Saint Seiya Seitoushi escrita por Wyvern


Capítulo 9
Capítulo 9




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Já fazia horas que aquela balsa percorria as águas escuras sem nenhuma mudança de cenário, o que fazia Daisuke duvidar de que estavam seguindo a direção certa, fosse ela qual fosse. Seu objetivo era a ponta mais afastada da Ilha Sicília da terra, e tinham levado um dia todo só para chegar até o porto da Itália. Drakon não tinha entendido, mas Daisuke e Katsuo negaram terminantemente pegar um trem, para que não tivessem outro acidente com civis. Havia sido determinado o prazo de três dias para que os Cavaleiros de Ouro se reunissem de volta no Santuário, antes que sua falta fosse notada e causasse pânico. Por tal motivo, estavam viajando sem parar, mesmo naquela hora, em plena madrugada.


- Tem certeza de que estamos no caminho certo? – Katsuo perguntou deitado no chão com os joelhos apoiados na borda da balsa, encostando a ponta dos tênis na água agitada. Estava visivelmente entediado, e não era para menos, já que fazia mais de uma hora que seguiam em linha reta.

- Estamos. – retrucou o garoto ruivo sentado na proa da embarcação, abraçando os joelhos e deixando o vento agitar os cabelos. Desde o começo, era quem estava guiando o barqueiro, que não estava feliz em fazer uma viagem àquela hora.

- Como você sabe? – Daisuke se meteu na conversa, com os braços para fora da balsa e o queixo encostado na bora, mais entediado que Katsuo.

- Eu sei. – aquela resposta não animou nenhum dos dois, porque com a lua encoberta por nuvens, não dava para saber se estavam dando voltas pela água. Pégasus olhou para a direção que seguiam e teve uma sensação estranha, porque com o canto do olho, via pontinhos azul-acinzentados, mas quando tentava olhar diretamente, eles sumiam.

- O que é isso? Essas coisas azuis? – perguntou frustrado por não conseguir vê-las direito antes que sumissem.

- Que coisas? Não tem nada aqui. – Katsuo olhou-o como se fosse doido, mas Drakon tinha os olhos amarelados cravados em Pégasus.

- Consegue ver os espíritos?

- Espíritos? – Daisuke passou a mão na nuca, sem saber se era mesmo o que estava tentando ver. – Só to vendo umas luzinhas azuis pelo canto do olho, elas somem quando tento ver melhor.

- Sua visão é bem falha, mas é uma sorte. – o ruivo voltou a olhar para frente, como se encerrasse aquela conversa.

- Você consegue vê-los? – insistiu.

- Claro. – o tom do garoto mais novo era de irritação, como se a pergunta o ofendesse. – Os Cavaleiros de Câncer vivem com os mortos, e são os únicos vivos que podem chegar na entrada do inferno.

- Por isso você parece mais morto que vivo?

- QUE? – Drakon se virou furioso para ele, com as íris ficando mais alaranjadas, se curvando como se fosse ataca-lo. Daisuke já se preparava para revidar, apesar de não saber como lutar naquela balsa, até que Katsuo se sentou, erguendo a voz.

- Se vocês brigarem, eu vou atacar. – avisou, e ninguém se atreveu a desafiá-lo, o leonino destruiria tudo se lhe dessem chance de fazer aquilo.


Como ninguém ali queria morrer, a discussão acabou com Drakon voltando a olhar para frente e Daisuke pegando o diário de seu pai no bolso. Folheou as páginas, abrindo ao acaso e começando a ler numa data posterior à que tinha lido na primeira vez.


16 de março, 1994

Wilhelm anda bem estranho desde que achou aquele garoto no cemitério, nem o reconheço mais, parece com... bem, com um pai. Até deu um nome pra ele, mas é tão difícil que ainda não consigo falar, muito menos escrever. Arwen também está tendo problemas em esconder o filho, e por isso mal sai da Casa de Peixes, faz dias que não nos falamos. Não consigo me acostumar com esse tipo de coisa, como já disse, eu que não quero um pirralho enchendo meu saco, não nasci pra ser pai.

Estou ansioso, Kendo disse que tem uma notícia incrível para dar hoje à noite.

Uma gota escorreu pela nuca de Daisuke ao ler a opinião de seu pai sobre filhos, sem saber quando ele tinha mudado e se tornado a pessoa que era hoje. Virou a página para saber como continuava, mas quase perdeu o livrinho quando a balsa bateu em terra rochosa e acidentada, com tanta força que quase jogou todos para fora.


- Chegamos. – disse o barqueiro com seu mau humor constante, esperando que saíssem.

- Podia ter avisado antes. – reclamou Katsuo enquanto se erguia, saindo do barco com um pulo. Daisuke guardou o diário com cuidado, pegando a urna de sua armadura e esperando que o canceriano chegasse.


O ambiente parecia típico de um filme antigo de terror. O chão era de pedras e terra escura que pareciam misturar-se, com pontas de rocha se projetando pelo meio do caminho, e graças à proximidade com a água, uma camada fina de névoa obscurecia a visão nos primeiros metros. Árvores escuras de tronco esguio e galhos afiados apontando para cima decoravam o caminho. Não era um lugar muito convidativo.


- Então... Pra onde? – o Cavaleiro de Leão quis saber, olhando em volta.

- Lá. – Drakon apontou para um ponto ao longe, onde uma formação rochosa maior se erguia, talvez uma planíce.

- Tá ficando cada vez melhor... – Daisuke deixou os ombros caírem.

- Ninguém te chamou pra vir aqui. – e com aquele comentário, o ruivo começou a seguir.


Caminhar por aquele terreno era ainda pior do que parecia a princípio. Aquelas pontas afiadas de rocha saíam do chão por todo o caminho, e com a pouca luz, era fácil tropeçar ou espetar-se nelas. Não bastasse isso, ficava cada vez mais frio, e por isso a névoa aumentava e dificultava a visão. Isso durou tanto tempo, que Daisuke se arrependeu profundamente de ter aceitado ir àquele lugar. Por Athena, que tipo de louco gostava de morar ali?

E, quando achava que não podia ficar pior, ficou. Isso porque entre o objetivo deles e o ponto onde estavam, a terra se abria em uma rachadura longa o impedia de chegar, como se fosse algum fosso natural. E, atravessando o fosso em direção à ilhota, tinha uma ponte de tábuas e cordas. A ideia de passar por ali deu tanto pavor que Daisuke tentou rir para disfarçar o nervosismo.


- Qual é... Isso parece um desenho do Scooby Doo. – ironizou, mas não arrancou nenhum comentário.

- Vamos logo. – Katsuo estava impaciente e o empurrou para que passasse nas tábuas quase soltas. Pégasus tropeçou e agarrou-se nas cordas quando a estrutura toda tremeu, ameaçando arrebentar e cair metros abaixo na água e nas pedras.

- Ok, mudei de ideia, eu quero voltar pro Santuário! – berrou, se virando para os outros dois. Drakon sorriu com um “yes” baixo e se voltou para Katuo.

- Falei que ele ia amarelar, pode pagar. – Resmungando, o leonino tirou uma nota do bolso e deu ao ruivo.

- Vocês apostaram às minhas custas?! – Daisuke não acreditava naquilo. Katsuo o olhou furioso.

- Passa logo aí, você já me custou vinte pratas.

- E-Eu não vou... É alto e esse troço vai cair... – tentou dizer, mas não conseguiu terminar.

- Ou você vai, ou eu dou um jeito. – e para confirmar o que dizia, Leão fechou o punho. – Light...


Antes que ele terminasse de falar e atacasse, Daisuke se virou e correu por aquele caminho de tábuas quase soltar o mais rápido que suas pernas permitiam, chegando à terra firme antes de se dar conta. Continuou correndo com medo de levar um golpe, até que bateu em algo duro e caiu de costas no chão, sem ar. Tossindo, se sentou e reparou que tinha batido em um muro baixo de pedra. Se perguntou como não havia visto aquilo e segurou uma pedra solta para se erguer, mas quando aquela “pedrinha” caiu, reparou que na verdade era uma mão cinzenta e dura, jogando aquilo longe, chocado. Percebeu que entre as pedras do muro, tinha corpos, muitos corpos usados como argamassa.


- O que...? – começou, mas quando se virou para correr para fora dali, Katsuo já estava barrando seu caminho, enquanto Drakon passava sem o menor problema por cima daquele muro, escalando por entre os corpos e pedras. Quando o ruivo sumiu, se virou para o leonino. – Ei, vamos deixar ele falar com o antigo dourado, e dar o fora daqui. – ofereceu, louco para sair dali.


Em resposta, Katsuo o agarrou pelo cangote e atirou por sobre o muro. A força que usara fora tanta que Pégasus voou uns dois metros acima da parede e caiu com um “uff” no chão, sem conseguir respirar. Definitivamente, tinha sido uma péssima ideia seguir aqueles dois para algum lugar. Quando apoiou os braços para se erguer, voltou ao chão sentindo pisarem por suas costas para passar. Não uma pessoa, duas. – Hoje não é o meu dia... – concluiu finalmente se erguendo e vendo o que havia adiante.


Nada tinha mudado na vegetação, mas um caminho de pedras lisas saía desde algum ponto mais afastado do muro (onde devia estar algum portão), e rumava até uma casa num terreno mais acima. Numa primeira vista, não parecia assustadora. Era uma morada grande, parecida com uma de country club, só com paredes em tom de cinza e janelas de azul escuro, muito bem cuidada para quem morava naquele fim de mundo assustador. Ver aquilo deixou Daisuke mais calmo, afinal o muro de corpo devia ser apenas para assustar intrusos, a pessoa que vivia ali devia ser bem normal dentro de sua casa.

Não tinha ideia de como estava errado. E isso se evidenciou quando se aproximaram da casa.

Quando chegou no batente, rosnados atraíram sua atenção, e com um susto o garoto reparou numa casinha de madeira ao lado da casa, de onde saíram três cães de caça, de corpo longo, pelo negro eriçado e dentes bem afiados de quem roía ossos em segundos. Daisuke recuou um passo, mas os cachorros estavam presos por correntes a uma estaca no chão. Os animais latiam e rosnavam apenas para ele e Katsuo, porque quando chegavam perto de Drakon, amansavam como se já o conhecessem.


- Que bichinhos mais meigos... – Pégasus tentou fazer graça, mas recuou quando um deles quase mordeu sua mão.

- São cães treinados para procurar almas. Eles são ais intuitivos que os humanos. – o canceriano se abaixou e passou a mão no dorso de um daqueles cachorros. – Alecto, Megaira e Tisífone. Podem ser mais úteis do que pensam.

Katsuo tinha perdido o interesse nos cães depois de segundos, e olhando para a porta, perguntou. – Então, tocamos a campainha ou o que?

- Pra que? Ele já sabe que estamos aqui. – e com aquela resposta, Drakon foi até a porta e a chutou, revelando o interior mal iluminado daquela casa. Mal iluminado, porque em vez de lâmpadas, havia várias daquelas chaminhas de fogo azul, como na Casa de Câncer, correndo de um lado para o outro. Os corredores eram bem largos com janelas abertas, que não ajudavam a iluminar em nada, com estilo fino que fazia pensar que seu dono era algum mafioso italiano.

- Ah, eu achei que seria pior... – comentou Daisuke dando alguns passos para dentro, até algo pingou do teto. Um pingo espesso e vermelho. Rezando para não ser o que pensava, olhou para o teto e deu um grito tão alto que se o dono daquela casa não sabia que estavam ali, sabia agora. O teto todo estava revestido de pedaços de corpos, alguns cinzentos e parecendo bem antigos, outros que, pelo sangue a escorrer, deviam ter sido colocados ali a pouco tempo. Quando o minuto de pavor passou, se virou e agarrou os ombros de Katsuo, sacudindo-o. – Tem corpos no teto!! Que tipo de lugar é esse?!

Piscando uma vez, o leonino ergueu a face para o teto, reparando no que dera tanto pavor a Pégasus. Mas, em vez de responder, se virou para Drakon que tinha acabado de entrar. – Seu mestre tem um gosto péssimo para decoração, hein.

- Nem me fala, quando eu era aprendiz, ele me fazia arrumar esses trecos toda semana. – o ruivo nem olhou para cima ao falar enquanto ia seguindo o corredor. Daisuke, por outro lado, parecia incapaz de soltar-se de Katsuo, até que ele se irritou e empurrou Pégasus, agarrando sua manga e literalmente o arrastando junto.

- Vamos, jegue voador, não pode ficar pior.


A princípio, ele estava certo, por mais que andassem, o cenário era o mesmo, uma casa bem decorada e bem cuidada, com um teto coberto de pedaços de corpos. Isso, até que chegaram a uma sala, e antes que entrassem lá, Câncer esticou o braço, não deixando que seguissem adiante. – Ele já está vindo. – avisou, e não estava errado. Minutos depois, um tempo que pareceu uma tortura, uma figura surgiu do corredor oposto, parando na outra entrada para aquela sala, deixando o recinto entre ele e o grupo.

- Olha só quem voltou... – a voz era adulta, masculina e baixa, obviamente sarcástica. Uma luz se acendeu acima, vinda de um lustre que Daisuke não tinha notado antes, e sem dizer mais nada, o dono daquela casa entrou na sala. Foi até uma mesa longa de madeira escura, puxando uma cadeira e se sentando para fita-los. – A que devo a honra da visita?


Aquele homem não era nenhum “Leatherface”, mas também não parecia confiável de longe. Era alto, esguio e de feições angulosas, com uma pele sem cor (será que algum dia tinha saído sob o sol?) e cabelos negros lisos que caíam pelas costas. Seus olhos negros não paravam de fita-los de maneira desconfortável, e o sorrisinho de ironia não ajudava em nada. Daisuke fez um esforço para lembrar o nome daquele homem, que tinha ouvido antes de chegar, um nome de demônio. Buscou na memória os nomes. Azazel, Agares, A... Astaroth! Isso, o nome dele era Astaroth. E, dando uma boa olhada nele, combinava perfeitamente com o nome.


- Então? Não vai me dizer o que veio fazer aqui, já que há um ano disse que só voltaria a me ver para me matar? – Astaroth parecia falar apenas com Drakon, ignorando os outros. Em resposta, o ruivo apontou para os dois atrás de si.

- Eles querem a sua ajuda, por mim nem estaria aqui.

- Ah. – ele pareceu enfim se interessar no assunto, virando os olhos para Katsuo. – Você é o filho de Kendo, estou vendo porque é exatamente igual a ele nessa idade.

- Sim, eu escuto muito isso. – Leão concordou, e parecia feliz com a comparação.

- Tente ser mais inteligente que o seu pai e não ser suicida, certo? Foi estupidez ele achar que se sacrificar ajudaria em alguma coisa. – o comentário pegou-o de surpresa, e o leonino levou alguns segundos para assimilar a resposta. Seu cosmo ferveu e ele fechou o punho como se fosse avançar, mas Drakon segurou seu braço, se esticando para isso.

- Se alguém vai matar ele, sou eu, ok? – disse em voz baixa, e Katsuo puxou o braço de volta.

- Então anda logo, se ele fizer outro comentário desses, eu ataco.


Daisuke realmente não estava entendendo porque aquela discussão, mas quando voltou a olhar para frente, deparou-se sendo alvo daqueles olhos escuros, recuando um passo. Astaroth não o fitava com aquele sarcasmo de antes, parecia sério e desconfiado, com as mãos cruzadas diante da face.


- Você. – disse aquela palavra quase como uma ameaça. – Quem é você?

- Eu... Eu sou Daisuke de Pégasus. – disse engolindo em seco antes de conseguir manter uma postura mais digna. – Filho de Saye de Sagitário.


Um silêncio pesado caiu assim que Daisuke disse aquilo, e a falta de resposta deixou o ambiente tenso, como se esperasse que algo horrível acontecesse. Quando falou de novo, o tom de Astaroth era calmo, com uma fúria gelada imposta em cada palavra. – Eu devia ter imaginado quem era, se parece com ele, afinal. – e enquanto falava, se ergueu e deu a volta pela mesa, se aproximando. Pégasus recuou mais alguns passos, não queria ficar mais próximo daquele homem de jeito nenhum.

- Ótimo, mas eu só... – começou a dizer, mas não conseguiu terminar.

- Eu esperei dezesseis anos para fazer isso... – o sorriso que o homem ostentava agora não era irônico, era maligno, enquanto erguia a mão e concentrava sua energia ali. – Seki...


Pégasus tinha certeza de que teria morrido naquele momento, não fosse as janelas terem sido quebradas, interrompendo seu golpe e anunciando a chegada de um grupo de invasores.



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