Reflexos Oblíquos escrita por Nami Otohime, Lady Salieri
Primeiro me apresentaram nuvens de algodão doce,
me mostraram estradas de tijolos amarelos.
Me disseram que se andasse debaixo do sol, não haveria lobos à espreita.
Mas o sol logo se foi
e a estrada dourada se tornou um beco escuro.
O caminho terminou ‘ao pé de uma parede sem porta’.
Não havia como seguir...
E a escuridão me impedia de voltar.
O sol não nasceu de novo e se nasceu não percebi.
Sentei e esperei e perdi a conta dos dias,
até que chegaram com lanternas gritantes aos olhos,
em questão de minutos pintaram portas nas paredes,
e me disseram ser o meu ponto de partida...
Mas logo vi que eram apenas portas partidas,
partidas portas pintadas,
e que a parede nunca fora quebrada,
embora fosse feito do que de quebrado em mim havia.
Mesmo assim encarei e subi o muro
e do outro lado vi um quadro preto e branco mofado.
Um mundo mumificado, embalsamado, mas morto,
pessoas partidas pintadas simetricamente
como se Rafael fosse deus.
E como um pingo indesejado de tinta
caí sem querer e me fiz o defeito do quadro,
eu e mais tantos outros respingados na limpeza do pincel.
Um mal necessário à pintura,
não digno de interpretações.
E é como se eles soubessem,
mas insistem em apresentar
parafernálias pintadas,
espelhos que não refletem,
tecidos sem cor.
Insistem
e quanto mais insistem a bruma se adensa,
a escuridão fica mais gritante
e minha parede cada vez maior.
(10/09/2005 a 14/10/2005)
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