Eu não sabia se “oferecer” era exatamente a palavra certa, mas se este é o caso, ambos me “oferecem” de diferentes maneiras. Para mim, o fato do Teddy ser agora um cantor bem sucedido não muda nada. Por mais que Camilla insista em dizer que estou com Pedro por pena, não consigo enxergar desta forma. Eu realmente o amo, talvez não ao nível de como um dia amei o Teddy, mas não gosto de comparações. Eu o amo.

“Vocês não estão aqui para me oferecer nada, Pedro. Você acrescenta muito na minha vida. Completa o que me falta ou soma com o que já tenho.”

“Mas quem completa mais?”

“Pedro, por que quer tanto comparações? Você não vale nada? Você tem seu valor, diferente do dele.”

“Que tipo de valor.”

“Por que tornar as coisas mais difíceis? Você sabe o quanto já falei que era apaixonada por ele e...”

“Ainda é?”

“Estou com você agora, não estou? Se não teria ido com ele.”

“Não respondeu minha pergunta.”

Realmente pensei na resposta. Muito. Mas antes que eu abrisse minha boca, Camilla apareceu na sala, perguntando sobre sua mãe. Camilla foi atrás dela. Confesso que não entendi tal desespero assim de repente. A sala ficou tomada pelo barulho da televisão. Pedro e eu não dizíamos nada, apenas olhávamos um para o outro. Eu via um Pedro abatido. Eu estava com medo de tornar a nossa convivência infeliz, de alguma forma. Ele não era mais o mesmo Pedro que me pediu em casamento. Talvez fosse, só meus olhos que não queriam enxergar, porque estavam cegos pelo Teddy. Camilla entrou com sua mãe, para minha surpresa, elas estavam de braços dados e ambas com cara de choro.

“Eu a perdoei.” –Disse Camilla.

“Ah, legal. Agora ela já pode ir embora.” –Disse Pedro.

“Ela vai ficar.”

“Então saiam as duas.” –Disse Pedro.

Ele foi para a cozinha e ele parecia confuso e irritado. Pedi para que elas fossem para o quarto de Camilla, pois nós havíamos discutido e ele estava com a cabeça quente. Eu realmente gostaria que a mãe dela ficasse, mas não sei se perdoaria depois de ela ter me abandonado. Fui até o quarto de Camilla e pedi para que ela fosse na casa da Heloísa, pois eu queria conversar com Joana.

“Por que abandonou sua filha?”

Joana e eu estávamos sentadas na cama de Camilla. Uma fina cortina peneirava a fraca luz do sol, que já lutava para passar por entre as nuvens. O som dos trovões anunciavam uma chuva.

“Não abandonei porque quis. Estava apaixonada. Ele bebia muito e queria acompanhá-lo. Ele fumava também. Fui uma idiota. Agora ele me abandonou também. Me trocou por uma mais nova e aparentando ter mais vida do que eu.”

Eu não tinha o direito de julgá-la, mas nada justificar abandonar um filho. Eu perdoaria meus pais, mas aceitá-los morando sobre o mesmo teto que eu, nunca mais. Não os aceitaria ao meu lado novamente. Talvez minha mãe. Eu sinto saudades dela. Antes de tudo acontecer, ela era legal comigo, mas seu amor pelo dinheiro parecia maior e nosso laço foi arruinado.

“Eu amo a Camilla, mas eu era tão nova quando a tive. Ela sempre morou com a Ana, sempre. Eu a visitava todo mês, mas ela sempre chorava no meu colo.” –Disse Joana.

Não gosto de admitir, mas estava com pena dela. Pedro chegou no quarto e quis expulsa-lá. O impedi. Fechei a porta do quarto e o empurrei até o nosso.

“Você quer que essa mulher fique aqui?”

“Por que tanta raiva dela? Quem tem que aceitar ela é Camilla e não você.”

“Eu protejo a Camilla.”

“Pedro, Joana é a mãe dela.”

Pedro se aproximou de mim e pegou meu braço direito com força. Seus olhos enfurecidos invadiam os meus. Era notório que uma raiva tomava conta de seu corpo. Eu estava assustada. Pedro me soltou, ao perceber. Seu olhar começou a ficar triste. Tentei abraçá-lo, mas ele impediu e saiu do quarto. Me sentei na cama e não me permiti chorar. Vi Camilla passar pela porta e ir direto para o seu quarto.

“Ela... ela pode ficar.” –Ouvi Pedro dizer.

Rapidamente me levantei e fui até a porta. Pedro estava abraçando Camilla, em frente a porta do quarto dela. Me permiti chorar. Joana ficaria com a gente por um mês, e tinha esse tempo para arrumar um emprego e se fosse digno, Pedro lhe daria um pequeno apartamento. Eu estava gostando dessa segunda chance para Joana. Talvez não fosse a segunda, por isso Pedro não a queria mais por perto, pois gastou todas as suas cartas coringas.

Pedro me chamou no quarto, ele estava sentado com seu notebook na mão. Estava quase na hora de dormirmos. Joana dormia no chão do quarto de Camilla. Me sentei ao lado de Pedro e parecia que tudo estava bem entre a gente novamente. Dizem que o melhor de brigar, é a hora de fazer as pazes. Fazer as pazes me faz lembrar que estamos livres para brigar de novo.

“Está famosa, Emília.” –Ele disse, virando o notebook para mim.

“Cantor britânico afirma em rede nacional ter namorado uma brasileira.” –Título da matéria.

“Desnecessário isso.” –Eu disse.

Pedro começou a rir e eu não entendi. Fiquei olhando para ele e parecia que a minha cara o fazia rir cada vez mais. Pedro disse que o fato de eu estar sendo conhecia como “Emília” o fazia rir. Tal explicação ainda me deixou sem entender nada. Fui até a sala e meu celular começou a tocar. Atendi sem olhar e era Teddy.

“Saímos em um site inglês.” –Ele disse, antes de um “boa noite”.

“Pedro acabou de me mostrar uma matéria.”

“E como ele está?”

“Não estamos nada bem.”

“Me desculpe.”

Conversei com ele por apenas dez minutos e contei tudo o que aconteceu durante o dia. Ele achou bela a atitude de Pedro em aceitar Joana. Não sei se eu estava fazendo o correto contando tudo para ele, mas o via como meu amigo novamente e sentia falta de compartilhar as coisas com ele. Ele disse que eu poderia colocar o número dele na discagem rápida, para ligar para ele quando qualquer coisa me fizesse chorar. Feliz. Triste. Era para eu ligar para ele caso um lágrima derramasse.