Volto a dormir sem ter você no travesseiro.

Deito com um abismo no peito e acordo enroscada em mim mesma.

Tomei da mesma droga que sempre me recuso a tomar novamente.

Acordo surpresa sentindo os efeitos de habitualmente.

E os dias são monocromáticos como de costume,

as pessoas agem como em um filme de cinema mudo.

Apesar de serem ações cotidianas, não consigo evitar a dilatação das pupilas,

não consigo me defender da sempre mesma lâmina fria.

Aventuras em terrenos inóspitos já não me interessam mais,

organizar campanhas em busca do tesouro da verdade não me desafiam mais,

ficar aqui desbotando nesse cenário eu sei que não mais,

mas seu abraço e beijo de boa noite não podem me colorir mais.

E volto à tela preto e branca do meu filme,

tudo tão característico de 1920,

tão calado que cada passo meu faz um estardalhaço,

por isso tenho que abafar o som do soluço pra não atrapalhar o espetáculo.