Jogos- A Minha Batalha Começa escrita por Fran Marques


Capítulo 19
Eu sou um desastre


Notas iniciais do capítulo

Aqui vocês podem notar que eu coloquei em negrito algumas palavras. Elas são tão importantes para o texto em si quando para coisas que aconteceram comigo e que me levaram a escreve-las. Eu não me resisti e destaquei elas no texto.



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Piscki não poderia olhar, mas eu acredito se ele conseguisse, teria me atingido com um olhar melancólico e triste. Ele passou a mão por meu ombro e sussurrou:

-É a hora.

Eu queria resistir, me agarrar a cama e não sair dali nunca mais, mas eu não podia. Minha cabeça vasculhava um plano de salvar Adam e eu. Eu queria que nós dois voltássemos para casa, mas aquilo era apenas outro dos meus sonhos bobos feitos de histórias inimagináveis.

-Você me ajudaria a fugir? - perguntei a ele - 

-Sinceramente, faria qualquer coisa para fazer vocês sobreviverem e fugirem dessa prisão. Pena que é apenas algo que eu gostaria de fazer.  

Me aproximei de Piscki e dei uma batidinha em suas costas.

-Desculpa por tudo que eu fiz de errado e obrigada por tudo que me ensinou. 

Ele apenas sorriu, sem dizer mais nada se levantou e avisou:

-Vamos, Srta. Finiggad, ainda temos o café da manhã. - um sorriso amoroso cercou seu rosto e fomos tomar café.

Adam tinha passado toda a noite em claro, olheiras marcavam seus olhos castanho-esverdeados, o que o deixava melancólico. Ele me encara as vezes enquanto eu comia. Era um olhar de decepção. Aquilo me desmoronava. Quando eu ficava triste parecia que meu corpo inteiro ficava automaticamente doente. Em questão de depressão, não era nem um pouco transparente de achá-la em meu rosto.

Ele balbuciava os lábios, mas sons não saiam, ele balançava a cabeça em minha direção, como se tivesse me reavaliando. Vendo se eu era realmente suficiente.Nunca deixei de me sentir daquele jeito quando isso acontecia. 

Comi e desci, com uma simples camisola para o lugar aonde nos arrumávamos. 

Damen estava na mesma sala que nos encontramos no primeiro dia, a sala para a qual eu fui dirigida. 

Ele observou meu rosto triste e falou:

-Ei!! Não fique assim, só desista quando o jogo acabar!!

Eu sorri, fingindo que aquilo me animava, mas quando me lembrava do olhar de Adam, minhas alegrias se esvaiam. Eu tirei minha roupa e fiquei completamente nua na frente de Damen. Ele pegava algumas roupas, observava meu corpo, se iria se encaixar perfeitamente nelas e percebi que todas elas eram brancas. "Neve" pensei.

Damen fez o seu grupo de estilistas me darem um banho, esfregarem minha pele e pintarem minhas unhas. Meu cabelo tinha sido arrumado como para a entrevista. As margaridas falsas amarelas preenchiam os espaços da trança morena que caia por minhas costas, definitivamente, não era nada parecido com a garota em chamas.  Minhas unhas estavam em um degrade de preto, cinza e branco. Espetacularmente lindo. Minha pele estava cheirando a o que seria provavelmente, o meu último banho "seguro". Damen me vestiu com uma blusa branca, uma lã branca, um casaco branco, calças brancas e uma bota parecida como a que eu usara no treino, mas branca. Tudo, para mim, indicava que a arena seria de neve. 

-Esse casaco regula a temperatura que seu corpo precisa para manter se vivo, ou seja, não pense em nenhum segundo em tira-lo. 

Eu balancei a cabeça em afirmativo, indicando que tinha acompanhado tudo. 

-Você está linda, Florence Finiggad. - gostei como a voz dele soou ao falar todo meu nome. Agora meu corpo tinha começado a tremer. Cada segundo que se passava eu chegava mais perto da arena, mais perto do banho de sangue e mais perto da morte eminente. -

Acompanhei Piscki até um pátio aberto aonde tínhamos um aero deslizador. Subi por escadinhas de metal e fui presa por uma força surpreendentemente grande. Fiquei ali parada no ar, presa a uma escada enquanto uma mulher enfiava uma pílula em meu braço com uma grande vacina. O rastreador. Claro, seria muito desagradável os idealizadores perderem as peças de seu brinquedo ou perder as cartas do jogo. Ahh, aquilo era extremamente doloroso. Voltei para a companhia de meu mentor, agora acompanhado de Horquídia.

-Amn, Finnigad, agora você vai ir para a sala de espera com Damen. Tudo ok?

-Tudo ok. – confirmei –

Uma coisa me surpreendeu ali naquele momento Piscki apoiou sua bengala de metal na parede e me abraçou.

-Boa sorte, florzinha. – ele falou abrindo um sorriso para mim. – E que a sorte esteja a seu favor.

Horquídia congelou, também não esperava que ele poderia abraçar alguém, nãos no sentido de não conseguir mas...

Horquídia recobrou os sentidos e meu abraçou, beijando minhas bochechas, que por sorte não ficaram marcadas por seu batom azul.

Guardas nos separaram enquanto eu continuava perplexa, não esperava que Piscki, o homem que deixara sua aliada na arena para morrer sozinha com carreiristas poderia se apegar a algum tributo. Sua cabeça me seguiu até meus passos ficarem invisíveis para seus ouvidos. Ele fora um bom mentor.

Eu e Damen fomos levados para duas salas separadas dos outros, eu não vi nenhum tributo. Era apenas eu e Damen.

Naquela sala meu estilista me serviu um copo d'água, eu tomei a metade e senti o líquido gelado percorrer minha garganta e resfriar meu corpo, que fervia por baixo da roupa quente. Deixei o copo na mesa e sentei sobre ela. Damen me encarou com seus incríveis olhos azuis e pele branca. 

Eu tinha acabado de perceber que tremia, gotículas de água caíam por minhas bochechas e meu rosto ficava quente, enquanto meu coração disparava. Se você quer ter uma noção, sempre que algo vai acontecer e eu vai ter um impacto imenso sobre mim, meu rosto fica quente.

Damen aproximou-se de mim e me envolveu em seus braços, me abraçando.  Eu escondi as lágrimas em sua blusa e deixei elas fluírem.

-Tudo vai ficar bem. – falou Damen sussurrando em meu ouvido, iludindo uma criança. Até que eram boas aquelas ilusões, pensei. – Você vai voltar e vamos nos ver novamente. Me promete?

Olhei para ele, com as lágrimas ainda brotando de meus olhos castanhos, observei os deles azuis. Eu sempre quis ter uma íris como a dele.

-Prometo.

Uma sirene tocou, tínhamos mais 60 segundos.

Meu coração martelava exageradamente contra o meu peito, tão forte que tive medo que minhas costelas quebrassem. Abracei Damen muito forte, aquele poderia ser o último contato com uma pessoa realmente amiga que eu tinha.

Entenda que quando você tem apenas três dias e sabe que vai morrer, acaba se agarrando a qualquer pessoa que pareça ser boa, apesar de saber que aquilo não vai ser bom para a pessoa e que você faria muito melhor em deixa-la ir. Seu eu morrer, Damen vai sofrer, minha família vai sofrer e meus irmão vão lembrar de minha morte pelo resto das vidas deles. Eu fiz um mal para todos, no final. Eu sou um desastre.

Outra sirene tocou e meu coração pareceu ficar mais carregado, meus olhos se em encheram de desespero e meus músculos ficaram tensos. Era agora. A morte batia em minha porta com um sorriso aberto.


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