Aaron passou alguns dias sem aparecer na faculdade. Passava boa parte do tempo no quarto, tentando se recompor da verdades que havia engolido dias atrás. Mas em momento algum isso o impediu de trabalhar. Ainda olhava os fundos da casa de Bryan como um futuro projeto artístico, e naquela época Aaron começou a desenhar seu primeiro projeto semestral sem mostrar nada para Bree até confirmar com Bryan sobre a ideia. Bree e Aaron haviam se falado algumas vezes por telefone desde que voltara do enterro do seu avô, mas Aaron não puxava muito assunto pois não queria ofender Bree com suas palavras frias.

Em uma daquelas manhãs Bryan fazia o café e andava pela casa tentando ignorar a presença de Aaron, mas naquela manhã a curiosidade falou mais alto.

- Sei que anda meio depressivo e sei lá como dizer isso, mas ainda existe vida lá fora. Não pode alimentar o luto apenas por desenhar o meu jardim. Qual é o plano? – falava enquanto entregava uma xícara de café para Aaron e sentava ao seu lado.

- Estava pensando em um projeto que artes que tenho que realizar. Achei que essa parte de trás seria uma ideia brilhante, pois é um local abandonado, mas ainda assim tão rico em arquitetura – respondeu tentando ignorar qualquer comentário maldoso de Aaron.

- Isso soa um pouco estranho, mas deixa eu ver se entendi: você quer pedir o meu jardim emprestado pra fazer um projeto?

- Sim.

- Não sei o que tem de interessante em concreto, anjos macabros e mato. Mas minha resposta é sim, desde que não destrua todo o resto da casa.

- Eu agradeço! – disse Aaron tentando sorrir.

Bryan o encarou por alguns segundos antes de partir para o próximo assunto.

- Por falar em projeto de faculdade... – dizia enquanto se dirigia a uma pequena mesa da sala e pegava uma carta.

- Chegou essa carta da faculdade, com o anúncio de um baile ou algo do tipo – olhava o papel enquanto entregava para Aaron.

Aaron lia enquanto Bryan continuava o encarando.

- Você vai? – perguntou ele.

- Talvez – respondeu Aaron.

- Com a Brielle?

- Eu não sei – dizia Aaron enquanto caminhava até a cozinha para deixar a xícara no balcão.

Bryan parou de o encarar nesse momento, não queria mais prolongar o assunto e subiu as escadas.

- É melhor se apressar se quiser uma carona! – gritou lá de cima.

- Não, obrigado! – gritou Aaron de volta.

Aaron voltou para o jardim e pensou duas ou três vezes se iria ou não para a faculdade. Sabia que estava começando a faltar um pouco mais do que o devido, mas achou melhor ficar mais um tempo em casa. Viu Bryan sair e poucos minutos depois ouviu um barulho na porta. Pensou que fosse Bryan que tivesse esquecido alguma de suas coisas. Mas era ela.

- Você? Aqui? De novo? – perguntou Aaron surpreso.

- Vai continuar com o interrogatório ou vai me convidar pra entrar?

Aaron abriu a porta e a deixou entrar. Pela primeira vez não ficou envergonhado por estar de pijamas na frente de Bree, todos se sentem um pouco mais sinceros quando estão com raiva. Essa é a verdade.

- Eu queria pedir sinceras desculpas por tudo que fiz nos últimos tempos – disse Bree.

- Pelo o que?

- Eu ignorei você no dia que acabei com o Kenny e no mesmo dia aconteceu aquele acidente na sua família. Eu não fui atrás porque sabia que você estava completamente chateado comigo, não queria me sentir hipócrita ou algo do tipo. Nossas conversas desde então se tornaram tão curtas e tão frias pelo telefone – falava sem conseguir encarar Aaron nos olhos.

- Às vezes as fantasias acabam. Nós dois erramos, eu também não tenho sido muito amigável.

Bree sentou-se olhando para a parede.

- Queria que um dia pudesse entender a minha situação – disse ela em voz baixa.

- Parece ser mais difícil pra você se abrir – disse Aaron.

- Às vezes...Não vai me oferecer nada? – perguntou ela quebrando o gelo da conversa.

- Desculpe. O que você quer? – disse Aaron tentando ignorar o que foi dito e agindo como um amigo. Tudo o que ele não queria.

- A última coisa que você bebeu, vejo um copo encima do balcão – dizia Bree enquanto se levantava do sofá e lentamente começava a observar a parte de trás da casa.

Abriu a velha porta antiga com uma velha teia contra mosquitos e começou a admirar o jardim abandonado. Parecia impressionada com o que via. Olhou para trás e viu um grande caderno de desenho no chão. Era o caderno de Aaron. Abriu o caderno e começou a ficar cada vez mais impressionada com a ideia que ele tivera para o projeto. Parou de olhar o caderno e viu Aaron na sua frente com um copo na mão.

- É o nosso projeto. Sei que você prefere chá do que café, então... – disse tentando ser engraçado.

- Esse lugar é perfeito! Por que não me avisou? Já teríamos começado há muito tempo – disse ela animada.

Pela primeira vez depois de um bom tempo Aaron não parava de sorrir de alegria, via o quanto Bree estava alegre e aquilo simplesmente o deixava louco por ela. Se aproximou dela lentamente, deixou a xícara encima da mesa e a beijou. Ela segurava o seu rosto enquanto o beijava.

- Também tenho que me desculpar por conta disso? – perguntou ele sorrindo.

- Não – respondeu ela sorrindo.

E também pela primeira vez os dois descobriram o quanto era bom. O quanto era bom estarem juntos. Talvez mais do que simplesmente amigos.