Era tarde da noite.Todos na casa dormiam, menos Juliet. Ela não parava de pensar no que acontecera no dia anterior.                                        

Ela chegara à escola Liverpool, uma Escola para Pessoas Difíceis e Especiais, que mais parecia um hospício, na realidade. Ela era quase normal, se comparada a algumas meninas da sua classe. Ela possuía dislexia, déficit de atenção, além, é claro, de possuir o dom de ver coisas estranhas nas pessoas. Por exemplo, o diretor da escola, para ela e Petter, possuía asas pretas e a cara de uma gárgula. Por isso ela só andava com meninos, eles sim eram normais. Seus melhores amigos são James, Petter e Edge.

Chegando a escola, ela seguiu para o seu armário de número 197 e quando ela o abriu caiu um bilhetinho que ela desdobrou e leu.

Eu te amo

Há quantas vidas te procuro?
São tantos véus que se faz obscuro
A amarei, a amar, a amei
O que faz saciar minha fome

E o meu sangue impuro se faz
Por tantas vezes, que eu já não sei
Nesta busca insana, e minha alma inflama
Eu penso que sei, que te achei

Meu Deus, como posso amar o que não sei
Como posso olhar os teus olhos
E te ver no passado ou no amanhã
Em teus braços amados, sentir que te achei

Ha quantas vidas grito, saudades
Pegadas sobre pegadas, e refazer os meus passos
E procurar teu regaço
Que tantas vezes minha cabeça recostei
E dizer-te, eu te amo e dizer-te, que sempre te amei.

Quer namorar comigo?

Juliet ficou chocada. Nunca pensou que alguém gostasse dela. É claro que era bonita, com seus cabelos compridos castanhos claros, iguais aos do pai, olhos verdes acinzentados, parecidos com os da mãe, alta e magra. Para os seus 15 anos estava muito bem. Ela já havia se apaixonado por vários garotos da escola, mas nenhuma vez rolou nada. Dessa vez ela sabia que ia dar certo. Ela não tinha sido expulsa, nem repedido de ano. Então podia rolar alguma coisa entre ela e James, um de seus melhores amigos e que  também era o garoto mais lindo da escola. Era alto, forte, com cabelos castanhos escuros e com um corte repicado, sem falar em seus belos olhos azuis.

Quando ele passou por ela, Juliet correu em sua direção e o abraçou, mostrando-lhe o bilhete e dizendo:

-É claro que eu quero namorar você!  Por que não me pediu antes? É claro que eu aceito!

Ele hesitou um pouco, mas no final disse: 

-Eu te farei a menina mais feliz do mundo!
Então, o inesperado aconteceu: ele a agarrou pela cintura e a beijou. Todos na escola, principalmente as meninas, pararam tudo o que estavam fazendo, para ver o momento romântico.       .

Enquanto se beijavam, o sinal tocou e James conduziu Juliet pela cintura até a classe, onde teriam mais um dia abominável de aula. O resto do dia foi ótimo. Ela não desgrudava do namorado e ele se beijaram muito. Na hora do intervalo, todos vieram dar os parabéns ao casal recém-formado. A única pessoa que nem apareceu para almoçar com ela, James e Edge, foi Petter. Juliet pensou que o seu melhor amigo ficaria mais feliz do que qualquer outra pessoa, por ela.  Esse foi o último pensamento dela, antes de adormecer.                                                 .
Mas não, ela estava enganada.
Quando acordou no dia seguinte, finalmente era Sábado, dia de acordar tarde e ficar em casa. Mas é claro que ela não ia pois já estava cansada da sua madrasta Emma, que por sinal era quase uma bruxa. Esse era o seu sexto casamento, ela possuía cinco filhos, sendo que dois estavam morando em sua casa. Um deles, o loiro, gordo e dentuço que era o mais novo e também o mais chato chama-se Tyller. Ele tinha 8 anos o outro, o ruivo, sardento e magricela, Joe, esse tinha 13 anos. Desceu as escadas até a cozinha, onde a madrasta preparava o “delicioso” café da manhã: pão amanhecido com geleia passada da validade e um café que devia ter sido feito em uma meia, bem fedida. Sem falar que sua madrasta Emma, tinha cheiro de bolor. 

Juliet pensava há muitos dias em fugir de casa, pois tudo de estranho que acontecia na casa era culpa dela. Até quando seu irmão mais novo quebrava um vaso a dois passos da mãe, a culpa era dela. Após vários acontecimentos desse tipo, ela finalmente decidiu fugir de casa, para nunca mais voltar.

Mesmo que ela adorasse o pai, John. Varias vezes tinha pedido para se divorciar da Ema, mas o pai dizia que ficar com ela era para o seu próprio bem, mas nunca dizia nada mais que isso. John era ótimo pai, mas nunca falava nada sobre a mãe de Juliet. Ele era arqueólogo e quase nunca estava em casa. Aproveitando que seu pai estaria fora essa semana, ela iria fugir de casa e iria tentar a sorte em outro lugar. Juliet não queria deixar o namorado pois o amava, sem falar nos amigos Petter e Edge. Mas não tinha escolha. Ou permanecia com o namorado e os amigos e aguentava a madrasta insuportavelmente má ou se arriscava a perder o namorado e viver longe do pai e dos amigos para se livrar de Emma.