No dia seguinte, tínhamos treinamento novamente. Haymitch resolveu que iria me acompanhar e no dia seguinte a Katniss – ele queria ver nosso desempenho.

Fomos para a mesma sala. Treinei luta corpo a corpo com um homem da capital e me provei bem mais forte que ele, com reflexos mais desenvolvidos. Com facas a história se transformou. Haymitch riu tanto das minhas tentativas de acertar o boneco com a faca, de longe, que teve que se retirar para ir ao banheiro.

Eu estava saindo da arena quando a garota do um me chamou. Ela era definitivamente a garota mais bonita que eu já havia visto em Panem. Seu cabelo era loiro e caia em cachos até o ombro e seu rosto era anguloso, com olhos azuis que brilhavam decididos. Olhei para seu crachá: Glimmer.

Glimmer esticou a mão e eu a apertei.

– Prazer. – ela falou. – O que diz sobre a nossa “proposta” – ela perguntou, mas o jeito como falou deixava claro que aquilo não era proposta alguma.

– Prefiro me juntar com o tributo feminino do meu Distrito, Katniss. – informei, já saindo da arena, mas ela segurou meu braço.

– Então esse é o nome dela. Você consegue melhor. – ela zombou.

– Eu sou só amigo dela. – eu falei irritado. Era a segunda vez que se referiam a nós como um casal. – Obrigada, Glimmer, mas essa eu passo.

– Você vai mudar de ideia. Sempre mudam. – ela falou, enquanto largava meu braço e saía da sala.

Esperei até que ela sumisse de vista antes de sair também. Eu estava quase chegando ao elevador que me levaria até o nosso quarto na cobertura quando Haymitch me alcançou. Ele passou a mão pelo meu ombro e caminhamos juntos até o elevador. Para falar a verdade, não sei quando eu dei essa intimidade para ele, mas não liguei.

O elevador abriu e entramos. A típica musica de elevador começou a tocar e Haymitch assoviou no ritmo, fazendo com que eu risse. Ele olhou irritado para mim e perguntou:

– O que foi?

– Nada. Só é engraçado ver um homem assoviando ao ritmo da música de elevador. – respondi, dando de ombros.

Ele riu um pouco, mas depois ficou sério e olhou para mim.

– Não gosto dessa expressão. – falei.

– Aceite a proposta dos carreiristas. – ele pediu, sem rodeios.

– Já disse que não.

A porta do elevador se abriu e antes que ele pudesse começar uma discussão, eu saí. Ele ainda tentou me chamar, mas eu o ignorei e continuei andando até o corredor dos quartos. Antes de entrar no meu, eu pensei um pouco e então me virei, abrindo a porta do quarto de Katniss.

Ela soltou um grito assustado quando a luz entrou pela porta. Ri um pouco, mas ela não. Katniss estava deitada na cama, olhando para o teto.

– Te acordei? – perguntei, me tacando no espaço da cama ao lado dela.

– Não. – ela respondeu seca. – O que você quer?

– Conversar. Haymitch ainda insiste que eu fique com os carreiristas.

Pude perceber Katniss ficando tensa ao meu lado, já que nossos ombros estavam grudados. Olhei para ela, esperando ver o rosto dela, mas sua cabeça ainda estava virada para o teto.

– O que você tanto olha no teto? – perguntei, olhando para o teto também. Não tinha nada demais, só gesso branco.

– Nada. - ela respondeu. Depois falou com a voz séria:- Percy, eu não quero a sua ajuda durante a arena. Eu quero vencer. Não, eu não quero. Eu preciso vencer.

– É exatamente nessa parte que eu entro. Vou te ajudar na arena. Você caçaria, enquanto eu evitaria que qualquer um chegasse perto de nós. Seriamos uma dupla e...

– Não. – ela me interrompeu brutamente. – Eu tenho que fazer isso sozinha. Preciso vencer pela Prim, pelo Gale, pela minha família. Eu não me importo se você se juntar com os carreiristas, com alguém de outro distrito ou se ficar sozinho. Não me importo se você morrer.

Ai. Aquelas palavras doeram mais que tudo. Senti vontade de levantar e sair do quarto, mas aquilo seria muito indigno para um filho de Poseidon fazer. Katniss continuava encarando o teto, com medo de me olhar.

– Se é o que você quer. – falei por fim.

– É o que eu quero. – ela concordou.

Katniss se levanou e andou até a porta, a segurando aberta.

– Foi ótimo falar com você. – ela disse.

Entendi que a nossa conversa estava acabada, então sai do quarto.

POV KATNISS

Assim que Percy saiu do quarto, fechei a porta e as lágrimas começaram a descer. Era claro que eu queria ficar com ele, fazer com que ele vencesse. Mas eu sabia que se ele recusasse a oferta dos carreiristas, essa chance seria nula. Preferia ficar sozinha que ver ele morrer por minha culpa.

Pelo menos assim, sabia que ele ia aceitar a proposta dos carreiristas. Glimmer havia se mostrado bastante interessada por ele durante os treinos, sempre o observando e sorrindo todas as vezes que ele imobilizava o treinador durante a luta. Ela ficava admirada ao ver a habilidade do garoto na parede de escalada, mesmo sem nenhum cabo o segurando. Eu também ficava.

Além de bom com a espada, ele sabia fazer fogueiras (mais ou menos), escalar muito bem, caçar, lutar corpo a corpo, era ágil e forte. Parecia ter sido treinado para aquilo. Parecia um carreirista. Eu nunca havia percebido o colar de contas que ele usava o tempo todo aqui, mas algo me dizia que era muito pessoal então nunca o questionei sobre isso.

Haymitch estava certo: somente um vencedor. E eu faria de tudo para que ele fosse essa pessoa. Mesmo sabendo que teria que me preocupar com as chances de no final ficarmos somente os dois.

Eu poderia tentar me juntar aos carreiristas, mas ao ver o jeito que Cato e Clove me olhavam, mudei de ideia. Fora isso, eu havia conversado com Rue e já tinha uma parceria para a Arena. Ela era ótima escalando, sabia o nome de várias plantas medicinais, era incrivelmente esperta e gostava de mim. Eu não poderia pedir mais.

Para falar a verdade, não estava realmente preocupada com os carreiristas. A garota do 5 é que me preocupava. Ela tinha cabelos ruivos como fogo, o rosto inteligente e andava como se soubesse muito, sem fazer nenhum barulho no chão enquanto o fazia.