Capitulo 48

Discussões

             - Graças a Deus! – Maggie se soltou dos braços do namorado e correu para a irmã.

             - Porque me deixaram para trás? – Beth perguntou visivelmente magoada, e com razão.

             - Por favor, me desculpe. Isso é culpa minha. Devia ter ficado de olho em você. – tentou se desculpar, abraçando Beth.

             - É, devia. – uma voz feminina diferente falou e nos viramos para ver a dona da voz.

             Ela não devia ter mais que vinte e poucos anos e seus cabelos pretos, curtos e espetados para todos os lados, davam um contraste impressionante com sua pele muito branca os olhos também negros. Suas roupas pretas em combinação com a camisa xadreza vermelha aberta que usava por cima lhe dava um ar rebelde. Mas, além dessa rebeldia, seu olhar transpassava uma certa insanidade. Ela era perigosa, tinha certeza.

             - E você é...? – Rick tomou a frente (como sempre), os olhos semicerrados de desconfiança.

             - Rachel. – falou simplesmente, voltando para a moto com o capacete em mãos.

             - Não quer ficar com a gente? – Beth pareceu desapontada.

             - Beth! – o pai a repreendeu, passando os braços por seus ombros.

             - Me desculpe, Beth. Tenho meus próprios problemas para resolver. – falou revirando os olhos e agindo como se as duas se conhecessem durante anos e a garota assentiu parecendo entender.

             Daryl, que estava ao meu lado, pigarreou, chamando a atenção para ele.            

             - Aproveitando o assunto, tem esses dois aqui também.

             Ariane e Dennis, que pareciam estar discutindo poucos metros atrás de nós, pararam e nos olharam parecendo confusos.

             - Estamos tendo uma conversa particular aqui! – Ariane apontou dela para Dennis.

             - Ah, estamos atrapalhando? – Rick perguntou sarcástico – Quer que deixemos vocês a sós?

             Isso não ia dar em boa coisa.

             - Por favor!?

             - Se a insanidade dela for contagiosa estamos condenados! – Daryl resmungou olhando Ariane.

             - Hey hey hey, não fale assim dela! – Dennis interveio, olhando acusadoramente para Daryl.

             - Ah, cala a boca que você é outro! – Daryl revidou dando alguns passos na direção de Dennis, que apertou as mãos em punhos.

             - Droga, vocês querem trazer todos aqueles errantes para nós? – intervi.

             - Vai escurecer logo, não é melhor acamparmos? – Lori saia do carro acariciando a barriga distraidamente.

             - Acamparmos aqui? Mas acabei de dizer que está cheio de zumbis na floresta! – franzi a testa inconformada.

             - Eu vou vomitar. – Delilah entrou pelas árvores meio descompassada e pálida.

             - Mais uma para se perder na floresta. Ótimo! – Daryl reclamou mais uma vez.

             - Pare de reclamar, Dixon! – Ethan, que estava quieto e emburrado num canto até então entrou no meio – O que aconteceu? Sua noite não foi boa?

             - Ah, com certeza não tanto quando a sua. – revidou sarcástico parecendo extremamente irritado.

             - Eu vou ver se a Delilah está bem. – Lori avisou seguindo pelo mesmo caminho, não sem antes dar um olhar irritado para o marido, o que o fez suspirar.

             Andei até a árvore mais próxima e me sentei em sua raiz que saltava da terra, fazendo desenhos na neve com as pontas dos dedos.

             - Seu grupo é mesmo uma loucura. Uma bagunça. Esse Daryl me odeia. – ela riu se sentando no meio do gelo.

             - Ele não te odeia. – revirei os olhos, pensando na maneira que ele tratava a maioria das pessoas – Ele só é... Difícil.

             - E também chato, exigente, irritante, idiota... Mas parece ser legal. Quando está calado. Ou dormindo, talvez.

             Ri e me levantei quando Dennis se aproximou com a testa franzida. Parecia tenso e incomodado com algo.

             - Tenho cara de assassino? Porque acho que seus amigos acham que sim. Estão cogitando nos deixar ficar aqui. Não é que eu não queira, mas para mim, apesar de que talvez fosse legal ficar num grupo tão grande assim, seria... Desconfortável.

             - Eu vou lá. – bati em seu ombro e fui para onde os outros conversavam.

             - Não vejo problema nenhum em eles ficarem aqui. Eles parecem legais... – Lola falou franzindo os lábios.

             - Eu concordo, mas já tem gente demais. – Rick, sempre estragando a diversão – Logo seremos todos iscas para zumbis.

             - Nós já somos isca de zumbi. – Glenn falou entediado.

             - Mas se ficarmos em número muito grande atrairemos eles como um imã atrai metais.

             Ou como garotos que tem namoradas atraem piranhas, completei em mente, pensando em Melissa.

             Ficamos calados por algum tempo, e todos pareciam estar se afogando em seus próprios pensamentos, inclusive eu. Queria que Dennis e Ariane ficassem conosco, mas Rick tinha razão. Mais pessoas ali seriam como pedir – pedir não, implorar – para que todos os zumbis da região viessem ter o maior banquete de sua morte. Ou como bater o sino para o jantar. Ou talvez gritar “por favor, me coma!”... Mas isso não soa muito bem.

             - Não acho que será um problema... – Ethan quebrou o silêncio, com os olhos nas árvores, por onde Lori e Delilah saiam – Eles podem muito bem ficar, já que terão duas pessoas a menos logo.

             - O que quer dizer com isso? – Reed perguntou estreitando os olhos desconfiado.

             - Eu e Ethan concordamos em ir procurar nossas mães e meu irmão. – Delilah falou com a voz fraca, estava um pouco pálida.

             É o que?, me perguntei com o coração disparado, mas não verbalizei isso. Estava muito surpresa.

             - O que? – Kalem se levantou do chão onde estava sentado olhando confuso para a irmã.

             - Íamos deixar isso para depois, mas com isso tudo... Esse é o momento perfeito. – Ethan explicou para todos nós.

             - Vai me levar junto? – Kalem perguntou ainda olhando para Delilah.

             - Me desculpe, baixinho. – pediu parecendo estar a ponto de chorar – Está mais seguro aqui. Não quero que aconteça nada a você; já perdi irmãos demais.

             Todos estavam extremamente surpresos com aquilo. Depois de tudo o que havíamos passado não tinha como imaginar um lugar sem aqueles dois.

             - Mas... Não podem... – Carol parecia tentar encontrar palavras.

             - Por favor, não vão. Estarão em perigo, sozinhos dessa forma. – Lori argumentar, mas em vão. Os dois pareciam estar bem decididos.

             - Nós já conversamos bastante sobre isso e... Se esse assunto não surgisse agora não diríamos tão cedo. Vamos em alguns dias. – Delilah explicou abraçando o irmão pelos ombros – Nós meio que imaginamos alguns lugares onde eles podem estar, e pretendemos procurar neles.

             - Mas precisam mesmo ir? – Rick argumentou – Podemos ir todos juntos. Não temos mais onde ficar mesmo. O jeito é... Voltar para a estrada, recomeçar tudo.

             - Eu não concordo com isso. – Ethan revidou – Em poucos meses Lori terá o bebê e precisam de um lugar seguro para eles. Logo pode ser que outra esteja grávida e precise de um lugar seguro. E podemos ser atacados por pessoas novamente. Pessoas vivas. Como poderemos sobreviver sem um lugar que tenha pelo menos o mínimo de segurança? Vocês precisam continuar procurando por um lugar. E enquanto isso procuramos por nossas famílias. Vamos voltar logo.

             - Isso se não morrerem. – comentei baixo, mas não o suficiente para que ninguém escutasse naquele silêncio.

             - Não vamos morrer, Sav. – Delilah revirou os olhos irritada – A crença de vocês em nós dois é linda!

             - Será por que, não é? – Reed arqueou uma sobrancelha, sarcástico.

             - O que quer dizer com isso? – a ruiva colocou as mãos na cintura parecendo nervosa.

             - Bem, você quase morreu há umas duas semanas e o outro ali tomou as piores decisões do mundo.

             - Hey, espera um pouco ai! Sobrevivemos por quase um ano sozinhos e cuidando de duas crianças! – ela levantou a voz – Não me diga que não somos capazes de sobreviver agora. E só para você saber eu queria muito bater em você nesse momento.

             - Mesmo querendo não me bateria. Sou mais forte que você.

             - Pois minha arma discorda. E, por favor, Lola, me conte novamente quantas vezes você e Taty tiveram que salvar o traseiro do idiota aqui!

             Lola, que já estava vermelha por segurar o riso, começou a gargalhar alto e colocou a mão na barriga parecendo completamente sem ar. Nesse momento a conversa se tornou uma discussão e todos estavam no meio.

              - JÁ CHEGA! – Taty, que estava calada até então, gritou – Parem com isso ou faço vocês perderem a língua! Mas que droga! Vamos logo arranjar um lugar para dormir que já está ficando tarde e depois conversamos sobre isso. ANDEM!

             Todos ficamos assustados com sua reação. Ela não era do tipo que ficava nervosa.

             Depois de uma pequena discussão resolvemos ir mais alguns quilômetros por causa dos errantes que vimos na floresta. Estavam perto demais e não nos arriscaríamos dessa forma. Voltei para o carro e fiquei ali, sem prestar atenção, pensando no que aconteceria dali para frente. Eu tinha uma raiva de Ethan que parecia uma bomba relógio, pronta para explodir a qualquer segundo. Nunca mais confiaria totalmente nele, mas ainda sim... Isso não diminuía o que sentia por ele. Por mais que tivesse raiva, quisesse bater na cara dele, mas ainda o amava. E eu com certeza, uma hora ou outra, o perdoaria. Mas não sem antes fazê-lo pedir perdão de joelhos, nem que tenha que esperar até ele voltar.