Capítulo 15

Cato

Eu ainda podia sentir o gosto da boca de Clove. Eu ainda sentia seu cheiro, podia sentir seus doces movimentos e seus leves toques. Por curtos segundos quando me lembrava de seu rosto e todas as suas sardas, um sorriso diferente vinha a minha cabeça.

E então, se eu gosto tanto dela assim... O que eu estava fazendo ali? O que eu fazia ali sentado naquele píer de madeira, envolto a barcos e encostado em uma placa escrito “Píer Trinta e Dois”?

O que eu fazia ali esperando uma garota que não era Clove? Ninguém poderia responder aquilo, a não ser a mim mesmo.

Faziam alguns minutos que eu saíra de casa de casa e agora estava ali. Vim pedalando o mais rápido que pude, pois como sempre estava atrasado mas mesmo assim cheguei em primeiro. Não havia nenhum sinal de Becca e de nenhuma garota que podia ser sua irmã.

Acabei achando o tal do píer. Era mais afastado da praia, da areia e de toda a movimentação. O lugar perfeito para um encontro as escondidas.

Na minha cabeça eu já criava duvidas se Becca criaria coragem para encontrar a irmã ou não. Ela de fato é muito confiante, mas qualquer uma que passasse por essa situação certamente pensaria duas ou mais vezes antes de agir.

Eu respirei fundo varias vezes e quando já estava enjoado de sentir tanto cheiro de sal e escutar quase vinte músicas, procurei pelo o número de Becca no telefone. Felizmente, não foi preciso telefonar para ela.

Becca estava lá parada, olhando de um lado para o outro e bem diferente das outras vezes que eu a vira. Não parecia aquela Becca que tinha dois trabalhos chatos e que carregava papeis sem importância nenhuma.

Parecia a verdadeira Becca: a Becca pequena e sem mascara alguma.

Ela usava um vestido de cor rosa solto que voava com o vento junto dos cabelos loiros. Havia um sorriso em seu rosto que foi diminuindo assim que se aproximava de mim e se sentava ao meu lado.

– Achava que você nunca viria – Falei para ela sorrindo.

– Bem, eu pensei várias vezes na hipótese de não vir. E olha, também não acreditava que você viria, se quer saber – Ela falou dando um pequeno soco em meu braço esquerdo.

– Mas eu vim.

– É. Legal você ter vindo. Na verdade, eu sairia correndo se você não estivesse aqui.

– Verdade?

– Sim, verdade.

– Legal.

– Legal por quê? – Becca falou forçando os olhos e me dando outro sorriso.

– Bem, eu não sei exatamente – Falei sendo sincero.

– Tudo bem.

Becca parecia estar muito nervosa. Ela tinha as mãos cruzadas entre as pernas que se movimentavam junto com o resto do corpo. Ela olhava para o céu, com o mesmo sorriso do rosto de sempre, porém parecendo distraída.

– Hum... Que horas sua irmã marcou com você?

– 19:00.

– Tá.

Por impulso eu acabei colocando a cabeça na madeira que segurava a placa que indicava o píer. Pude sentir meus olhos se fechando aos poucos, mas tentei ao máximo não cochilar.

Não deu certo. Quando acordei as luzes dos postes a nossa volta estavam sendo acendidas e as pequenas estrelas ao céu começavam a aparecer. A longa praia não tinha mais tanto movimento e agora era mais fácil escutar as ondas.

– Você cochilou – Becca falou enquanto eu coçava meus olhos.

– Me desculpe Becca, eu juro que não foi por querer.

– Tudo bem. Eu sei que não foi culpa sua.

– Tecnicamente acabou que foi sim. Meu corpo sabe? – Falei conseguindo arrancar um pequeno sorriso do rosto de Becca que com certeza andou chorando, já que suas bochechas estavam rosadas e os olhos inchados.

– Por que diabos eu achei que alguém apareceria Cato? Ninguém nunca  na minha vida me prometeu aparecer e cumpriu – Becca gritou alto de mais com uma voz fina e lágrimas que escorriam por todo seu rosto.

Eu a abracei o mais rápido que consegui o corpo de Becca. Mas eu abracei forte e coloquei meu queixo em sua cabeça. Não sabia o que fazer ao exato, mas aquilo me pareceu sensato.

Becca continuou a chorar e murmurar coisas em meu corpo por mais alguns minutos, mas logo me soltou tentando ser recompor.

–– É melhor você voltar para casa Cato. Seus pais devem estar preocupados.

– Eles não estão não. Acham que eu estou dormindo na casa de meu amigo Marvel.

– Ótimo. Então vá para casa desse tal Marvel – Becca sussurrou séria se levantando e começando a dar passos para frente sem ao menos se despedir.

– Ei, ou – Eu gritei me levantando o mais rápido que consegui e segurando seu fino braço – Não pretendo ir a lugar algum sem você.

– Pois devia – Becca falou puxando com força seu braço para longe de minhas mãos.

– E aonde você vai Shirley? – Gritei sério enquanto ela andava com força para longe de mim – Vai para um bar ai encher a cara e tentar esquecer seus problemas? Mas eu te digo, eles não vão sumir tão cedo.

Ela parou no mesmo momento onde estava. Respirou fundo e voltou a caminhar para perto de mim. Havia mais lágrimas em seu rosto que com a manga do casaco branco Becca tentava o enxugar. Eu a ajudei com meu dedão sobre suas bochechas.

– Talvez seja uma opção.

– Não vai dar certo.

– Como você sabe? – Ela sussurrou me encarando.

– Nunca deu Becca e nunca dará.

Não soube exatamente o que fazia. Para falar a verdade, não sou o melhor que você conhece em pensar e só depois agir. Nunca fui.

Joguei meu celular junto aos fones na madeira molhada do píer. Arranquei de com os mesmos de meu pé os tênis e com as mãos as meias. Depois meu sinto caiu de meu corpo, o casaco que eu usava e no final a camisa. Becca começou a rir de minha cara. Nenhum retardado ficaria ali com os vinte graus que faziam ali perto do mar.

– O que você está fazendo garoto? – Becca gritou rindo enquanto eu caminhava de costas.

– Botando um fim nos problemas. Fazendo você esquecer sua irmã, sua família, sua cidade e suas árvores. Esquecer tudo. E se você estiver pronta para recomeçar e esquecer vai me seguir – Falei de braços abertos e retribuindo o sorriso dela.

E eu me taquei do píer e depois de poucos momentos na água fria já a sentia dominando meu corpo. Fria era pouco, estava congelando.

– Você é louco – Becca gritou para mim enquanto eu emergia da água e balançava meu cabelo.

– Vem. Tá muito bom.

– E por que seus lábios estão arrochados então? – Ela gritou ainda de cima do píer. Eu não pensei duas vezes e taquei água nela.

A Becca obviamente não resistiu. Ela tirou a pequena bolsa de lado sobre os ombros. Depois o casaco e o vestido. Ela agora vestia apenas um sutiã de renda com cor laranja e eu calcinha de cor branca. Mais pontos para mim!

Becca se jogou do píer em seguia. Ela emergiu perto de mim e logo se segurou em meu corpo se debatendo pelo frio. Pelo menos agora ela sorria e não chorava por todas aquelas pessoas idiotas.

– Ai meu Deus, isso está muito frio Cato – Becca falou sorrindo olhando para mim.

– Eu sei

– Seu idiota – Ela riu e começou a me jogar água . Eu a joguei de volta e nós começamos uma guerra d’água dali.

Ela durou uns dez minutos e quando nós já estávamos cansados não resistimos um ao outro. Becca agora sorria de uma forma diferente e de certeza, ali, nenhum de nós dois ligávamos pelo fato da água estar de congelar ou de que horas eram.

– Me beija – Becca sussurro perto de mim enquanto eu cercava seu corpo, fazendo com que ela ficasse presa entre mim e eu pilastra de madeira.

E eu obedeci.

Eu a beijei.

Um beijo forte e longo, como se estivéssemos nos conhecendo por aquilo. Eu senti as mãos dela em meu cabelo enquanto eu segura seu corpo e suas pernas entrelaçadas em minha cintura.

Senti o gosto salgado de nossas bocas e o volume de sua língua dominando toda a minha boca.

Sentia Becca rir entre nossos toques e o roçar de nossos corpos. Pude sentir suas mãos guiando as minhas até a alça direita de seu sutiã e de como nossas mãos a deslizavam para baixo.

Ela sorria de uma forma sarcástica para mim enquanto puxava a outra alça para baixo e sem pensar pela terceira vez só naquela noite, eu pus minha minhas mãos sobre o feche nas costas dela.

O feche se desfez e sua roupa intima boiou para perto de nós.

Becca colocou suas mãos sobre meu peito e juntando seu corpo no meu e se esticou até minha boca.

– Isso é traição – Ela falou enquanto eu beijava seu pescoço em direção ao peito.

– A quem?

– A Clove – Becca gemeu baixo, mas eu pude escutar o suficiente.

Escutar o nome de Clove me tirou de uma espécie de pequeno transe. Clovely Still. Garota pelo qual eu dedicara muito de meu tempo nesse trimestre e que eu beijara a menos de 24 horas.

Era Clove que deveria esta aos meus braços. Sorrindo doce para mim e retribuindo meu amor.

– Você é muito jovem Cato – Becca falou chamando minha atenção novamente e esticando a mão pegando seu sutiã e o colocando ao corpo – Muito novo para mim. A garota que você não gosta.

– Eu gosto de você, mesmo!

– Não, não gosta não. Você gosta da Clove e é com ela que vai estar daqui a trinta anos e vai pensar “Obrigada Becca por não ter aceito transar comigo”. Você é um garoto lindo Cato – Becca segurou meu queixo e o levantou com uma mão – Mas está na hora de crescer não acha?

Eu não a respondi. Becca sorrio para mim e colocando uma das mãos agora quentes em minha bochecha sussurrou um “Obrigada, por tudo” e me deu um beijo na boca e outro muito forte e babado na bochecha.

Becca rio para mim e depois me jogou água. Ela nadou até a bancada de areia e depois de correr até a ponta do píer pude a ver pelas frestas das madeiras colocando suas roupas.

Joguei minha cabeça para trás indignado e a batendo na pilastra atrás de mim.

“Mas está na hora de crescer não acha?” O som da voz de Becca inundava como a água salgada minha cabeça enquanto eu mergulhava de volta para dentro d’água novamente.

Porém agora sozinho, como sempre.