P.O.V Percy

       —Não tem não! PERCEU JACKSON, VOCÊ NÃO VAI FAZER ISSO! —Ela se debatia e gritava, mas eu a segurava com firmeza, além de que não podia se mexer muito por causa do ferimento na perna. Um som fez com que ela parasse. Era som de canhão. Mas não só um, eram dois. Um para Cato e outro para Tresh.

      —Como? Ele não enfrentou nenhum tributo, e ele é do Distrito 11, deve conhecer todas as plantas venenosas... —Katniss parou, e eu não entendi por que. Ela começou a se debater mais, chutando minha cara e desferindo socos; eu não tive alternativa senão soltá-la. —VOCÊS SÃO UNS MONSTROS! VOCÊS O MATARAM! PARA QUE? —Ela gritava, e recebeu uma resposta.

       —Ele era inútil. Você também. Eu só quero o garoto. —Uma voz fria e gélida nos paralisou. Era a voz de Snow. Um turbilhão de sentimentos me invadiu: dor, raiva, angústia, rancor, sofrimento, mas principalmente, ódio. Eu me pronunciei.

       —Você não vai ter nenhum de nós!

       —A é? Quem vai me impedir? Esperem.

       O presidente ficou quieto. Não entendia porque, até ouvir os rosnados. Já havia ouvido eles na arena, e logo reconheci. Muitos lobos se aproximavam de nós e o som ficava mais nítido. Katniss começava a se levantar.

       —Nada disso. Fique ai, você não vai morrer, é isso que ele quer.

       —Percy, eu já te disse. Só um vence, e tem de ser você. Deixe eu morrer sabendo que te ajudei pelo menos.

       —Você só vai me ajudar ficando quietinha aí. Mas se você se preocupa tanto com isso, vá para trás das arvores e prepare o arco, pode ser útil. —Ela parecia que iria discutir, mas consegui fazer um olhar digno de Clarisse. Relutante, ela fez o que pedi.

        Os lobos se aproximavam. Quantos eram? Cinco, seis, talvez uns oito. Eu não sou bom em matemática, mas tinha uma boa noção de que minhas chances não eram muitas. Mas eu teria de fazer isso. Fiz muitas promessas e estava determinado a cumprir todas. Logo eu pude vê-los. Eram seis, mas não lobos comuns. Tinham cabeça de lobo, mas corpo de leão; pelo espesso e de um dourado cintilante que parecia brilhar, seus olhos eram vermelhos e ameaçadores. Eu nunca vi isso na mitologia. A Capital deve ter aceitado meu conselho e ficaram mais criativos. Não que isso me alegrasse.

       O que estava na frente pulou em mim. Eu levantei a espada e fiz um corte, que para minha surpresa, desapareceu imediatamente, não deixando nem mesmo uma cicatriz. Se lobos sorrissem, juro que aquele estava sorrindo. Eu joguei a espada de lado, pois ela se tornara inútil, e tirei minha caneta do bolso. Tirei a tampa e logo segurava uma lamina de quase um metro, feita bronze celestial. A outra espada era boa, mas não se encaixava perfeitamente como Contracorrente. Eu queria ficar ali admirando minha espada, mas os lobos/leões tinham outros planos.

    Eles ameaçaram atacar, mas a visão do bronze celestial os fez recurem, mas logo se recuperando do susto, três loboleões atacaram de uma vez. O da esquerda foi morto por uma flecha, eu ataquei o do meio, mas o da direita me atingiu antes que eu pudesse preparar um novo ataque. Ele pulou em mim, fazendo com que eu caísse no chão totalmente imobilizado, pois minha espada havia caído longe. Agora que ele estava em cima de mim, parecia não ter pressa para me matar, ele me observava com aqueles terríveis olhos vermelhos. Na hora que ele iria arrancar minha cabeça, foi jogado violentamente para o lado por outro loboleão, que aparentemente, queria que o outro me dividisse. Os outros loboleões entraram na luta, todos querendo um pedaço de mim. Enquanto eles brigavam me levantei, mas logo reprimi um grito de dor. Na minha perna esquerda havia três longos cortes, certamente das garras de leão. Ignorei a dor, e fui para onde Katniss estava.

         Peguei-a no colo ignorando seus protestos de que podia andar e analisei o local. A nossa única chance seria o lago, que estava a poucos metros de distância. Má notícia: um bando de lobos estava entre nós. Fui me esgueirando pelo lado direito, tentando não atrair a atenção dos monstros, que pareciam bem interessados na sua própria luta. Quando já estava perto do lago e agradecendo por conseguir chegar, um maldito lobo acha que essa é uma ótima hora para parar a luta e atrair a atenção de todos para mim.

       —Auuuuuuuuuu! —Todos os loboleões param e nos fitam, finalmente decidindo que é melhor nos matar primeiro, depois decidem quem vai comer. Esse pensamento fez minhas entranhas virarem. Eu sou um semideus, e para mim existem tantas formas de morrer, tinha que ser a mais nojenta?

       Os loboleões se aproximavam de nós com uma perigosa calma. Coloquei Katniss no chão e peguei contracorrente de novo, que virara caneta e voltara para o meu bolso. Dessa vez eles não se intimidaram com a visão do bronze celestial. Ainda havia quatro, todos em estranhíssimas perfeitas condições, considerando que acabaram de sair de uma luta. Do meu lado eu tinha Katniss ferida, que só possuía uma única flecha em sua aljava, e eu, com um enorme ferimento que não parava de sangrar na perna esquerda. Maravilha!

       O loboleão que chamara a atenção dos outros se pôs à frente. Ele era o maior de todos, e o mais medonho. Eu fitei seus olhos vermelhos e neles encontrei um brilho familiar. Um ódio que eu já presenciara. Paralisei totalmente. Não poderia ser Cato, poderia? Aquilo não era uma pessoa, mas após estar frente a frente tantas vezes, eu tinha plena certeza de que era o mesmo olhar, só de cores diferentes. Além de que ele parecia o mais disposto a me matar, como se fosse algo pessoal. O que a Capital fez? Depois de ter obrigado esses jovens a vir para a arena o mínimo que poderiam fazer é entregar os corpos à família. Mas parecia que a Capital tinha outros planos. Não sei como conseguiram, mas conseguiram. Agora eu tinha certeza, alguma parte de Cato estava naquele monstro. Eu olhei os outros, e o menor atrás do grupo me chamou a atenção. Rue. Esse foi o limite da crueldade, a Capital exagerou. Dentre todos os monstros que já vi, a Capital é o pior deles. O Presidente Snow e Cronos poderiam ser melhores amigos. Se é que algum conseguiria se relacionar com outra pessoa.

       Eu fitei o loboleão Cato novamente, e toda a coragem que eu tinha se esvaiu de mim. Eu não podia, eu não conseguiria. Eles se aproximavam de mim, mas eu não conseguia me mexer. Anaklusmos caiu da minha mão e a lamina retiniu no chão, assustando-os um pouco, mas logo se recuperaram e continuaram a se aproximar. Meu corpo fraquejou, e nunca me senti tão inútil e impotente quanto naquele momento. Eu caí de joelhos na margem do lago, e nem mesmo a água me dava forças. Depois de enfrentar tudo isso, eu estava sendo vencido pela fraqueza. Os loboleões pareceram impressionados, como se não acreditassem que eu me entregaria tão facilmente. Na verdade, nem eu mesmo acreditava. Olhei para o loboleão que algum dia fora Cato, e vi em seus olhos uma expressão de triunfo um pouco antes de me atacar. Mas os dentes que eu esperava sentir na minha garganta nunca senti. Quando estava no meio do pulo, uma flecha o atingiu, exatamente no coração, e a ultima coisa que vi antes de apagar, foi Katniss caindo ao meu lado.