E finalmente, a nova aluna apareceu e eu entortei o pescoço para vê-la melhor, afinal, eu não ficava nada perto da mesa da professora. E de longe notei: longos cabelos de cor lilás assim como seus olhos, um tímido sorriso no rosto e um par de baquetas guardado na lateral da mochila.

— O-Ohayo gozaimasu. Eu me chamo Miyuki Irie, sou baterista e espero fazer amigos. – Todos responderam em coro, educadamente.

— Okaerinasai, Miyuki-san! – Foi à vez dos olhos azuis de Sekine brilharem. Sentaram em lugares separados naquele momento, mas aposto que a sua vontade era de ir correndo até lá. Eu ficaria do mesmo modo se a Iwasawa aparecesse assim...

Para mim, isso era uma ótima notícia. Irie de volta. A última integrante que faltava e agora ela estava aqui, bem perto de mim e de quem mais a esperava em toda a face da Terra: Sekine.

Foi agonizante o período de tempo entre o começo da aula e o intervalo, meus pés se mexiam freneticamente e os outros alunos estavam agitados para que a aula acabasse logo. Um sorriso se formou em minha face quando o sinal soou por toda a escola e como esperado, nossa loira pulou de sua carteira e foi até sua melhor amiga que havia chegado.

— I-Irie-chan, lembra-se de mim? – Ela se apoiou na carteira da baterista, um tanto apreensiva e animada.

— Sekine-chan? – Ela arregalou os olhos ao ver a loira e se levantou da cadeira, puxando-a para um abraço apertado. Ri baixinho, aquilo era lindo de se ver. Depois de quebrado o abraço, elas começaram uma conversa que não pude ouvir já que Yuri sentou do meu lado e começou um novo assunto.

— Hisako-san, eu estava pensando que deveríamos pedir permissão para a diretoria para que pudéssemos ficar visitando a Iwasawa por longos períodos de tempo. Você merece isso... – Eu sorri e me apoiei na mesa, pensando nessa possibilidade. Não custava nada tentar.

— Você acha que eles vão concordar com isso? – Um sorriso apareceu na boca de Yuri, aquele sorriso que todos já conheciam. Aquele que mostrava que ela iria conseguir o que queria a qualquer custo.

— Acha que não? Vão ter que concordar de qualquer jeito. Estou com saudades daquela aura fria e bela da Iwasawa... – Eu sorri dessa vez, Yurippe sempre falava isso dela. Ela não a conhecia tanto quanto eu, que entendia os medos e aquela aura musical e bonita que ela tinha.

— Ela não era tão fria assim, sabe..? Apesar de que a frieza daquela era bastante agradável comparada a de muitas outras pessoas. – Yuri pareceu mais interessada e se aproximou, colocando os cotovelos sobre a carteira.

— Como assim? Ela sempre foi mais fechada... Exceto no dia em que eu e a Shiina tentamos ficar no lugar da Sekine e da Irie quando elas ainda não eram da banda... Mesmo eu tocando do pior jeito possível, ela disse que estava lindo porque eu estava tocando com a alma. Acho que ela não tem senso de ritmo, haha. – Ao lembrar aquele momento, ri internamente.

“— Shiina-san, esse som é muito bom para ser à primeira vez que tocamos! Eu posso improvisar qualquer coisa com algo que eu nunca toquei. – Yuri se animou com as primeiras cordas do baixo que havia acabado de pegar na sala de música. – Olha só pra mim! – Shiina a olhou meio desconsertada. – Nós podemos fazer isso! Vamos lá!

E elas começaram a tocar. Shiina na bateria e Yuri tocando o baixo. Cada um em um descontrole próprio. As batidas de Shiina eram mais curtas e ela fazia uma espécie de música um tanto... Fofa. Totalmente fora do ritmo, Yuri dedilhava as cordas do baixo com uma velocidade monstruosa e mal tocava com a mão esquerda, fazendo o tom ir totalmente sem sentido. No entanto, elas pareciam se divertir com aquilo de uma maneira que não dava pra contestar.

Depois de uns minutos, finalmente acabou e eu agradeci a Deus por alguma coisa.

— Então, é isso... Como foi? – Yurippe perguntou, segurando o braço do seu instrumento. Iwasawa ficou alguns segundos em silêncio e eu cocei o queixo, tentando entender o que houve de musical ali além das notas jogadas numa bagunça sem fim.

— Er... Isso não foi tão ruim... Hmmm... Foi... Ahm... Alternativo? Não foi? – Sussurrei, tentando formular uma frase que não as ofendesse tanto, mas a reação de Iwasawa foi a mais incrível e inesperada. Ela levantou da cadeira com os olhos brilhando e exclamou.

— Ótimo!! – Eu fiquei sem reação com aquilo.

— Ehhh??!

— Iwasawa, você tem certeza? Foi isso mesmo que acabamos de ouvir? – Yuri perguntou meio incrédula.

—Sim, eu realmente não entendo isso, mas eu sinto que você foi além das normas e brincou com seus instintos e emoções cruas. – Ela respondeu de uma maneira séria que fazia parecer com que aquela apresentação fosse ótima.

— Sim! Nós vamos fazer o possível em equipe! – E fizeram um cumprimento, como um tipo de aliança e eu quase caí no chão com aquilo. Shiina me olhou sem entender nada e eu cocei a nuca.

—É isso aí! Deixa comigo! – Suspirei com aquilo, pesadamente. Não dava pra acreditar.

— S-Sério isso? – E ambas me olharam com um sorriso no rosto.”

—Não dá pra esquecer esse dia, Yurippe-san... No entanto, ela era assim mesmo... Sempre roubando o foco! – Sekine chegou a nossas mesas, trazendo a melhor amiga pela mão.

— Irie-chan, aqui está a Hisako-san! – Eu levantei o olhar ao ver a garota e ela sorriu de um jeito meigo, com os olhos brilhando e segurou minha mão.

— H-Hisako-senpai... Há quanto tempo... Eu pensei que não iria encontrar vocês assim tão cedo, eu estou tão feliz... – Eu apertei aquela mão um pouco calejada de volta e sorri de volta.

— Nem eu, mas é muito bom te ver de novo... – Antes que eu resolvesse sorrir, outra pergunta veio, mas da boca de Sekine.

— E a Iwasawa-san, Hisako-senpai? Como ela está? – Foi à vez do meu olhar baixar e meu coração apertou um pouco ao ter que explicar a situação.

— Ela está na UTI... Está com um caso grave de Afasia e ela não acorda para termos como descobrir a cura. – Irie apertou minhas mãos ainda mais, com uma expressão de preocupação.

— Iwasawa não acordou do coma? Pensei que ela havia reencarnado sem nenhum problema... Eu até pensei que iria reencontrá-la e poder falar com ela já que encontrei vocês... – Eu balancei a cabeça negativamente.

— Pois é, Irie-san... Nós vamos vê-la hoje, se quiser vir, será muito bem-vinda... – Ao que a nossa líder disse, a baterista prontamente concordou.

— Claro que sim, eu adoraria vê-la. Sinto saudades de todas vocês, até da Yui... Será que ela está bem? – Sorri e foi a minha vez de responder.

— Ela está ótima! Obviamente não pode andar, mas está em ótimo estado de espírito... – Sekine passeou com o braço entorno da cintura da melhor amiga e eu pisquei, vendo seu rosto corar.

— Nós estávamos falando da Iwasawa, Hisako disse que ela não era fria. O que acham disso? – Irie apertou os ombros da loira e respondeu a pergunta da nossa líder.

— Iwasawa-senpai não era realmente fria, ela era bem engraçada às vezes... Alguns momentos eu estava amedrontada e descontava na bateria e ela mandava um sinal positivo pra mim, eu ria muito disso. Ela era bem zoeira...

— Eu costumava improvisar com o baixo e a Hisako se estressava com isso, porque ela não conseguia acompanhar com a guitarra. Já a Iwasawa agradecia por não deixar ela na mão e dizia que não era pra eu ligar, porque Hisako era do tipo de pessoa que ficava bravinha fácil e adorava vê-la vermelha de raiva, hehehe! – Dessa vez todas nós rimos e eu fiquei muito vermelha, não imaginava que ela falava esse tipo de coisa para as meninas da banda. Mas fiquei feliz ao ouvir isso... Ah, Iwasawa...

Quando você acordar, pode me deixar brava... Eu vou amar ver o seu sorriso toda vez que eu ficar vermelha e com o sangue fervendo. Nada era melhor do que seu belo e raro sorriso.