Os tributos teriam mais uma chance. Todos, de todos os prédios da aldeia! Mais uma chance de viver a vida, de viver nossas vidas, que foram precocemente arruinadas pelos Jogos. Mortes desnecessárias, muitas vezes complexas, íamos ter um destino justo. Pelo menos alguns deles, e eu esperava que fossemos nós, do prédio 74.

Eu e Cato corremos para a sala principal, esperando a chegada dos outros. Em pouco tempo, todos os 22 mortos estavam lá. E novamente o silêncio. Percorro os olhos por cada um, aparentemente estão inquietos, mas a quietude se torna permanente. Fixo o olhar em meus "aliados", esperando que sejam os primeiros a falar algo. Claro que não. Preparados para os jogos ou não, eles também tem medo, todos os tributos tinham. E nós,dos últimos jogos, somos os mais jovens, não temos a organização necessária que os outros tinham, algo que só se ganha com o tempo e a idade. Qual é? Éramos adolescentes, e embora os outros tributos também fossem, já haviam tido mais tempo para aprender algo no mundo inferior. Esse simples fato de não sermos tão preparados para vencer me deixou irritada, e eu desvio o olhar deles. Mas antes, eu percebo que Cato me encarava, esperando alguma reação minha, ou queeufosse a primeira a falar. Covarde. Eu solto um pigarro, e decido começar a dizer algo:

–Hm. E aí, quem vai nos representar?

Todos os outros 21 pares de olhos se viram para mim, e Cato solta um sorrisinho. Resisto a tentação de mandar um.. gesto "feio" para ele, e mostro a língua. Mas os tributos continuam a me encarar. Ótimo, virou minha função, ser "encarada" pelos outros.

–Você não vai? São quatro representantes não são? - pergunta inocentemente Rue.

Engulo em seco. Embora quisesse vencer, não acho que me daria bem, principalmente perto dos outros do Distrito 2, os "carreiristas" de antigamente. Ainda não me acostumei bem com a palavra carreirista, mas é o modo na qual mais se referem a mim, aos poucos vou aceitando.

–Eu vou! - diz Cato. Como eu já presumia.

–Também vou então. Você não vai se dar muito bem sozinho. - eu digo. E novamente, um olhar estranho de Glimmer, já está começando a me irritar. Mas ela sai de trás de Marvel, onde estava escondida durante esse pequeno debate silencioso, e se coloca no centro de todos.

–Eu vou também!!

Novamente, ficamos em silêncio. Glimmer? Ela não seria minha primeira escolha, qual era a habilidade dela afinal? No arco não era tão boa, e com certeza no combate corpo a corpo também não. Não digo nada, mas meus pensamentos são postos a tona, quando a garota do distrito 5 resolve falar, pela primeira vez desde que chegou, pelo que percebo:

–Olha, eles tudo bem. - ela aponta para mim e Cato. - Mas você? Vai morrer assim que soar o gongo dos jogos.

–É verdade Glimmer. - eu digo sem pensar.

Glimmer bufa, e nos fuzila com o olhar, bem ofendida, mas todos já concordam com murmúrios inquietos.

–Ótimo! Eu não vou, mas que você vá então, distrito 5! Quais são suas habilidades mesmo, querida?

–Ela sobreviveu na arena, até o finalzinho. E eu acho que não pegou nenhum suprimento da Cornucópia.- observa a garota do Distrito 8.

Novamente todos concordam. É verdade, ela foi a última garota a morrer na arena. Acredito que seria útil em um jogo onde a sobrevivência é tudo.

–Ok, ela vai. São três. Quem mais? - diz Cato.

Meu olhar passa por Marvel e Thresh, eles seriam bons aliados, eram fortes, mas já tínhamos Cato. e se tem uma coisa que precisávamos era esperteza. O distrito esperto, era dele que precisávamos agora.

– Distrito 3. - eu digo, sem emoção.

Os dois tributos do Distrito 3 me olham assustados. Não eram fortes, ou habilidosos com as armas, mas eram bem espertos. O garoto, Ian, se eu não me engano, havia feito aquela armadilha com as bombas quando estava na aliança, e a garota também parecia ser esperta, ela só teve muito azar na Cornucópia, e acabou morrendo.

Todos me olham como se eu fosse louca. Oque provavelmente sou. Mas se havia algo que tinha percebido, é que os jogos não se ganham apenas com força, e sim com inteligência e sagacidade.

– Vamos lá, qual de vocês vai? - eu pergunto esperançosa. Os tributos do 3 se olham, e decidem, em uma conversa silenciosa só com olhares.

–Eu. -diz o garoto.

–Ótimo, vamos apresentar nossa equipe para Hades.

Se até eu me acho louca, eles também devem achar. Cato, o garoto do Distrito 3, a garota do Distrito 5 e eu, representaríamos nosso ano, e tentaríamos ganhar, sendo que se um de nós chegar a sobreviver por último, ganharíamos a chance de uma nova vida. Pelo menos era oque achava. A morte não parecia justa, algo dentro de mim dizia que não seria assim tão simples.

Pode ter certeza de que a morte não é justa, Clove. Se prepare para todos os tipos de horrores na arena. Lembre-se de seus erros nos Jogos, e não os cometa novamente. Todos os tributos do 74° Jogos Vorazes contam com você. Agora, a vitória é por 22 pessoas, e não apenas para você. E tente ser mais gentil, pode te ajudar.

"Ah, cale a boca maldita voz misteriosa". Poderíam ter sido apenas palavras de incentivo, mas me deixaram confusa. Novamente. Talvez fosse coisa de meu pensamento mesmo, afinal a quanto tempo estava no Mundo Inferior? Semanas...

–Clove? - a voz de alguém a chamava. Glimmer.

–Ah, sim. Oque é?

– Eu acho melhor você ir agora, no palácio sabe? O quanto antes melhor.

Eu aceito a sugestão de Glimmer, e sigo caminho para o Palácio de Hades. Antes de chegar na porta, eu encontro Cato e o empurro para ir comigo, embora esteja um pouco brava com ele. E tenho que empurrá-lo por um bom tempo, pois ele tenta fugir e voltar para o prédio a todo instante. Já estávamos bem perto do destino, ele não poderia querer voltar agora, poderia?

–Ah, vamos logo Cato! Não seja covarde!

Ele para de andar. E fica imóvel, e eu não consigo mais o mover. No começo acho que ele apenas se ofendeu com minhas palavras. Então eu olho para frente, e vejo um garoto extremamente pálido, com cabelos negros e uma jaqueta de couro. A figura em si é um pouco assustadora. Mas oque mais me assusta é que ele se aproxima de mim.

–Olá Clove, eu sou Nico di Angelo, filho de Hades. Você deve me conhecer como "voz misteriosa".- ele ri. - Parece que já tem a equipe formada. Ótimo, vocês dois me sigam, eu vou levá-los a meu pai. - diz ele, sombrio.

A voz misteriosa era um semideus esquisito e filho de Hades.

'"Eu não sou esquisito, Clove",diz Nico em minha mente. Eu o respondo com o pensamento"Tenho minhas dúvidas disto".