A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 8
Capítulo 7 - A Roupa Nova do Príncipe -Parte I


Notas iniciais do capítulo

Aviso aos navegantes: este capítulo, embora não chegue a ser restrito (não quero aumentar a censura da história), é um pouco pesado, com referências ao passado de Vegeta e um bocado...bom, bastante sensualidade. Pretendo adicionar ilustrações.



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O Dr. Briefs curvou-se sobre o microscópio com olhos redondos de admiração. No ombro do dono, Scratch acompanhava seus movimentos, parecendo compartilhar de seu interesse.

—Impressionante! — o cigarro parecia prestes a cair-lhe do canto da boca a qualquer momento—Parece um tipo de polímero. Você disse que isso estica indefinidamente?

—Foi o que me disseram. Vegeta usava uma roupa igual a essa quando se transformou num gorilão, e ela não se rasgou— explicou Bulma.

A imagem do príncipe nu em pleno campo de batalha passou rápida por sua cabeça antes que pudesse evitar. Por sorte, o Dr. Briefs estava fascinado demais pelo incrível tecido para notar o rubor da filha.

—Não temos a mesma matéria-prima, é claro — ele concluiu, depois de mais uma hora de exames — Mas podemos fazer uma coisa semelhante com algumas combinações que andei desenvolvendo. Vai sair igualmente leve, e até mais resistente. Só não sei ainda se terá a mesma capacidade elástica.

—Tudo bem. Sem o rabo, Vegeta não vai mais se transformar, mesmo — Bulma falou distraidamente.

Ainda que estivesse grata pela ajuda do pai, já estava cheia de discutir sobre polímeros e ligações químicas, e mais disposta a entrar em ação. Por isso, ficou aliviada quando ele foi obrigado (de muita má vontade) a deixá-la sozinha devido a um telefonema sobre negócios. Abrindo um arquivo no computador, fez aparecer um bonequinho com a cara de Vegeta e começou a encaixar nele pecinhas de armadura, experimentando diferentes combinações.

"Quem diria que depois de adulta eu voltaria a brincar de vestir bonecas", pensou, com uma risada. Durante aquela última conversa na câmara de gravidade, ficara evidente que o traje de batalha dos Saiyajins significava muito para Vegeta. Ainda assim, Bulma só se decidira realmente a fazê-lo depois de achar sua querida caixa de ferramentas no laboratório. Só poderia ter sido Vegeta _ mas, por que se dera a esse trabalho? Ela já havia dado aquelas ferramentas por perdidas!

”Que vergonha, Bulma!" parecera ouvir a voz da mãe censurando-a "Por que Vegeta não poderia trazer suas coisas de volta? Ele é um rapaz tão gentil, e você o trata muito mal...”

Embora "gentil" fosse a última palavra que ela aplicaria a Vegeta, não podia negar que o Saiyajin às vezes fazia coisas inesperadas, que ninguém levava a sério porque, vindas dele, deveriam ser com segundas intenções. Como quando ele desligara a máquina de gravidade para salvar sua vida, ou até mesmo quando dera a dica para ressuscitar Kuririn e Goku.

Talvez seus pais tivessem razão e ela tivesse se deixado levar pelo preconceito dos amigos. De qualquer jeito, o uniforme seria um bom pretexto para uma reaproximação. Se ele desconfiasse, sempre poderia dizer que era a sua contribuição para a batalha que estava por vir. A parte difícil seria pegar o traje de Vegeta “emprestado” para tirar amostras de tecido sem ele saber, pois queria lhe fazer uma surpresa. Depois do último incidente, o rabugento deixara bem claro que queria distância dela. Imagine então, se a pegasse mexendo nas suas coisas!

Felizmente, havia também as roupas que Kuririn e Gohan haviam usado em Namek; só que, do jeito que suas relações de amizade andavam estremecidas, essas possibilidades se mostravam ainda mais difíceis. Voltar à casa de Goku agora seria suicídio, e quanto ao traje de Kuririn... Bulma começava a pensar se enfrentar Chichi não seria menos perigoso que ir até a casa do Kame e arriscar-se a que o velho cobrasse a antiga dívida. Por sorte, esbarrara com Kuririn no shopping. Apesar do constrangimento inicial, o rapaz não tentou evitá-la, e logo estavam conversando à vontade. Não, o Mestre Kame não estava mais zangado, mas era melhor ninguém falar em paf-paf perto dele. Kuririn fizera a besteira de contar o incidente pra tartaruga e ela caíra na risada, dizendo que era muito bem-feito para aqueles dois safados. O resto, Bulma podia imaginar...

—A bengala do Mestre é muito dura — o pequeno monge apalpou um galo imaginário — Ele passou o resto do dia de mau-humor, e agora vive enchendo o Oolong pra ele se transformar numa mulher bonita. E você sabe como o Oolong é, só sabe resmungar que a culpa foi sua. Cheguei a pensar em ir embora da ilha!

—Você pode ficar lá em casa, se quiser.

—Não, obrigado — Kuririn estremeceu. Era muito mais fácil para ele aguentar os dois tarados que ficar sob o mesmo teto que Vegeta. Porém, achando que sua recusa podia ser mal interpretada, acrescentou ligeiro —Mas não se preocupe, Bulma, não estou mais aborrecido com você. Talvez eu tivesse feito a mesma coisa no seu lugar; de qualquer jeito, não posso julgar ninguém. Quando se tem amigos, é preciso aceitá-los como eles são, se não quiser viver isolado numa ilha... bom, eu já moro numa, mas você entendeu o que eu quis dizer... — passou a mão na careca e deu um sorriso sem graça.

—Entendi, sim. Estou feliz que ao menos você pense dessa maneira — a cientista suspirou, aproveitando para abordar o delicado assunto dos trajes. Kuririn ficou meio surpreso, mas não fez perguntas e ficou até agradecido em lhe dar seu uniforme, pois não sabia o que fazer com ele. Assim, as preciosas amostras puderam ser finalmente retiradas... pena que tivesse sido uma completa perda de tempo. Só depois de tudo isso foi que ela se deu conta que, para o novo traje servir, ou teria que tirar as medidas no próprio Vegeta (nem pensar!) ou... pegar "emprestado" algumas roupas dele. Gaahhh... só de lembrar, ainda sentia raiva, por ter sido tão idiota! Felizmente, pegar a bendita roupa não fora tão difícil quanto pensava, já que Vegeta praticamente morava naquela maldita câmara agora. Mesmo assim, tomara todos os cuidados para que ele não descobrisse tão cedo... chegara até a usar luvas, embora dificilmente fosse ocorrer ao seu hóspede examinar o quarto com uma lupa. Só esperava conseguir devolver a tralha antes que ele descobrisse.

—De que cor vou fazer isso aqui? — pensou em voz alta. Clicou uns comandos para, mudar a cor da roupinha do boneco. A roupa ficou verde. Bulma franziu o nariz e fez a roupa ficar preta de novo. Tanto os uniformes que tinha à mão como os que vira os soldados de Freeza usar eram pretos, mas na primeira vez que vira Vegeta ele estava de azul, tinha certeza. Há muito já notara que, sempre que podia, Vegeta usava uma das duas cores, azul com mais freqüência, quase sempre com algum acessório branco.

—Preto ou azul? Humm... Preto seria mais sexy, ele sempre fica uma graça com aquela camiseta de física preta que a mamãe lhe deu. Mas azul não ficaria tão sombrio, e cai bem com uma pele morena como a de...

—QUE ESTÁ FAZENDO COM AS MINHAS ROUPAS? — rugiu uma voz bem atrás dela. Bulma quase bateu com a cabeça no teto.

—AAAAAAAIIIIIII!!!! VEGETA! —antes de aterrissar já estava gritando — Não aprendeu ainda que é falta de educação chegar atrás dos outros sem avisar?

—Não é falta de educação roubar a roupa dos outros? — ele deu um passo para a frente, ameaçador.

Ela recuou instintivamente, um pouco assustada, e um pouco irritada também. Que ele fosse ficar zangado com o "empréstimo" já era de esperar, mas por que tanto escândalo?

—Eu não roubei! Só queria lhe fazer uma surpresa!

—Uma surpresa? — foi quando que ele viu os trajes em cima da mesa. Aproximou-se, intrigado — Por que o uniforme do careca está aqui também? Está colecionando roupas de batalha?

—Não, seu burro! Estava querendo fazer uma roupa nova pra você. Não é óbvio?

Uma roupa nova para ele? Observando mais atentamente, Vegeta reparou nas pilhas de esboços e nas imagens do computador. Inclinou-se sobre a máquina e franziu a testa, fitando demoradamente a tela. Aquela coisinha feia era ele? Fechou os olhos por um instante, como se quisesse apagar a visão da sua cabeça, depois virou-os na direção de Bulma:

—Como sabe que preciso de um uniforme novo? Eu não disse nada ao seu pai!

—E eu é que faço perguntas bobas! Parece óbvio que esse seu trapo não vai agüentar mais uma briga! E seria vergonhoso se com toda a nossa tecnologia eu deixasse você combater os robôs com roupa de aeróbica quando temos tudo para fazer um traje que qualquer Saiyajin se orgulharia em vestir! — ergueu o queixo orgulhosamente e cruzou os braços, imitando a pose que ele parecia gostar tanto.

Uma ruga se formou na testa do príncipe. Entrara ali certo de que a mulher havia roubado sua roupa numa tentativa estúpida de mantê-lo preso ali, e em vez disso ela queria presenteá-lo com uma nova? Aquilo era inteiramente inusitado. Durante toda sua vida, Vegeta sempre obtivera o que queria exigindo, ameaçando ou roubando. Jamais alguém lhe dera coisa alguma espontaneamente. Poderia até pensar que ela estava usando aquilo como desculpa, talvez, para se apossar da tecnologia usada na confecção das roupas... não que ele se importasse. Mas por que só agora faria isso?

—Que você tenha apanhado a minha roupa eu entendo. Mas, por que esta? — tornou a apontar o traje de Kuririn, mais para disfarçar sua perturbação que por curiosidade. Bulma sentiu o sangue subindo ao rosto. Ele estava querendo humilhá-la de propósito!

—Eu... eu queria lhe fazer uma surpresa, já disse! Por isso pedi pro Kuririn o uniforme dele para tirar uma amostra. Mas pra fazer do seu tamanho eu não tive jeito senão entrar no seu santo refúgio e pegar esse seu sacratíssimo uniforme nojento pra tirar as suas medidas!! — sua voz subia num crescendo — Eu sinto muito se isso o deixou zangado, se é isso que está querendo ouvir! Também, se não quiser que eu faça sua roupa porque seu orgulho idiota não lhe permite se rebaixar a usar alguma coisa feita por uma mulher da Terra, está ótimo pra mim, porque eu já tenho muito o que fazer ! Por mim você pode até andar pelado, que eu estou pouco me lixando! — a voz saiu trêmula nas últimas palavras. Pontos úmidos brilharam nos olhos dela.

Vegeta desviou o olhar, embaraçado a despeito de sua expressão impassível. Sua vontade era de sair correndo e esquecer que entrara ali, esquecer aquela mulher absurda e histérica, as roupas, o computador, esquecer as implicações de tudo o que vira. Estava ficando claro que o interesse de Bulma por ele ia além do desejo ou da simples piedade. Podia acreditar que ela perdoara a sua agressão para não deixá-lo sem teto, ou imaginá-la dando-lhe presentes para seduzi-lo, porém não acreditava que ela chegasse ao ponto de sacrificar o próprio orgulho. Bulma era quase tão orgulhosa quanto ele, tinha certeza disso, e ainda assim havia voltado a falar com um daqueles vermes que a insultara, possivelmente havia se humilhado... apenas para lhe fazer uma surpresa? Ainda que não entendesse, Vegeta sabia que os seres de raças inferiores se apegavam àqueles com quem conviviam, até com os mais improváveis. Não havia maior prazer para Freeza do que submeter uma criatura a fazer tudo o que ele quisesse, apenas para não ver seus parentes ou amigos serem torturados... e depois matar os mesmos, só para ver os olhos marejados de lágrimas do infeliz que fora tolo o bastante para acreditar em sua palavra. Saiyajins, no entanto, viam o assunto com indiferença. Aquilo apenas mostrava que apego a outras criaturas só serve para deixar você fraco. Se alguém lhe tivesse dito, há cerca de um ano atrás ou antes, que alguém poderia gostar dele, teria dado uma gargalhada. No entanto, a última coisa que sentia agora era vontade de rir. Na verdade, teria pulverizado qualquer um que se atrevesse a rir dele ou da mulher. "Por que está chorando?"pensou "Me fazer essa maldita roupa significa tanto assim para ela?"

Seu estômago dava voltas, e sabia que não era somente por não comer há horas. Não queria a afeição de ninguém e não sabia o que fazer com isso. O que devia era ir embora e já. Era perigoso ficar. Ainda assim... ele sempre gostara do perigo. E seria uma pena desperdiçar todo o trabalho da mulher, não seria? Se trabalhasse direitinho, poderiam sair ambos lucrando naquela história. “Vou dar a ela o que está querendo” pensou, e diante do olhar estupefato de Bulma, começou a desabotoar a camisa.

—O que está fazendo?

Ele rosnou, como se fosse uma coisa óbvia:

—Você não precisa das minhas medidas? Já que vai me fazer uma roupa nova, faça direito.

Hã? Já tinha certeza de que Vegeta ia recusar seu presente, e ele fazia isso? Bulma ficou no lugar onde estava, de queixo caído. Ele se impacientou:

—Quê? Também quer que eu tire as calças?

Aquilo a tirou de seu estupor:

—VOCÊ ESTÁ LOUCO! Eu só estou estranhando, porque você odeia ser tocado! — remexeu nos armários, irritada, até achar uma velha fita métrica.

—Isso nunca a impediu de botar as mãos em mim — Vegeta deu um sorriso desagradável.

—Estique o braço — Bulma rosnou, e quando ele obedeceu, apertou a fita em torno do seu bíceps, um pouco mais do que o necessário.

Apesar da raiva, a mulher parecia bem mais à vontade do que ele, ao contrário do que havia esperado. Seus dedos eram rápidos e mal o tocavam; porém aquele breve contato em sua pele produzia-lhe choquinhos, como picadas de alfinetes. Chegava a ser pior do que ela o tocasse demoradamente... droga, por que havia pensado nisso? Já sentia uma onda de calor subindo pescoço acima.

There’s no chill and yet I shiver

Não faz frio mas estou tiritando

There’s no flame and yet I burn

Não há fogo mas estou queimando

I’m not sure what I’m afraid of

Não sei do que tenho medo

And yet I’m trembling

E mesmo assim estou tremendo

—Não fique todo duro desse jeito! Eu não vou morder.

—Que pen... digo, nem poderia — Vegeta disfarçou, rezando para que seu rosto não o traísse. Droga! Quisera seduzir, mas se não tivesse cuidado o seduzido poderia ser ele!

There's no storm yet I hear thunder.

Não há tempestade, porém ouço um trovão

And I'm breathless, why I wonder?

E estou sem fôlego, por que será?

Weak one moment,

Me sinto fraco por um momento

Then the next I'm fine.

E no próximo já estou bem

I feel as if I'm falling every time

Sinto-me como se estivesse caindo o tempo todo

Sem aviso, a fita métrica roçou os mamilos. O efeito foi o mesmo de um choque elétrico. Ele chegou a dar um pulo!

—Quer ficar quieto? Parece até que nunca tirou medidas antes!

E nunca tirara mesmo. Só não dizia isso porque sentia que, se abrisse a boca, não teria controle sobre suas palavras. Além disso, estava envergonhado com a própria falta de controle.

What are all these new sensations?

O que são todas essas novas sensações?

What's the secret they reveal?

Que segredo elas revelam?

Bulma olhou-o com curiosidade.

—Suas orelhas estão vermelhas, sabia?

—E o que tem isso? — ele explodiu — Você não precisa da medida das minhas orelhas!

—Está bem, só fiz um comentário. Grosso! — com raiva, apertou a fita em volta do tórax de Vegeta, que reprimiu um gemido. Maldição, esquecera de fazer o alongamento antes do chuveiro. E aquela água gelada nas costas certamente não havia ajudado!

—Precisa apertar tanto essa **** de fita?

—Se você quer que fique bem ajustado... — Bulma começou, sua paciência já no fim. Foi quando notou os olhos apertados dele — Está se sentindo bem?

—Não é da sua conta.

Diversas vezes Bulma já vira aquela expressão em Yamcha depois de um treino. Ou até em seu pai, quando este trabalhava demais. Sem sentir, um terno sorriso ergueu os cantos de sua boca. Ora, ora, até Saiyajins tinham dores musculares!

—Espere um pouquinho. Vou ver se ajudo a melhorar — deslizou as mãos sobre os ombros nus do príncipe. Ele quase deu outro pulo:

—Que está fazendo?

—Vou lhe fazer uma massagem, bobão! Não quer se livrar dessa dor?

Vegeta sabia o que era massagem, pois Zarbon e a tropa Ginyu contavam com o privilégio de uma equipe de massagistas, para ajudá-los a repousar das batalhas. Para os Saiyajins aquilo não passava de frescura; talvez fosse por isso, diziam zombando, que Zarbon parecia tão "florzinha" ou que os Ginyus dançavam feito bailarinas. Quis dizer que não era um fraco para que o mimasse com besteiras, achava ela que não era capaz de suportar uma simples dorzinha muscular? Porém, era como se alguma coisa estivesse travando seus lábios e impedindo-o de se mover dali. Os "choques elétricos" produzidos pelas pontas daqueles dedos macios se transformaram num formigamento que descia pela espinha do homem e voltava a subir, arrepiando os cabelinhos da nuca.

—Não retese as costas desse jeito, eu não vou te bater. Relaxa... Assim... Isso... viu como não é difícil?

—Hummmmmmm.... — era o único som que Vegeta conseguia produzir.

Não era ruim. Não... Sem perceber, foi esquecendo a dor nos músculos e começou a relaxar. Bulma começou a cantarolar uma musiquinha desafinada, enquanto passava as mãos pelas vastas omoplatas. Apesar de lidar com máquinas, ela tinha as mãos macias e bem cuidadas. Vegeta sempre desprezara mãos maltratadas e cheias de calos e se orgulhava da lisura das suas; o fato de ser um lutador, pensava, não significava que precisasse ser um relaxado, e por isso nunca dispensava as luvas, nem para treinar.

—Melhorou?

—Hunf. Seria melhor se não estivesse torturando meus ouvidos. Mais para baixo agora... — ouviu-se dizendo, como se outra pessoa falasse por sua boca — Aí não, idiota. Aí. Isso. Com mais força...

Jamais imaginara que diria para alguém tocar seu corpo. Durante a infância fora intocável, inacessível. O Príncipe não era um Saiyajin comum, estava acima dos mortais: provavelmente era o Super Saiyajin da lenda, e isso o tornava quase uma divindade. Depois, quando se tornara propriedade de Freeza, fora um choque ao receber as torturas e punições, como qualquer soldadinho sem classe. Mais do que a dor, a afronta de ter sido arrancado de seu pedestal para o lodo aonde a ralé se espojava. Aquilo só aumentara sua repulsa por qualquer contato físico. Em especial, uma humilhante lembrança dos seus dezesseis anos...

Havia voltado de uma missão tão perigosa que precisara passar algumas horas no tanque de regeneração. Acabara de se recuperar e estava saindo do tanque, quando Zarbon entrara com uma mensagem de Freeza para o médico.

—...Quanto a você, Vegeta, — disse, sem olhar para o príncipe — O Grande Freeza quer vê-lo assim que se aprontar.

—Desde quando o grande Zarbon virou moleque de recados? — ironizou o jovem Saiyajin.

Zarbon voltou-se com os olhos faiscando de cólera, mas, subitamente, parou e sorriu. Vegeta estava de pé, vestindo-se sem pressa junto à mesa aonde estavam empilhadas suas roupas novas. Sentiu o olhar de Zarbon e virou o rosto na direção dele.

—Que é?

O alienígena de cabelos verdes tirou a calça das mãos dele e largou-a no chão.

—Ora, ora, ora. Agora entendo porque o Grande Freeza se deu ao trabalho de manter você vivo... E eu pensava que você fosse apenas um rapazinho feio e magricela — a mão deslizou pelo ombro e braços, apalpando os músculos bastante desenvolvidos para um garoto de dezesseis anos.

Vegeta se retesou, de dentes cerrados, lutando contra a vontade de dar um soco naquele rosto afeminado. Mas sabia o que aconteceria se Zarbon apresentasse queixa dele a Freeza. Sentiu engulhos quando aquela mão gelada desceu-lhe pelas costas abaixo.

—Talvez eu peça a ele para me emprestar você de vez em quando. Hein? O que acha Vegeta? — a mão de Zarbon aproximava-se perigosamente dos quadris —Você me acharia muito gentil, comparado ao Grande Freeza...

Era mais do que Vegeta podia suportar.

—Tire suas patas sujas de mim! — virou-se e empurrou o imenso alien, não se importando mais se seria punido ou não — Não interessa o que andou ouvindo falar sobre mim e Mestre Freeza! Eu não sou um brinquedo dele... e nunca serei o seu!

Zarbon parou de sorrir. Ele ergueu a mão, como se fosse esbofetear o rapaz, mas parou, o rosto frio como uma máscara.

—Você se esquece em que posição está, Vegeta. Não pense que apenas porque foi o príncipe de um reino de macacos ou porque venceu tantas batalhas que tem o direito de querer alguma coisa aqui. Sua vontade nos pertence, e se Freeza ordenar que você nos dê alguma atenção especial, você terá de nos atender, e com um sorriso nos lábios — sorriu de novo, de uma maneira que fez o rapaz precisar de todo o seu autocontrole para não tremer, e com isso saiu.

O jovem Saiyajin agarrou suas roupas e vestiu-as o mais rápido que pode, seus olhos ardendo de humilhação. Sentia-se imundo, podre mesmo, por ter de permitir tais afrontas, e torceu para que ninguém mais soubesse. Sua vontade era a de tomar um banho, esfregar-se até sair sangue para eliminar o cheiro daquele... daquela coisa imunda de sua pele, mas precisava apresentar-se imediatamente a Freeza. Agarrou a parte de cima da roupa de malha. Era do tipo que sempre usava, sem mangas. A idéia de apresentar-se àqueles desgraçados com os olhos desejosos de Zarbon em seus ombros e bíceps quase o fez vomitar. Atirou a peça no chão:

—Isto não serve! Arrume outra coisa.

—Mas, Mestre Vegeta... — gaguejou o médico — É o modelo que o senhor sempre usa.

—Este não tem mangas, idiota! Eu quero alguma coisa que me proteja!

Zarbon jamais cumprira a ameaça. Provavelmente dissera aquilo para se vingar porque Vegeta o chamara de “moleque de recados”, porém ele cutucara uma ferida dolorosa no orgulho do príncipe. Os boatos sobre a "verdadeira" razão dele ser o "protegido" de Freeza eram notórios entre os soldados invejosos (Vegeta sempre achara que fora aquele verme do Kyui que os começara), e as piadinhas corriam às suas costas, mesmo entre aqueles que o temiam. E nada podia fazer, já que o próprio Freeza achava graça nos boatos e até os incentivava. Icejins eram assexuados comos os namekuseijin, porém não significava que fossem puros e castos. Havia boatos sobre Freeza e Zarbon, e não eram segredo para ninguém as orgias "secretas" do terrível tirano com servos escolhidos a dedo, embora a maioria dos soldados -com exceção da elite -fosse mantida em severa abstinência, pelo menos no quartel. O próprio Vegeta, depois de chegar à adolescência, várias vezes pegara aquela lesma chifruda olhando-o de maneira estranha. Não admirava que a ameaça de Zarbon o tivesse deixado em pânico! Passara muitas semanas vendo olhares lúbricos em toda a parte, até mesmo em Radditz e Nappa, e durante esse tempo seus subordinados ficaram pensando o que haviam feito de errado para serem evitados daquele jeito. Depois, percebera que estava sendo tolo, mas mesmo assim, durante o resto de sua vida de soldado escondera seus músculos com trajes de mangas compridas, enquanto a maioria dos peões deixava seus braços e pernas expostos. A idéia de que algum daqueles aliens nojentos pudesse estar desejando seu corpo lhe revoltava o estômago.

Porém, enquanto pensava, Vegeta percebeu que não sentia o nojo e a náusea que geralmente sentia quando lembrava disso. Era como as lembranças tivessem perdido a força. Talvez porque as mãos dela fossem quentes, e não geladas como as de Zarbon. Ou, mais provavelmente, porque ela era mulher. Mas, porque não se sentira assim durante a "visita" que fizera com Radditz e Nappa às "massagistas" dos Ginyu? Bom, não dava pra comparar Bulma com aquelas vagabundas roxas e vermelhas de três seios... não mesmo. A cantiga monótona havia parado, felizmente. Sentia o hálito em sua nuca, em nada contribuindo para mitigar o calor que sentia, pelo contrário. Desejou que chegasse mais perto, para poder sentir o contato dos seios contra suas costas. Ela estava usando minissaias de novo. Humm... se estendesse a mão, poderia tocar-lhe a coxa. Ela estava querendo, não estava?

Sentiu uma mão afundar em seu cabelo, e pensou vagamente que não necessitava de massagem ali.

—Macios... como os cabelos do Goku — Bulma murmurou para si mesma.

Os olhos de Vegeta se abriram instantaneamente. Ele se virou, as pupilas reduzidas a cabeças de alfinete:

—Você mexeu nos cabelos do Kakaroto?! — seu tom escandalizado faria inveja a qualquer solteirona pudica.

—Não só mexi, como lavei também — Bulma confirmou inocentemente — Ele tinha só doze anos, e nem sabia o que era banho, quando o encontrei. Acho que só tinha contato com a água quando ia pescar... ele pescava pelado - ainda pesca, eu acho — os olhos azuis tomaram um ar distante, cheios de lembranças.

Vegeta respirou fundo várias vezes, forçando-se a relaxar. Não era nada afinal, e no fundo até sentia-se grato. Estivera quase a ponto de agarrar aquela mulher! Se ela não tivesse mencionado o nome de seu rival... soltou o fôlego, aliviado. E ainda assim, não conseguia deixar de sentir raiva ao vê-la falar de Kakaroto, embora de um modo inteiramente inocente. Por que estava sentindo raiva?

Bulma retribuía o olhar confusa e um tanto melancólica, parecendo um cachorrinho que tentou agradar e em vez de carinho levou uma pedrada. Por que ele ficara tão zangado, só porque havia falado no Goku? "Ele estava tão bem agora há pouco... quase contente, até... eu nunca o tinha visto assim, antes. Que pena." Credo, aquele doido tinha tanta raiva do Goku que não podia nem ouvir falar no coitado! Que obsessão!

Para aumentar sua confusão, ele se virou e começou a marchar em direção à porta, sem ao menos apanhar a camisa.

—Aonde pensa que vai?

—Já terminou, não foi?

—Claro que não terminei! Ainda preciso tirar as medidas pras suas calças!

Os olhos de Vegeta se arregalaram. Ela ia enrolar aquela fita em suas coxas... em volta do... de seu quadril... começar tudo aquilo de novo?! Ela só podia estar brincando!

—Eu... preciso ir no banheiro — e sumiu porta afora.


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Notas finais do capítulo

Os trechos de canção mostrados aqui foram tirados da letra de The Way He Makes Me Feel, do filme Yentl. Eu estava assistindo esse filme uma noite, na época em que escrevia este capítulo, e a letra me pareceu perfeita.



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