridos e espetados com maquiagens pesadas, eu usava um vestido casual de alças finas e uma sapatilha de um rosa bem claro, sem nenhuma maquiagem, e os cabelos ruivos muito longos com cachos nas pontas.

A cada olhar que eu recebia de alguém ali, eu me encolhia um pouco mais e algumas garotas me olhavam com desdém. Me repreendi por não ter ido de calça como minha mãe havia sugerido ao perceber o olhar de alguns homens – daqueles que aparecem em filmes montados em motos com óculos escuros e barbas estranhas, além das jaquetas de couros com nomes estranhos bordados atrás.

- Hey, acalme-se! – falou o homem me olhando com um sorriso enorme. – Não precisa ter medo deles.

- Não sei porque não acredito em você. – falei, o desdém deformado pelo arrepio que senti quando um homem me olhou dos pés á cabeça, sorrindo.

- Hey, Adam! Está atrasado. – uma mulher loira que parecia uma modelo em um vestido de paetê roxo apareceu, e mesmo com um tom de voz repreensivo, sorria abertamente.

- Me desculpe, Jesy. – o homem ao meu lado respondeu, e só então percebi que nem seu nome eu sabia até aquele momento.

- Tudo bem, você sabe que eu não consigo ficar brava com você, maninho. – ela falou arregalando os olhos azuis emoldurados por uma maquiagem nude (bem diferente dos outros ali).

Espera um pouco, ela disse maninho?

Olhei de um para o outro como se estivesse vendo uma partida de ping pong, tentando achar semelhanças além dos olhos. Os dois tinham a mesma covinha quando sorriam, o mesmo tom de pele branco com um leve bronzeado e a mesma altura, mas os cabelos de Adam eram castanhos – um castanho que me lembrava chocolate.

- E quem é essa? – Jesy perguntou sorrindo docemente para mim, fazendo com que uma parte do desconforto desaparecesse.

- Essa é a... – Adam parou por um momento olhando para o nada, e então me encarou. – Qual é o seu nome mesmo?

- Meu nome é Charlotte. – me apresentei, estendendo a mão para Jesy, que a apertou prontamente.

- Você pode pedir para Carly levar ela para casa? – Adam então pareceu divertido – Ela está perdida e não tem como voltar para casa. A irmã soltou uma risadinha baixa, me fazendo corar.

- Pode deixar que eu a levo. Estou na minha folga.

Jesy pegou minha mão e me puxou em direção á porta me dando tempo apenas de gritar um “obrigado” a Adam.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Good Charlotte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.