Faltavam poucos dias para o baile e eu não fazia ideia de com quem ir. “Vai com quem te chamar primeiro” Mary havia comentado. Mas acho que isso não era o melhor para se fazer, não sou um troféu ou algo do tipo. Não era obrigatório ter um par para o baile, mas a tradição deles diz ser constrangedor ir desacompanhada, ou em grupo.

No ônibus, como sempre, me sentei ao lado do Teddy, meu lugar já era marcado.

“Soube que não quer ir nem comigo e nem com Ethan ao baile.” –Disse Teddy.

“Como soube?” –Perguntei. –“Mas é verdade.” –Completei.

“Algum motivo especial?” –Ele perguntou.

“Não quero que se matem para ver com quem a princesa vai ficar.” –Eu disse.

Teddy começou a rir e tirou seu capuz. Incrível como ele sempre estava de capuz.

“Depois que soube disso, já convidei outra pessoa.” –Ele disse.

“Que rápido você.” –Eu disse dando um sorriso irônico. –“Já sei quem é, nem precisa dizer.” –Completei.

  Teddy não disse nada, dando a entender que era mesmo a pessoa a qual eu estava imaginando. Eu não poderia ficar chateada com ele, afinal, eu que não quis ser convidada por ele, poderia jogar isso na cara dela, mas melhor não. Ao chegarmos na escola, avistei Ethan conversando com Susan na entrada dos corredores.

“Ele não...” –Eu disse o observando de longe.

Teddy me deixou lá observando Ethan e foi de encontro a April, que já estava entrando em sua sala. Susan abraçou Ethan e saiu. Cruzei os braços e continuei o encarando. Ele percebeu que eu estava o olhando e veio em minha direção.

“Bom dia!” –Ele disse rindo e abrindo os braços.

“Ai, não!” –Eu disse colocando as mãos em seu peito, evitando com que se aproximasse- “Não me abraça depois de ter abraçado aquela.” –Completei.

“Susan?” –Ele perguntou.

“Não, chapeuzinho vermelho.” –Eu disse. –“Claro que é a Susan!”

“Só a convidei para ir ao baile.” –Ele disse.

“Só a convidei para ir ao baile.” –O imitei. –“Você chama isso de ‘só’?” –Perguntei.

“Você publicou em um jornal que não queria ir comigo e nem com o Teddy!” –Ele disse.

“Quanto exagero, meu Deus, você e Teddy são iguaizinhos.” –Eu disse cruzando os braços novamente. –“Escolheram as pessoas que mais odeio nesse lugar! Parabéns!” –Eu disse batendo palmas.

“Já te falaram que você é dramática?” –Ele perguntou.

“Já te falaram que você é um imbecil?” –Perguntei. –“Divirta-se com a Susan.” –Completei.

Deixei Ethan e fui para a aula. Como esses garotos eram vingativos. Queria usar da mesma moeda, mas não conheço ninguém que eles odeiam na escola. Até entendo o Teddy ir ao baile com a April, mas Ethan e Susan? Era como se eu fosse ao baile com Joe, o esquisito. E é isso que eu vou fazer!

Joe, ao meu ver, não era tão esquisito como diziam. Seu cabelo ia até a metade das costas, na cor castanho escuro e um pouco cacheado. Ele é um metaleiro bem característico, mas não era o badboy da escola, era bem na dele e quase não falava com ninguém, apenas com seu grupo.

“Oi, Joe.” –Eu disse a ele.

Joe estava sentado na segunda mesa do refeitório, comendo um sanduíche natural com pasta de geleia.

“Oi?” –Ele disse meio desconfiado.

“Nunca conversamos, né?” –Eu disse me sentando ao lado dele.

“Não me diga que é mais uma dessas garotas desesperadas por um par para o baile!” –Disse Joe.

“O que? Puf, claro que não, Joe!” –Eu disse rindo sem graça. –“Você é muito engraçado! Ai, ai.”

Joe deu uma mordida em seu sanduíche e ficou me olhando, dava para ver em seus olhos “maluca”.

“Mas você vai ao baile?” –Perguntei.

“Baile idiota.” –Ele disse.

Joe fazia parte do time de rugby, não tinha obrigação nenhuma de ir ao baile, ao contrário de Teddy e Ethan.

“Pode ser divertido!” –Eu disse.

“Você quer mesmo que eu vá ao baile contigo?” –Ele perguntou.

“Se eu disser que ‘sim’, você promete me dar uma resposta fofinha e delicada?” –Perguntei forçando um sorriso.

“Por que quer tanto que eu vá? Nunca nem falou comigo.” –Ele disse.

Sabe, ele tinha razão e eu não poderia dizer que simplesmente eu não tinha mais opções e queria por ciúmes em dois meninos.

“Olha, você está sem par, eu estou sem par...” –Eu disse.

“Quem disse que eu estou sem par?” –Ele perguntou. –“Eu tenho um par.”

“Tem? Ah, me desculpe.” –Eu disse.

Joe ficou me olhando por um tempo e voltou a comer seu sanduíche. Eu queria sair dali, mas estava constrangida demais para lembrar como se anda.

“Você parece muito mais interessante do que o meu par.” –Ele disse de boca cheia.

“E quem é o seu par?” –Perguntei.

“Ninguém, eu não tenho, só queria me livrar de você.” –Ele disse.

“Ah, legal! Acho que isso é um sinal para eu me retirar.” –Eu disse me levantando.

“Era, mas você parece legal.” –Disse Joe.

“Que gentil. Obrigada.” –Eu disse sorrindo.

“Você só parece meiga demais. Curte metal?” –Ele perguntou.

“Eu não sei exatamente o que eu curto. Creed é metal?” –Perguntei.

Joe sorriu.

“Vai ser divertido ir ao baile contigo.” –Ele disse.

“A gente se encontra que horas aqui?” –Perguntei.

“Não, te busco de carro.” –Ele respondeu.

“Mas você já dirige?” –Perguntei novamente.

“Sim, mas não legalmente.” –Ele disse. –“As 8 eu te busco.”

Dei meu endereço a ele e meu telefone. Teddy estava na porta do refeitório.

“Você estava falando com Joe esquisito?” –Ele perguntou.

“Não lhe devo satisfações.” –Eu disse.

Não parei para conversar com Teddy, segui andando e ele apenas me seguiu. Do nada, parei de andar e me virei para Teddy, que não percebeu que eu parei e deu um esbarrou em mim.

“Não precisava ter me comprado o vestido, mas muito obrigada.” –Eu disse.

“Não precisava ter entrado na minha vida.”-Ele disse.

“Isso é pra eu ficar ofendida ou achar fofo?” –Perguntei.

“Não sei, mas você entrou na minha vida e não é graças a April ou qualquer outra pessoa que você vai sair dela.” –Disse Teddy.

“Agora que é pra achar fofo.” –Eu disse.

“Landy!” –Ele disse.

O abracei e não queria sair nunca mais de seus braços, até que vi Ethan novamente com Susan, a raiva se misturava ao meu sangue e corria pelo meu corpo. Não aguentava ver aquilo.

“Ele tinha logo que escolher ela.” –Eu comentei.

“Se preocupa?” –Teddy perguntou.

“Sim, ele é meu amigo e ela é uma... uma... ah, que raiva!” –Eu disse.

“Não deveria se importar.” –Disse Teddy.

“Mas me importo, assim como me importo com você indo com a April. Você e Ethan deveriam ir juntos, sem meninas.” –Eu disse cruzando os braços.

“Tá chamando a gente de gays?” –Ele perguntou.

“Não, babaca.” –Eu respondi. –“Só estou protegendo vocês...” –Completei.

Teddy passou seu braço esquerdo por trás da minha nuca e apoiou seu braço em meu ombro. Joe veio em nossa direção.

“E ae, gata.” –Ele disse beijando minha bochecha.

“Hey!” –Teddy disse empurrando Joe.

“Calma ae, água de salsicha, estou falando com a minha garota pro baile.” –Disse Joe ao Teddy.

“Joe! Olha como fala com o Teddy!” –Eu disse.

“Vocês estão muito estressados.” –Ele disse.

Puxei Joe pelo braço direito e o afastei de Teddy.

“Sem apelidinhos, sem ofensas, não dependo da sua companhia para ir ao baile, você que respeite o Teddy ou você vai ter que mudar a sua opinião quando diz que sou ‘meiga’”-Eu disse colocando o dedo na cara do Joe.

Joe ficou me olhando assustado.

“Tudo bem.” –Ele disse.- “Nos vemos sábado.”

Joe saiu e permaneci no mesmo lugar.

“Landy...” –Teddy dizia.

“Cala a boca.” –Eu o interrompi.

“O Joe é um tarado.” –Comentou Teddy.

“Ta vendo isso aqui?” - Eu apontei para um lugar vazio.

“Sim, e daí?” –Ele perguntou.

“É o número de pessoa que te perguntou alguma coisa.” –Eu disse.

“Você anda muito estressada ultimamente, Landy.” –Ele disse.

“Você tem razão,me desculpa, eu to nervosa, ansiosa, não sei exatamente.” –Eu disse.

“Com o que?” –Ele perguntou.

“Com as férias no Rio, sei lá, a vontade de ir passou.” –Respondi.

“Lembro da sua felicidade quando recebeu as passagens.” –Ele comentou.

“Pois é, acho que era outra Landy ali...” –Eu disse.

Realmente, parecia outra pessoa. A Landy que chorou de felicidade ao ver as passagens em suas mãos, não existia mais e eu a queria de volta. Não queria voltar para a cidade onde minha vida foi um inferno, claro que a cidade não tem culpa, aliás, eu a amo, mas me lembraria de muitas coisas pelas quais lutei esquecer. Meu aniversário, Natal, viagem, estava tudo chegando tão rápido que eu não sabia como lidar com tudo isso.

“Pretende fazer o que em seu aniversário?” –Perguntou Teddy.

“Não sei. Me surpreenda.” –Eu disse para Teddy.

Ele nada disse e apenas sorriu. Eu ia fazer 15 anos, todas as meninas ou viajam ou fazem uma linda festa. Eu não queria nada, talvez um presente, até mesmo outra rosa. Não esperava que Teddy me surpreendesse.

Dia do baile.

Mary disse que iria me arrumar o dia inteiro, cabelo, unhas, maquiagem. Eu estava ansiosa para isso, mesmo não me importando para essas coisas. Eram 9 a.m e Joe já havia me ligado duas vezes, mas não atendi nenhuma delas.

“Não sei se estou fazendo o certo indo com Joe.” –Eu disse a Mary.

“Agora, certo é ir com ele, mas o errado é ter dispensado Teddy.” –Ela disse saindo do quarto.

Mary tinha razão, eu me sentia culpada. Esse seria o nosso primeiro baile e estraguei tudo. Ele estaria dançando com outra garota, sua mãe iria tirar foto de com outra garota, tudo com outra garota. Só queria que ele tivesse “lutado” para que fosse eu. As vezes eu acho que sou uma tortura para todo mundo, sabe? Apesar de ter amigos, me sinto uma pessoa sozinha e desprotegida. Não falo com as pessoas, por achar que as irrito. Não me acho boa o suficiente para ninguém e para nada. Apenas me acho uma peça inútil nesse mundo.

“Yolanda! Teddy no telefone!” –Gritou Mary da sala.