Bifurcados - O Apocalipse Zumbi escrita por Cadu


Capítulo 18
Engatilhados


Notas iniciais do capítulo

Como todos sabem em toda a história - desde Harry Potter a Crepúsculo - deve haver capítulos que apenas complementam a história! E o último foi isso. Recebi algumas críticas, mas todos sabem que esses capítulos são completamente necessários para um livro.
Recomendo ouvir nesse "Sushi" da maravilhosa Tulipa Ruiz - uma das grandes apostas da nova geração da música popular brasileira.
Novamente agradecendo a fofíssima Caarol Campos por ler e me ajudar a arrumar algumas falhas.
http://www.kboing.com.br/radio-show/playlists/1847828/760373/
Aqui está o próximo. Espero que gostem =)



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Bifurcados - O Apocalipse Zumbi

Capítulo quinze - Engatilhados

“Que tal sair desse aperto, e decretarmos solidão a dois?”

Heitor abriu seus olhos. Clarissa desviava todos os carros abandonados na Ponte Octávio Frias de Oliveira. O sol a pino do começo de tarde castigava seus olhos ininterruptamente. Todos os seus cabos que a cortavam de ponta a ponta pareciam sujos e levemente degradados, talvez por causa dos poucos dias do surto, e alguns se desprendiam do concreto, balançando de um lado para o outro. Heitor fitou-os até quando percebeu o cheiro de suas roupas. O barro dos tecidos já estava seco e o aroma não agradável invadiu suas narinas.

— Clarissa — Heitor interrompeu o olhar atento da nova motorista.

— Bom dia. — ela sorriu de lado.

— Você pode parar o carro? Preciso trocar de roupa.

Em um momento fugaz a menina estaciona no meio da pista direita da ponte. Antes de destravar o carro avaliam o local. Sem errantes. Abrem as portas e respiram o ar novo de São Paulo. O viaduto que atravessa o andar inferior da ponte é completamente cheio de carros abandonados. Nenhuma alma viva. Apenas os dois em uma das pontes mais movimentadas da maior cidade da América do Sul. Há alguns dias atrás era imaginável o tráfego que por ali - ali mesmo - circularia desesperadoramente.

A cada murmuro que davam um enorme eco divergia aos seus retornos. Heitor observa Clarissa. Ela apóia-se no carro enquanto tenta observar algum dos predadores. Ele, rapidamente, vai a sua direção.

— E sua perna? — Seus olhos azuis fitam cuidadosamente para o machucado.

— Está melhor, mas ainda dói um pouco. — Clarissa passa seus dedos pelo machucado e é possível de ver que a pele nova e saudável envolve o anteriormente exposto músculo.

Clarissa abre a porta do carro e puxa o banco do motorista para frente. De trás do banco apanha seu arco e as restantes oito flechas. Apenas oito flechas.

— Pronto. — seus dedos ágeis engatilham uma das armas brancas — Pode vestir-se.

Heitor ri sem jeito e abre o porta malas de cor preta que enfatiza com o carro esbranquiçado. Abre sua mala onde algumas peças de roupas permanecem. Camisetas, jeans, shorts, dois pares de tênis e vestimentas intimas.

Observa Clarissa por dentro do vidro do carro. Ela apóia-se no capô, sempre com olhar atento, nunca desviando para Heitor. Sua ingenuidade era transbordada a cada minuto que passa.

Heitor se despe com receio. A cada segundo olha transtornadamente para os lados, com medo de algum zumbi o atacar. Talvez não esteja em seus planos correr pelas ruas paulistas com roupas intimas.

Para economizar as peças de roupas – que não eram de grande quantidade – vestiu shorts jeans, tênis básicos e um moletom marrom com um grande e prata zíper. Fechou-o deixando seu peito um pouco nu.

— Estou pronto — Heitor cita com palavras calmas. — Vamos continuar ou quer ficar aqui mais um pouco? — indagou quando viu sua face calma apreciar o ambiente.

— Acho que temos tempo o suficiente para ficarmos aqui... Podemos?

Heitor assentiu e juntou-se com Clarissa sentando também no carro. O silêncio dominou o ambiente amplo. O sol, antes coberto por grossas nuvens cinzentas, aparecia lentamente apresentando seus raios fúlgidos naquele começo de tarde. Os olhos castanhos escuros de Clarissa tornavam-se parecidos com o mel mais doce com a passagem do tempo. Provavelmente era o sol que a fazia ter esse magnífico fenômeno humano.

— Heitor... — Clarissa chama-o com carinho — Sei que você está se sentindo culpado por causa de Leila.

Os pensamentos conturbados explodem em sua cabeça. Os olhos de Leila pedindo por ajuda. O cansaço. Os zumbis. Mesmo tendo algumas brigas com a menina-lobo sentia-se acusado por tudo. Um arrepio mortal tomou conta se suas costas enquanto tentou mudar de assunto.

— Posso perguntar uma coisa?

— Sim. — Clarissa assente.

— Porque veio morar em São Paulo? — Heitor engole a seco.

— Você se lembra do dia em que contei o que aconteceu naquela competição? Da morte da Gabriela? — Heitor balança a cabeça em sentido positivo — Por causa disso. Meus pais me isolaram. Literalmente. Mas a culpa não é deles, eu também achei que essa seria a melhor solução para tudo. Em uma semana após meu julgamento já estava aqui. Meus pais passaram pouco tempo comigo aqui. Provavelmente foi nesse período que eles convidaram você para jantar.

— E no dia da janta, porque não estava lá? — Heitor fita os olhos de Clarissa.

— Eles me proibiram. — ela bufa rindo de lado — Sei o que pode pensar... São idiotas, super protetores e mais uma lista de xingamentos. Confio neles. Eles me falaram que precisavam te conhecer antes de ter qualquer contato com meu vizinho mais próximo. Fiquei no quarto o tempo todo ouvindo a conversa.

— Percebi o quanto são super protetores. A cada pergunta que faziam me sentia em um interrogatório da polícia. Me perguntava o tempo inteiro: Será que roubei algo? Trafiquei alguma droga? — Heitor ri com dificuldade.

Clarissa fica calada após rir silenciosamente. Lambe os lábios e apalpa suas coxas em um movimento tímido.

— E irmãos? Tem algum? — Heitor indaga.

— Tenho uma irmã, mora com meus pais. É alguns anos mais velha. E você tem algum?

— Não. Sou filho único. — Engole a seco.

— E seus pais? — Ingenuamente Clarissa pergunta.

— Meus pais? Nunca te contei? — Heitor morde os lábios — Eles morreram quando eu era uma criança.

Clarissa arregala os olhos sem jeito.

— Meu Deus... Me desculpe.

— Não precisa se desculpar, já estou acostumado com essa pergunta.

O silêncio cala por alguns segundos.

— O que acha de continuarmos? — Heitor propõe fingindo que a pergunta não havia existido.

— Vamos.


A cidade é completamente abandonada e nenhum zumbi parece estar por ali. Quando passam por um supermercado seus estômagos reviram de fome. Sua placa de entrada está caída ao chão, soltando faíscas em pequenos espaços de tempo. Ela impede sua entrada, mas não parece ser muito pesada.

— Arriscaremos? — Clarissa pergunta observando as fagulhas.

Heitor pensa por um bom tempo enquanto freia o carro.

— Vamos. Não podemos demorar.

— Mas o que vamos pegar?

— Temos que ser rápidos. Barras de cereais, água, bolachas. Coisas industrializadas. — Heitor diz observando o território.

Clarissa assente. Respiram fundo e saem do carro. Heitor com uma faca em cada mão, Clarissa com seu arco engatilhado. Chegam a entrado do supermercado. Heitor empurra a placa a qual faz um barulho imenso de metal contra o chão. Arrombam as portas de vidros e entram no imenso local que comportava o mercado.

Todas as luzes piscam sem parar. A energia era promovida de geradores alternativos que se escondiam nos fundos. Rapidamente Heitor e Clarissa apanham suas devidas mochilas e enchem-nas com o restante de produtos que já foram parcialmente roubados. A sensação de que eram ladrões transbordava em suas mentes.

Após poucos e rápidos minutos de roubo saem da loja. Quando colocam seus pés para fora da construção alta, um alarme extremamente barulhento toca sendo interrompido por falhas mecânicas. Heitor desesperado puxa Clarissa pelo braço até o carro. Provavelmente o barulho os atraia.

Antes mesmo de conseguirem chegar ao carro uma imensa horda de zumbis fétidos apareceu saindo da esquina. Começaram a correr lentamente. Mas o lento possuía dentes afiados e estava faminto.

— Vamos voltar para o mercado! — Heitor grita com um grande desespero em seu olhar. Clarissa o obedece entrando rapidamente na loja. Heitor, antes de entrar na loja, empurra novamente a placa, tomando cuidado com as faíscas, contra a porta impedindo a entrada dos errantes. Quando ela encosta-se ao vidro corre em direção a Clarissa.

Alguns zumbis já mortos com golpes certeiros em suas cabeças espalhavam-se pelos azulejos esbranquiçados do supermercado. Aparentemente o mercado estava limpo. Poucos zumbis, mas todos já mortos. Não se importaram com os decompostos, e tentavam achar alguma sala segura para abrigar-se a todo custo.

Após passar por diversas prateleiras vazias encontraram o depósito pintado de cinza. A grande porta de metal foi fechada e suspiraram aliviados. Todas as luzes piscavam interrompendo de vez em quando a visão do local. Caixas e mais caixas de papelão eram empilhadas por todas as fileiras de prateleiras e um segundo andar rodeava o local. Era todo protegido por grossas barras de ferros montadas para servir como uma sacada. Um escritório permanecia em um dos cantos da construção.

— Vamos subir lá? Talvez seja seguro.

— Vamos. Quem sabe tenha um rádio, ou algo... — Clarissa esperançosa cita.

A cada passo dado as escadas de metal rangiam incontrolavelmente. Ao chegar ao segundo andar o casal podia ter a visão privilegiada de todo o depósito. Algumas empilhadeiras eram espalhadas uniformemente no local. O depósito ainda não fora invadido. Caminharam por algum tempo até chegar a seis metros do escritório.

O barulho da maçaneta do mesmo treme por todo o ambiente. Arrepios agonizantes ultrapassam as linhas de suas espinhas. Um homem jovem com cabelos compridos destranca a porta e com um Rifle AK47 sai da sala apontando furiosamente para o casal.

Quem diabos são vocês?


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Espero que sim. Novamente por favor comentem! Preciso saber suas opiniões.
A preview do capítulo anterior vai para o próximo! Acho que ia soar melhor. Obrigado por lerem =)