Após jantar com Mary, subi para o quarto e tranquei a porta. Me abaixei ao lado esquerdo da cama, para pegar o livro. Me sentei no chão e me encostei na cama, de costas para a porta. Abri o livro na página do 70, referente ao capítulo 40 e comecei a ler, era o testemunho de uma americana, do Texas, chamada Penny Smith. Decidi escrever em meu caderno, um resumo sobre o capítulo. Nele dizia que tudo aconteceu em 1998, seis anos após a morte de sua irmã, de 27 anos. Logo após contar sobre sua relação com a irmã, Penny começou a falar sobre coisas estranhas que aconteciam em sua casa, a qual sua irmã Sabine também morava. Coisas começavam a se mover e cair, igual ao que havia ocorrido comigo, Penny chamo um especialista em espiritismo e ele afirmou ser Sabine. Por achar que era a irmã, Penny não mais se importava com as coisas caindo e até conversava sozinha, esperando a irmã responder. Ao passar dos meses, as bagunças foram ficando mais intensas e fora de controle, Penny começou a se assustar e chamou o especialista novamente e ele descobriu que Penny guardava as cinzas da irmã em uma porcelana no porão e isso que aborrecia Sabine e ao jogar suas cinzas no jardim dos fundos de casa, nada mais ocorrera até então.

Anotei esse resumo do capítulo em meu caderno e guardei o livro novamente de baixo da cama. Me levantei e coloquei o caderno sobre a mesa de estudos e fui me afastando, andando para trás, até chegar na cama. Esperei por dez minutos e nada aconteceu. Continuei olhando para o caderno, até que meu celular começou a vibrar forte na mesa da cabeceira e apenas reagi gritando e rapidamente tapei minha boca com as mãos.

“Yolanda?” –A voz era de Mary, vindo de fora do meu quarto.

Enquanto Mary batia na porta, o celular permanecia vibrando.

“Estou bem!” –Gritei.

“Destranque está porta agora!” –Ela disse girando a maçaneta.

Corri até a porta, rodei a chave e a abri, o celular parou de vibrar.

“Eu me assustei com o celular tocando.” –Eu disse.

“Por que trancou a porta?” –Ela perguntou.

“Estava trocando de roupa e esqueci de destrancar” –Respondi.

Mary me olhou desconfiada, saiu do quarto e encostou a porta. Me sentei na cama e peguei o celular na cabeceira, a chamada perdida era de Teddy. Ignorei a chamada e não retornei. Me deitei virada para a mesa de estudos e o caderno ainda estava lá.

Sexta-feira, como eu ficava feliz com esse dia. Me espreguicei e fui para o banheiro tomar meu banho. Quinze minutos depois, voltei para o quarto, me arrumei e fui pegar o caderno na mesa e lá ele estava, mas o marca página, que era uma fita vermelha, estava ao lado do caderno e não marcando a última folha que eu havia escrito. O marcador de páginas era uma fita vermelha, que eu ganhara quando pequena, veio em um saco de doces. Abri o caderno, coloquei a fita na última página escrita e o guardei na minha mochila. Desci para tomar o café com Mary, que estava terminando de arrumar a mesa, com torradas e sucos de laranja.

“Mary, você pode me levar na escola hoje?” –Perguntei.

“Mas por que?” –Ela perguntou após tomar um gole do seu suco.

“Não quero ir de ônibus hoje, não estou bem...” –Eu disse.

“Bom, tudo bem.” –Ela disse.

Esperamos o ônibus parar na porta e Mary foi conversar com o motorista e não demorou muito e logo foi em direção ao carro. Entrei pelo banco do carona e poucos minutos depois, meu celular apitou para uma nova mensagem, que era de Teddy, “não vai a aula?”, respondi com “Irei.”, dez minutos depois ele retornou com “Por que não veio comigo?”, decidi não responder essa.

Ao chegar na escola, chegamos primeiro que o ônibus. Não esperei Teddy chegar e fui logo para a aula de Biologia. Antes de entrar na aula, April veio até a mim correndo, tentei evita-la, mas não consegui.

“Yolanda, por que fez aquilo ontem?” –Ela perguntou.

“Apenas me arrependo por a ter conhecido.” –Eu respondi.

April ficou em silêncio e entrei na sala, sentei na primeira fileira, justamente porque Teddy odiava. Fiquei me perguntando o por quê do Teddy ter olhado para April daquela maneira, e eles não pareciam que já haviam namorado ou algo do tipo, talvez, April seja uma antiga paixão dele, mas nada aconteceu entre eles. Cinco minutos depois, Teddy entrou na sala junto com o professor. Atrás de mim, ainda estava vago e justamente ali que Teddy decidiu se sentar. Desencostei da cadeira e cheguei mais para frente, fazendo minha coluna permanecer ereta. Depois de poucos minutos, senti a mão de Teddy tocar meu ombro direito, virei meu rosto para ser sua mão em meu ombro e ele me entregou um papel, fiquei olhando para o papel em sua mão e depois o peguei. Me encostei na cadeira e fiquei olhando para o professor, enquanto eu desdobrava o papel. Quando o abri por inteiro, esperei o professor se virar para o quadro e abaixei minha cabeça para lê-lo, nele dizia “ Eu te amo. T (: x”, respirei fundo, levantei a cabeça e voltei a olhar para o professor, enquanto dobrava novamente o papel, o coloquei sobre a mesa, ao lado do meu caderno e permaneci prestando atenção na aula, sem nada dizer a Teddy.

Era hora do intervalo, recolhi minhas coisas e antes que eu pudesse me levantar, Teddy parou ao lado da minha mesa, me impedindo de sair.

“Me diga o que acontece.” –Ele disse.

“Me diz você! Por que olhou para April daquela maneira?” –Perguntei.

“Que maneira?” –Ele perguntou.

“Olha, Teddy, não viajei até a Framlingham para ser feita de idiota!” –Eu disse.

“Mas do que você está falando?” –Ele perguntou novamente.

Me levantei, abracei meu material e fiquei encarando Teddy.

“Como assim do que eu estou falando? Quando te apresentei a April, você olhou para ela como... como... não sei, mas não me parecia boa coisa!” –Eu disse.

Antes que Teddy pudesse responder, caminhei em direção a porta, esperei o professor sair primeiro, dando tempo o suficiente para Teddy chegar até a mim e impedir minha saída, segurando meu braço esquerdo.

“Hey, espera! Nada aconteceu ou vai acontecer entre mim e April!” –Ele disse.

“Mas você olhou pra ela e ignorou tudo o que eu disse e...” –Fui interrompida por ele.

“Nada vai acontecer, eu te amo e você sabe disso.” –Ele disse, colocando suas duas mãos em meu rosto.

Fui forçada a olhar para ele e nada disse. É claro que eu acreditava nele mas, algo ainda estava errado nessa história. A maneira como ele olhou para ela, parecia como Ethan olhava para mim. April era uma menina linda, sempre acho que todas as meninas do mundo são mais bonitas do que eu mas, ela realmente era mais e isso me deixava insegura porque, me amando ou não, Teddy é homem e eu não sabia se seu instinto falaria mais alto algum dia. Apenas queria não pensar mais nisso, mas eu não conseguia olhar para Teddy e não lembrar de como ele olhava para ela, não era igual olhava para mim, isso eu tenho certeza, mas nunca havia visto ele olhar para alguma outra assim, nem mesmo Lori, que é sua ex-namorada. Parei de pensar nessas coisas, coloquei meu material na mesa mais próxima e o abracei apertado. Apoiei meu queixo em seu ombro esquerdo.

“Não importa o que aconteça entre você e April algum dia, mas não me magoe.” –Eu disse enquanto o abraçava.

“Será pra sempre você e eu.” –Ele disse passando sua mão direita em minha nuca enquanto me abraçava.

Nos soltamos, dei um leve sorriso para ele. Teddy pegou minhas coisas que estavam sobre a mesa e as carregou. Algo me diz que não está tudo bem.