O resto do tempo que tive á noite foi gasto em minha mente repassando todos os motivos pra ter medo de Adam. Adam e eu não tínhamos nos conhecido do nada. Eu vi ele pela primeira vez sendo expulso de um bar, com 14 anos. Eu tinha 12 anos e tinha saído da floresta, aonde eu gostava de passar as noites em que o sono não vinha.

O corpo de um garoto jovem e embriagado coberto de lama se estendia no chão. Seu olho estava roxo e as únicas coisas que me permitiam vê-lo era a luz do luar que banhava seu rosto, fazendo seus cabelos castanhos brilharem.

–Me axxuda!!! - ele falou para mim com a voz leitosa, enquanto soltava uma tremenda gargalhada que completava o escuro-

“Ótimo, meu vizinho bebeu de novo”, pensei. Eu levantei aquele corpo pesado e levei-o para a varanda de sua cabana. Eu já vinha o observando em suas passadas lentas para sua casa depois de se embriagar á anos.

–Aqui xta bom.

Deitei seu corpo no chão frio de madeira e ele puxou meu cabelo.

–AIII!!- berrei-

–Converxa comiko. Como é o teu xome?

Eu não sabia por que estava conversando com ele, nem porque tinha ajudado, já tinha visto ele muitas vezes nas duplas para colher as frutas das árvores nos campos, mas ele nunca tinha chamado minha atenção em especial. Eu apenas na falta de sono ou de ter o que fazer. Já tinha visto meu pai bêbado depois de uma briga com minha mãe e vi ela o ajudando, sabia exatamente o que fazer.

–Florence. –respondi-

–Florence- repetiu ele- goxto do son disso.

Depois de ficarmos conversando algumas coisas malucas e sem nexo, eu voltei para casa. As bebedeiras de Adam se repetiam e eu tentava fazer com que ele parasse de beber, mas ele não me escutava. Fazia seis meses que nos conhecíamos quando descobri que ele guardava vodka de baixo de sua cama. Em uma noite eu fui até sua cabana e tirei desesperadamente todas as garrafas cheias e joguei fora, mas exatamente aquela noite ele tinha bebido muito e assim que me viu atirando aquelas garrafas no lixo ele me segurou pela cintura e eu me debati tentando inutilmente, me livrar de suas garras. Aquela noite foi a pior de todas. As marcas das unhas dele em minhas costelas permaneciam até hoje, mas ele nunca soube e não precisava saber. Talvez se eu tivesse contado para ele sobre o que tinha causado, ele parace de beber, mas com o tempo ele foi se controlando e deixei aquilo em silêncio, mas não eram apenas as unhas de Adam que tinham sido marcadas em meu corpo. Por causa dele eu tinha ganhado um olho roxo, pulsos cortados, um braço quebrado e alguns outros que eu me obrigava a esquecer, lembrando que tinha que cuidar daquele garoto.

Eu me lembrava da dor que ele tinha produzido, e se ele conseguia fazer aquilo quando estava embriagado, eu imaginava o que ele poderia fazer sóbrio.

Os pensamentos retumbavam em minha mente, até que mergulhei em sonhos.