- É bom sentir o sol novamente no rosto. – Anabelle dizia sentada na frente da cabana hospitalar. Sorri para ela.

- Você está bem? – perguntei cauteloso, não queria aborrecê-la.

- Acho que sim. – franziu o cenho. – Na verdade estou confusa... Muito confusa.

- Com o que?

- Tudo. Eu não sei... Sinto um peso estranho em meu peito... – se calou por um momento e então deu de ombros. – Pode ser com tudo o que aconteceu... Mas não me sinto diferente.

Eu não disse nada, porque a diferença nela era notável. Aquela pureza e delicadeza no olhar pelo qual eu me apaixonei se fora... Ainda estava lá, escondido, mas a dureza e frieza dominavam parte de seus lindos olhos, a postura mudara de confiante para convicta – quase petulante. Era difícil vê-la assim, poucas coisas mudaram, e eu esperava fervorosamente que continuassem assim, mas fora o suficiente para que eu notasse e me sentisse mal por isso.

- E voce? – perguntou depois de um tempo. – Não foi machucado?

- Nada muito grave – dei de ombros. – As queimaduras sararam, com magia. – sorri amarelo.

Anabelle fez uma leve careta – Não gosto quando me olha assim.

- Assim como?

- Esse olhar Harry, voce acha que o disfarça, mas não. Fica me avaliando, encontrando pontos em mim que acha que mudou... – suspirou – Não sei como as coisas serão daqui para frente, então não se sinta obrigado a ficar comigo, tá legal? Eu posso me tornar um pouco insuportável.

Ri um pouco. – Ora, Anabelle, está me dispensando? – ergui as sobrancelhas. – Eu lhe prometi, não prometi?

- Não faça isso, se não quiser. Não quero que se sinta obrigado a nada, se for demais para voce.

- Não será! Olhe ao meu redor... Estou prestes a ser caçado por Comensais e ter uma batalha futura com o maior bruxo das trevas... Vai por mim, é um alivio poder não se preocupar com isso.

~*~

- Autch! – Ron reclamou quando o trem deu um leve tranco e ele bateu a cara na porta do vagão. – Esse maquinista acha que está carregando o que? Animais?

Entramos no vagão e nos acomodamos.

- Então... – Ron olhou para Anabelle. – Nenhuma esquisitice ainda?

- Não, Ron, nada. Desculpe decepcioná-lo. – brincou.

- Ah... – Ron pareceu pensar em algo. – Se voce fosse um pouco parecida com Midnight... Então se irritaria fácil... – então deu um enorme peteleco na testa de Anabelle, que o olhou surpresa.

- Ronald! – Hermione o repreendeu.

Mas Anabelle soltou uma leve risada. – Vai precisar de muito mais para me irritar, Ronald Weasley. – de uns tempos para cá ela continuava a mesma, sorridente, alegre... existia certo controle em seus movimentos e olhar, mas nada que a fizesse parecer uma psicótica como Midnight.

As conversas banais seguiram-se até chegarmos na escola. A felicidade de estar voltando para lá era imensa, meu peito quase explodia de felicidade. Ali era meu lugar, não com os Dursley. Era ali.

Os novatos foram escolhidos como sempre e o jantar começou... Onde Ron devorou praticamente todos os pratos que o banquete poderia oferecer.

- Cara, como esses elfos cozinham bem! Estou impressionado! – dizia de boca cheia.

- Acho um absurdo! – falou Hermione, que remexia em sua comida.

- Absurdo é eles terem se dedicado tanto a este banquete e voce recusando-o. – Anabelle tomou um gole do suco de abobora e piscou para mim.

Hermione apertou os lábios e suspirou. – Tem razão. – falou e voltou a comer.

Dumbledore deu o seu discurso habitual, não esquecendo – pela milionésima vez – de alertar os gêmeos Weasley de não entrar na Floresta Proibida. Eu estava exausto e quando fomos liberados não me importei nem um pouco em subir. É claro que meus pés praticamente se arrastavam para o dormitório.

Malfoy olhava-me do outro lado do salão, seu rosto sombrio e vincado em vingança. Nada que me abalasse, mas eu tinha receios quanto a disposição dele de querer vingar o pai preso. A vergonha no mundo magico que o nome Malfoy se tornou era insuportável demais para ele.

- Não liga, Harry. – Hermione puxou-me e voltamos a andar. – Todos eles estão assim, os Sonserinos.

- Humpf. – Belle rolou os olhos. – Como se ficar encarando resolva alguma coisa... Ah! Eu estava pensando, quando formos para Hogsmead, podemos passar em uma loja nova que abriu... – ela disse animada, puxando Hermione para si.

- Eu noto a diferença nela. – Ronald disse suspirando. – Espero que seja apenas isso, sabe? Olhos duros, controlados... Nada além.

Cocei a cabeça – Eu também, mas tenho aquela sensação de que ainda temos muito chão pela frente... Não vai ser um ano fácil.

- Nunca é. – Ron riu.

Entramos na Sala Comunal e nos jogamos nas melhores poltronas que a sala poderia oferecer.

- Acho que comi demais. – Belle disse. – Está me dando cólicas.

Rimos.

Então Midnight adentrou ao recinto, na forma de um gato preto, e enrolou-se no colo de Anabelle. Que, incrivelmente, repeliu a gata. Midnight a olhou surpresa.

- Minha roupa está cheia de pelos. – resmungou Belle. Ficamos olhando aquela cena com a boca aberta. Midnight deve ter falado algo para Anabelle, que – novamente – nos surpreendeu. – A culpa não é minha se voce é um bicho peludo. – então levantou-se e foi para seu quarto, deixando um rastro de tensão pelo caminho.

Midnight se encolheu onde Anabelle estava sentada, como se uma dor física muito grande lhe fora infringida. Ela ficou lá, quieta, amuada e – quase não acreditei – uma lagrima pequena escorreu de seus olhos. A rejeição ardia nos mesmos, a tristeza e dor também.

- O que foi isso? – Mione sussurrou olhando com dó para Hermione.

Niinguém disse nada, porque ninguém sabia. Ou talvez não queríamos lidar com o fato de que a personalidade de Midnight estava crescendo em Anabelle... Só que de uma forma muito pior.

Hermione impulsionou-se para frente e ficou a frente de Midnight. Ela hesitou a mão, mas então tomou um grande gole de ar e acariciou levemente a cabeça de Midnight.

- Mione! O que está fazendo?! Não pode tocá-la! Ah meu Deus! Anabelle vai lhe matar! – Ron dizia.

Mas Midnight aceitou o carinho, agradeceu com os olhos.

- Mas que merda é essa?! – demos um pulo com o bravejo de Anabelle.

- Belle... Eu... Sinto muito... Ela estava chorando... – Hermione não sabia como agir, suas mãos tremiam um pouco e seu olhar era um pouco assustado.

- Eu sei que ela estava chorando, Granger! – Anabelle bufava. – Acho que é por isso que ela é MINHA lâncatropo e não sua. – Belle aproximava lentamente de Hermione, como se cercasse uma presa. Logo me coloquei de pé.

- Ela quis ajudar, Belle. Foi só isso. – coloquei-me a frente de Anabelle.

Seus olhos faiscaram para mim. Ela me contornou, eu estava pronto para segurá-la, caso ela avançasse para Hermione, que deu passagem para ela. Anabelle pegou Midnight do sofá com certa brutalidade, mas a mesma não reclamou, aceitou de bom grado o contato com a dona.

- Nunca mais faça isso. Está me entendendo? – sussurrou, quase sibilando, para Hermione, que assentiu tremula. – Porque se houver uma próxima vez... Vai desejar não ter nascido. – então subiu as escadas.

Nós não trocamos uma palavra, os olhos de Hermione estavam cheio de lagrimas, mas ela se segurou e não derrubou nenhuma. Eu estava estático, olhando por onde Anabelle havia passado, meu coração pulava apertado dentro de meu peito. Ron estava... mais branco que um fantasma.

~*~

- Se Slughorn vai nos dar aula de Poçoes... Quem nos dará de Defesa Contra as Artes das Trevas? – Hermione perguntou, pareceu que foi para todos, mas foi direcionado á Anabelle, que ainda estava mal humorada.

- Não é porque sou afilhada de Dumbledore que sei de tudo. – respondeu indiferente.

Hermione suspirou e se calou.

- Sinto muito. – Anabelle suspirou também e parou de andar. Olhou para Hermione e sorriu torto – Pelo o que aconteceu ontem... Não sei o que deu em mim.

- Nós sabemos. – Ron murmurou. Anabelle fingiu que não o ouviu.

- Não quero perder a amizade de vocês, juro. – olhou para nós. – Não irá se repetir. Só... Não encoste nela novamente, por favor.

Os olhos de Hermione se ascenderam e ela sorriu animada. – Tudo bem, amiga! – então se abraçaram, um alivio percorreu meu peito.

- Agora vamos nos atrasar para as aulas de Historia da Magia. – Ron no avisou.

- Podem ir na frente, preciso falar com a Belle. – avisei.

Os dois seguiram.

- Olha sei o que vai falar...

- Você acha que o que aconteceu ontem foi por causa que ninguém pode tocá-la além de voce, ou pelo o que aconteceu no acampamento? – a cortei.

Ela me olhou surpresa e seus olhos escureceram um pouco. – Acho que um pouco dos dois. – falou e então suspirou e sorriu – Mas não vai acontecer  novamente.

- Eu acho que vai sim, Belle. E voce tem que ser sincera consigo mesma. – falei suspirando, toquei seu braço e ela se afastou um pouco, como se eu tivesse dado um choque nela.

- Sinto muito... Ando meio sensível nesses dias... Olha, Harry, não tem sido fácil, O.K? Eu sinto que tudo ao meu redor me irrita e tenho vontade de socar alguém ou alguma coisa o tempo todo, de atacar, de rebater... Mas eu estou me controlando, estou fazendo o máximo que consigo... – sua voz tremeluziu.

A puxei para um abraço apertado, não queria que ela se sentisse assim e me matava saber disse. Sua respiração se prendeu e seu corpo ficou tenso, notei que suas mãos na minha cintura quase me empurraram, mas ela se controlou e então devolveu o abraço, um pouco distante, mas era caloroso. Beijei o topo de sua cabeça.

- Vamos passar por isso. Juntos. – falei. Anabelle ergueu a cabeça e sorriu. Um flash de como ela sempre foi passou ali, fazendo meu coração disparar. Sorri de volta e delicadamente beijei seus lábios, foi um rápido beijo, tanto porque estávamos no meio do corredor, quanto porque estávamos atrasados, mas foi bom sentir novamente Anabelle em meus braços, seus lábios nos meus, sua respiração quente e cheiro gostoso.

Ela tinha a força para passar por isso... Só não se dava muito crédito, mas eu estava ali para isso. E sempre estaria.