Wake Me Up When September Ends escrita por AnnySama


Capítulo 19
Um mês depois.


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que vocês querem muito, muito mesmo me matar por estar fazendo isso. Eu não estava muito contente com o jeito meio "o quê?" que a história acabou. Então decidi criar esse episódio que fala da sexta-feira depois de um mÊs do acidente, para vocês verem a reação de todos na escola e se aprofundarem na própria reação de Rachel. Ah, e avisando: Eu mudei um pouquinho o final do último capítulo, acrescentando mais detalhes. Beijos e boa leitura!



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Eu enlouquecera de vez. Minha mãe parou de viajar tanto para tentar colocar juízo em mim novamente. Não consegui voltar para a escola por mais de vinte dias, o que não prejudicara nada meu histórico escolar pela freqüência de presenças anteriores. Por um bom mês eu não dera as caras na rua, a não ser ás sextas-feiras aonde eu ia ao correio enviar, debilmente, uma carta para Brendon, que estava “viajando”.

O psicólogo do hospital dissera que eu criara bloqueios contra a realidade. Não sabia que eu tinha tal poder.

Era sexta-feira e eu estava escrevendo na porta da escola mais uma carta borrada pelo tremor de minhas mãos, esperando o sinal do começo das aulas tocar.

Chegara vinte minutos antes e me encostara na pilastra da entrada. Por duas semanas inteiras eu chorara sem parar, sem sossego. Nem o sono tivera a decência de me visitar.

O bloqueio mental não era perfeito. Parecia mais assim: Eu sabia que eu estava louca e que ele não estava viajando, mas não tinha nada demais fingir um pouco.

Tinha tudo demais. Porque quando eu deitava minha cabeça no travesseiro, eu pensava que ele nunca voltaria. E não havia nada, nenhuma carta e nenhuma oração que o fizesse retornar.

Mas eu escrevia.

E escrevia novamente.

E de novo.

Terminei a carta com um “Da sua mais que melhor amiga, Rachel Collins”

Tomando uma golfada de ar, reli-a.


Para: Brendon Lewis, o pior amigo do mundo.

Caro garoto que eu adoraria matar por ter quebrado a sua promessa. Você me disse que ficaríamos juntos para sempre. E agora você está a sabe lá quantos quilômetros de mim. Nada, nada no mundo pode descrever a tristeza e a solidão que eu estou sentindo nesse exato momento. Espero que isso tenha te pesado na consciência.

Eu sinto a sua falta, mais do que parece.

Da sua mais que melhor amiga, Rachel Collins

E depois da escola eu provavelmente iria ao correio, mandaria para um endereço que não existisse e depois dela retornar á mim, eu a guardaria em uma caixa onde estava guardando as outras.

Era mais ou menos isso o bloqueio mental. Uma demência tremenda.

Mas era bom. Me protegia daquilo que eu ainda não conseguia aceitar.

Enquanto eu me perdia em devaneios pensando em tudo que escrevera na carta, não percebera que o sinal acabara de bater e que o pátio começara a se encher de estudantes.

Fitei todos com incompreensão, enquanto eles faziam ao mesmo, me olhando com surpresa.

Estavam tão sorridentes e normais. Simplesmente como antes, perfeitos e superiores. Quase quis matar cada um de um jeito torturante e lento.

Os cochichos começaram a ecoar por todos os cantos. “Ela aqui?”, “achei que tinha se mudado”, “Ela não era amiga dele?”, “talvez mais que isso, ninguém sabe”.

Ergui-me com brutalidade e arrogância, olhando para todos com desdenho e adentrando a escola, com um olhar cético.

-Rach? Ah, finalmente! – Vi uma Michaela apressada e aliviada vindo de encontro a mim. Sua bolsa de couro D&G sacudindo sobre seu braço. Ela havia cortado os cabelos na altura dos ombros. Me abraçou afetuosamente. Eu fiz um pouco de esforço para afastá-la de mim. – Você está bem?

-Melhor do que vocês não. Fiquei surpresa ao ver que, provavelmente, todos foram absorvidos por alienígenas que apagaram suas memórias. Quantos sorrisos. – Sorri ironicamente para uma garota que passava perto de nós e que me olhava como se visse um fantasma.

Michaela abaixou a cabeça e mordeu os lábios, desconcertada.

-Um dia a gente teve que superar. – Murmurou incerta. Eu apertei os olhos, lançando uma aura de raiva entre nós. – Mas foram difíceis os primeiros dias. Te contaram que Josh Perkins teve um tipo de surto de terror e quase se matou? Ele e a família se mudaram para bem longe. Muitos saíram daqui por causa do acidente...

Observei o horizonte, o mar de alunos que realmente parecia menor depois de tudo, incapaz de olhar nos olhos de Mich.

-E você também devia superar. – Por fim concluiu, afagando de leve meu braço.

Funguei, tentando não deixar as lágrimas escaparem de meus olhos.

-Nós finalmente íamos resolver as coisas entre nós. Iamos voltar como namorados e “quem sabe” ter uma vida normal. – Fiz aspas no ar com os dedos. Falava numa velocidade incrível e estúpida. – Pelo menos 80% dessa escola merece morrer da pior forma possível, e não morreram. Brendon Morreu. – E pela primeira vez eu falei isso para outra pessoa, oficializando um estado que eu não queria aceitar. Cerrei os dentes com isso. – Ele morreu. Não Evelyn, não Owen ou Diane. Ele. E apenas eu sei o quanto isso é injusto.

Saí pisando firme. Não olhei para trás, mesmo sentindo uma ponta de remorso pelo que disse.

      Eu sabia que Michaela não tinha culpa de nada. Sabia que ela também estava triste e era uma das poucas pessoas de lá que eu agradeci a Deus por não estarem no ônibus. Mas eu estava dominada por um sentimento de fúria que nem sabia que existia em mim.

      Mas Mich entendeu, e me fez companhia nos intervalos seguintes.

Por um tempo foi apenas isso, raiva.

Depois eu voltei a ser insignificantemente tranquila.


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