Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 53
Lendo em voz alta e o coveiro de cores




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Logo após os dias chuvosos e o enterro de Flo, Adam ia visitar seu túmulo todos os dias. Ele escrevia uma página de um de seus cadernos por dia e pouco antes do por do Sol, ele as lia em voz alta, abaixo da árvore de magnólia que deixava suas belas flores descansarem sobre o corpo de Florence dentro de um caixão e mergulhado na terra. Toda vez que Adam lia ele se lembrava da própria Flo sorrindo, dela lendo e ele conseguia escutar a sua voz correndo pelos gramados e apostando corrida com seus irmãos menores nos dias quentes de verão até seus pulmões não terem mais fôlego para aquentá-la.

Ele as vezes ficava brabo por a garota ser infantil. Era o que ele imaginava, mas na hora de o salvar, ela tinha sido a menina adolescente mais corajosa de toda Panem. Mas as vezes os anjos cansam de zelar. Florence cansou de zelar mas não deixou de ser um anjo.

As vezes Melin passava por ele e o olhava nos olhos, mas sem nenhuma expressão facial. Ele ainda sentia o beijinho que a garota tinha dado em sua bochecha, porque seus lábios eram tão vivos que tinham deixado marcas em sua pele mórbida. Não era nada apaixonante ou amoroso. Era apenas uma marca de despedida. Uma marca de pena.

As vezes o coveiro enterrava outras pessoas e passava por Adam lendo em voz alta com a cabeça virada para o chão e os olhos fixos no papel. "Ele é maluco, coitado, mais um doente da Capital." O homem que sempre vestia cores escuras e que trabalhava muito no inverno tinha pena do garoto. No inverno a quantidade de mortes aumentava, sem comida, sem colheita, sem calor. A palavra doença, fome e morrer eram pintadas em cores transparentes nas paredes das casas e nos moradores que estavam destinados a isso.

“Hoje foi um dia normal. Flo. Como os outros. Isabelle veio falar comigo e perguntou se eu estava disponível pra sair e ela pensou que eu estivesse interessado em me meter em algum relacionamento novamente. Coitada. Ela ficou furiosa porque eu a rejeitei, e olhe que eu até fui gentil, mas ela falou de você.

–Então, Adam, quer sair hoje de noite?

–Não, Isabelle. Valeu.

–Ah Adam, vamos. Vamos comemorar a sua vitória.

Momentaneamente lembrei de você filosofando sobre a vitória e lembrei que só dois tipos de pessoas poderiam falar que eu estava sendo abençoado por ter ganhado. Alguém da Capital, ou alguém completamente burro e imbecil. Além das duas coisas não serem muito diferentes.

–Vai me dizer que ainda está apegado á garota Finnigad? Deve estar brincando. Quer dizer, olhe pra mim, olhe pro meu corpo. Vai dizer que não sou um milhão de vezes melhor que ela?

Eu me segurei mas porque prometi a mim mesmo que não iria mais comprar briga com ninguém, mas só mais uma vez não iria me matar.

–Olha Isabelle, eu vou te bater porque sei que mulheres são muito fortes e suficientes pra se defenderem, então se você não quer ficar de olho roxo saia daqui. Agora.

Ela falou algumas coisas, como idiota e covarde, mas eu não liguei. Ninguém pode falar assim de você.”

Adam dobrou o papel e os guardou no bolso. No bolso de guardar coisas, obviamente, porque ele tinha um bolso só para isso. O outro estava sempre vazio porque era um lugar especial para aquecer sua mão. O bolso de guardar coisas estava sendo ocupado por uma caneta, que era moradora habitual de lá, e o papel que mudava a cada dia. A carta que ele lia para Flo. Toda manhã ele colocava o mesmo sobretudo de couro e renovava seu bolso de guardar coisas com um papel em branco. A caneta era pra caso alguma idéia venha de repente e ele queira mostrar pra Flo.

Já tinham passado 10 dias do seu enterro e 14 de sua morte. Adam estava ficando louco pela falta de Florence. Ele já tinha corrido três vezes para a casa dela e tinha procurado a garota entre as almofadas da cama sofá e se lembrou que ele tinha a matado de um jeito mental. Ele já tinha procurado a mão dela ao seu lado seis vezes, mas não tinha nenhuma mão ali. Ele sentia falta do cheiro dela, dos lábios rosados que ele tanto adorava e do cabelo moreno sempre bagunçado de um jeito tão bonito. Ele já tinha chorado na frente do túmulo 10 vezes, no seu enterro e dos dias que o seguiam. Sempre. Ele tinha medo de um dia ficar sem lágrimas. Porque afinal as pessoas deveriam nascer com um número de lágrimas, e quando acabava, acabava. Talvez as lágrimas não acabassem como ele pensava. Talvez elas fossem apenas as tristezas que não cabiam no corpo e deveriam transbordar para fora.

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Horquídia bateu em sua porta. Adam estava com a barba mal feita e com olheiras cobrindo os olhos. As mãos de com bege da mulher estavam cobertas por luvas negras. Sua pele estava de uma cor diferente. Era como as escamas de um peixe reluzindo ás luzes do sol.

–Ah, meu querido, vi que notou minha plástica. Gostou?

Adam não respondeu. Ela Du espaço para que Damen e seus ajudantes passassem com um paletó extremamente moderno. Ele era todo em diversos tons de dourado e em suas costas estavam bordados galhos em uma linha grossa marrom.

Damen o cumprimentou cordialmente e rapidamente Lírian, Lordis e Eviina, os novos ajudantes de Damen, o acompanharam até o banheiro. Lírian tinha os cabelos lilás e sua pele era branca como as flores de um lírio. Seus olhos eram de lentes verde folha e seus dentes eram redondinhos como pérolas. Lordis era um homem baixinho e gordinho que parecia estar pegando fogo. Seu cabelo era de um vermelho vivo como se fossem chamas crepitando e suas vestes eram laranjas. A coisa mais chamativa em seu rosto eram as suas grandes pupilas como se fossem os globos de um gato. Eviina era a mais normal. Ela usava um vestido prateado e cachos loiros caíam por seus ombros, mas seus olhos eram de uma íris incrivelmente vermelha, como se o sangue tivesse as invadido. Adam foi limpo, a barba feita e o cabelo cortado, fazendo como se ele usasse um topete não tão exagerado quanto os encontrados na Capital.

Piscki deve ter batido na porta umas 13 vezes, porque Horquídia estava ocupada de mais cantarolando na cozinha e fazendo uma salada de frutas para atendê-lo. No final Piscki arrombou a porta com sua muleta e entrou.

–Ah, olá Piscki, ahh, não precisava ter quase estragado a porta. Poderia ter batido, não acha?

Ele bufou na cara da mulher, tateou algum lugar para sentar e depositou todo o seu peso sobre o pobre sofá.

Enquanto isso Damen se encontrava no quarto de Adam pensando, até que o menino invadiu o cômodo usando uma toalha branca em volta das pernas.

Adam sentou em sua cama e olhou para Damen. Os dois ficaram em silêncio por um tempo e durante isso, Adam se sentiu pequeno.

Ele estava ali de volta, se arrumando para se apresentar para Panem mais uma vez no Andar das Transformações com Damen e sua blusa branca e ele próprio com os tufos de barba em seu rosto. Ele lembrou da entrevista com Caesar e tremeu. Ele nunca ia fugir do que tinha passado.


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