Um Dia Qualquer. escrita por Hikari


Capítulo 16
Bagunça.


Notas iniciais do capítulo

Oooi gente! Desculpa o atraso, mas eu realmente não consegui postar antes. Iria postar ontem, mas meu pai me obrigou a sair do computador e tive que vir só agora...
Bem, como devem ter visto, a capa mudou e queria avisar uma coisinha: É, eu sei que o Fynn não está louro (ou é loiro?), mas eu não consegui 'enloirecer' o cabelo dele sabe, e aí fiquei com tanta raiva que para não jogar o computador pela janela deixei assim mesmo, espero que tenham gostado, de qualquer forma!
AVISO: nesse capítulo se passa antes dos outros, para ser mais precisa um ano depois do casamento do Gale e da Agatha (vai ser explicado), o Fynn tem sete anos e a Anny tem onze!!
Espero que gostem!



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POV. Fynn.

Foi há quatro anos, eu tinha sete anos naquela época, e um dos dias mais constrangedores e humilhantes de toda a minha vida estava chuvoso e entediante.

Lá estava eu, sentado na cadeira à mesa da cozinha, com o queixo apoiado na minha mão e a cabeça tombando, meu cotovelo escorregava pelo pano sobre a mesa, e os meus olhos pesados quase se fechavam.

Estava caindo de sono enquanto eu observava meu pai lavar a louça, cansado.

Era no meio da manhã, meu pai cantarolava uma música qualquer e eu desejava ardentemente que era parasse com aquilo, mas estava com tanta preguiça de levantar a voz que acabei ficando quieto.

A campainha de casa me despertou, tentei me erguer com o susto e acabei caindo da cadeira e despencando com tudo no chão. Meu joelho trombou com o pé da mesa e eu me contraí segurando ele e gemi da dor aguda que causou.

Haymi que estava deitado aos meus pés poucos minutos atrás levantou as orelhas e a cabeça que estava descansando nas patas, latiu e pulou, passando bem por cima de mim – para ajudar mais ainda-, esmagando meu estômago, para ir até a porta e começar a raspar e arranhar a madeira, latindo alegre.

-Maldito. –rangi meus dentes e tossi sem conseguir respirar por meus órgãos ainda estarem em choque por terem sido servidos como ponte para um cachorro peludo e pesado.

-Fynn! Você está bem? –meu pai chegou até mim, deixando a água da pia escorrer livremente pelos pratos semiacabados de ser limpos, ele me ajudou a se sentar, e me olhou preocupado.

-Se você achar que quase perder um de seus órgãos seria estar bem, sim, acho que estou.

Meu pai me olhou como se falasse “que exagero” e pôs-se a massagear minha barriga. Relaxei com aquilo.

Mal havia percebido meus tios entrarem.

-Peets! –escutei o tio Gale gritar com os braços abertos esperando por um abraço.

As mãos de meu pai enrijeceram-se e eu chacoalhei seus ombros para que ele continuasse com a massagem, mas parece que ele não entendeu a mensagem.

Ele levantou-se com o olhar duro pousado sobre o meu tio. Estava considerando seriamente a possibilidade de contar a meu tio sobre o quase assassinato que estava prestes a acontecer, sendo ele a vítima, caso ele não parasse de dizer esse apelido a meu pai, de alguma forma, ele não gostava muito dele.

Para amenizar um pouco o clima subitamente pesado, decidi me levantar.

-Tio Gale! –saio correndo para abraça-lo.

De algum bizarro jeito, parece que eu só piorei a situação.

Tio Gale me pegou pelo colo e fez uma careta pelo peso, mas sabia que era só encenação.

-Eaí, garotão! Ficou pesado, heim? –disse, fingindo pegar meu nariz, eu ri. Embora não gostasse muito que me tratassem como uma criança – sendo que eu ainda fosse uma-, eu achava divertidas suas brincadeiras.

Escutei meu pai pigarrear alto, mas estava nítido que era fingido, ainda era daquelas representações de quinta categoria.

Tio Gale me desce lentamente, olho bravo para o meu pai.

-Onde está Katniss? –ele pergunta tentando ignorar meu olhar.

-Ela foi mostrar a casa para Agatha. –Gale responde sem perceber o incômodo do meu pai.

Fazia, exatamente, um ano desde que tio Gale se casou, e era a primeira vez que Agatha nos visitava.

Saltei na frente do meu pai e de Gale. A animação era tanta que não podia me conter.

-O que aconteceu, canguru? –meu tio colocou a mão no topo de minha cabeça e tentou me aquietar. Não deu muito certo.

-Nada, nada! –exclamei, quase berrando. –TIA AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAGATHA!

Fui mais que depressa na direção aonde vinha à voz de minha mãe e as risadas de minha tia, não sei se ela havia me escutado, até que ela se virou com o rosto surpreso.

-Fynn? –antes mesmo de ela terminar de me chamar eu agarrei suas pernas e a abracei fortemente, ela cambaleou e se firmou na parede, rindo e mexendo no meu cabelo.

-Fynn! –minha mãe me olhou com um ar sério e de autoridade que só ela sabia fazer. –Você podia tê-la derrubado!

Olhei para baixo, culpado e recuei alguns passos, segurando minhas mãos na frente do corpo e remexendo meus dedos um no outro, constrangido.

-Desculpe. –digo com a maior inocência que consigo reunir dentro de mim, tentando me safar de outro castigo.

Agatha se agacha diante de mim e vira a cabeça para minha mãe.

-Não tem importância, Katniss, está tudo bem.

Eu levanto a cabeça e abro um largo sorriso que Agatha retribui.

A minha tia é tão bondosa. Olho para minha mãe como se eu havia vencido uma luta e ela ergue as sobrancelhas como se me perguntasse se eu estava realmente provocando ela, desviei meu olhar rapidamente.

-Tia! Você já viu meu quarto? –perguntei pegando sua mão e a arrastando na direção oposta. –Eu que escolhi a cor dele.

Quando cheguei ao meu destino, sentei-me na minha cama e cruzei os braços, sorrindo.

-Nossa, Fynn! É lindo mesmo! –ela exclamou olhando ao redor.

-Sim, e era para ser uma das últimas coisas a ser mostradas, não é mesmo, filho? –minha mãe apareceu na porta me olhando desafiadoramente, semicerrei os olhos para ela, aceitando o desafio.

-É, mas é mais emocionante mostrar primeiro, mamãe.

Agatha intercalou seu olhar para mim e de volta para minha mãe.

-Er- Eu realmente não me importo, Katniss, sua casa é linda! Todos os cômodos são de deixar qualquer um fascinado! –ela elogiou e minha mãe interrompeu nosso contato visual.

-Obrigada! –minha mãe ficou cheia de si com o elogio.

Elas voltaram a redondear todos os aposentos, minha mãe contava cada mínimo detalhe da história da casa, até mesmo de como um buraco na parede do corredor havia sido feito (eu, sem querer, havia chutado meu pé ali, quando eu tinha como objetivo, na verdade, apenas sair correndo da minha mãe quando ela queria me colocar em um terno para sair).

Depois de um tempo seguindo-as, vi que nada de interessante estava acontecendo. Na verdade, estava totalmente o contrário. A coisa estava mais entediante do que nunca. Pior do que quando eu tenho que ficar assistindo com a minha irmã o History Channel.

Suspirei e me desprendi do aperto da minha mãe, que segurava minha mão. Acho que ela nem reparou quando eu saí.

Fazer o quê. Conversa de mulher não dava para interromper nem que a vaca tussa, e quando você saia parecia que você nunca havia estado ali.

Comecei a sentir falta da minha irmã. E sim, eu estou bem, obrigado.

-Anny? –abri a porta de seu quarto e a vi lendo um livro na cama, enquanto deixava o Will, irmão da tia Agatha, sozinho e sem nada para fazer do outro lado do quarto. Se bem que via que ele estava rindo de algo que aparentemente minha irmã não havia gostado muito porque seu rosto não estava com uma daquelas expressões de que possa afirmar que a pessoa estava se divertindo. Quando ela levantou o olhar, seus olhos se arregalaram e ela sorriu quando me viu, mas tinha a absoluta certeza que sua felicidade não se aplicava a minha presença, ela não gostava muito de quando adentrava seu quarto assim, mas seu rosto mostrava um evidente alívio.

Que interesseira! Olhei para Will que acenou para mim sorrindo como sempre. Resolvi deixar os dois a sós ao ver que isso faria minha irmã irritada, respirei animado com meu próximo trabalho deixar-irmã-irada.

-Oh, estou vendo que estou intrometendo...

-Não, espera! –Anny levantou-se e agarrou minha mão, me impedindo de sair. –Fique! Vamos adorar sua companhia.

Podia ver nas entrelinhas o que ela me dizia: “Não me deixe sozinha com ele”.

Abri um sorriso enorme, mostrando os dentes, chantagista, hmmmm, como era bom quando essas situações aconteciam.

-Vocês vão? –olhei para Will por cima do ombro que observava a luminária da mesinha de minha irmã, pus minha mão na boca para abafar a risada quando ele quase a derrubou depois de tê-la levantado para ver de que eram feitas.

-Por favor, Fynn... –ela chia para mim, baixinho. –E a nossa Ohana? Esqueceu a definição?

Fico a encarando, com um olhar impassível. Ela suspira se apoiando na porta semiaberta.

-Ohana quer dizer família... –ela tenta. –E família quer dizer nunca mais abandonar ou esquecer... Lembra? Nunca abandonar... Abandonar...

-É, sim. –digo gesticulando a mão com desdém. –Mas não a estou abandonando, você tem um ótimo alguém aí com você.

Pisco para ela que enrubesce desde a raiz dos cabelos, parece um tomate e eu começo a gargalhar.

-Fynn!! Por favor! Eu imploro! –ela se recobra e fala com a voz esganiçada e olhos esbugalhados, fazendo biquinho e juntando as mãos.

Rolei os olhos, ela não ia me vencer, aquilo era minha especialidade e sabia muito bem me controlar quando eu via algum charminho desse tipo, além do mais, eu não tinha coração mole igual aos dos meus pais.

-O que eu ganho com isso? –falo indo direto para o assunto e fazendo a cara de inocente da minha irmã se desmanchar.

-Lavo sua roupa por uma semana. –ela se rende.

-Uma semana? –levantou as sobrancelhas, como: “Só isso?”.

-Está bem... Um mês.

Sorrio satisfeito e entro no quarto caindo na cama de minha irmã ocupando todo o colchão. Espaçoso? Eu? Imagina...

-Então, o que os dois amores querem conversar? –perguntei tirando algo duro e retangular das minhas costas. Um livro.

-Me dá isso. –Anny tira o livro das minhas mãos, só tive tempo de ler a capa que estava escrito “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” antes de sair do meu alcance. (N/a: não resisti. Haha).

-Está bem, está bem... –falei me defendendo quando ela me fuzilou com o olhar, o que eu poderia fazer ali?

Vamos ver... Vi Anny arrumando o livro dentro de sua gaveta com a maior delicadeza do mundo e Will ficava a observando, mas não falava nada. No ar pairava um silêncio mortal.

Hmm, eles não estavam tendo um papo muito bom, não é? Se eu fizesse os dois conversarem de alguma forma poderia sair dali... Ou talvez pudesse me divertir a irritando, também era um ótimo passatempo.

Se bem que tanto faz já como eu não tenho nada para fazer de qualquer forma, qualquer coisa serve.

 –Me digam, qual a novidade aqui? Já se declararam? –quebrei o silêncio dos dois.

Minha irmã deu um tapa na própria testa, podia supor que ela já estava arrependida de ter me feito entrar, Will não tinha entendido minha perguntar e me olhava curioso.

-Fynn, por que você não tenta procurar o Haymi? –ela falou entre os dedos.

-Nossa, já mudou de ideia? –pergunto assustado e feliz por estar indo pelo caminho certo. –Quer mesmo que eu vá? E nossa Ohana?

Inclino a cabeça e faço a minha cara de anjinho, olhando-a por cima com os olhos marejados e piscando repetidamente.

-Anny... Sou seu irmão...

-Infelizmente... –ela diz para si mesma.

-O quê? Você não gosta de me ter como irmão? Sou o melhor irmão do mundo! –me levanto na cama e abro os braços.

 -Você é mesmo, Fynn. –Will diz me olhando.

-Viu? Will concorda. –mostro a língua para ela.

Ela balança a cabeça e me olha inconformada.

-Eu não disse nada.

-Pois então diga! –cruzo os braços indo para a beirada da cama olhando para ela, estou de meias e afundo meus dedos na fresta que há entre o colchão e a cama.

-Eu ac... –ela foi abaixando a voz até que fique inaudível de se ouvir.

-O quê? Eu não escutei. –sorrio e me aproximo mais me curvando e virando minha cabeça para que meus ouvidos ficassem em sua direção.

-Eu acho que t....

-O quê?? Fala mais alto, não estou escutando.

-Eu também acho que você é o melhor irmão do mundo! –ela grita se descontrolando e eu começo a rir, e quando estou rindo acabo desequilibrando-me e caio. Ainda bem que tem algo fofo ali para amortecer minha queda.

-Fynn... Acho que você tem que parar de comer chocolate. –Anny arfa quando eu acabo caindo em cima dela, ou foi ela que apareceu ali para me segurar?

-Céus, vocês estão bem? –Will aparece ao nosso lado com rugas de preocupação no rosto.

Olho para minha irmã que começa a rir o que me contagia e eu rio também.

-Estamos sim. –Anny me empurra para o lado e se levanta segurando a barriga.

Fico no chão, rindo sem parar. Sinto uma fisgada na perna e a puxo para meu peito, já a machuquei duas vezes em um só dia.

-Fynn, o que você tem? –Anny me vira com um sorriso ainda gravado no rosto e eu rio ainda mais, sem conseguir me controlar, Will está do seu lado e olha para ela enquanto deveria estar olhando para mim. Que falta de consideração... Eu que estou ferido aqui, ou pelo menos eu acho porque a minha perna está dormente.

-Eu não sei... –me levanto com a ajuda dos dois e vejo minha perna, o pé está um pouco dolorido e eu acho que eu torci demais os dedos. –Vou ficar bem.

-Vocês dois são loucos... –Will fala finalmente se ajeitando no chão, respirando fundo.

-Eu sei. –concordo e Anny começa a rir o que me faz rir e aí faz o Will sorrir e no final rir também. Acabamos todo mundo rindo. Rindo tanto que fico com falta de ar.

-Do que nós estamos rindo mesmo? –Will pergunta.

-Eu também não sei. –Anny diz, tentando puxar ar para seus pulmões.

Nós começamos a conversar e até que não foi tão ruim ficar ali como eu pensara.

Quando vi que os dois estavam entretidos falando sobre alguma reportagem de um programa do History Channel, fiquei instantaneamente distraído.

A campainha toca e eu saio correndo para atender a porta, ansioso por sair dali.

-Eu atendo! –grito.

-Ei, Fynn! –minha irmã protesta, mas logo ela volta a falar com Will que está totalmente concentrado no que ela dizia. Minha missão foi bem sucedida.

E agora estava interessado em outra coisa.

Quem seria na porta naquele momento? Quem iria querer nos visitar em pleno dia chuvoso e ainda mais de férias?

A campainha soou novamente.

-Já vou, criatura! –berro para a porta e então tiro a tranca e a abro.

Por um instante meu coração parou, podia jurar que no fundo estava tocando uma música de suspense, para combinar um trovão retumbou lá fora.

Apontei para a pessoa a minha frente, ela vestia uma capa esvoaçante e o rosto estava escondido pelo capuz, deixando só ver uma mancha escura, ele andava a passos lentos e pesados sempre para mais perto.

-Vol...Vol...Vol... –gaguejei sem voz, aquilo era inacreditável, eu estava na frente de... –Voldemort!

Fechei a porta com tudo, fazendo com que tenha um estrondo mais alto do que o próprio trovão. Travei a porta bruscamente com as mãos trêmulas e fiquei apoiado nela com o coração disparando.

-Ai! –escutei uma voz conhecida resmungar. –Fynn! Acho que você quebrou meu nariz!

Nariz? Voldemort não tem nariz. 

-Você não vai me enganar dessa vez, Tio Voldy! –rio convencido que estava certo em não ceder.

-Tio Voldy? Eu não sou Tio Voldy algum! Abre logo essa porta, Fynn! Está congelando aqui fora.

-Ah é? E por que deveria?

-Porque eu sou seu pai! –ele falou enraivecido e eu arfei, coloquei as mãos na porta e disse pela fresta da porta.

-Darth Vader? É você? Não acredito! Espera aí que vou pegar um papel, preciso do seu autógrafo no meu álbum de seres inexistentes!

-Fynn! Abre a porta, eu sou seu pai! Pare de brincar! –Darth Vader esmurrou a porta. Ah, era tão legal falar com ele de verdade! Quer dizer, uau! Mas fiquei um pouco decepcionado por ele só saber falar isso.

-Está bem, acalme-se! Eu só vou subir rapidinho.

Disparei para a escadaria e peguei meu caderno dentro do armário e enquanto descia avisei:

-Espere aí! Não saia, que já estou chega-  -parei. Na minha frente estava o meu pai, Peeta, com uma capa negra e ele todo estava encharcado, de seus cabelos gotejavam água. Minha mãe estava colocando uma toalha em seus ombros. –Ei, cadê ele?

Fui até a porta e enfiei a cabeça para fora, olhando para todos os lados.

-Ei! –berrei na chuva. –Sr. Vader? Está aí?

-Fynn, volte para cá! –minha mãe me puxou quando estava a ponto de colocar meus pés para fora para ir tentar encontra-lo.

-Mas mãe! Ele estava aqui! –protestei enquanto ela me ignorava e fechava a porta.

-Quem, querido?

-O meu pai!

-É, eu estava ali mesmo, por que você não abriu a porta logo? –meu pai disse rabugento me olhando de testa franzida.

-Não você! Meu outro pai!

-Você tem outro pai? –Agatha vinha na nossa direção, tomando água.

-Não, eu não sei o que ele está falando. –minha mãe esclareceu, do que ela estava falando? Ela não havia visto não?

-Mas mãe! Era o Darth Vader! Eu ouvi! Primeiro pensei que fosse Voldemort mas aí...

-Espera aí, garotão. –meu pai foi até mim e se agachou. –Você está falando daquele que estava atrás da porta?

-Sim, esse mesmo! Quer dizer que você o viu, pai?

No segundo seguinte ele estava prendendo a risada.

-Filhão... Aquele atrás da porta era eu.

-Você?! –minhas mãos penderam para os lados e fiquei amuado. –Você está brincando comigo, não é?

-Não, garotão. –meu pai assegurou, gargalhando.

-Pai, você acabou de destruir os sonhos de uma criança. Isso não é nada legal.

-O que está acontecendo aqui? –tio Gale chegou da sala, tranquilo.

-Você! –meu pai levantou-se e atravessou a distância dos dois a meio passo. –Você me trancou para fora de casa!

-Como assim? –Gale retrucou, olhando para todos os lados. –Eu não te tranquei!

Percebi seu tom de voz ficar mais fino.

-Gale... –Agatha olhou para Gale como se fosse esquarteja-lo vivo se não falasse, ou às vezes pior ainda.

-Está bem. Eu confesso, eu te tranquei para fora. –tio Gale disse olhando nos olhos do meu pai.

Como ele conseguia aquilo? Quando acontecia isso comigo eu não aguentava ao menos olhar para ele, ficava encarando o chão como se meu pescoço fosse mole.

-Gale! –minha mãe exclamou atônita. –Por que fez isso?

-O quê?! Ele estava me ameaçando com uma faca!

-Eu não estava te ameaçando com uma faca!

-Estava sim!

-Não estava! Eu estava cortando o queijo.

-Com a ponta da faca apontada para mim.

-Isso não quer dizer que eu estava te ameaçando...

Fiquei virando minha cabeça tantas vezes para acompanhar o bate boca que fiquei tonto. Aquilo parecia briga minha e da Anny. Aquela era a minha discussão! Isso era plágio!

-Podem parar já, os dois! –minha mãe e Agatha disseram juntas entrando na frente deles.

-O que vocês pensam que estou fazendo? Gale peça desculpa a Peeta. –Agatha ordenou.

Meu tio Gale olhou para o chão sem coragem de encarar a tia Agatha.

Isso não era possível, ele não conseguia encara-la e conseguia ficar olhando para o meu pai tranquilamente? Que isso?

-Desculpe-me, Peeta. Não queria ter feito aquilo.

 Meu pai está praticamente esfumaçando de tanta raiva.

-Peeta... –minha mãe começa colocando a mão sobre o peito dele.

-Está bem, eu entendo. Está desculpado.

-Muito bem! –Agatha e minha mãe dizem novamente aos dois e cada uma beija respectivamente seus pares.

Tenho que admitir. Os adultos são estranhos. Bem estranhos.

Permaneço no meu lugar até ver que aquilo não iria me compensar em nada, eles foram para a sala e me deixaram ali, sozinho.

Podia escutar Anny e Will rindo lá em cima. Nossa. De repente me senti tão solitário.

-Vou fazer uma vitamina. –digo para algum fantasma por ali e me retiro do lugar vazio, vou para a cozinha. Estava, de fato, com sede. E alguma coisa para beber cairia bem.

Esfrego minhas mãos.

-O que farei agora...?

Abro as gavetas tentando achar ingredientes para minha vitamina especial, encontro coisas de coloração diferente e pego todas.

No final, coloco tudo na mesa e encontro: morango, chocolate, diversos tipos de frutas, leite –é claro -, hortelã e outras coisas que não sei o nome.

Classifico as coisas que eu quero e que eu não quero, pego uma cadeira e na gaveta de cima eu puxo o liquidificador, que quase desaba na minha cabeça, e a ligo na tomada.

-Aqui está... –despejo o leite e as outras coisas comestíveis, sem ao menos picar ou fazer algo do gênero, apenas lavo mesmo. Às vezes é até mais nutritivo assim.

E quando termino de colocar tudo, estendo o braço e aperto no botão para misturar.

Estava com um sorriso quilométrico no rosto que logo se desmanchou. Ou melhor, eu quase morri sufocado por um morango voador que entrou na minha boca.

O barulho ensurdecedor do liquidificador triturando os alimentos encheram meus ouvidos, o problema? Eu havia se esquecido de tampar o treco! E agora tudo estava voando e manchando as paredes e os móveis... Olha, um chocolate se dando uma de super chocolate, tentei pega-lo como um jogo de futebol americano, mas... ploft.

É, não deu muito certo. Agora tinha uma mancha marrom na parede perto da porta.

Mordi meus lábios. Estava muito encrencado.

Ao invés de ir lá e desligar o retalhador de alimentos eu fiquei ali parado, olhando tudo passar pela minha cabeça e me sujar.

Só quando uma maçã de tamanho razoavelmente grande bateu na minha cabeça que me dei conta do que estava acontecendo.

-Ai, não! –corri para a máquina e apertei em desligar. –Não, não, não!!

A cozinha estava acabada. Não tinha uma parte em que não estava suja.

O que eu fiz?! Eu sou tão patético.

Adiantei-me para pegar um pano e limpar tudo correndo.

-Fynn? O que você está fazendo? –a voz da minha mãe chegou aos meus ouvidos.

Praguejei, sabia que não podia fazer isso, mas quando escutei ela me chamar pensei que meu mundo havia ruído, virei uma pedra, escorreguei em uma poça de leite suspeito e caí.

-Nada, mãe! Já estou indo.

Levantei-me depressa, teria que limpar aquilo depois. Acho que ninguém iria para a cozinha agora, não é? Tomara que não.

Peguei a chave na fechadura e fechei a porta da cozinha, trancando-a assim que saí. Fui para o meu quarto me trocar, guardei a chave em um lugar confiável e volto para a sala.

Anny já estava lá, com seu livro na mão, Will estava ao seu lado e Agatha e Gale estavam em outro sofá, meus pais sentavam-se no maior deles e ainda sobrava um espaço que minha mãe me convidou para ocupar.

Fui até lá e sentei-me confortável, se esquecendo da cozinha.

-Onde vocês planejaram ficar esta noite? –minha irmã perguntou a Agatha que levantou o olhar para vê-la.

-Bem... Nós ainda não havíamos planejado, na verdade...

-Pode ficar conosco, está chovendo e vai ficar meio complicado para procurarem outro lugar. –minha mãe ofereceu e tio Gale assentiu agradecido.

-Obrigado, não vai atrapalhar?

-De maneira alguma.

-Você sim. –meu pai sussurra tão baixo que só eu escuto, começo a rir baixinho.

Minha mãe conversou sobre alguma coisa nada-interessante com tia Agatha que eu não prestei atenção, meu pai mandava olhares sinistros para tio Gale que tentava desviar o olhar, Anny lia e Will ficava no meio termo entre observa-la e escutar a conversa de tia Agatha e minha mãe.

Aquilo estava muito chato. Basicamente.

Olho em volta a procura do que fazer, pensei em tirar um cochilo, mas assim que deitei a cabeça no ombro de meu pai, ele se mexia tanto que nem conseguia descansar e, além disso, não estava nem um pouco cansado. Pelo menos, não mais.

Tenho uma ideia.

-Briga de galo!!!! –anunciei pulando em cima do sofá e subindo para os ombros do meu pai.

-Fynn, estamos em casa e não na piscina, além de não ter espaço o suficiente, vamos poder nos machucar. –minha irmã retrucou me mandando um olhar frívolo assim que eu gritei.

-Mas está tão chaaaaaaaaaaaato. –resmunguei me deixando escorregar pelas costas do meu pai até cair atrás dele.

-E o que você sugere, amigão? –meu pai me pega e me coloca no seu colo, assim quando eu abro a boca para responder ele acrescenta: - Sem ser nada relacionado à ‘briga de galo’ ou ‘jogo da sorte com Haymitch’, ok? Ainda mais quando conseguimos, finalmente, botar o Haymitch lá em cima.

Fechei a boca. Mas era tão legal o jogo da sorte! Quer dizer, era legal se conseguíssemos fugir a tempo dele, quando roubamos suas latarias ou os seus “poemas” filosóficos.

-Que tal se nós assistirmos um filme? –Agatha sugeriu, com um sorriso no rosto.

-Sim! Harry Potter! Harry Potter! Harry Potter! Harry Potter e a pedra filosofal! –berrei inquieto no seu colo, antes que dissessem outra coisa, saltei para o chão e fui pegar meu filme favorito para colocar na TV.

A música de abertura começou a tocar e eu assobiei no ritmo (havia aprendido a assobiar com minha mãe e agora sempre quando tinha oportunidade eu aproveitava).

Minha irmã, que estava com o controle, arrumou as opções e apertou o play, fiquei grudado na tela observando o filme, estava a menos de trinta centímetros da imagem.

-Fynn, por que você não se senta ao meu lado? –minha mãe perguntou suavemente, ela sabia que não conseguiria me tirar dali.

-Não. –disse vidrado no filme que eu já tinha visto pelo menos dez vezes naquela semana.

E o filme começou, não parava quieto, toda hora me remexia de um lado para o outro, quando as cartas ‘choveram’ dentro da casa eu cheguei a berrar tão alto “PEGUE LOGO A DO CHÃO, HARRY!” que pude ver meu tio Gale tapar os ouvidos.

 -“Não, o senhor se enganou... Eu não posso ser um bruxo... Eu sou o Harry, só Harry.” –imitei a fala, olhando para a cena com os olhos arregalados.

E foi aí que minha irmã se estressou.

-Fynn! Quer calar essa matraca?? –virei-me bem na hora em que ela arremessa uma almofada do sofá e ela acerta em cheio bem no meu rosto.

Levanto-me do chão e ergo meus braços para cima da cabeça.

-Como ousa desafiar Lorde Fynn?!

Minha irmã está me olhando incrédula.

-Como?

Suspiro e deixo meus braços caírem ao lado de meu corpo.

-Eu sou aquele-que-não-deve-ser-nomeado, e você está desafiando a própria vida! –digo determinado a continuar, pego a almofada que ela me atingiu e a atiro de volta, conseguindo acertar o meu alvo.

-Fynn! –dessa vez a voz da minha irmã fica alta e percebo que ela não entra na brincadeira.

Corro para trás do meu pai, conseguindo me esgueirar de minha irmã para que ela não consiga me acertar com a almofada, mas o que acontece é que a almofada apesar de não ter me acertado, ela acerta o meu pai.

-Pai! Me desculpa! Eu não queria ter...

-Por acaso acabo de ser atingido? –por um instante penso ele estar realmente bravo, mas então ele tira a almofada de seu rosto deixando-me ver seu rosto brincalhão. –Eu não terei piedade!

Ele mira e consegue acertar Anny, que se retraí quando a almofada cai em sua cabeça, tenho certeza de que a força daquilo não a machucou nem um terço de como ela havia atirado em mim, mesmo assim ela está boquiaberta olhando para o meu pai.

-Isso pai! Vamos vencê-las! –batemos nossas mãos e imediatamente viramos aliados.

-O quê? –minha mãe olhava para os lados, ela estava desnorteada e nem reparou quando uma almofada voadora atingiu sua cabeça.

Olhei para o meu pai, confuso, não havia sido eu quem atirara e parecia que meu pai parecia estar do mesmo jeito que eu, então quem foi?

Escutei alguém rir ao nosso lado.

-Tio Gale! –exclamei, surpreso com a entrada dele para a brincadeira.

Pela minha momentânea distração, recebi uma almofadada de Anny, que me encarou com as sobrancelhas levantadas.

Uma fração de segundos depois estávamos todos na nossa “guerra de almofadas”, até mesmo Will havia participado e devo dizer que ele era muito bom. Haymi apareceu do nada, latindo quando viu a bagunça e pulou em cima de mim, o que só piorou a minha situação e ajudou a minha irmã.

-Traidor! –tentei dizer enquanto ele babava na minha cara e Anny me enterrava em um monte de almofadas.

Depois de um bom tempo apanhando, principalmente da minha irmã muito carinhosa, e sendo coberto por baba de cachorro, percebi que o filme já estava no final. O tempo havia passado tão rápido que nem havia percebido ele passar e já estava totalmente desperto naquele instante.

-Podem parar! O filme, o filme! –digo e um silêncio recai sobre a sala, um travesseiro aparece do nada e me acerta abruptamente nas costas. –Está bem, quem que fez isso?

Vejo minha mãe rir e corro para ela.

-Ahhh, declarou nova guerra? É o fim!

Recomeçamos tudo de novo e eu só parei quando vi que havia perdido até os créditos.

-Sério mesmo? Sério que eu perdi o filme inteiro?

-Sua culpa, cabeção. –minha irmã riu, batendo na minha cabeça com a almofada, parecia gostar dessa brincadeira. Por que será?!

-Vocês vão ter que assistir tudo de novo agora. –digo, não me importando com o que ela diz e apertando play novamente no menu do filme.

O filme começou de novo, escutei um coro de protestos, mas ignorei e me centrei no filme. Dessa vez assisti tudo.

Quando terminou, bocejei com sono.

Olhei para trás e todos já haviam dormido.

Senti-me sozinho no mundo de novo, estavam em um sono tão profundo que babavam e roncavam. Até mesmo Haymi, o que não era de se assustar. Acho que deviam estar lá pelo quinto sono. Incrível.

Mas eu não estava mais com sono, quando fui ver já estava completamente desperto. De novo.

-Ei. –chamei, e nada.

-Oooou. –tentei e mais nada.

-Ô PESSOAL! –berrei e todo mundo acordou com a potência do meu grito, meu pai caiu do sofá e Anny sobressaltou-se ao ver que estava deitada nos ombros de Will e disfarçou bem antes de ele abrir os olhos.

-Fynn? Já acabou? –Agatha perguntou, com os olhos um pouco fechados pela súbita luz da sala.

-É, sim. E agora eu quero fazer outra coisa! –falo animado.

-Que tal dormir? –minha mãe comenta, se aconchegando para mais perto do meu pai.

-Hãm... Não! Que tal... –empaquei nessa parte, não fazia a menor ideia do que poderíamos fazer.

-Por que nós não assistimos a alguns vídeos que eu gravei? –meu pai sugere, mexendo no cabelo de mamãe.

-Pode ser. –minha mãe se levanta, Tio Gale anui e Agatha também concorda, Anny dá de ombros coçando os olhos e Will aceita.

-Então tá bom, vamos assistir aos vídeos! –exclamei indo para o sofá enquanto meus pais procuravam as fitas para colocar para tocar.

-Aqui estão, querida. –meu pai entrega algumas fitas para minha mãe que sorri e arruma a TV para coloca-las, meu pai vai ao meu lado e me pega no colo.

Assim que minha mãe coloca a fita, os vídeos começam.

-não liguem para o idioma! Vídeo aqui. -

-Olha... Fynn é você!  -minha mãe disse orgulhosa.

Fiquei olhando a tela da TV em que o vídeo passava igual a um idiota, boquiaberto e perplexo, sem piscar nenhuma vez.

O que eles pensavam que eu era? Eu não era nenhum bobo da corte para animar a festa! Pensei que tivesse queimado essa fita, se eu não a queimei, então qual que eu queimei?

Isso não é importante, o que está em uma situação grave é que eu estou sendo humilhando perante a minha família pelos meus próprios pais!

Eu era pequeno, não tinha consciência de minhas ações, e naquele vídeo foi puro impulso ter dançado daquele jeito. 

-Ai Fynn! -minha irmã que estava rindo escandalosamente -pelo menos é o que eu penso- falou entre risadas, segurando a barriga. -Você devia participar de algum concurso de dança, tenho certeza que você vai ganhar.

E retornou ao seu ataque histérico de risadas.

Eu não achava nem um pouco divertido.

-Nossa, Fynn, está arrasando, heim? -meu tio Gale falou, segurando a risada.

-Até tu, Brutus?! -exclamei encabulado.

Na verdade, todos estavam rindo de mim. O que é completamente injusto.

Minha irmã começou a recomeçar o vídeo e ele passou pelo menos três vezes até eu me fartar de ser humilhado.

-Cansei de assistir vídeos. –disse, tirando a fita e fazendo com que todos reclamassem.

-Ei, só porque nós estamos nos divertindo com a sua imagem não quer dizer que você possa tira-la. –minha irmã comenta, olhando enquanto eu jogo a fita para o fundo da gaveta da estante.

-Quer dizer sim.

Ficamos em silêncio por um instante.

-Então... Podemos dormir agora? –tia Agatha pergunta.

-Nãaaaaaaaaaao! –pulo do chão e corro até ela, que se espanta e acaba sendo amassada por mim, começo a chacoalha-la. –Não durma! Resista, tia!

-Está bem, Fynn. –ela fala rindo. –Vou resistir.

Ela faz uma expressão determinada e eu assinto, aprovando.

-Mas então, o que você quer Fynn? Não tem nada para fazer. –minha irmã diz, voltando-se ao seu livro.

Franzo o nariz, me estico e puxo o seu livro dela.

-FYNN, ME DEVOLVE! –subo no sofá e seguro o livro em cima de sua cabeça.

-Nanananinanão. –cantarolei. –Só se você concordar em jogar com a gente.

-E que jogo seria? –ela bufa de raiva, olhando para os meus pés. Vi que o que ela pensava não era nada amigável. Ela pega meu pé e começa a puxa-lo. –Fynn! Se não quiser quebrar a cabeça me devolve agora!

-Então prometa! –falo, me segurando no tio Gale para não cair. –Prometa que vai jogar com a gente.

-Tá, eu prometo! Agora me dê!

Entrego o livro para ela que o pega emburrada, voltando para o sofá e me fuzilando com o olhar.

Rio baixinho e ela lê o livro, atenta a qualquer movimento meu.

-Anita! Vamos jogar stop?

Minha irmã levantou os olhos do livro e pude presenciar a visão de minha vida passando na minha frente.

-Como é?

-Vamos jogar stop... -peguei um papel da gaveta da estante da sala, e uma caneta. -... Anita.

-Pare de me chamar com esse nome! -ela jogou o livro para o lado e pude ter uma noção, por essa demonstração de carinho com seu bem mais precioso, de quão nervosa ela estava.

-Que nome, Anita? -disse despreocupado, não sabia o perigo em que estava.

-Esse nome. -Anny soou ameaçadora, e ela realmente estava parecendo intimidadora naquela hora. 

Mesmo assim continuei com um sorriso inocente, de qualquer maneira, caso eu partisse desse mundo eu tinha testemunhas que nos rodeavam, estava tranquilo. 

-Dizer o que, Anita enfezadinha da mamãe?

Ok. Não sabia que estava tão enganado assim, ela não me espancara até a morte, ou me colocara como alvo de seus treinos de pontaria do arco e flecha, mas um minuto depois de ter pronunciado aquelas palavras já estava preso dentro de uma caixa de papelão no qual havia por ali, encolhido contra a parede dela, ainda bem que ela era grande para mim por isso não estava tão apertado assim, porém minha irmã havia sentado em cima e todas as minhas tentativas de escapar eram nulas.

O problema era sair daqui sem a ajuda de ninguém, principalmente sem a cooperação de minha irmã, parecia que ninguém se ofereceu a tirar uma alma caridosa dali de dentro.

Mas já como tinha um bom tempo até isso acontecer, decidi aproveitar e não se abalar.

-Que letra que é? -eu gritei segurando o papel e uma caneta que havia requerido educadamente à minha irmã.

-H! -alguém respondeu.

-K?!

-H!!

-A??! -havia entendido a letra, só queria irrita-los mais e ter mais tempo para pensar sobre as coisas com essa letra. 

-Não A, H!

-Tha? -completei, preenchendo o espaço do nome, rindo comigo mesmo da própria piada.

-Quer saber? É, isso mesmo, Fynn.

Dessa vez não pude contestar, e nem precisava, na realidade. Já havia conseguido completar todos os espaços, só faltava a "cor".

-Existe cor que comece com H? –pensei. Ninguém respondeu, dei de ombros e coloquei qualquer coisa. –STOP!

-Mas já? –escutei meu pai. –Não coloquei nem metade.

-Nome? –minha irmã suspirou.

-Helena.

-Hanna.

-Hailey.

-Hermione. –essa foi minha irmã, que linda.

-Hércules. –mãe?

-Hércules? Como assim, mulher? –meu pai fala.

-Que foi? É um nome. Melhor que o seu.

-Melhor que o meu? Honório é um nome lindo, está bem?

-Ainda bem que não colocou meu nome assim. –eu falo alto o suficiente para que ele escute e meu pai resmunga coisas incompreensíveis. (N/a: caso alguém chame Honório por aqui, eu não tenho nada contra.).

 -E você, Fynn?

-Haymitch!! –chamo e escuto o latido de Haymi, por uma abertura da caixa ao lado o vejo tentando me procurar, falo baixinho: - Aqui, garoto. Por esse lado...

Então uma mão tampa minha visão.

-Muito engraçadinho, Fynn... Continuando, objeto? Eu coloquei harpa.

-Eu não coloquei. –meu pai diz.

-Hélice.

-Holofote.

-Nada. –Will diz, parecendo estar cabisbaixo.

-Nada também.  –Tia Agatha fala.

-Horcrux! –grito e bato a cabeça no teto da caixa, esquecendo que estava preso nela, começo a massagear a parte dolorida.

-Quê?! –tio Gale exclama.

-Harry Potter. –digo juntamente com Anny e ele parece entender e não fala mais nada.

-Cor?

Escutei um coro de “nada” e só eu lá gritando:

-Horrorosamente amarelo.

Escutei um silêncio devastador cobrir a sala. Pensei que houvessem saído dali.

-Fynn... –por fim minha irmã disse.

-Sim?

-Isso não é uma cor! –ela grita e eu me retraio de onde eu estou.

-Está bem... e horrivelmente roxo?

-Também não.

Dei um risco na minha palavra. Ninguém apreciava minhas ideias.

Terminamos a partida com Anny ganhando, eu poderia ter vencido se ela considerasse o que eu colocava, o que ela não fazia.

Então sorteamos mais uma letra.

-D! E não ouse começar de novo. –minha irmã anunciou.

Escrevi correndo e acabei não colocando a cor, pois meu pai gritou “Stop” bem quando eu estava pensando no que colocar.

-Nome? David. –minha irmã.

-Dan. –Will.

-Dóris. –tia Agatha.

-Diger. –tio Gale.

-Davis. –meu pai.

-Davis. –minha mãe falou a mesma coisa.

-DOBBY! -pulei e bati pela segunda vez minha cabeça no teto, mesmo assim não tirei meu enorme sorriso do rosto, todos se voltaram para mim. -Que foi?

Um coro de suspiros foi escutado.

-Nada. Lugar?

-Distrito 4. –Agatha e Will disseram.

-Distrito 3. –tio Gale.

-Distrito 10 - minha mãe.

-Distrito 12 - pai.

-Distrito 1 - minha irmã.

Vi pelo buraco todos me olharam esperando para ver o que responderia, abri um extenso sorriso.

-Durmstrang!

Anny bufou, olhando para mim pelo buraco, impenetrável.

-Isso nem é lugar. É uma escola.

-E...? Escola também se encaixa. Desde quando escola não é lugar? -incitei Anny, indignado. O que ela queria era passar de mim na pontuação. Só porque eu estava ganhando. 

-E nem eu sei o que é Durmstrang, é alguma escola nova? –o tio Gale pergunta, confuso.

Eu e Anny olhamos para ele, incrédulos.

-É a escola do Vítor Krum! Nunca ouviu falar de Harry Potter e o Cálice de Fogo, não? -dissemos em uníssono, ainda estupefatos pela incredulidade do tio Gale. 

 -Não.

Resolvi não dizer nada e no final, para surpresa minha e de todo mundo, meu pai venceu o jogo.

-Esse jogo me deu sede. –escutei minha mãe dizer e se levantar do sofá.

Por um tempo não fiz nada. Até que a ficha caiu e lembrei o estado da cozinha. Comecei a bater na caixa.

-Não, não deu não. –falei, tentando expandir o buraco da caixa.

-Fynn! –minha irmã saiu de cima da caixa e eu me levantei, finalmente respirando ar puro.

-Mãe, espere! –peguei o braço da minha mãe antes que ela abrisse a porta. Ou pelo menos tentasse já como eu a havia trancado.

-O que foi, Fynn? Quer que eu faça leite para você? –ela pergunta e eu comprimo os lábios.

-Não é bem isso... –sussurrei.

 -Eu também estou com sede. –Anny aparece e tenta abrir a porta, não tenho tempo de impedi-la e ela franze a testa quando vê que não consegue. –ela está trancada.

Anny empurra de novo a porta que não se mexe.

-Fynn... –minha mãe me alerta.

-Você quer mesmo entrar aí...? –pergunto me encolhendo.

Basta um olhar e eu corro para pegar a chave no meu quarto, assim que eu volto e entrego a chave para ela, começo a tremer.

Minha mãe encaixa a chave na fechadura e a gira, pega a maçaneta e abre à porta, sua expressão imediatamente muda e fica indecifrável.

-Já vou pegar o pano... –digo, seguindo cozinha adentro encurvado.

-Acho bom. –minha mãe concorda, ainda sem tirar os olhos da cozinha a sua frente.

Vi Anny de esguelha pegar outro pano e ir ao meu lado, levantando a barra das calças e me ajudando a tirar uma mancha enorme do fogão.

-Fynn... Dessa vez você se superou. –minha irmã bateu em meu ombro e eu suspirei.

-Eu sei...

-Nossa. –escutei arquejos vindos da porta, vi que todos estavam ali e me senti corar de vergonha.

-Bom, precisa de ajuda? –Will entrou e começou a limpar as paredes.

-Não... –ia dizendo, quando mais pessoas entraram.

-Eu também vou. –Gale avisa.

-E eu. –Agatha sorri, prendendo seus cabelos ruivos em um rabo de cavalo.

Haymi se esgueirou pelas pernas do meu pai e adentra na cozinha lambendo o chão.

-Todo mundo? Acho que também vou então. –meu pai olha para a cozinha imunda.

-Vocês não precisam! Eu que fiz isso e tenho que arcar com as consequências. –falo, me levantando e sentindo o peso da culpa por fazê-los trabalhar por causa de mim.

-Desde quando você tem esse argumento, filho? –minha mãe me encara e posso ver que está radiante. Não sei como, já como estraguei sua cozinha.

-Er... –me engasgo com as palavras, não sabia de onde tinha vindo aquilo, na verdade.

Minha mãe ri e vai ao meu lado.

-Precisa de uma mãozinha?

-Mãe! Não... Eu não quero arruinar mais a noite de vocês... –fecho as minhas mãos em torno do pano molhado, sentindo um nó no estômago.

-Querido, não precisa se preocupar com isso. –ela se ajoelha e segura meu queixo para que eu olhasse nos seus olhos. –Olhe ali, eles estão se divertindo mais do que quando estávamos lá na sala.

Viro a cabeça e observo enquanto meu pai mostra uma hortaliça gosmenta para Will que olha espantado para meu pai, vejo o tio Gale e a tia Agatha fazendo competição de quem limpa mais rápido e Haymi satisfeito em seu pedaço do chão.

-Talvez sim... –afirmo hesitante.

-Então não precisa ficar assim, Fynn. Trabalhando juntos podemos terminar o serviço mais rápido e assim preparar alguma coisa para comer. Que tal?

Balanço minha cabeça freneticamente, confirmando, e minha mãe sorri, voltamos para nossos trabalhos e consigo ouvir Anny dizer:

-Meu irmão nunca muda... –ela para um pouco e me olha de soslaio, desvio o olhar e finjo estar limpando uma coisa verde desconhecida. –E é por isso que ele é tão especial.

Abro um sorriso e Anny vai para o outro lado da cozinha, a chuva dá uma trégua e fica mais leve, escuto-os rindo.

Minha família não é necessariamente normal, mas é a melhor de todas.


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Notas finais do capítulo

Entãaaaaaaao, comentários?? Gostaram, odiaram, mais ou menos??
Ah, olha só, a surpresinha que havia dito no capítulo passado não foi exatamente como eu pensei (iria colocar mais um vídeo, mas eu perdi ele), mas o que acharam? (é, não sei se a surpresa foi bem surpresa, foi a referência a Harry Potter, Percy Jackson, etc. e os vídeos e acho que só... hahahaha, desculpa se decepcionei vocês...)
ALERTA: O próximo irá sair BEM mais rápido, uma vez que já escrevi e por ter demorado tanto nesse, talvez amanhã eu já poste se receber comentários nesse aqui, mas só para avisar, vai ter uma velhinha maníaca e foi o capítulo mais estranho que escrevi, eu acho. u.u hahahaha