Tão Bela escrita por Azraelie


Capítulo 1
Único




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Balançava os pés distraidamente, vez ou outra roçando a grama com a ponta dos dedos. Seus olhos acompanhavam as poucas crianças que brincavam no local, mas sua mente e seu coração estavam em outro lugar, sem saber dizer onde. Apenas gostava de ficar assim, de permitir que o nada ocupasse sua cabeça, de não pensar enquanto o sol brilhava no céu claro e o vento acariciava sua pele. Gostava de fazer nada para se sentir livre, se sentir feliz.

Ouviu algumas mães clamando por seus filhos, chamando-os para saírem dali, alegando que logo choveria. E que mal tinha na chuva? Era apenas água. Água cristalina, fresca e pura. A água mais limpa que havia. E tantos fugiam dela. Sorriu ao sentir o primeiro pingo tocar seu rosto, balançando-se mais naquele banco de madeira preso por correntes. Qual era o problema de se molhar?

Muitas vezes as pessoas se perdem suas rotinas milimetricamente calculadas, se deixam levar pelos acontecimentos da vida e não prestam atenção em pequenos prazeres. Todas as crianças gostam de tomar banho de chuva, e então elas crescem e fogem sempre que o céu escurece. Será que elas deixaram de gostar da chuva ou apenas estão ocupadas demais para aproveitar o momento? Tinha pena de quem se encaixava na segunda opção. Perdiam os momentos mais lindos e valiosos.

Tinha medo, porém, que isso acontecesse consigo. Tinha medo de deixar de gostar da chuva, de parar de se sentar naquele velho balanço no fim da tarde, de reclamar pelo frio que o vento trazia, do calor que o sol proporcionava... Tinha medo de tantas coisas que parecia lhe faltar coragem para as outras. Mas estava ali. Em seu balanço e com sua chuva. E assim ficaria até que as horas lhe obrigassem a se levantar e voltar para casa.

E assim seguia sua própria rotina. Sua rotina era aproveitar o que os dias lhe dessem. Também tinha obrigações. Quem conseguia viver sem elas, afinal? Tinha seu trabalho, seus estudos... Mas também tinha seus momentos. Aqueles eram o que mais gostava. Não havia rotina. Em um dia estava lendo um livro em uma praça, ou em sua casa, ou em um café, no outro estava apenas sobre o balanço no parque, ou sob a copa das árvores, ou andando pelas ruas sem saber aonde chegar. As pessoas chamavam de distração, de falta de concentração, de ausência de foco, objetivos... A verdade era que via mais do que todos, sentia mais do que muitos, vivia mais que a maioria.

Ergueu o rosto e permitiu que a chuva, já forte e constante, caísse diretamente sobre seu rosto. Aumentou a velocidade do balanço, alargou o sorriso, fechou os olhos. Era o seu momento. Era a sua vida. Era sua felicidade. O que importava o que os outros acreditavam? Tudo era do jeito que tinha que ser, cabia-lhe apenas admirar. E era o que fazia. Admirava a chuva, o vento, o sol, as nuvens, as estrelas, a lua... Admirava, sobretudo, a vida. Tão bela.


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Notas finais do capítulo

Algo simples, espero que tenham apreciado.
[26/09/2012]



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