Broken angel

Escrita por: MyPetitFantasy

Emma abriu a porta, surpresa. Encarou Nicholas como se por um momento ele fosse um estranho, ali, em sua porta. Ele com um olhar torto perguntou:

–Posso entrar?

As duas palavras que ele sempre dizia ao chegar na casa dela. Ela já tinha a resposta na ponta da língua, só precisava saber qual era essa resposta. Não sabia se deixava ou não. Engoliu seco.

–Apenas o tempo necessario para eu saber o que eu tiver que saber. - Ela nem ao menos o olhou, deixando espaço para seu amigo passar.

Ele sentou-se no sofá, encolhido, com a cabeça abaixada, enquanto Emma respirava fundo e se acomodava na poltrona.

–Você está... Bem agora? - Ela perguntou após um silêncio.

–Eu... Não me lembro de muita coisa, mas estou me sentindo bem.

'Ele está meio sonolento' - Emma observou em pensamento. 'Com certeza deram algum remédio para ele.' - Ela o fitava, pensando bem como deveria começar.

–Desde quando você anda com o grupo mais mal falado da escola? - Emma perguntou, se encostando na poltrona.

Nicholas a olhou, ainda com os olhos levemente vermelhos e um ar cansado, e olhando para baixo de novo, respondeu:

–A alguns meses. - Ele murmura.

–Por que? - Emma estava com a area do pescoço dolorida por segurar o choro naquela hora, não soube direito o por que das lágrimas quererem escorrer, mas só sabia que uma decepção e uma leve raiva a dominava ao olhar para Nicholas.

–Eu acho que eu não me acostumei com o fato de que... Eles se foram, não tiro notas boas na escola e meu emprego... Quase não consigo pagar minhas contas. Então eu...

–Então você achou que andar com aquele bando de idiotas ia trazer seus pais de volta, mudar suas notas e aumentar seu salario? - Emma tentava entender Nicholas, cerrando as sobrancelhas e elevando o tom de voz. - Não é assim que se faz, Nick, toda essa historia de que sair por ai fazendo coisas erradas para esquecer os problemas... Essa historia não existe, por que você por acaso vai esquecer disso? - Ela se curvou para frente, olhando melhor Nicholas, observando bem as lagrimas que escorriam no rosto dele, e algumas no rosto de Emma. - Você por acaso quer esquecer dos seus pais?

Foi em questão de milesimos que ele levantou-se e se ajoelhou no chão junto a amiga e debruçou-se sobre seu colo, e em silêncio, chorou como uma pequena criança.

–Me desculpe Emma, o que eu estava pensando...? - Ele murmurou entre os soluços.

–Tudo bem, Nick. - Ela foi passando a mão no cabelo de Nicholas como se estivesse acariciando um pequeno cachorrinho e passou a outra mão de leve pelas bochechas, secando algumas lágrimas. - Vai ficar tudo bem. - Deixou um leve beijo em sua cabeça, enquanto sentia sua calça jeans ficar molhada com as lágrimas que ali Nicholas depositava. E foi naquele momento que Emma teve uma ideia meio absurda, mas por ter aparecido em uma boa hora, ela resolveu falar, mesmo sem ter pensado direito.

–Por que você não mora aqui comigo? - Ela o olhou com um sorriso gentil e ele levantou a cabeça. - Os problemas não vão sumir por completo, mas... - Ela foi surpreendida por um abraço de Nicholas, ficando com as mãos pendendo no ar por um tempo, muito surpresa.

–Eu adoraria. - Ele disse no abraço que ela apenas retribuiu.

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Os dias foram se passando, o frio da cidade estava o mesmo, mas não na vida de Nicholas e Emma. Ele foi se mudando para lá aos poucos, mas mal via a hora de se mudar para lá oficialmente.

O projeto de escritorio no andar de cima serviu perfeitamente como quarto, apenas tinha sido trabalhoso para limpar, mas acabou dando certo, e alguns meses se passaram...

–Nicholas, vamos para a escola. - Emma nem ao menos cutucou o amigo, apenas abriu a janela do quarto e saiu.

Ele olhou ao redor e voltou a dormir e novo, e a amiga desceu para fazer o café da manhã.

Ela serviu tudo na mesa, e ficava olhando para a escada para ver se Nicholas estava vindo.

–Nick! - Ela gritou, enquanto subia a escada. - Nick! Hoje tem prova e você sabe disso, desça logo! - Ela bateu na porta, sem ouvir nada dentro do quarto do rapaz. - Nicholas! Larga de brincadeira, vamos logo! - Ela entrou no quarto, agora tirando a coberta de cima dele.

Ela deu um pulo para trás ao ver que no lugar do amigo ela viu travesseiros e cobertas bagunçadas. Levou um segundo susto ao ser pegada no colo e rodada pelo quarto, soltou um grito, rindo em seguida.

–Nick! Não teve graça! - Ela disse quando foi posta no chão, ainda rindo, arrumando o cabelo.

–Teve sim, se não você não estaria rindo! - Ele disse bagunçando o cabelo dela, deixando-a com raiva.

–Volta aqui! Eu acabei de arrumar! - Ela corria atrás dele pela casa, ele apenas ria enquanto escorregava pelo corrimão e sentava-se na mesa da cozinha.

Ela chegou na cozinha e vendo Nicholas comer normalmente o café da manhã, a fez rir.

–Eu ainda vou te bater! - Ela falou arrumando o cabelo novamente, enquanto sentava-se na mesa.

–Isso não são bons modos, Emma. - Ele falou comendo normalmente. - E eu não sei do que você está falando, não vejo motivos para bater em mim, logo eu.

Ela deu lingua para o rapaz e voltou-se para a torrada, com arrogância, deu uma pequena olhada de relance e viu Nicholas rindo e passando geleia na torrada que ele estava segurando, e abrir o livro de português que ele tinha esquecido na noite passada na mesa, noite que ele não estudou nada e deixou o livro lá e aproveitou para estudar naquela hora.

A pequena olhada de relance se tornou uma observação. Ela ás vezes olhava para ele e pensava na situação que estava com ele agora: apaixonada, pelo melhor amigo. Ela admirou os cabelos castanhos desalinhados e os olhos que pecorriam pelas palavras do livro eram da mesma cor. Não era apenas beleza que ela via naqueles lindos olhos, era um tipo diferente, doce e inexplicável de esperança.

Ele a olhou e sorriu, daquele jeito que ele sempre fazia, um sorriso torto que tanto deixava Emma corada.

–Que foi? Esta meio vermelhinha. - Ele soltou uma risada contagiosa e divertida, que fez Emma corar mais.

–Não é nada, idiota! - Ela gaguejou, voltando-se para sua torrada.

Nas ruas desertas de Bellingham, Nicholas e Emma caminharam até a escola. Desde aquele dia, eles não viram mais o que costumavam chamar de 'Os mal falados da escola' : Tony, Courtney e Ryan eram apenas três jovens, que por não fazerem o que quiserem fugiram de casa e resolveram seguir o que viesse a cabeça, sendo certo ou não. Iam para escola para conseguir novos membros para seu grupo mal falado, e apenas para isso.

Após um dia normal escolar, eles voltaram para casa, lendo cada um no mesmo lugar de sempre na posição preguiçosa de sempre e comendo macarrão instantâneo.

–Você vai entregar aqueles livros na biblioteca hoje e eu... - Emma disse quando terminou de ler, um pouco mais tarde. - Vou pagar as contas. - Ela disse se levantando e colocando as mãos na cintura, esperando alguma resposta de Nicholas.

–Eu não. - Ele falou daquele jeito tedioso que ele sempre falava quando estava lendo.

–Nicholas! Você disse isso nas últimas três decadas e acabou eu tendo que carregar os livros que você pegou! E ta no seu nome! - Ela reclamou, tirando a meia que ele estava calçado e batendo nele.

–Só por que eu dormi. - Ele defendeu-se enquanto levantava para obedecer a amiga.

–Muito bem! - Ela sorriu enquanto passava por ele e bagunçava seu cabelo. - Vamos ver quem vai chegar primeiro em casa. - Ela disse terminando de por o cachecol e caminhando até a porta.

–A biblioteca é mais perto daqui, pode desistir! - Ele falou rindo, colocando os velhos all-stars.

–Veremos. - Sorriram um para o outro e Emma saiu.

–Estar apaixonado por você é bem estranho. - Nicholas falou consigo mesmo, pensando em como isso era estranho. - Mas confesso que é legal. - Ele sorriu, pegando os livros e saindo.

Não se passou quinze minutos e Nicholas já estava na calçada da rua debaixo da sua casa atual, ele caminhava pensando no fato de dizer para ela tudo que ele estava sentindo por ela, com medo da resposta, mas iria dizer.

Virando a esquina, ele teve um sobressalto em ver o grupo mal falado da escola o rodear na esquina, de repente.

–Vocês? - Foi o que ele conseguiu dizer em meio ao seu desespero, eles poderiam fazer qualquer coisa com ele, ele não sabia o que dizer, pensar ou até mesmo sabia se ainda conseguia respirar.

–Somos nós, Nick. - Tony cuspiu seu apelido - Por que? Não se lembra?

–Não cheguem perto de mim. - Nicholas tremia, ele não tinha nada para se defender, pensava em mil e uma ideias, mas seu corpo não se movia.

–Ou o quê?! A Emma vai vim?! - Courtney gritou, agora chorando. - A sua princesa depressiva vai vim e te roubar de mim daquele jeitinho bonitinho com sentimentos e lágrimas?! Você nos trocou por ela... Nick. - Ela disse se aproximando mais, e com um gesto de mão, fez com que os outros dois segurassem Nicholas antes que ele pudesse correr e antes que ele pudesse gritar, pois tamparam sua boca. - Existem outras formas de pagar por isso... - Courtney sacou uma arma da cintura e puxou o gatilho.

Nicholas tentava gritar e correr sem nenhum sucesso, nos últimos segundos que ele ia ter, fechou os olhos e lembrou-se de seus pais, dos seus aniversarios e principalmente de como era sortudo de ter encontrado Emma.

–Não! - Ele abriu os olhos ao ouvir um grito alto e depois o barulho do tiro, viu cabelos curtos e pretos, um cachecol vermelho, foi tão rapido que ele mal viu o rosto de Emma, que se jogou em sua frente.

Courtney apenas sorriu maleficamente e chamou os outros dois para irem embora.

Ele primeiro fitou o corpo da garota no chão, aquilo não estava acontecendo, era só o que ele conseguia acreditar naquela hora, era como se pegassem seu coração e o esmagassem como uma folha de papel que já nao prestasse mais, era como sentir a morte, mas... Sem morrer, era uma morte interna.

Ele se ajoelhou, segurando o corpo de Emma contra o seu, e antes de começar a realmente chorar, ouviu a voz de Emma.

–Nick... - Ela sussurrou.

–Emma?! Por favor,- Ele fechou os olhos chorando.- Continue viva.

Ela deu um pequeno sorriso.

–Olhe para mim. - Ele a olhou, fazendo com que as lágrimas que caiam sem parar, caissem no rosto dela. - Você tem olhos lindos Nick, são o tipo de... - Ela ofegou, colocando a mão na barriga, aonde o tiro havia acertado. - ...diferente, doce e inexplicável... Esperança. - Ela sorriu novamente e pegou no rosto do amigo. - Eu te amo... Nick.

Chorando como nunca chorou em sua vida, exceto na morte de seus pais, abraçou Emma mais forte, sentindo o corpo dela esfriar lentamente.

–Eu também te amo, Emma, muito, muito, muito. - Ele disse enquanto beijava sua testa sucessivas vezes, querendo como nunca quis nada na vida, que ela continuasse viva.

Ele a fitou de novo, e ela apenas sorriu.

–Encontre alguém... Que te ame... Meu... Nick...- Ela foi fechando os olhos, até fecha-los completamente.

Antes da policia e da ambulância que os vizinhos chamaram, por terem ouvido o barulho do tiro, Nicholas não tinha voz para gritar, não sabia se apenas lagrimas iria definir o vazio que ele estava sentindo naquela hora, o vazio o preencheu completamente e ele se perguntava o que ele iria fazer agora, sem Emma ele sentia como se não existisse qualquer outro motivo para continuar...

Mas iria fazer o que ela pedira, que era encontrar alguém que o ama, apesar de não querer.

Ele a entregou para os paramedicos da ambulância.

–Estar apaixonado por você é tão... Estranho.