A Última Chance escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 20
Parte I - Capítulo 20 - Revelado


Notas iniciais do capítulo

Antes de ler o capitulo, tenha certeza de que leu o capitulo anterior que eu editei, ok? Espero que gostem!



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Capitulo 20

Revelado

             Encostada na parede meus olhos pesavam e minhas mãos não paravam de tremer. Herschel contava pela milionésima vez minha pulsação e por mais que eu dissesse que estava bem ele simplesmente me ignorava.

             - Rick. – o chamei, interrompendo sua auto reflexão do dia. – Você tem ideia de quem está fazendo tudo isso?

             O homem apenas balançou a cabeça, como se estivesse decepcionado consigo mesmo. E eu sentia isso também. Como algo assim passaria despercebido?

             - Bem, acho que está bem. Foi só o nervosismo. – Herschel falou, e me deu um tapinha reconfortante nas costas.

             - Tudo bem, vamos ver o que há ai dentro... Além de zumbis. – falei e tomei a frente.

             Assim que havia matado aquele zumbi, metade da casa apareceu e parecia que todos estavam curiosos para saber o que tinha acontecido e o que tinha dentro do escritório, mas pedi que não entrassem. Queria fazer isso e ver por mim mesma; tinha a sensação de que era algo importante, que mudaria tudo.

             - Sim, vamos. – Rick me seguiu, e logo atrás vinham alguns dos outros que permaneceram ali: Glenn, T-Dog, Lori, Ethan, Maggie, Daryl e Carol.

             Entrei primeiro, e o que vi simplesmente me tirou a fala.

             - O que é isso? – perguntei com a voz falha, minha visão turva não acreditando no que estava á volta.

             O que antes era um escritório com muitas prateleiras de livros e uma enorme escrivaninha no centro agora parecia um cenário de filme de terror. No canto havia uma mesa com vários instrumentos cirúrgicos, e ao lado outra mesa continha um tipo de microscópio um pouco maior que o normal e algumas lâminas, e a escrivaninha permanecera no mesmo local, ao centro do “escritório”, mas com algumas modificações. Sobre ela estava o corpo de uma pessoa que devia ter se transformado em zumbi, mas estava completamente morto. 

             - O que é isso? – ecoaram minha pergunta, mas com um jeito rude e raivoso.

             Todos foram adentrando o lugar, olhando tudo á volta, e pelas suas expressões pareciam não ter gostado nada. Minhas pernas estavam fracas novamente, mas me forcei a continuar, e andei até a única prateleira sobrevivente ali, onde só havia uma filmadora, e em cima um pedaço de papel com meu nome escrito ta caligrafia fina e rabiscada de meu pai.

             - Alguém pode nos explicar isso? – uma voz furiosa perguntou, mas não me importei.

             Apertei o botão que ligava a filmadora. Não tinha esperanças de que ainda tivesse bateria; aquele lugar parecia não ver ninguém há muito tempo. Alguém vivo, pelo menos. Mas tudo parecia estar ao meu favor – ou talvez contra mim – e a câmera ligou.      

             - Hoje completa exatamente duzentos dias depois que tudo começou – a voz de meu pai apareceu juntamente com sua imagem na pequena tela da filmadora, e tudo ficou quieto, e eu sabia que os outros estavam escutando - e finalmente consegui uma câmera para registrar meus avanços, que odeio dizer não foram muitos. Mas ontem consegui chegar a um ponto, que não me agradou muito. Primeiro porque não entendo como não tinha pensado nisso antes e segundo porque isso não é bom. Mas, antes de começar a falar sobre meus estudos, quero dar algumas explicações.

             Só então, quando ele parou por um momento de falar com seu olhar de decepção, que percebi que estava prendendo a respiração desde que ele começara a falar. Respirei fundo, esperando que ele continuasse.

             - Se está vendo este vídeo, é porque conseguiu entrar no escritório, então provavelmente procurou a chave em meu quarto. E, em consequência, encontrou os dois zumbis lá dentro. Leonard e Charity. – ele parou por um momento, seu olhar passando de decepção para raiva misturada com medo – Eu os encontrei em Detroit, uma vez que fui lá. Mas não consegui matá-los, então pensei que seus corpos pudessem me ajudar em meus estudos. Não me orgulho disso, mas fui fraco. Mas só encontrei os dois. Não encontrei Juliet, Damen, nem Austin...

             - Ele também está morto. – sussurrei, como se ele pudesse me ouvir.

             - ...e não sei se fico feliz ou triste por isso. Não sei se escaparam, ou se não conseguiram, e odeio admitir isso, mas estou assustado. A cada dia que passa me pergunto se devo realmente continuar com aquelas coisas lá fora, prontas para devorar todos nós. Eu já perdi dois filhos, se tiver mais uma perda não sei o que fazer. Já pensei em me matar, mas sempre que isso me passa pela cabeça... Eu tenho três filhos e um sobrinho que acabou de perder o pai, e não posso abandoná-los porque eu sou um fraco. Peço desculpas se deixei coisas inacabadas ou problemas para... quer que esteja assistindo... cuidar.

             Ele fez mais uma pausa e fungou, coisa que só fazia quando estava prestes a chorar.

             - Eu só espero que a essa altura esteja tudo bem, e que, de preferência, todo o problema com os mortos-vivos já tenham acabado. Mas como sei que isso não acontecerá tão cedo, digo para manterem a esperança, não por vocês, mas pelos que ainda estão sobrevivendo. O mundo não mudará se não tivermos pelo que lutar. E a esperança é um bom começo.

             A imagem falhou, e meu coração foi junto. Continuei olhando para a imagem esperando que continuasse, mas não continuou. Abaixei hesitante a filmadora para colocá-la no lugar, e quando ela tocou o a prateleira, sua voz voltou.

             - Delilah. – chamou-me, com a voz doce que sempre usava para chamar-me – A pequena Valentine. Lembra-se porque a chamamos assim? Quando você nasceu, seu nome era para ser Marie Antoinnete. Sua mãe era muito fã da história de Maria Antonieta. Mas a mulher que registrou confundiu seu nome com o de outra criança, então colocou Delilah. Juliet ficou furiosa e para não te chamar pelo nome que não tinha escolhido usava pequena Valentine. Mas quando disse que iria ao cartório trocar o nome ela disse que não. Ela disse que tudo tem um propósito, que todo erro é um acerto que apenas vem de uma forma que não gostamos. Então, querida, não importa o que aconteça, permaneça firme, porque tudo tem seu motivo e importância. Não pense nos motivos que tem para desistir, mas sim nos que tem para continuar e se apegue a eles mesmo que sejam poucos.

             Novamente, ele parou, e olhava para a câmera com um olhar intenso, como se pudesse me ver através da lente.

             - E para a resposta da pergunta que você sempre fazia desde seu segundo ano na escola é a seguinte: nunca a coloquei na mesma escola que seus irmãos porque você nunca foi como eles. Você era diferente, tinha um potencial que eles não tinham, e estudar com eles só aumentaria o número de confusões em que se meteria – ele riu gravemente e eu, mesmo sem querer, o acompanhei – Você nunca perdeu mais que dez pontos no ano, não importava a matéria. Era uma criança inteligente, e eu e Julie percebíamos isso, e sempre esperamos grandes coisas suas, e você nunca nos decepcionou, Delilah. Quero que pense nisso quando... se... Ver as próximas gravações. Você será um elemento importante para o que terão de fazer, se forem fazer. Confio em sua capacidade, querida. Confio que irá conseguir terminar o que não consegui. E nunca se esqueça... Eu te amo muito, pequena Valentine. – meu pai sorriu tristemente, e continuou o vídeo, cantarolando o trecho que sempre cantarolava para mim. - Hey there Delilah don't you worry about the distance I'm right there if you get lonely give this song another listen close your eyes... Listen to my voice it's my disguise, I'm by your side…

             O vídeo acabou e subitamente me senti sozinha, tanto que me assustei quando me virei e vi que todos ainda estavam ali. Desliguei a filmadora para os vídeos não continuarem e fiquei os encarando, e eles faziam o mesmo.

             - O que foi? – perguntei, limpando a ultima lágrima que ainda escorria por minha bochecha.

             - Primeiro, queremos saber como todos esses zumbis ficaram aqui por todo esse tempo e ninguém percebeu. – Rick falou a ultima parte entredentes.

             - Meu pai nos proibiu de ir ao terceiro andar, disse que não nos queria lá. E nunca é uma boa ideia contraria um veterano do exercito. – falei, como se isso fosse óbvio.

             - E não foram até lá nem mesmo depois que ele... Ele morreu?

             - Sim, ele morreu, e não, não fomos. Algum problema por eu seguir a ordem do meu pai?

             - Tem sim... TINHAM TRÊS ZUMBIS TRANCADOS DENTRO DA CASA ONDE VOCÊ DORME! Isso é problema o suficiente?  - Rick gritou, a voz irônica.

             O sangue parecia esquentar em minhas veias, e eu estava prestes a explodir.

             - E isso te prejudicou em algum ponto? – minha voz saiu tão fria e cortante como nunca – Pelo que eu saiba não foi você que perdeu alguém por causa disso, então não venha me dizer que isso foi ruim para você, ou que sente muito por isso porque na realidade você não sente. Pode ter perdido muitas pessoas, mas você não sabe o que é perder alguém da família.

             Olhei para os outros, como se os desafiasse a falar algo, mas ninguém falou. Então logo saí dali, sem nenhuma vontade de olhar novamente para algum deles, indo direto para o quarto de meus – ou que pelo menos deveria ser deles – e abri o armário que ele sempre me proibira de mexer. Dali peguei uma garrafa de vodka fechada, sem me importar com nada. Sem esperar nem ao menos sair dali, abri a garrafa e bebi um gole grande que desceu por minha garganta rasgando como se fosse fogo, mas era um sensação reconfortante. E, retomando meu pensamento anterior, eu poderia muito bem me tornar uma alcoólatra, e tinha motivos o suficiente para não querer ficar sóbria.

             Desci os dois lances de escada bebendo sem me importar quando passei pela sala e Kalem me perguntou por que eu estava bebendo. Sai de casa com a maior rapidez possível e fui para os campos de trás da casa, me encaminhando para uma laranjeira que já estava praticamente sem folhas, bem perto do muro, onde ninguém poderia me ver, e ao lado de onde Austin estava enterrado.

             Sentei apoiando as costas na árvore e me entreguei á bebida, bebendo-a como se fosse água.

             - Sabe, Austin... Eu realmente precisava de um conselho seu. – falei com a voz um pouco embargada pelo nó que insistia em permanecer em minha garganta – Seus conselhos eram ainda melhores que os da mamãe... Mas não conte isso a ela, por favor. Não quero que ela fique chateada comigo. Senhora Juliet Valentine... Sinto saudade do abraço dela. Você tem os melhores conselhos, mas ela tem os melhores abraços.

             Deixei as lágrimas rolarem, passando por minha boca que estava grudada no gargalo da garrafa.

             - Está tão difícil, e eu estou tão cansada... Poxa, eu só tenho dezoito anos! É de se esperar que eu tenha responsabilidade, mas não desse jeito, como se eu fosse a responsável por tudo. – limpei as lágrimas, dando mais um gole – Sei que sempre tento controlar tudo, mas eu só não quero que as coisas saiam do controle. E parece que não tem dado muito certo, não é, irmãozinho?

             - Falando sozinha? – alguém perguntou, e não me dei ao trabalho de me virar.

             - Não, estou conversando com meu irmão. – respondi seca e com a voz embaralhada, bebendo mais um pouco de vodka.

             - Então quer dizer que metade de uma garrafa de vodka já derruba você? – Daryl pegou a garrafa da minha mão e bebeu um pouco.

             - Eu diria que é falta de educação pegar a bebida de alguém assim, mas já que já fiz isso com você vou ficar calada. – ri abobadamente – E não é a vodka que está me deixando bêbada. É a minha vida.

             - É, eu te entendo. – ele falou. – Eu também tinha um irmão...

             - Ele morreu? – perguntei sem esperar que ele continuasse.

             - Não... Eu não sei. Mas acho que não. Ele é um cara durão. Com certeza aquele filho da mãe ainda está vivo, e conseguindo matar zumbis com a mão que lhe restou.

             - A mão que lhe restou? – repeti risonha.

             - Ele foi acorrentado no telhado e ficou preso com o risco de virar comida de zumbi. Rick fez isso. Ele estava prejudicando todos e... Eu meio que entendo isso. Passei minha vida toda vendo isso. – ele falou tão indiferente que me perguntei se realmente estava falando a verdade.

             - Qual era o nome dele?

             - Merle.

             - Que nome engraçado... Pensei que esse fosse o tipo de nome que se dá para animais de estimação. – falei sem pensar – Sem ofensas.

             - Não ofendeu. Ele poderia ser comparado com um animal... – Daryl revirou os olhos, parecendo se lembrar de algo.

             Depois disso ficamos em silêncio, apenas bebendo, mas em pouco tempo a vodka acabou.

             - Ah, que ótimo. Acabou. – falei irritada deixando a garrafa cair ao meu lado com raiva.

             Daryl se levantou e se espreguiçou demoradamente, o que me fez lembrar do sonho. Balancei a cabeça tentando afastar tais pensamentos – impróprios.

             - Sinto muito por seus irmãos. – falou me encarando - E por seu pai. E por Emma.

             - Obrigada... – sorri, e antes que ele pudesse ir algo passou pela minha cabeça e eu me levantei – Hey, você não está com raiva de mim, como os outros?

             Daryl me analisou por um momento, os olhos semicerrados.

             - Não estou com raiva. Mas você também não está certa. – ele falou e deu de ombros colocando as mãos nos bolsos.

             - Eu sei. – dei de ombros, conformada.

             Daryl me olhou por mais alguns segundos e novamente as imagens do sonho passaram por minha cabeça. Sem resistir, resolvi jogar tudo para o alto e arriscar. O que eu tinha a perder?

             Antes que ele pudesse perceber, cheguei perto o bastante dele para poder colar meus lábios nos seus. Quando o fiz, foi como se um choque passasse de meus lábios para o resto do corpo. Quando nos separamos, Daryl me olhava como se eu fosse maluca.

             - Mas o que diabos...?

             - Só... Cala a boca. – pedi e sentei novamente, fechando os olhos, e segundos depois pude ouvir seus passos de distanciando.

             E então tudo recomeçou. Dentro de mim estava uma confusão. Estava feliz por tê-lo beijado, mas triste por todo o resto, e culpada por me sentir feliz por algo assim enquanto tudo á volta desmoronava. Me recusei a chorar novamente, então apenas fiquei ali, olhando para o céu coberto de nuvens cinzas e pesadas, cantarolando músicas que me confortavam e faziam com que pelo menos uma parte de mim esquecesse, por hora, todos os problemas. Afinal, não poderia ficar assim para sempre. No momento em que me levantasse teria que voltar para o estado “vou engolir isso” e ajudar os outros a manter a casa, fazer as ultimas colheitas e cuidar de meus irmãos. E, logicamente, quais eram os estudos e descobertas de meu pai.

             Sem conseguir me aguentar mais, levantei-me e fui de volta para casa, pronta para tentar arrumar as coisas o máximo possível e entender como nos afetaria ter aquele lugar revelado. 

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Trailer

Pessoal, o trailer da fic foi feito pela Lavínia (A demigod), então, tooodos os créditos dele para ela! 


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Notas finais do capítulo

E entããããooo... O que acharam? *w* Please, reviews! Quero a opinião de vocês, e não só sobre esse capitulo, mas também sobre o que querem que aconteça na fic, e talz! A opinião de vocês é muito importante! Beijooos