"Eu lembro-me como se fosse hoje, nós dois sozinhos naquele quarto de hotel, era final de ano e ele me chamou para ver os fogos, eu usava um vestido preto e maquiagem forte nos olhos, sorri ao ouvir tal convite. Levantei-me e fechei o notebook, a companhia dele valia mais que qualquer tecnologia.

Nós subimos até o terraço e eu me sentei num pequeno caixote que havia ali. Ele me fitou com ternura, sorri e desviei meus olhos para o céu, estava uma noite realmente linda. Notei ele se aproximando de mim, sentou-se ao meu lado e passou seu braço esquerdo sobre meus ombros me puxando para mais perto e começou a acariciar meus cabelos, um sorriso ainda maior tomou conta do meu rosto. Eu adorava aquela sensação que ele me passava, sentia-me segura. Nada poderia me atingir mais, nada.

Às vezes pego-me a lembrar dos momentos que passamos, só nós dois. Choro, mas não de tristeza, choro de alegria, é bom saber que consegui fazê-lo feliz. Ao menos por um pequeno momento de sua vida.

Era engraçado o modo como ele se movimentava, o modo como se sentava. Quando o conheci, esse dia não me sai da cabeça, ele usava uma mascara bastante estranha, eu ri, ele riu, conversamos, fui embora e.. Não gosto de recordar o que aconteceu depois. Às vezes me pegava olhando-o pensativa, admirando sua sabedoria, como ele era inteligente. Arrependo-me de ter estado ao lado do Raito por tanto tempo, arrependo-me de não ter impedido sua morte, Ah L , se você soubesse o quanto eu sinto sua falta. Se soubesse o quanto me arrependi por deixar você morrer. Eu fui fraca, admito, deveria ter tido consciência de que quando eu lhe via, quando sentia meu coração bater a mil por hora, quando desejava estar ao seu lado, eu deveria ter reconhecido que isso era amor.

 Hoje caminho sozinha pelas ruas, vejo casais felizes passeando de mãos dadas e um aperto toma conta do meu coração. Queria você aqui comigo, queria ter uma chance de ser feliz eternamente.

Termino essa carta que você nunca lerá, encontro-me agora no terraço daquele mesmo hotel, vejo os carros passarem lá embaixo. Já tomei minha decisão. Não tenho mais nada para fazer aqui. Não tenho mãe, pai, irmãos, não tenho família. Não tenho você. Não tenho nada que me torne feliz novamente. Assim despeço-me de ti, quem sabe não nos encontraremos novamente em outras vidas? Te amo, Lawliet, e te amarei para sempre.”

Ela leu a carta pela terceira vez, lágrimas grossas desciam por seu rosto pálido deixando rastros negros, seu lápis borrado escorria por sua bochecha. Dobrou a carta e a guardou consigo, dentro de sua roupa. Subiu no muro que cercava todo o terraço para impedir que alguém caísse lá embaixo e olhou uma ultima vez para o céu.

- Misa nunca vai esquecer você, L- Kun.- Sorriu uma última vez e fechou os olhos, não podia mais adiar aquilo. Respirou fundo e saltou. Jogou-se dali. Não sentiria mais nada, não sentiria dor, culpa, medo, agora o que a esperava era a eternidade.