Me desculpei com Anne por tê-la lembrado daquele assunto e pedi pra que ela se deitasse ao meu lado. Ficamos conversando, tentando distraí-la, até que ela adormeceu. A cama estava um pouco inclinada, ela estava apoiando a cabeça em uma almofada e eu, brincando com uma mecha de seu cabelo. Ela tinha sono pesado, então, eu e Rick continuamos conversando.

- Como você ficou sabendo? – Perguntei séria.

- Do acidente? – Fiz que sim com a cabeça. – Eu estava atrás de vocês. Vi uma ambulância passar por mim na estrada e a segui, sentindo que algo estava errado. Quando cheguei no local, vi o carro de Harriet destruído, ela caída no chão, Anne chorando ao seu lado e você em uma maca. – Ele fez uma pausa, desviou o olhar, que se encontrava em mim e pediu: - Por favor, não me faça dar detalhes.

Seus olhos estavam molhados, mas ele não queria chorar. Estava se segurando ao máximo. Tentei mudar de assunto.

- Como ficou o meu aniversário e a viajem?

- Eu e sua mãe cancelamos tudo e falamos com a sua chefe. Ela disse que você pode ir prá lá assim que melhorar. Foi ela quem mandou. – Ele apontou pra uma mesa perto da porta, onde havia um buquê de rosas brancas. Eram lindas.

- E as passagens que a minha mãe comprou?

- Ela consegui devolver, mas disse que você pode comprá-las novamente quando quiser.

Ficamos em silêncio novamente, até uma enfermeira entrar.

- Bom que acordou. – Seu sorriso era bem falso. Ela colocou algo em um dos fios que estavam ligados ao meu braço. – Você pode voltar pra casa amanhã. – Ela parecia aliviada por eu não ficar mais ali. – Aproveite sua namoradinha. – Ela disse essa última frase pra Rick, que ficou com as bochechas vermelhas de vergonha, e saiu.

Fiquei observando a porta por um tempo, até que me virei pra Rick, confusa, e perguntei:

- O que foi aquilo?

- É uma longa história... – Ele não queria olhar diretamente em meus olhos.

- Tenho muito tempo. – Disse séria, ainda mexendo no cabelo de Anne.

- É que... – Ele estava muito envergonhado. – Ela deu em cima de mim e eu disse que era seu namorado pra ela parar de me encher...

- Hahahahaha. Não tem problema! – Pensei por um tempo ter lido algo assim, logo depois me lembrei. – Isso parece com uma cena de uma Fic que li quando era menor.

- Fic?

- É! Lembra de alguns links que te passei por e-mail? – Ele fez um sinal de sim. – Então, eram algumas Fics que achei que iria gostar. Eu só te mandei a minha e uma de terror, essa eu li sozinha. – Pensei por um tempo, lembrando do nome da Fic. – Na verdade, acho que eu nem a li inteira... Você trouxe o notebook?

Ele se levantou da poltrona onde estava sentado, ao lado da cama, e pegou o note, que estava dentro da mochila dele. Me arrumei em uma posição meio sentada, onde eu conseguiria apoiar o notebook. Felizmente, a cama era grande e coubemos nós três. Anne continuava dormindo e Rick se ajeitou, como eu, ao meu lado. Abri o note e entrei na internet. Enquanto procurava o site, resumi a história, até o ponto em que parei, pra ele, que até gostou, apesar de não ser muito sua praia.

- Achei! – Disse animada, vendo a página inicial do site. – Deixa eu ver se lembro a senha... – Pensei um pouco e digitei a coisa mais importante pra mim naquela época, o que deu certo. – Agora eu tenho que achar a história... – Fui na página “Histórias Que Acompanho”. Felizmente era a primeira e, rapidamente, me lembrei o nome da história. – “Swan Song”. – Disse e cliquei em cima. Procurei o capítulo em que tinha parado. – Nossa! Eu parei no capítulo sessenta e um! Ainda tenho que ler mais... – Fiz rapidamente as contas de quantos capítulos faltavam. – Duzentos e vinte capítulos! Que eu me lembre, quando parei de ler, ela só havia escrito cento e trinta capítulos, mas agora, vejo que continuou seguindo seu sonho. – Abri o perfil da “Mrs Styles” e pensei alto: - Essa garota sempre me inspirou...

- Anda logo! Eu quero ler! – Rick estava impaciente ao meu lado. Pelo visto, gostou mesmo da história.

Voltei ao capítulo 56, onde ele começaria e eu recomeçaria a ler. Era o capítulo onde a recepcionista do hospital dava em cima do cara e ele falava que estava indo visitar a namorada. Rick não entendeu muito bem, mas eu expliquei a história de novo pra ele. Lemos dois capítulos e Rick dormiu. Não que a história fosse chata, mas eles não haviam dormido direito, então dei um desconto e fui dormir também.

Acordei em um quarto grande e espaçoso. A cama era macia e de casal, ao lado da cama havia um criado mudo, mas ele estava vazio. A única coisa que havia nele era uma Bíblia. Percebi que estava vestida de um jeito diferente, mas legal (http://www.polyvore.com/vicky/set?id=56767907). Saí pela porta do quarto e me deparei com um corredor estreito, cheio de fotos de uma menina nas paredes. Aquela menina era familiar, mas não consegui me lembrar quem era. Conforme eu andava, a menina ia crescendo. A cada foto, ia ficando mais bonita e mais alta. Ao fim do corredor, a menina se transformara numa adolescente linda e esbelta, que ainda me lembrava alguém. Tentei ao máximo, mas não consegui distinguir quem era. Na verdade, não sei nem se eu a conhecia realmente, poderia ser apenas uma ilusão da minha criativa e doida cabeça. Após o corredor, virando à esquerda, havia uma sala de jantar, com uma enorme mesa com dez cadeiras ao seu redor. À direita, havia a cozinha, com todos os utensílios imagináveis para se cozinhar. À frente do corredor ficava a sala. Não era uma sala comum. Ela não tinha televisão. Havia apenas um sofá espaçoso e as paredes eram cobertas de livros e mais livros. Abri a porta da frente, que dava direto para uma varanda com piso de madeira. Na varanda havia uma cadeira de balanço e uma escada, que dava para um caminho de pedras.

- Olá! – Uma garota loira e baixa subia as escadas. – Meu nome é Isabella Geysler.