Passo horas me revirando na cama antes de realmente pegar no sono, noite turbulenta, repleta de pesadelos. Sonho com o rosto de cada tributo que matei, e com os de quem foram nossos aliados senti uma dor profunda em ver eles mortos, mesmo que em sonho, as imagens do vídeo de ontem ficaram vagando por minha mente. Quando finalmente Charlote vem me chamar, já estou um poço de suor.

-- Anda! Você tem que comer antes da equipe de preparação chegar, temos pouco tempo! – ela fala dando gritinhos histéricos.

-- Eu preciso de um banho – falo me levantando.

-- Mas agora não dá! – ela fala ainda mais histérica praticamente me arrastando até a sala.

-- Cansei de vocês me dizendo o que fazer o tempo todo! – Berro em resposta.

-- Deveria ter pensado nisso antes de se voluntariar, agora só come esses cereais – ela fala saindo, me deixando sozinha na sala.

Tenho cerca de cinco minutos para comer e a equipe de preparação chega, eles não param de falar de como eu estava maravilhosa, ou o quanto que essa edição os emocionou. Logo depois Beatriz me entrega um vestido branco um tanto extravagante e sapatos de salto azuis escuros. Minha maquiagem está clara e meu cabelo solto. A entrevista acontecerá na sala de estar no final do corredor, mas por algum motivo que eu nem me dou o trabalho de perguntar, será no andar dos do 12. Cato já está lá e eu estou atrasada. Beatriz vai comigo até o local, lá estão um punhado de câmeras, e as duas e pequenas poltronas estão rodeadas de flores vermelhas e rosas. Ceasar Flickerman me dá um abraço assim que chego.

-- Como está, Clove? – ele pergunta entusiasmado.

-- Muito bem! – respondo com um sorriso falso.

Cato, Peeta e Katniss aparecem, ela está com um vestido branco muito parecido com o meu, e sapatos cor-de-rosa, Peeta está com um ridículo terno vermelho e Cato com um terno azul. Estamos sentados de uma maneira formal, apenas encarando Ceasar, mas logo Katniss e Peeta começam a conversar, então acho que também temos esse direito.

-- Parece que estão evitando que agente se veja – Falo fitando o chão.

-- A coisa é pior do que parece – ele fala convicto.

-- A coisa já parece realmente péssima. – retruco. Ele ia me responder, mas Ceasar começa a falar:

-- Andem! Se enrosquem, fica bonitinho, e logo estaremos ao vivo.

Katniss faz o que ele manda, e eu decido imitar. Estou praticamente no colo de Cato quando a contagem regressiva acaba e entramos no ar. Peeta e Ceasar falam como se fossem velhos amigos, Cato também é mais carismático que eu e Katniss juntas. Mas logo ele faz o enorme favor de começar a falar comigo.

-- Qual foi a sua sensação quando a nova regra foi aplicada, Clove? – ele pergunta me olhando, o que óbvio me deixa na obrigação de responder.

-- A melhor do mundo – “improvisa direito Clove” me xingo em pensamento – Porque apesar de poder ganhar, eu ganharia com a pessoa que eu amo.

-- Ah! Que lindo – ele fala –E o que sentiu quando o tributo do 11 estava te prendendo contra a cornucópia?

-- Que ele iria me matar – respondo grossamente, mas tento ajeitar – achei que Cato não chegaria a tempo – falo chorosa.

-- E o que aconteceria se isso acontecesse?

-- Eu morreria – respondo com um sorriso irônico.

-- Eu nunca te deixaria morrer, Clove – Cato sussurra em meu ouvido, me aperto em seu peito, mas Ceasar ainda não quer me deixar em paz:

-- E quanto aos aliados? O que achou deles?

-- Hum, eles foram bons aliados – adoraria complementar dizendo que a Glimmer era uma inútil, mas isso não faria bem para minha imagem nesse momento – eles foram, o mais próximo de amigos que podíamos ter na arena.

-- Verdade, você, Marvel e Emilly pareciam ser quase amigos mesmo – ele fala e para por um instante – Mas ficou aparente que a loira bombástica dos distrito 1, Glimmer, a incomodava.

-- Digamos que eu não fui muito com a cara dela – fico pensativa por um instante – ela parecia não gostar de mim, e na real não ligo de dizer realmente não gostava nem um pouco dela. Ela podia ser bonita e tal, mas isso não dá o direito dela ficar dando em cima de cada tributo que olhasse para ela.

-- Não precisava ter ciúmes dela, eu só tenho olhos para você. – Cato fala tirando suspiros de Ceasar.

-- Sua habilidade com facas é evidente – o apresentador comenta.

-- Faço o que posso – respondo duramente, e com isso ele passa a sua atenção para Katniss.

Eles tem uma conversa melosa que faz Ceasar chorar, fico brincando com meu cabelo enquanto isso. Logo depois Peeta e Ceasar começam a conversar novamente, só me lembro que ainda estou na entrevista quando ele passa sua atenção para mim novamente. Ele faz perguntas rápidas sobre as teleguiadas, mortes dos tributos, etc. Depois ele comenta sobre a nova perna de Peeta e Katniss fica espantada, eu também não sabia que ele tinha amputado, mas decido ignorar.

-- Katniss, sei que você acabou de passar por um choque, mas sou obrigado a perguntar, o que passou na sua cabeça no episódio das amoras? – ele pergunta a olhando. Todos nós participamos, mas a principal culpada é ela, o que me deixa feliz. Ela tem uma longa pausa e fala:

-- Não sei... Eu simplesmente... Não consegui suportar a ideia de... Viver sem ele – ela fala de um jeito tão real que por um momento achei que não fosse armação.

-- E vocês? Algo para acrescentar? – Ceasar pergunta. Cato e Peeta negam com a cabeça, mas eu acabo continuando.

-- Quando você ama alguém de verdade, você percebe que até a ideia de morrer é melhor do que a ideia de viver sem ele.

E com isso a entrevista é terminada. Todos estão chorando e se abraçando, Katniss vai até Haymitch e pergunta se foi bom, ele confirma o que me deixa aliviada. Voltamos aos quartos para pegarmos nossas coisas, eu não tenho muito o que pegar, apenas o meu diário e o que eu usei enquanto estive na capital. Eles nos conduzem pelas ruas em um carro de janelas escuras, e o trem está esperando por nós, infelizmente Katniss e Peeta irão no mesmo trem que nós. Nos despedimos de Beatriz e Chariza enquanto os do 12 se despedem dos seus próprios estilistas, Beatriz falou que vai ficar com muita saudade mas logo nos veremos de novo, em alguns meses, na turnê da vitória, que é uma forma da capital mostrar que os jogos nunca acabam. Entramos e logo o trem começa a se mover, jantamos e fomos assistir a reprise da entrevista, a capital cada instante mais distante de nós, e o distrito dois cada vez mais perto. Algum tempo depois me retiro e vou trocar de roupa, coloco uma calça e blusa simples, retiro cuidadosamente toda a maquiagem em meu rosto e me atiro na cama. Começo a vagar pelos acontecimentos recentes em minha cabeça, não sou mais Clove Rivers um simples futuro tributo do distrito dois, agora sou Clove Rivers uma vitoriosa! E isso me assusta. A noite chega e eu durmo rápido, quando acordo estamos a cerca de cinco minutos do distrito dois. Me arrumo rapidamente e alguém bate em minha porta.

-- Pronta Clove? – Charlote pergunta abrindo a porta.

-- Estou sim – falo a seguindo até a sala.

Quando chego, Katniss vem a minha direção.

--Até a turnê.

-- Até a turnê – repito com um sorriso sincero que ela retribui.

-- Clove, Cato, nos liguem – Peeta fala com um sorriso – vamos procurar manter contato.

-- Vamos sim – Eu e Cato concordamos.

-- Juízo Clove – Haymitch fala a mim – e Cato, sabe com o que estamos lidando.

-- Até a Turnê Clove! – Effie fala de um jeito escandaloso, dou um meio sorriso a ela – vocês do dois são tão sérios!

Todos terminamos de nos despedir, observo pela janela que a plataforma está cheia de câmeras, e então chega o momento de descermos do trem. Somos recebidos por uma enorme multidão, subimos até o palco de mãos dadas, e então me preparo para o momento em que todas as câmeras presentes estarão focadas na gente. Mas apesar do medo, eu estou confiante, pois sei que enquanto Cato estiver comigo e eu tiver o apoio do meu distrito, nem Snow e nem Capital vão conseguir me atingir.