Dalian ficou ali parada, não sabia o que dizer. Estava ficando cada vez mais vermelha, parecia que ela explodiria a qualquer instante:

– H-Hum... E-Espere aqui um pouco – Disse Aoshi fechando a porta, e a abrindo-a logo em seguida vestindo uma calça jeans preta e uma blusa roxa – B-Bem... Você veio aqui para...?

– A-AAAH! S-SIM! CLARO! – Riu Dalian, tentando disfarçar a vergonha – Eu perdi a minha chave... Eu queria saber se eu poderia pular o muro para entrar no m-meu apartamento já que não tranquei a p-porta da sacada.

– Ah sim... – Falou Aoshi mexendo nos cabelos molhados – Mas o muro não é muito alto para você pular?

– Eu subo numa cadeira e você me dá um impulso.

– Por mim tudo bem. Entre, ai fora está frio – Disse ele abrindo mais a porta – Só um minuto, vou pegar uma cadeira.

Dalian ficou observando o cômodo, o chão já estava seco e a decoração era bastante moderna com uma grande televisão sobre uma mesa branca com um vaso de margaridas ao lado. Havia dois pequenos sofás verdes sobre um tapete branco acinzentado que cobria boa parte do chão. Aoshi voltou à sala carregando consigo uma cadeira de madeira com o estofado azul. Os dois subiram as escadas e abriram a porta que levava a sacada. Aoshi colou a cadeira frente ao muro e estendeu a mão para que Dalian pudesse subir:

– N-Não olhe – Disse ela, segurando a saia enquanto Aoshi dava um impulso para que ficasse sobre o muro. Dalian ficou sentada sobre o mesmo e agradeceu Aoshi com um gesto, saltando sobre uma pia do outro lado:

– Você está bem? – Gritou Aoshi jogando a bolsa de Dalian para que ela pegasse.

– Sim, obrigada pela ajuda. Boa noite – Falou pegando a bolsa e abrindo a porta da sacada, que como ela disse, não estava trancada. “Que dia cheio... Onde será que está a minha chave?” Pensou ela, indo em direção ao seu quarto. Tirou o uniforme e pegou o primeiro pijama que encontrou pela frente. Desligou as luzes e deitou-se, adormecendo rapidamente.

***

O sono de Dalian foi interrompido pelo barulho persistente da campainha. Ela olhou pra o relógio que já marcavam meio dia. “Que sono...” pensou se levantando e indo ao banheiro. Deu uma arrumada nos cabelos, escovou os dentes e foi abrir a porta:

– Dalian-chan! Que demora! – Falou Kiyomi com um ar de felicidade.

– O-Oi... – “O que essa doida estava fazendo aqui?” pensou Dalian mexendo no cabelo todo desarrumado e forçando um sorriso.

– Como hoje não tem aula, pensei se você poderia ir comigo no parque de diversões... Então, vamos?

– Não. Eu vou dormir – Disse ela sonolenta. Kiyomi segurou a porta antes que Dalian conseguisse a fechar por completo.

– Vamos, por favor! – Choramingou a garota. Dalian apenas revirou os olhos.

– Espere aqui – E fechou a porta, deixando Kiyomi do lado de fora. Uns dez minutos depois Dalian abriu a porta novamente, e vestia um short preto e uma camiseta bem larga cinza com um desenho do Mickey estampado – Vamos logo antes que eu mude de idéia – Falou com um tom mal humorado, prendendo os cabelos – E antes que eu me esqueça... Como soube que eu morava aqui? – Murmurou descendo as escadas.

– O Koushirou me disse – Kiyomi apontou para o garoto que esperava no lado de fora do prédio. “E-Essa garota! Aposto que ele não disse para ela o que ele fez comigo” pensou consigo mesma, enquanto cumprimentada com a cabeça Koushirou. Os três foram rapidamente até o parque, que não era nem a seis quadras dali. Andaram na montanha russa, comeram sorvete, foram na casa mal assombrada... Visitaram o parque inteiro, mesmo que muitas vezes ninguém puxasse assunto, todos haviam se divertido:

– Vamos comprar mais um sorvete Dalian? – Perguntou Kiyomi.

– Mais um?

– Sim, estou com um pouco de sede – Falou puxando Dalian até o carrinho de sorvete mais próximo acenando para Koushirou, avisando que voltaria logo.

– Qual você quer?

– Hum... De chocolate está bom – Respondeu Dalian, abrindo o seu primeiro sorriso gentil do dia – Kiyomi, me responda uma coisa?

– Claro – Falou dando uma lambida no sorvete, entregando o outro que estava em sua mão a Dalian.

– Quando uma pessoa gosta de outra... Ela tenta se afastar da pessoa que gosta? – Perguntou, tentando não derrubar o sorvete no chão – Eu sei que isso é confuso, mas me responda com sinceridade.

– Hum... Eu acho que não né? Quando uma pessoa gosta de outra, ela quer ficar o maior tempo possível perto da pessoa amada... Não?

– Você tem razão... – “Isso faz todo o sentido. Quando eu e Aoshi éramos pequenos ele não fugia dos problemas, e sim os encarava. Ele não pararia de falar comigo só por g-gostar... De mim...E por que voltaria a falar comigo só agora? Preciso falar com ele o mais rápido possível” pensou.

– Você está bem Dalian-chan? Está toda vermelha – Perguntou Kiyoimi abrindo um sorriso malicioso.

– E-Eu estou ótima! – E riu tentando disfarçar a vermelhidão – S-Só está muito quente! Só isso... Que caloooor! – E comeu o sorvete todo de uma vez.

– Sei, sei... Em quem estava pensando em? – E deu um tapinha no ombro da garota.

– E-Estava pensando em ninguém – Dalian olhou para o céu – Nossa! J-Já está escurecendo! Tenho que voltar para casa! – E saiu correndo, mas foi segurada por Kiyomi.

– Mas antes, vamos à roda gigante. Depois eu deixo você voltar para casa – Choramingou.

– Você só sabe choramingar é? Tá... Vamos – Disse desanimada.

Kiyoimi saiu correndo para chamar Koushirou que esperava por elas na frente da montanha russa. Dalian correu atrás de Kiyoimi, que já esperava por ela com Koushirou na frente da roda-gigante vermelha que brilhava sem parar. Ela entrou na cabine e sentou-se na janela, era pequena e com grandes janelas nos lados para admirar a vista:

– Kiyomi aqui é... – Dalian arregalou os olhos quando viu Kiyomi acenando e trancando Dalian e Koushirou na pequena cabine da roda-gigante – SUA VADIAAAAAAAAAAAAA! O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! – Gritou enlouquecida, mas era tarde de mais, a roda-gigante já se movia e não havia possibilidade alguma de sair dali. Viu Kiyoimi dizer algo, mas não entendeu o que ela disse, apenas algumas palavras aleatórias como: “Koushirou”, “Pergunte”, “Colega” e “Escola”. “Essa puta!” pensou irritada colocando as mãos no rosto, ignorando a presença de Koushirou, que estava sentado ao lado dela:

– Enfim a sós – Falou Koushirou tirando as mãos do rosto da garota e sorrindo maldosamente.

(...) Continua...