Eu já estava no terceiro mês de gestação e em nenhum momento senti emoção ao senti-lo crescendo dentro de mim. Eu mal ia pra a escola , me afastei completamente dos meus amigos , não ligava mais para nada . Nem eu sabia o que eu estava fazendo comigo mesma.

Hoje era dia de mais um consulta com o Ricardo que se ofereceu para acompanhar a gestação. Minha mãe estava triste e feliz ao mesmo tempo , mesmo sem ela falar , eu percebia . Triste por ver minha tristeza e feliz por ter um netinho.

–Bem , vamos ver como esta aqui – Ricardo colocou o gel na minha barriga e começou a ultrassom .

Minha mãe ficava sempre emocionada e eu não dava a mínima , dentro de mim , eu sabia que ele não tinha culpa de nada disso , ele não merecia ter como mãe uma pessoa que não conseguia ama-lo incondicionalmente.

–Anna veja , que lindo – minha mãe apontou para a telinha e eu apenas segui o olhar fingindo me importar.

–Tá de 15 semanas e já dá para ver o sexo – Ricardo disse sorridente – quer saber Anna ? – eu apenas dei nos ombros – Tudo bem , veja só.... é uma menina Anna

–Ownnn Anna , uma menininha – minha mãe me deu um beijo na testa – Vai ser linda como a mãe

–Anna fala alguma coisa , não está feliz ? – Ricardo me perguntou serio

–Parte de mim quer está feliz , mas a outra impede que isso aconteça – disse com a voz mais baixa que o normal – Eu não consigo , desculpa mãe , apenas não consigo – comecei a chorar

–Acho que por hoje é so – Ricardo falou enquanto finalizava a ultrassom e o silencio permaneceu .

Já estávamos na sala do doutor , para a conversa de sempre , mas eu não consiga ver a minha mãe feliz com aquilo sendo que eu estava infeliz .

–Será que eu posso tomar um café na cantina enquanto vocês conversam ? – disse brincando com alguma coisa em cima da mesa

–Filha você precisa está na conversa...

–Mãe , será que é difícil entender que eu não estou feliz com isso ? – disse a encarando e quando terminei , vi que o brilho dos seus olhos ficaram triste

Me levantei e fui pra cantina . Pedi um café com leite e me sentei , olhando para o nada .

–Oi Anna

–Ahhh você – disse vendo quem era

–‘Ahhh você ‘ é assim que sou tratado ? Muito obrigado – Eduardo disse sentando-se a minha frente

–Espera beijos e abraços ? – disse enquanto bebia meu café

–Sim – ele sorriu – seria muito bom

–Você trabalha aqui por acaso ? -

–Não , mas pretendo . Meu pai é medico e eu quero ser pediatra , adoro crianças – ele disse se ajeitando na cadeira . Criança , aquela palavra me dava arrepios , em saber que tinha uma crescendo dentro de mim – Gosto daqui

–Gosta de hospital ? Tem problemas mesmo – comentei mais pra mim , ironicamente

–Pelo visto você também

–Não estou aqui porque quero

–Por que então ? –ele levantou as sobrancelhas

– Muitas perguntas não acha ?

–E como sempre você fugindo das respostas – ele me encarou e eu desviei o olhas sem graça

–Preciso ir – falei enquanto eu me levantava e ele se levantou também

–Não faz assim Anna – ele disse baixo acariciando meu rosto . Dei dois passos para trás e o encarei serio

–Não faça isso você Eduardo – me virei e procurei rapidamente a saída .

Porque eu estava impedindo que as pessoas chegassem perto de mim ? Se preocupasse ? Nem todo mundo é como o idiota do Pedro , Anna , aprende isso.

Liguei para minha mãe avisando que estava indo para casa . Peguei um taxi e em dez minutos cheguei. Quando sai do carro vi sentando em frente minha casa Carol e Carlos .

–O que estão fazendo aqui ? – perguntei passando por eles e abrindo a porta

–Anna estamos com saudades de você , saudades daquela Anna boba , feliz , maravilhosa , saudades da nossa Anna – Carol veio me abraçar

–Essa Anna perdeu o caminho de casa

–Nos deixe ajuda-la encontrar ? – Carlos segurou minha mão – Eu sinto muito mesmo Anna

–Quero ficar sozinha – disse parando na porta

–E desde de quando você quer companhia Anna? Olha a sua volta , tem pessoas muito piores por ai e nem por isso desistiram de viver , e você quer acabar com sua vida ? - Carol disse se afastando

–Falar é fácil quando não é com você

–Mas pelo menos eu não iria virar as costas para meus amigos sem motivo algum , como você ta fazendo . – Carol falou indo embora enquanto Carlos me encarava

–Sinto muito , mas uma vez – ele deu um beijo em minha mão e seguiu a Carol .

Fechei a porta e corri para o meu quarto chorar , novamente . Estava perdendo tudo , e eu não sabia que rumo tomar para que isso parasse . Minha vida , alegria , amigos , escola , tudo estava indo embora . Não confiava em mais ninguém , não permitia que as pessoas voltassem a se aproximar de mim , motivos para sorrir eu não tinha mais . Estava fazendo meus pais infelizes , meu bebê não ia ser feliz , eu não estava sendo feliz .