P.O.V Katniss

Me despedir de Percy foi difícil. Muito difícil. Mas eu sabia que ali não era o meu lugar, por mais que eu quisesse conhecer o acampamento da qual Percy tanto fala. A deusa Hera voltou comigo para a arena. Os lobos não estavam em lugar nenhum. Eu não ouvia nada, nem mesmo o vento ou o canto dos pássaros. Percebi que o tempo estava parado. Com tudo que já vi isso não me surpreendeu.

—Muito bem mortal. Você vai ser considerada a vencedora. Está vendo esses pedaços de carne no chão? —Ela apontou para a grama, onde vi vários pedaços de carne esparramados no sangue. Isso me deu náuseas. —Eles vão pensar que é o filhote de Poseidon. —Eu teria vomitado se não estivesse na frente de uma deusa. —Você fingirá que está triste por ele, mas não vai negar que ele morreu. Entendeu? —Assenti.

Acho que se eu abrisse a boca, o pouco que comi nos últimos dias seria jogado para fora. De repente os sons voltaram e a deusa sumiu. Podia ouvir o vento balançando as arvores, mas logo outro som abafou tudo isso: O tiro de canhão. Um tiro de canhão para alguém que não havia morrido.

—Senhoras e senhores, apresento a vocês a vencedora da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes! —A voz de Claudius retumbou acima de mim.Eu deveria me sentir feliz, mas eu estava profundamente triste. É tão difícil pensar que talvez eu nunca veja Percy. Ter de pensar que nesse exato momento ele pode estar enfrentando monstros e fazendo mais coisas estúpidas. O aerobarco pairou acima de mim e uma escada foi jogada ao meu lado. A segurei com minhas mãos tremendo, mas firmei assim que começou a subir. Lá em cima Haymitch me esperava.

—Parabéns! Você foi realmente muito bem! —Ele me disse, mas dava para notar a tristeza em sua voz.

Sou separada dele por médicos que me obrigam a deitar em uma maca para cuidar dos meus ferimentos. Eles injetam alguma coisa no meu corpo me fazendo cair na inconsciência. Acordo meio tonta, sem me lembrar direito do que acontece. Quando em lembro lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Os cortes do meu corpo estão cicatrizando rapidamente, meu tornozelo não dói mais e meu corpo está completamente limpo. Sento-me na cama e analiso o quarto. Só tem minha cama e uma mesinha ao lado. A sala é toda branca e possui apenas uma porta, por onde uma Avox entra com uma bandeja. Ela Poe na mesinha ao lado e sai em silencio. Estou faminta, mas pego a vasilha com cuidado. Cautelosamente pego a colher e aproximo dos meus lábios; que conseguem esboçar um sorriso quando provo o cozido de carneiro. Cinna entra no quarto.

—Pensei que fosse gostar. —Ele me diz. Eu assinto. Não tenho forças para falar. —Você foi incrível na arena.

—Eu só sobrevivi por causa de Percy. —Cinna senta na minha cama.

—Katniss, eu realmente sinto muito. Mas ele entrou para a história dos Jogos Vorazes. Sua morte não foi em vão. Várias pessoas agora não querem mais ser “peões” da Capital. —“Ele não morreu” tive vontade de falar.

—Você chama Portia para mim, por favor. —Peço. Cinna abaixa a cabeça.

—Não sei se vai ser uma boa ideia. Ela está realmente muito triste.

—Eu tenho um recado de Percy.

—Tudo bem —Ele se dá por vencido. —Mas coma tudo. Você ainda está muito fraca. Daqui a duas horas chegaremos na Capital para sua entrevista.

—Entrevista? Eu não vou conseguir dar uma entrevista!

—Sinto muito Katniss. Mas é obrigatório. Acho que o Presidente já não gosta muito de você.

—Tudo bem. —Digo de mau-humor. Cinna sai do quarto, e volta com Portia poucos minutos depois, mas o suficiente para acabar com o cozido. Portia está horrível. Seu cabelo bagunçado seu olhos inchados e vermelhos, nem mesmo o delineador dourado ela passou.

—Portia... —Minha voz falha. Eu não sou boa para consolar pessoas. —Antes… Antes de… Antes de morrer; —é difícil falar isso, nunca fui boa em mentir, ainda mais uma mentira dessas. Uma lagrima escorre pelo rosto de Portia, e involuntariamente, acontece o mesmo comigo. —Portia,antes de morrer, Percy disse para mim lhe dizer que foi ótimo tê-la como estilista, e que ele não poderia pensar em pessoa melhor. Você é realmente incrível, Portia. Percy realmente gosta... —Parei. —Gostava de você. Ele não iria querer que você chorasse por ele. —Portia secou as lágrimas.

—Ele era incrível. Corajoso, simpático, amoroso, habilidoso. E ele havia me prometido que me daria o maior abraço de urso quando saísse da arena. Eu não posso acreditar que ele tenha morrido. —Eu realmente desejei poder contar a ela. Mas duas coisas me impedira. Primeira: não sei qual seria sua reação, ela podia achar que era mentira. Segunda: uma deusa me mandou não contar, acho melhor obedecer. Eu abracei Portia e juntas choramos até que Haymitch aparece na porta.

—Nós chegamos. Katniss, você irá com Cinna para se arrumar para a entrevista. —Sua voz era desolada, e ele nem mesmo ironizou o momento.Eu, Cinna, Portia e Haymitch subimos em silencio o elevador para o 12º andar, onde Effie nos esperava.

—OH querida. Você foi realmente incrível! Parabéns! —Murmurei um obrigada e segui Cinna para uma sala. A equipe de preparação não mexeu muito em mim, acho que como um gesto de solidariedade. Cinna me vestiu em silêncio. O vestido era realmente incrível, mas eu nem prestei muita atenção. As 10h da noite eu estava esperando meu nome ser chamado para a ultima entrevista com Kaeser e a premiação. Ouço o hino e logo depois Kaeser saldando a multidão. Ele escolhe suas palavras com cuidado, sei que eu sou alvo da Capital. Depois; meu nome é chamado.

—Senhoras e senhores, a vencedora da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes!Katniss Everdeen; A Garota em Chamas! —Haymitch beija minha testa.

—Boa sorte. E tome cuidado com as palavras. Faça parecer que toda aquela rebelião contra a Capital tenha sido ideia de Percy.

—O que?!

—É a sua única chance de sair viva. E não é só sua vida de corre perigo nesse momento. Pense nisso. —Haymitch está certo, aqui Prim, minha mãe, Gale, todos podem morrer se eu não cuidar com as minhas palavras. Eu subo no palco, onde Kaeser me espera com um enorme sorriso. Sento-me na cadeira.

—Olá Katniss, é bom ter aqui você de novo. E então, qual é a sensação de ganhar os jogos? —O que eu realmente queria dizer? Humilhante. Terrível. Só de pensar que no meio de 24 jovens só eu sobrevivi. Tirando Percy, mas eles não sabem disso.

—Incrível e ao mesmo tempo triste.

—Entendo. Deve ser difícil pensar em Percy, certo? —Meu olhos marejavam, as lágrimas queriam cair, mas eu lutei contra ela.

—Sim. —Respondi com um fio de voz.

—Você cumpriu sua promessa ara sua irmã! —Ele tenta me animar

—É.

—Como você se sentiu quando voltou para a caverna e Percy não estava lá?

—Sinceramente Desesperada. Desolada. Culpada. —As lágrimas teimavam em cair e Kaeser pareceu perceber isso, pois mudou de assunto.

—Sabe o que você vai fazer quando voltar para o Distrito 12? Você vai lá falar com o tal garoto da escola, por que depois de sobreviver na arena e estar incrivelmente linda agora, nenhum garoto seria louco de ignorar uma declaração. —Tentei sorrir.

—É claro.

—Katniss, eu realmente sinto muito. Eu também gostava do garoto. Ele foi incrível na arena. —Olhei atônita ara Kaeser, ele parecia estar sendo sincero. Será que sabia o que realmente estava dizendo? O quanto e perigoso disser isso? Limitei-me a assentir.

—Suas idéias eram meio malucas, mas ele era realmente bom na espada. —A maldita lágrima escorreu pelo meu rosto sem dar tempo para eu enxugá-la.

—Mas estamos aqui para falar de você! Acho que não estou tão surpreso, você é muito boa no arco, suponho que tenha sido isso que mostrou no treinamento particular. E outra coisa Katniss... O que significa este broche? —por um momento não entendi o que ele queria dizer, mas então olhei para o meu vestido, e encontrei o broche de tordo que Magde me dera cuidadosamente colocado.

—Uma amiga que me deu antes dos Jogos.

—Deve ser importante para você, já que usou durante todo o jogo. —Dessa vez somente o pequeno sorriso nos lábios de Cinna me fizeram entender. Olhei para o telão atrás de mim, e lá estava eu na arena, com o broche na minha roupa, e eu nem ao menos percebi.

—Sim, é muito importante.

—Katniss, eu realmente queria conversar por mais tempo, mas a produção não deixou. Agora é o momento esperado por todos os vencedores! A cerimônia de premiação! —Kaeser me guiou até o fundo do palco, onde uma linda e majestosa poltrona esperava por mim. Eu fiquei em pé na frente dela, até que o Presidente Snow veio até mim carregando uma coroa. Pelo pequeno espaço de tempo que estive frente a frente com ele senti apenas duas coisas: ódio e vontade de vingança. Eu vou vingar cada tributo que ele matou, cada família que ele destruiu. Sem surpresa, percebi o mesmo sentimento nos seus olhos. Ele me odiava, não havia acreditado em nada que disse, e eu nem queria mesmo que acreditasse. Ele colocou a coroa na minha cabeça.

—Parabéns. —Eu não respondi, apenas fiz um gesto, que poderia significar a minha morte, mas eu fiz, por lembrança a Rue, a Tresh, e principalmente a Percy. Beijei três dedos em forma de garra, mas em vez de levantar minha mão, eu os posicionei sobre o broche. Fitei os olhos do presidente, que me olhava com profundo ódio. Nossos olhares se penetravam e perfuravam a alma do outro, querendo acabá-la, além do corpo a qual possuía. A voz de Kaeser interrompeu-nos.

—Senhoras e Senhores, tenho o prazer de apresentar a vencedora da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes: Katniss Everdeen, do Distrito 12!

Sentei-me na cadeira sob aplausos ensurdecedores. Tudo o que eu queria naquele momento é matar o pequeno homem que estava na minha frente. Mas isso teria de esperar, agora eu seria apenas Katniss Everdeen, a falsa vencedora da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes, do Distrito mais pobre de Panem, Distrito 12.