Seamisai escrita por Dinha Prince


Capítulo 1
Primeiro Momento




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            A dor da separação não o fez levantar do sofá e impedi-la de ir embora. Ficou sentado ouvindo as portas do armário serem fechadas e abertas várias vezes, ela estava fazendo as malas, decidida a partir aquela noite.

 

 

Flasback

 

Os dedos de Hermione se contorciam mostrando para Rony que ela estava nervosa, apesar de querer transparecer tranqüilidade. Estavam separados pela mesinha de madeira que Molly fez questão de comprar em um antiquário quando eles estavam fazendo o enxoval. Ela sentada em uma poltrona de frente para ele com as pernas cruzadas e as mãos entrelaçadas e ele do outro lado navegando em seus pensamentos com o foco dos seus olhos longe dela.

 

- É assim que vai acabar? – Ele perguntou sem voltar-se para ela.

 

- Já acabou e você sabe disso. Não está ocorrendo agora, começou há algum tempo. – Ela respondeu firme ao cruzar os braços e descruzar as pernas.

 

O som do nada era incômodo, apenas a música distante que vinha do apartamento do vizinho trouxa quebrava o silêncio do ambiente.

 

Sim, eles viviam no mundo trouxa, em um bairro confortável perto do centro de Londres. Hermione exigira de Rony que não vivessem no mundo mágico, mas não aboliram a magia de suas vidas. Aparentemente eram um casal normal como qualquer um no condomínio Riverside, porém tudo se tornava diferente quando algumas estranhas visitas apareciam com roupas mais estranhas ainda.

 

- Suas malas já estão prontas? – Ele indagou ao mirá-la.

 

Hermione encontrou raiva no olhar de Rony e sem entender começou a se questionar como pôde todo o amor ter se transformado em um sentimento, que era um dos degraus para o ódio. Todos aqueles anos de convivência em Hogwarts, na Toca, as lutas contra Voldemort, o início do namoro; tudo isso havia sumido e os olhos dele expunham a ausência dessas lembranças para ela. Agora só havia mágoa, rancor e muita raiva.

 

- Não, e antes que você pergunte ou sugira algo, eu vou para casa dos meus pais – ela falou ao levantar e caminhar para o quarto.

 

Fim do Flashback

 

Agora Ronald Weasley, um homem de 26 anos e famoso jogador de Quadribol, encontrava-se estático sentado em um sofá semi novo de um apartamento em Londres, assistindo a única mulher que amou ir embora. Ela estava escapando dele com mais facilidade e agilidade que o pomo de ouro que estava acostumado a perseguir. As manobras velozes e de tirar o fôlego, que fazia em cima da vassoura agora não serviam de nada, era tudo ineficiente quando se tratava do coração de Hermione Granger Weasley.

 

 

Ela era ciente de que um casamento bruxo não podia ser desfeito, mas com seu jeito rebelde de ser jogara todas as regras para o alto e bagunçara a vida dele, destruíra-o por completo com a desculpa esfarrapada de que não era feliz. Como aquela mulher não era feliz? Ela tinha tudo que queria! Uma boa casa, um bom carro, um bom emprego. O que mais lhe faltava? Amor? Amor! Isso ele também dava à ela nas horas vagas em que o Quadribol lhe concedia. Contudo a vida perfeita que ela tinha não parecia o suficiente, Hermione queria sempre mais e ele já não estava disposto a ceder além do que já tinha ido.

 

 

Hermione pegava as roupas de qualquer jeito de dentro do armário, algumas ela nem tirava do cabide, somente embolava e ia enfurnando dentro da mala, outras ela socava dentro da bolsa descarregando na peça a raiva que trazia contida dentro dela. ‘Idiota’, era a única palavra decente que ela conseguia formular com relação a Rony. Antes mesmo de casar já reclamava das longas ausências e tantas vezes conversara com ele.  Depois de casados tantas vezes mostrara o quão carente estava por passar tanto tempo sozinha dentro daquela casa, mas ele não, ele não conseguia perceber que ela precisava da presença dele, e cada momento que ela reclamava da falta de carinho e de vida íntima entre os dois, ele comprava algo para ela, uma roupa, um sapato, uma jóia ou algo para o lar. No início ela até deixou-se levar pelos presentinhos, porém com o tempo, a falta da presença dele tornou-se um buraco tão grande que nada nem ninguém além de Rony poderia preencher.  A partir daí as constantes brigas vieram. Os embates começaram a ocorrer sempre que ele chegava de um período de três meses de viagem, pronto para descarregar nela todos seus ‘meninos’ bem guardados no sacro escrotal durante o tempo em que ficaram distantes, e após liberá-los ele saía de cima dela procurando por um bom cigarro, uma baforada para completar a noite perfeita; ela, ficava vazia como se ele nunca tivesse voltado e a amado carnalmente.

 

 

Tentou entendê-lo e para isso resolveu dar uma esquentada no relacionamento mesmo tendo tão pouco tempo de casados, porém não deu em nada. Sugeriu viajar com ele e a única coisa que conseguiu foi uma discussão feia e um período de três longos meses sem as corujas que ele mandava para lhe dar notícias. Resignou-se e aceitou o fato de que não tinha mais o que fazer além de conversar, ou melhor, discutir a relação. Eles tinham dois anos de casados e já estavam em crise, assim ela pensava, pois descobriu que na mente de Rony tudo fluía muito bem, o casamento estava as mil maravilhas e nada precisava ser mudado, a não ser o fato de que já estava na hora deles aumentarem a família e a famosa discussão de relacionamento acabou em mais uma noite frustrada de amor, na qual ela gemeu o suficiente para que ele acreditasse que ela estava sentindo um prazer tão incontrolável e profundo quanto o dele.

 

 

Depois daquela noite Hermione Granger decidira ir embora de casa, porém demorou um tempo até que ela realmente colocasse em prática sua idéia, precisou que o destino mexesse no jogo da vida para que alguém, que há muito ela não via, aparecesse do nada e a fizesse trazer para vida real o que só existia no mundo das idéias.

 

 

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Hermione saiu cedo do trabalho aquele dia, precisava passar na Botica para comprar algumas ervas, necessárias para o novo experimento que estava prestes a começar. As ruas de Londres estavam repletas de transeuntes, distraídos por causa das vitrines sempre chamativas, que esqueciam de olhar para frente e para onde andavam, batendo suas sacolas nas pernas daqueles que não participavam da corrida às compras. Ela ainda tinha que fazer a janta, pois Rony avisara no dia anterior que estava voltando e como ela sempre fazia quando ficava sozinha, aboliu a carne do seu cardápio com a intenção de limpar o corpo. Então, além da Botica precisava ir ao supermercado para abarrotar o seu congelador de sangue e bichos mortos, não era vegetariana, mas Rony gostava tanto de carne mal passada que ela ás vezes chegava a pensar que ele tinha sido mordido por Greyback.

 

 

Ao entrar no Beco Diagonal ela não demorou olhando para vitrine da Floreios e Borrões, pois estava consciente de que se parasse para dar a costumeira olhadinha acabaria saindo com mais uma sacola de livros para sua apertada estante, o que levaria Rony a reclamar sobre gastar dinheiro com papel sem valor. Passou direto rumando para fim da rua principal para virar a direita e depois de uns trinta metros virar a direita novamente, localizando à esquerda entre duas grandes lojas a apertadinha e simples Botica, esse era o nome da lojinha de dois andares encerrada naquele beco. O pequeno sino acima da porta anunciou sua chegada e seu nariz logo deliciou-se com os odores que dominavam o ar da loja. Hermione tinha se formado em química fazendo mestrado e doutorado, até se tornar uma perfumista de uma empresa muito famosa no mundo trouxa. Ia sempre àquela loja em busca de novas ervas e plantas que pudessem excitar seu olfato apurado, o dono era sempre gentil e cortês dando a ela horas de conversa regadas com chá, sobre ervas que não mais existiam ou que eram raras de conseguir. O senhor de estatura baixa com orelhas tão pontiagudas que poderia ser confundido com um duende agraciou-a com um sorriso acolhedor. Por trás do balcão veio andando em direção a ela, vestido sempre o seu habitual uniforme: blusa e calça brancas que chegavam a ser cintilantes de tão alvas e suspensórios marrons para quebrar a brancura do conjunto.

 

 

- Boa tarde Hermione – ele a cumprimentou sem chamá-la de senhora. Eles tinham desenvolvido uma amizade de anos, que vinha desde os tempos da faculdade, que permtia tal intimidade.

 

 

- Boa tarde senhor Gringoll – ela falou tirando o casaco. Apesar de estar na primavera os dias na cidade andavam frios e úmidos.

 

 

- O que a trouxe aqui nessa tarde tão fria? – Ele perguntou já com um sorriso no rosto.

 

 

Os óculos dele na ponta do nariz faziam Hermione lembrar de Dumbledore.

 

 

- Ora, o senhor bem sabe que são as ervas e hoje sei que tem algo especial – ela respondeu em um tom risonho.

 

 

- As plantas amazônicas- ele afirmou dando uma batidinha no balcão – Venha, siga-me – ele a chamou sinalizando  – Robin, tome conta do balcão por favor – ele falou para um de seus ajudantes que estava ali perto e atravessou a portinhola que separava-o do corredor da loja, onde Hermione estava parada o aguardando.

 

 

- Tem tempo que não vem aqui – ele falou, passando pelos outros clientes que estavam entre as estantes  do apertado corredor. A loja tinha duas partes, a da frente onde havia um grande balcão na qual o senhor Gringoll e dois ajudantes além do caixa,  atendiam os pedidos por plantas engarrafadas ou de uso perigoso que ficavam restritas a ele e seus funcionários. Indo além do balcão, mas ainda na primeira parte tinham quatro fileiras compridas de ervas secas enfeitiçadas para se manterem conservadas por até seis meses e outras ensacadas que duravam mais. Havia todos os tipos de bruxos na loja, porém os mais comuns eram medibruxos, estudiosos sobre plantas, perfumistas, paisagistas devido as sementes lá vendidas e até mesmo os brotos, e professores de herbologia e poções.

 

 

Ao fundo da loja havia um mini salão no qual sempre ocorriam palestras e exposições e algumas mesas com um mini café. Dessa vez a exposição era sobre “Plantas Amazônicas”, que eram raras de se conseguirem de forma lícita. O senhor Gringoll era um dos poucos comerciantes que preferiam o caminho demorado e burocrático do Ministério da Magia para conseguir as plantas e a autorização, a se sujar nas mãos de contrabandistas, que cobravam fortunas em galeões para conseguir muito pouco o quase nada de plantas talvez de qualidade duvidosa.

 

 

O comerciante levou Hermione para o lado do local onde as plantas estavam expostas e começou a falar:

 

 

- Essa aqui é a Castanha-do-Pará – ele falou apontando para o fruto sem a casca – Possui um alto teor calórico e protéico, além disso contém o elemento selênio que combate os radicais livres e muitos estudos o recomendam para a prevenção do câncer e o óleo extraído dessa semente serve para preparar um creme hidratante. – Ele declarou com um jeito docente.

 

 

Hermione respondeu com um meneio.

 

 

- Ah, essa outra será mais interessante para você. Esse aqui é a Cumaru, a semente desse fruto que por sua vez encerra a cumarina, tem uso na perfumaria para a formulação da baunilha. Aquela ali é a Copaíba – ele falou apontando – Seu óleo é utilizado na medicina popular brasileira como cicatrizante, antiinflamatório, no tratamento de bronquites e doenças de pele. Já na indústria é utilizado principalmente como fixador para perfumes – e encerrou a explanação – O que achou? – Indagou virando-se para ela.

 

 

- Maravilhoso – ela respondeu encantada com a curta aula –  A maior parte desse mundo é novo para mim, eu já tinha ouvido falar das plantas brasileiras, mas nunca tinha tido a oportunidade de estudá-las. A maioria das matérias-primas que uso são proveniente do continente e da Ásia – ela declarou.

 

 

- Sim, e falando nisso acabou de chegar da Índia aquele sândalo que você tanto almejava, eu vou buscá-lo e já volto – o senhor falou deixando-a sozinha.

 

 

Hermione ficou passeando pelo local lendo as informações que apareciam no pergaminho que flutuava ao lado da fruta ou da semente, estava tão entertida na informação que não sentiu quando o ar do local foi preenchido por um odor que há muito ela não sentia. Era uma mistura de patchouly e baunilha deixando marcado no ambiente um aroma sofisticado, misterioso e sensual.

 

 

As informações sobre a Andiroba estavam interessantes, mas Hermione sentia que alguém a observava e quebrou o contato visual com o pergaminho para saber quem era a pessoa que não tinha abordado-a , porém a fitava de tão perto. Ao girar quase se chocou com o tórax de alguém que estava plantado bem atrás dela. Ajeitou-se e olhou para os botões que a fitavam, o choque  ao constatar quem era fez  ela dar um passo para trás e levantar os olhos.

 

 

- Olá, Senhora Weasley – Severo Snape a cumprimentou com o seu rosto retorcido de desgosto e o olhar obscuro.

 

 

oooOOoooOOooo

 

 

            Depois de apertar as roupas nas quatro malas que havia levado, Hermione encolheu-as e as guardou no bolso do sobretudo. Respirou fundo sufocando o choro crescente e voltou para sala.

 

 

- Estou indo – ela falou para Rony.

 

 

O marido estava em pé, defronte para a janela  e de costas para ela, observando o tempo nublado, na sua mão direita um copo de uísque, Rony adquirira hábitos trouxas.

 

 

- É isso mesmo? – Ele perguntou sem virar-se para olhá-la.

 

 

- É, não temos mais o que tentar – ela falou com uma secura que era capaz de arrancar toda a umidade do ambiente – Adeus – foi a última palavra que ela usou antes de jogar no sofá o molho de chaves e sair  batendo a porta. Estava do outro lado tentando reequilibrar sua respiração quando ouviu um copo quebrar na parede e o volume do som no apartamento de cima aumentar.

 

 

 

Non dire no,
Che ti conosco e lo so cosa pensi
Non dirmi no.
È già da un po'
Che non ti sento parlare d'amore
Usare il tempo al futuro per noi
E non serve ripetere ancora che tu mi vuoi
Perché ora non c'è quel tuo
Sorriso al mattino per me
Perché non mi dai più niente di te


Não diga não, que te conheço e sei o que pensas
Não me diga não
E já há algum tempo que não te ouço falar de amor
Usar o tempo e o futuro por nós
E não vale repetir ainda que você me quer
Porque agora não existe mais aquele seu sorriso para mim de manhã
Porque não me dá mais nada de você

 

 

oooOOoooOOooo

 

 

- Pro...er...hã...Snape – ela falou depois que conseguiu voltar a respirar.

 

 

- Passeando? – Ele perguntou ao erguer tipicamente a sobrancelha sem arredar um passo.

 

 

Hermione sentiu todo seu corpo arrepiar ao ver aquele movimento que era feito com tanta freqüência durante as suas arguições em sala de aula, em Hogwarts quando ela era apenas uma aluna amedrontada e...

 

 

- Não! – Ela respondeu quase gritando, o que fez as pessoas ao redor olharem para eles – Não – repetiu mais baixo – Estou à trabalho – sem movimentar-se para longe dele, não conseguia, seus pés pareciam pregados no chão.

 

 

- Ah, sim... a renomada perfumista Hermione Granger Weasley– ele falou sobrecarregando no escárnio do segundo sobrenome dela – Plantas Amazônicas, interessantes, não? – Ele indagou desviando o olhar dela para as ervas.

 

 

Hermione respirou aliviada quando os negros desviaram dela, porém seu olfato atrevido captou o perfume que vinha dele. Agora além de arrepios ela sentia, desejo. Uma vontade incontrolável de lambê-lo dominou-a, quando o aroma de baunilha que ela tanto amava, mesclado com o patchouly entraram sem pedir licença no corpo dela, através do seu nariz. Severo Snape virou um grande sorvete na imaginação fértil de Hermione.

 

 

- Hermione – uma voz a chamou.

 

 

A ex-grifinória despertou do rápido transe e virou-se para ver o senhor Gringoll.

 

 

- Aqui está a planta – ele falou mostrando a erva para ela e seu olhar era no mínimo questionador.

 

 

- Ah... hum... senhor Gringoll, a planta! É mesmo eu tinha esquecido – ela falou se afastando de Snape e indo em direção ao comerciante que a observava com seus olhos que pareciam saber de tudo, um olhar que lembrava Alvo Dumbledore – Esse aqui é o Prof...er... o senhor Snape, foi meu professor de Poções em Hogwarts – ela os apresentou.

 

 

- Já nos conhecemos senhora Weasley – Snape girou dando dois passos e ficando ao lado dela.

Hermione virou de súbito para trás como se estivesse fugindo de algo, ficando de frente para ele e se afastou.

 

 

O senhor Gringoll observava o desenrolar da cena.

 

 

- Bem...é... eu já vou – ela falou dando passos de costa – Estou atrasada...er...tchau – ela disse rápido e virou batendo em um bruxo que passava – Ai! Desculpe – pediu antes de sair quase correndo.

 

 

Snape ficou parado no mesmo lugar com uma face um tanto quanto desgotosa.

 

 

- Hermione – o comerciante a chamou.

 

 

Ela já estava quase na porta.

 

 

- Tome coragem e siga em frente – ele falou acenando.

 

 

Ela sem entender assentiu e saiu sumindo no meio da multidão do beco.

 

 

O idoso passou por Snape e pegou o casaco dela que tinha ficado nas costas da cadeira.

 

 

- Ela esqueceu o casaco – senhor Gringoll declarou.

 

 

Snape virou a cabeça, mediu o homem de cima abaixo com sua típica carranca e depois deu as costas outra vez rumando para a porta.

 

 

- Hermione voltará e você também – o comerciante falou ao colocar o casaco debaixo do braço e seguiu de volta para atrás do balcão.

 

 

oooOOoooOOooo

 

 

            Era segunda e Hermione não fora trabalhar, estava na casa dos pais no seu quarto de solteira, debaixo das cobertas. Já havia uma semana que a separação havia ocorrido, as reações estavam aparecendo agora.

 

 

- Querida! – sua mãe chamou.

 

 

Ela resistiu em responder, decidiu fingir estar dormindo, mas a mão de sua mãe a sacudiu.

 

 

- Querida.

 

 

- Oi – falou debaixo as cobertas

 

 

- Harry está aqui – a mãe disse.

 

 

Hermione jogou o monte de panos que a cobria para o lado.

 

 

- Aqui? – Perguntou surpresa.

 

 

- Sim, lá embaixo na sala te esperando – a mãe respondeu.

 

 

Hermione respirou o mais profundo que podia e soltou o ar com calma.

 

 

- Ok, diga que já estou descendo. Vou tomar um banho e melhorar a aparência – ela falou.

 

 

A mãe assentiu e saiu do quarto.

 

 

- Harry.... – ela falou olhando para o armário, mas não atendo-se nele – Rony.... – concluiu ao levantar forçosamente.

 

 

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            Severo pegou o jornal após o parco café da manhã, sua ausência de apetite voltara desde o fatídico encontro com Hermione “Weasley” como ele sempre falava. Não tinha aula no período da manhã e estava em seu laboratório preparando mais um lote de poção Reanimadora para a senhora Potter -  Gina Weasley Potter. Graças a McGonagall, Pomfrey tinha se aposentado. Na verdade poucos foram os professores que permaneceram após a guerra, somente ele e mais dois seguiram nas carreiras. Ele, agora com alguns fios brancos, com os seus quarentas e alguns anos, continuava a lecionar para cabeças ocas que a cada ano chegavam à escola. Sua vida não tinha mudado em nada, resumia-se a dar aulas, escrever artigos para revistas, ir a congressos e só. Nada de relacionamentos pessoais e vida social por mais que Minerva insistisse que ele precisava sair para arejar sua mente.

 

 

- Bobagem.  

 

 

Ele sempre a respondia assim.

 

 

Sua vida social resumia-se a ler o Profeta Diário e naquela manhã ele decidiu dar um passeio pela coluna de Lilá Brown, Rita Skeeter estava aposentada, mas fizera escola. A jovem Lilá era tão boa quanto a sua antecessora. Ao abrir a página de futilidades deparou-se com uma manchete em letras grandes escrito ‘BOMBA! UM DOS CASAMENTOS DO SÉCULOS ACABA!’, logo abaixo vinha uma foto de Hermione e Rony partida ao meio, como se estivesse rasgada. Os olhos de Severo pararam diante daquela visão, a imagem aguçou seu interesse e ele se dispôs a ler.

 

 

Segundo fontes seguras, o casal Ronald e Hermione Weasley não mais existe, e isso ocorreu há uma semana. A família de ambas as partes não deram declarações sobre o ocorrido e seus amigos mais próximos também não. O famoso Harry Potter foi procurado pela nossa equipe, mas disse não saber de nada.

 

A ex-senhora Weasley  já está na casa dos pais e o famoso apanhador Ronald Weasley segue em viagem pelo campeonato mundial de quadribol, que só terminará daqui há alguns meses. Percorre pelo mundo bruxo a notícia de que um dos motivos da separação teria sido a ausência constante do marido que está...

 

 

Severo não continuou a ler a informação, ficou parado refletindo, deglutindo o que acabara de saber: Hermione voltara a ser Granger, somente Granger. Há uma semana ela tomara a decisão que mudara o futuro de sua vida, há uma semana. Essa parte da informação ficou incomodando a memória de Severo, até que ele percebeu que foi exatamente no dia em que ele a encontrara! Sim, foi naquele dia que ela se separou do Weasley! Por isso ela estava tão estranha na Botica, parecia um pouco perturbada, só podia ser esse o motivo.

 

 

Snape fechou o jornal convencido de que Hermione não estava bem, que precisava de apoio, de suporte e que ele poderia dar tudo aquilo que ela necessitava nesse doloroso momento e muito mais caso ela também quisesse, mas como ele se aproximaria dela? Nunca foram íntimos, havia quase dez anos que não se viam. Com que cara ele apareceria na porta dos pais dela? Todos estranhariam e se ele tinha conseguido esconder o que sentia por ela todos esses anos, não seria agora que daria uma de adolescente descontrolado e colocaria tudo a perder. Tinha que ter um meio de chegar até ela sem ser notado, tinha que existir e... o casaco! Ela o havia esquecido na loja. Era isso que usaria para ir até ela, tinha que voltar a loja para pegá-lo e tinha certeza de que com aquela situação ela não tinha se lembrado de voltar.

 

 

Convencido de que o casaco seria o meio perfeito de chegar a Hermione, Severo pegou a varinha e sem dizer uma palavra balançou-a levemente em direção ao caldeirão que no mesmo instante começou a ser esquentado pela chama azul. Ele não estava de bom humor, mas com certeza os alunos da tarde não passariam a noite abrindo sapos.

 

 

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            Harry e Hermione já estavam sentados há algum tempo na sala sem falar nada. A mãe dela trouxe a bandeja com o chá e deixou na mesa de centro, retirando-se em seguida. Harry estendeu o braço e pegou uma xícara, do líquido quente para esquentar seu corpo .

 

 

- Eu tentei segurar ao máximo a notícia, mas você sabe... – ele falou justificando.

 

 

- É eu sei, eu bem conheço a Lilá e com uma editora-chefe como a Pavati, imagino o pior – Hermione disse aceitando as justificativas do amigo.

 

 

- E como você está? – Ele perguntou.

 

 

- Estou viva Harry. A palavra, bem, demorará um pouco para ser relacionada ao meu estado emocional – ela declarou.

 

 

- Rony também não está legal, Gina viajou para ficar com ele – informou à amiga.

 

 

A ausência de qualquer tipo de som incomodou os instantes que vieram depois. Hermione realmente não estava bem.

 

 

- Acho melhor eu ir antes que descubram que estou aqui, seria pior para você – Harry declarou levantando. Ele estava falando sobre os paparazzi bruxos. A casa de Hermione nos últimos dias estava sendo quase que vigiada por eles  que desejavam a mais ínfima informação sobre a separação. Caso soubessem que Harry Potter não estava no Ministério naquela manhã, rapidamente descobririam que o homem estranho que dissera para eles ser amigo de longa data do pai dela, ao passar pela entrada, era na verdade ‘O-menino-que sobreviveu-e-matou-Voldemort’. - Você entende né? – Ele indagou.

 

 

Hermione também levantou e caminhou em direção ao amigo.

 

 

- Sim, eu entendo Harry. Obrigada – ela disse ao abraçá-lo.

 

 

- Que é isso amiga – ele respondeu com a voz abafada pelo roupão fofo dela.

 

 

Hermione não teve forças para se desprender de Harry, ao contrário, apertou-o mais como se não quisesse deixá-lo ir e naqueles braços chorou. Permitiu a sua dor jorrar pelos seus olhos, soluços e gemidos. Expôs tudo que tinha guardado durante aquela uma semana que passara na casa dos pais, sozinha e sufocando cada pontinha de sofrimento que ousava aparecer.

 

 

- Como dói Harry, como dói... – ela falou vertida em lágrimas.

 

 

Harry somente a abraçava mais forte à medida que os lamentos dela aumentavam de volume. Dizendo para ela através daquele gesto, que estava ali para ampará-la.

 

 

Eles ficaram ali, um abraçado ao outro vivenciando mais uma vez a amizade verdadeira que existia.

 

Se ami sai quando tutto finisce
Se ami sai come un brivido triste
Come in un film dalle scene già viste
Che se ne va, oh no!
Sai sempre quando una storia si è chiusa
E non si può più inventare una scusa
Se ami prendi le mie mani
Perché prima di domani
Finirà


Se amas sabes quando tudo acaba
Se amas sabes como um calafrio triste
Como em um filme de cena repetida (já vista)
Que vai embora, oh não!
Sabe sempre quando uma história acabou
E não se pode inventar uma desculpa
Se amas pegas nas minhas mãos
Porque antes de amanhã
Acabará

 

oooOOoooOOooo

N/A: Agradeço à Marina Snape que está sempre incentivando os meus devaneios e que viaja junto comigo sem soltar a minha mão*-*

Espero que vcs gostem e comentem;*

 


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