Eu sou o rei deste lugar.

Um lugar onde existem dragões, grifos, cães de várias cabeças, serpes – imagine uma cobra e um dragão, eles se casaram e tiveram filhos, esses filhos são serpes, não sei se foi assim que eles surgiram, mas uma fusão entre eles dá nisso – e outras criaturas que você nunca verá. Ah lá também existe Sherlock Holmes, deuses gregos, romanos, japoneses... Neste lugar posso criar coisas, destruir coisas, eu posso acabar com uma guerra com um estalar de dedos, posso começar uma guerra.

Mas eu não começo nenhuma guerra. Sim, “começo”. Guerras só surgem quando eu quero pessoas só morrem ou nascem quando eu quero.

Não me chamem de Deus. Porque aqui “Deus” só existe quando eu quero.

Esse lugar só morre quando eu morrer, esse lugar só existe se eu existir, na cabeça de outra pessoa esse lugar muda. Talvez nem exista.

É isso aí. Não existe. Esse é meu lugar, meu cantinho, onde posso ser o que eu quiser. É minha imaginação.

Abri meus olhos e me deparei com a tela de meu notebook. Suspirei. Escrevi sobre minha incrível, ótima, adorável imaginação, mas ultimamente ela tem me deixado na mão – rimou ou foi impressão minha? –, o que eu faria agora?

Eu reli o texto, é tão sem noção o que escrevi aqui. Fechei meus olhos à procura de algo para escrever. Veio-me à cabeça várias imagens, de filmes, de livros, da vida real ou da minha maldita imaginação.

Tenho um prazo e não posso desrespeitá-lo. Sou um novato e é meu primeiro livro, se atrasar os editores vão ficar uma fera. Quantas linhas eu escrevi? Aposto que foram poucas. Tenho que beber alguma coisa. Desci e comprei uma Coca-Cola para me manter acordado, o que é uma besteira, já que ainda nem passou das cinco da tarde. Dei alguns tragos no copo da minha irmã com aqueles desenhos idiotas do homem vestido de dinossauro –  o Barney, sabe?

Joguei o copo longe depois de beber tudo, minha irmã gritou comigo e eu resmunguei alguma coisa incompreensível que nem eu mesmo entendi. Estava desempregado, na verdade eu me demiti depois que meus colegas de trabalho encontraram meu pen-drive com alguns rascunhos de histórias e me zoaram muito. Eu fiquei tão envergonhado, agora preciso de dinheiro – o processo que iniciei contra esses colegas vai demorar, com certeza, eu os denunciei por bullying de adultos, tem outro nome, mas eu esqueci – e decidi seguir meu sonho de ser escritor.

Mas... Argh! Tenho que terminar isso e sair logo do meu novo emprego no McDonald's, não suporto aquelas crianças gritando e pedindo seus prêmios idiotas que não durarão uma semana em suas mãos imundas de lama do parque. Falo isso por experiência própria, tenho certeza que algum atendente do McDonald's deve ter me xingado mentalmente, e muito!

Eu me pergunto: O que estou fazendo digitando esse texto? Bem, é só um desabafo, quero mostrar que ser escritor não é fácil.

Adeus, e se você leu tudo isso – “tudo isso”, eu escrevi quase nada! – eu te parabenizo. E se você é aspirante a escritor e não sabe nem pontuar então te mando para o Tártaro!