My Happy Pill escrita por Gabby


Capítulo 30
Capítulo Especial I: Grimmjow


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos á:

Kevyn Valdez
Luh chan
Alessandra Silva
Matsumoto Narumy



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O menininho foi até a cozinha, silenciosamente. Espiou pela porta e viu seus pais. Ambos eram muito bonitos, a mãe com cabelos castanhos escuros, e uma pintinha abaixo do olho, o pai muito moreno e com os olhos azuis claros. Eles estavam sentados á mesa, e, devagar, Grimmjow ocupou seu lugar ali também.

Estavam comendo yakisoba, e logo sua mãe serviu um pratinho para ele também. Seu pai o olhava muito afetuosamente quando ele começou a comer, fazendo barulho de sucção e lambuzando-se todo. Sua mãe o limpou, com uma falsa feição de irritação no rosto.

—Coma direito, Grimmjow. —ela repreendeu, e seu pai lhe dirigiu um sorriso.

—Me desculpe, Okaa-san. —ele falou. —E Itadakimasu. —ele disse, apesar de estar atrasado.

—Grimmjow, você gostaria de orar? —seu pai perguntou. —Supondo que isso deveria ser antes de você atacar o nosso yakisoba, mas... —ele deu as mãos para Grimmjow e para a sua esposa. —Nossa Senhora sempre gosta de que agradecemos pela nossa comida.

Grimmjow se arrumou na cadeira, bastante orgulhoso, e disse, em espanhol:

—Nossa Senhora, muito obrigado por esse yakisoba, por essa casinha, e pelo meu pai e minha mãe que eu amo muito muito mesmo. Dê para a gente saúde e felicidade, e prometo que serei bom menino. Amém.

Filho de um mexicano com uma japonesa, Grimmjow era muito ligado ás duas culturas. Sabia ambas as línguas fluentemente, e suas tradições eram mescladas. Sua família era pobre, mas o menino vivia feliz e os pais aparentemente também.

Olhou para as mãos do pai, para as unhas curtas, enxergando tinta seca nelas. O pai era pintor. A mãe era caixa de supermercado. Eles trabalhavam muito para ganhar dinheiro, e definitivamente eram muito esforçados.

Seu pai sempre dizia para ele não seguir essa profissão de pintor; queria que o menino fizesse faculdade e trabalhasse em algo que ganhasse bem e trabalhasse pouco. No entanto, a visão do trabalho duro dos pais o inspirava. Trapezista trabalha duro, pensou o menino, imagine sustentar o próprio peso e o de outra pessoa com os braços. Deve precisar de muita força mesmo. Mas quando ele falara isso á mãe, que queria ser trapezista, ela o dera um tapa na boca e ficara muito chateada mesmo, como nunca ficara.

—Nunca que trabalharás em um circo! —ela dissera. —Não te crio para isso; te crio para ser alguém na vida!

O menino sentiu-se muito mal depois daquele dia; porque o tapa doeu, e as palavras da mãe também; e a decepção dela doeu muito mais ainda. Queria recompensa-la por tudo, e sabia que quando ela e seu pai ficassem velhinhos ele deveria sustenta-los.

.

Depois de alguma idade, começou a ouvir berros e brigas entre os pais. Ouvia coisas quebrando quase toda a noite, mas tinha medo de sair da cama e verificar. Quando o menino ia tomar café da manhã, ele não via o pai. E, quando questionada sobre isso, a mãe não dizia nada.

Mais tarde, Grimmjow via o pai, e ele parecia muito melancólico e agoniado. Uma vez, ele fez um drama, e repetia a cada dois segundos, abraçando e chorando:

—Você sabe que eu te amo, não sabe Grimmjow? —Grimmjow assentia. —Eu te amo muito, meu filho. Não importa o que aconteça, papai te ama muito!

Naquela época, Grimmjow não entendeu porque tanto drama, mas depois que o pai não apareceu, ele tomou noção do porque ele chorara. No entanto, Grimmjow foi tomado pelo ódio pelo pai. Se me ama tanto, por que me abandona? Mas ele sempre o esperava, nem mesmo se fosse para dar-lhe um soco na cara.

Sua mãe ficava sumida durante dias depois que o seu pai fora embora, e voltava pior do que estava quando ia. As contas de luz e água acumulavam na mesa, e quando cortaram a luz e a água da casa, Grimmjow decidiu intervir. Gritou alto com sua mãe, e a mulher fez o mesmo. E acertou-lhe um tapa bem forte na cara. Xingou-o de tudo, e chegou a mencionar até seu pai. Grimmjow chorou quase a noite inteira naquele dia, e acordou mal conseguindo abrir os olhos.

Na escola, o rumor da pobreza dos Jaegerjack se alastrou, e logo boatos de sua mãe haviam se proliferado pela escola inteira. Descobriu por um desses boatos, que ele não quis acreditar na época, que a mãe se drogava. Uma vez um menino a chamou de prostituta, e então Grimmjow explodiu e socou tanto o garoto que suas mãos ficaram manchadas de sangue.

Lembrava-se daquilo mais como um sonho. Estava no meio de um círculo, e as pessoas ao seu redor berravam “briga! Briga!” e alguns filmavam com seus telefones-celulares. Aquilo o irritou muito, mas ao ver o garoto abaixo de si, o nariz sangrando, os braços tentando proteger o rosto inutilmente, ele sentiu um prazer enorme. Tinha se libertado, mesmo que por alguns minutos, do seu infinito ódio. Ninguém veio pará-lo, nem ajudar o garoto, até que os coordenadores viram a bagunça e vieram para separá-los.

Grimmjow foi expulso do colégio. Ele gostou daquilo, pois a mãe, que tinha as atenções voltadas para seus vícios, prestou a atenção nele mesmo que para dar-lhe uma bronca. Sentiu que tinha uma mãe de novo, e isso foi ótimo.

A partir daquilo, fez tudo para chamar-lhe atenção. Pintou o cabelo de azul, e, quando foi para um outro colégio, onde o histórico de expulsão já o arranjava algum status, arranjou briga de novo. Dessa forma, podia fazer as duas coisas ao mesmo tempo: extravasar a raiva e chamar a atenção da mãe.

No entanto, quando a mãe parou de pagar o aluguel para comprar mais drogas, receberam seu aviso de despejo. O vizinho ficou com pena de Grimmjow, e logo o conselho tutelar estava á sua porta. Eles o levaram, e levaram sua mãe. Grimmjow lutou muito com aquilo, mas foi levado a um orfanato e nunca mais soube de sua mãe.

Quando remexia em suas fotos de família, para ver o que levaria ou não de sua casa, e viu uma foto dele pequeno, e de sua mãe e de seu pai muito felizes, sentiu um aperto no peito. Olhou no espelho e viu o seu reflexo: um garoto de cabelos azuis, olhos selvagens e expressão irritada. E este menino estava sozinho, sem pai ou mãe. E Grimmjow não reconhecia esse menino.

Mas, com um soluço, percebeu que esse menino era ele. E a criança muito feliz com os pais na foto, aquele garoto era só uma lembrança morta há mais de cinco anos atrás. Chorou por aquele menino feliz que morrera anos antes, e chorou também por ele, porque a sua forma atual era deplorável, e vivia apenas por raiva. E, se todo aquele ódio sumisse, só restaria uma casca vazia.

Quando foi de verdade para o orfanato, no carro do conselho tutelar, eles explicaram o porquê de Grimmjow ir para lá. Disseram que não conseguiram localizar nenhum parente, mas Grimmjow sabia que, mesmo se conseguissem localizar algum, esse não iria querer ele. Quando sua mãe casou com seu pai, renegou toda a família. E também ninguém iria querer um adolescente rebelde que já havia sido expulso da escola três vezes.

O seu quarto no orfanato era estreito, e tinha um beliche que ele dividia com outro menino, uns dois anos mais velho do que ele.

No orfanato, ele também arranjava briga com qualquer um. Ele já vinha percebendo que o efeito das brigas havia diminuído. Na verdade, nada causou tamanho prazer quanto à primeira vez que ele havia brigado. Desde então ele vinha tentando aperfeiçoar-se para tentar recriar a sensação daquele dia. Mas, infelizmente, sem resultado. E, sem a mãe para chamar atenção, aquilo não tinha propósito algum.

Então conheceu aquela menina, a Neliel. Muito bonita, com os cabelos longos, e olhos brilhantes. Parecia muito feliz, mas nem sempre era assim. Seus pais haviam morrido quando ela era muito nova, e não se lembrava mais como eles eram. Não tinha foto nenhuma deles. Não sabia como eles eram. Era como se nunca tivesse tido uma família. Grimmjow conseguia conversar muito com ela, e de fato os remédios que ela tinha o ajudavam. Não sabia de fato para que eram, mas ele se sentia muito melhor com eles. Como se pudesse esquecer de que estava no orfanato, porque seu pai fugira e porque sua mãe era uma drogada. Esquecer-se da saudade, da solidão e do ódio. Neliel tomava o dobro da dosagem que ele tomava. Ninguém sabia que os dois tomavam aquelas pílulas —exceto, talvez, de quem a Neliel comprava —e isso o fez sentir ainda mais especial porque era um segredo deles.

Uma vez os dois se beijaram, o que foi muito bom. Neliel pintou o cabelo de azul também para combinar com o dele, embora não tenha encontrado o mesmo tom. E eles se beijaram de novo, o que foi bom também.

Ela andava sempre com um menino, chamado Ulquiorra. Ele tinha a mesma idade deles, e era o “irmão” dela. No orfanato havia um esquema em que pessoas muito ligadas, que se amavam como se tivessem um laço de sangue, se tornavam irmãos do outro. Isso favorecia a ideia de que todos eram uma família lá. Grimmjow nunca chegou perto de ter uma “irmã”, ou um “irmão” no orfanato, pois a única pessoa que ele realmente tinha uma ligação muito forte era Neliel. E ele não a podia tratar como irmã, nunca a desejando como ele a desejava.

Ulquiorra não gostava dele, e ele também não gostava de Ulquiorra. Uma vez, Ulquiorra descobriu que ele e Neliel tomavam as pílulas. E, então, ele contou para o dono do orfanato. Grimmjow ficou com tanta raiva de Ulquiorra quando lhe confiscaram tudo e não deixaram possibilidade de arranjar mais nenhum entorpecente, que teria batido nele se Neliel não tivesse ali, e ela certamente não iria querer que ele batesse em seu irmão.

Os boatos de que Grimmjow e Neliel usavam remédios se espalhou, e os outros garotos começaram a fazer piadinhas referentes á isso. Novamente, Grimmjow começou a bater neles para extravasar a raiva, e isso finalmente voltou a adiantar alguma coisa.

O dono do orfanato disse que adolescentes a partir dos 16 anos poderiam alugar uma casa fora, se mantivessem um bom histórico escolar e não se metessem em encrencas, e as despesas seriam pagas pelo orfanato. Grimmjow, Neliel e Ulquiorra foram —Grimmjow supôs que eles queriam se livrar de três adolescentes que ninguém queria: um brigão, uma depressiva e um amargo. Se ele fosse um homem procurando filhos, não os escolheria também.


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Notas finais do capítulo

Estou escrevendo sobre drama, porque sim! Espero que tenham gostado! Eu gostei de escrever algo assim, pois nunca tinha escrito nada parecido! Meio que estou com uma crise de criatividade, então me desculpem qualquer coisa. Comentem!