Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 80
Adeus, Mary




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Uma delegada pediu para que comparecêssemos na delegacia de Copacabana as onze. Eram, exatamente, 9:04 a.m e  a delegacia não ficava muito distante. Fomos andando e logo chegamos. Pablo nos acompanhou. Pablo tinha o cabelo um pouco grande e seu cabelo era um loiro escuro, um pouco queimado de sol nas pontas. Ele aparentava ser surfista. Era mais claro que Pedro, era bronzeado. Seu rosto não era muito bonito, mas seu corpo era perfeito.

“Mandei um agente no endereço que nos indicaram. Ninguém nos atendeu.” –Disse a delegada.

Ela havia se apresentado como Michele Viana. Seu cabelo ia até a metade das costas e fora pintado no estilo “californiana”. Branca dos olhos castanho claro. Seu batom rosa quase não aparecia, mas o notei. Elas nos levou para sua sala. Me sentei na cadeira em frente a sua mesa, Camilla sentou-se em meu colo e Pedro e Pablo ficaram em pé, atrás da gente. Michele contou tudo o que encontraram no local. Com mandato, invadiram. Os quartos não tinham mais roupas, o local fora abandonado. Como imaginava, eles se mudaram. Ela disse também, que um homem chamado Rafael, deu informações sobre o possível novo lugar que eles poderiam se instalar e confirmou tudo o que eu tinha dito.

“Como já disse, confirmaram que eles são pedófilos e são chefiados por...” –Michele olhou na ficha.

“Antônio. Meu pai.” –Eu disse.

Michele parou de ler a ficha e olhou para mim. Acho que agora ela teve noção da gravidade do nosso problema. Ficamos por mais alguns minutos na sala dela e depois fomos liberados.

“Poderíamos mudar nossos nomes.” –Sugeriu Camilla.

“Não é uma ideia ruim.” –Concordou Pedro.

“Me chamem de Olívia.” –Disse Camilla.

“Lucas!” –Disse Pedro. –“Me chamem de Lucas.”

Eles começaram a rir e ignorei completamente a conversa. Fingi não ouvir.

“Yolanda? Qual será seu nome?” –Camilla perguntou ao segurar minha mão direita.

“Vocês parecem tão tranquilos.” –Eu disse.

“Relaxa! Estamos bem agora!” –Disse Pedro passando seu braço direito pelos meus ombros.

Olhei para ele. Um lindo sorriso ele estampava em seu rosto. Sorri também.

“Vai, escolhe um nome.” –Disse Camilla.

“Imogen?” –Eu perguntei.

“O que? Esse nome existe?” –Camilla perguntou.

“Outro!” –Disse Pedro.

“Eu não sei, gente. Isso é inútil.” –Eu disse.

“Temos que mudar nosso visual também!” –Disse Camilla, empolgada.

Ela parecia estar se divertindo com isso tudo. Com a vida nova que dizia “olá” para nós. Ela se esqueceu que Ana estava com câncer e Mary poderia ser enterrada em qualquer lugar, porque ninguém pagou por um funeral digno. Eu não conseguia relaxar, como Pedro havia pedido. Queria encontrar Mary, viva ou morta.

“Yolanda, me diga um nome.” –Ela disse.

“Calem a boca!” –Eu disse com um tom agressivo. –“Disseram que me ajudariam com a Mary.” –Completei acalmando meu tom.

Pedro e Camilla se olharam, parecendo dizer que eu tinha razão e o quão insensíveis eram. Pablo sugeriu ligarmos para os lugares da casa dele e qualquer suspeita, correríamos para o hospital ou qualquer outro lugar. Aceitamos a sugestão e procuramos na internet os números de todos os hospitais da região e até mesmo o Instituto Médico Legal. Escrevi o nome completo de Mary em um papel, de onde ela era e quantos anos tinha e Pedro ligou para os hospitais. Eu estava nervosa e não conseguia ficar parada em um canto.

“E a Ana?” –Camilla me perguntou.

“Agora decidiu se preocupar, Camilla?” –Perguntei após roer a unha.

“Sempre me preocupei.” –Ela disse.

Dei uma risada irônica e voltei a roer minha unha. Eu não tinha essa mania, mas estava roendo. Camilla não insistiu em perguntar sobre Ana e foi para a cozinha. Pensei na nossa conversa e me senti uma idiota. Fui atrás de Camilla.

“Olha, a gente vai atrás da Ana também. Quando soubermos da Mary.” –Eu disse.

Camilla estava bebendo um copo d’água, encostada na pia.

“A Mary pode estar morta.” –Eu disse.

“E a Ana pode estar morrendo e eu não vou ter a chance de  me despedir da minha avó.” –Ela disse.

Camilla colocou o copo sobre a pia e saiu da cozinha, me deixando lá sozinha.

“Aconteceu alguma coisa?” –Pedro perguntou entrando na cozinha.

Me virei para ele e Pedro estava com um papel na mão. Neguei com a cabeça e ele me deu o papel.

“Eu sinto muito.” –Ele disse.

Era o endereço do IML. Uma lágrima quente escorreu do meu olho esquerdo e rapidamente a sequei. Respirei fundo e guardei o papel no bolso. Tanta coisa estava passando pela minha cabeça. Não tinha dinheiro para o funeral, eu estava sozinha novamente, poderiam me encontrar de novo, Ana estava morrendo em algum lugar, Framlingham estava distânte. Minha cabeça começava a doer. Tentei resistir, mas acabei abraçando Pedro. Ele rapidamente retribuiu o abraço. Eu estava virada para a porta e pude ver que Camilla nos observava e logo correu. Soltei Pedro.

“Eu te acompanho até lá. Sei onde fica.” –Ele disse.

Camilla ficou no apartamento com Pablo. Pedro e eu fomos o caminho inteiro sem dizer uma única palavra. Pela janela, eu via pessoas felizes na rua com suas famílias e me perguntava, por que comigo tinha que tudo ser diferente? Não acredito em vidas passadas, mas se isso realmente existe, eu devia ter sido nazista ou algo pior. Paramos no sinal e um menino bateu no vidro, pedindo dinheiro. Tive que negar com a cabeça. Ele deu um sorriso e foi para o carro de trás. Na calçada, pude reparar em um homem que observava a movimentação do menino. Talvez fosse ele que “mandava” no garoto. Eu não era a única que sofria deste problema.

Pedro me ajudou a resolver tudo no IML. O dinheiro que o Pedro tinha no banco, ele gastou para enterrar Mary. Agora, mais do que nunca, estávamos sem dinheiro. Nem uma rosa eu poderia comprar. Mary foi enterrada no cemitério de Botafogo e apenas nós quatro fomos ao enterro. Que foi no mesmo dia que o corpo de Mary fora liberado.

Adeus, Mary.” –Foi tudo o que eu conseguir dizer.

Fomos até a pousada. Portas fechadas. De acordo com vizinhos, Ana não estava aceitando mais hospedes. Disse também, que outras pessoas cuidavam da pousada, enquanto Ana estava internada.

“Ana está indo no hospital há um ano já. Quando começou a aparecer manchas em seu corpo.” –Disse Pedro. –“Ela saiu do hospital para resgatar você.”

E mais uma vez, eu acumulava culpas dentro de mim. Tudo, exatamente, tudo, eu achava que era culpa minha. Talvez fosse mesmo. Já estava ficando noite e o horário de visita no hospital já tinha terminado. Pablo deixou a gente morar com ele o tempo que achássemos necessário. Ele estava sendo muito gentil. Quem não gostou muito foi a ex dele, que foi lá a noite buscar suas roupas e Camilla e eu estávamos vestindo elas. Apesar de ter acabado de enterrar Mary e eu ter tido que reconhecer o corpo, eu estava tranquila agora. Agora eu estava livre para construir minha vida com minhas próprias mãos. Faltavam quatro meses para a minha maioridade.  


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Notas finais do capítulo

FELIZ 2013 PARA TODOS. Que o ano seja especial e que coisas positivas sempre aconteçam. Não tenham raiva da vida e saibam que vocês são importantes, pelo menos pra mim, cada novo recado é uma motivação para melhorar sempre. Obrigada por estarem acompanhando a FDO e espero não decepcionar ninguém.
Tenham um lindo ano. Saúde para todos.
Obrigada novamente por estarem lendo isso.
Jenny, eddictedhoran



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