Sua cabeça estava a dois passos de estourar. O som das gotas de água batendo no azulejo branco do box se igualava a bombas explodindo ao longe. 

Ela era o tipo extremamente fraco para bebida. 

Daquelas que um copo de vodka é capaz de fazer com que os sentidos se perdessem. Do tipo que a ressaca era algo insuportável e completamente torturante. 

Merda, por que ainda bebia mesmo? 

Katniss deixou a água gelada escorrer por seu corpo, enquanto abraçava as pernas e depositava a testa em cima do joelho. Fechou os olhos forte, impedindo o sol que entrava pela pequena janela piorasse ainda mais sua dor de cabeça e ficou ali, em posição quase que fetal, esperando que a água a derretesse ou que o chão se abrisse sobre seus pés. 

Sentia-se extremamente envergonhada por tudo o que fizera a noite passada. 

Se era o arrependido a outra sensação que invadia-lhe sem nenhuma permissão, não tinha tanta certeza. Estava mais para satisfação do que para qualquer outra coisa. Porém, a vergonha estava acima de qualquer outra. 

Será que conseguiria encara-lo sem que a cor chegasse à suas bochechas? Sem que as lembranças - adoráveis diga-se de passagem - invadissem sua mente e a levassem para o banheiro de Madge novamente? 

Quem, em sã consciência, deixa essas coisas acontecerem no chão de um banheiro? 

Era culpa do álcool. Com certeza, tudo culpa dele. 

Caso ao contrário, jamais teria ido com ele, o - até então - melhor amigo do seu irmão desde… Bem, desde que se conhecia por gente. Havia crescido com Peeta e, por vários momentos, ele havia feito o papel de seu irmão mais velho.

Um irmão mais velho incrível irresistível e sedutor, o qual sempre teve curiosidade de sentir seus lábios sobre os dela. 

Ótimo, curiosidade resolvida. Havia descoberto um paraíso que jamais imaginaria ser possível. Sempre acreditou que aqueles beijos que te levam para o céu em questão de segundos e fazem com que borboletas se agitem em seu estômago eram coisas de livros, que jamais aconteciam de verdade. 

Bem, lá estava Peeta Mellark e sua adorável boca para provar o contrário. 

Por Deus, por que ele não poderia ter um defeito se quer? Além, é claro, de ser um completo galinha. 

Bufou alto, levantando-se do chão e finalizando seu banho. Precisa, com urgência, de um café preto e algumas aspirinas para diminuir as probabilidades de seu cérebro explodisse. 

Vestiu-se silenciosamente no quarto, na intenção de não acordar uma Annie completamente desmaiada, colocando uma calça de moletom escura e a primeira blusa que encontrou pela frente. Já de cabelos penteados, passou a toalha por uma última vez, jogando-a em um canto qualquer e saiu do quarto, encostando a porta atrás de si. 

Katniss desceu as escadas silenciosa, para não acordar ninguém da casa - graças ao horário incrivelmente cedo - e, ao entrar na cozinha, surpreendeu-se ao ver um loiro sentado em um dos quatro assentos da bancada. 

_ Caiu da cama? - Ela questionou, erguendo as sobrancelhas, enquanto caminhava até a cafeteira. 

Seu irmão mais velho limitou-se a dar de ombros, sem levantar a cabeça na bancada. 

_ Você também acordou cedo demais para quem passou praticamente a noite inteira fora. - Ele murmurou. - A propósito, como veio embora ontem? Fiquei de procurando por quase cinco minutos, até encontrar Madge e descobrir que você e Annie já tinham saído. 

_ Viemos andando. Annie não estava se sentindo bem. - Respondeu no mesmo tom, enchendo sua caneca de café. 

_ Ela está bem? - Finnick e sua preocupação fora do normal em relação à Annie. Katniss escondeu o meio sorriso, evitando um comentário maldoso. 

_ Só estava com um pouco de dor de cabeça, nada demais. - Suspirou, sentando-se na frente do loiro que só então ergueu o olhar. 

_ Não sei como você consegue tomar café sem açúcar algum. - Comentou com uma careta dominando suas feições bem desenhadas. _ Quer um cubo de açúcar? - Ofereceu o pote de prata que estava no meio das mãos, antes de pegar um e jogar dentro da boca. 

Ela se limitou a negar com a cabeça. 

_ Aconteceu alguma coisa, Kat? Você está… Calada hoje. Isso não é comum de você. - O irmão ergueu as sobrancelhas claras, a encarando

O problema de ser absurdamente próxima do irmão é o fato de não conseguir esconder absolutamente nada dele. Algo completamente frustrante. 

_ Posso te fazer uma pergunta hipotética, Finnie? 

_ Hipotética o caralho. O que se passa, irmãzinha? - Finnick a encarou com seus enormes olhos verdes como quem dissesse eu sei que tem alguma coisa errada e é melhor você dizer agora. _ Pensei que estaria radiante essa manhã, saltitando por aí. Vi quando você e o Peeta se pegaram. E não faça essa cara, eu sei bem que você dava em cima dele. - Ele cruzou os braços no peito. Katniss sentiu suas bochechas corarem levemente. _ Aliás, onde vocês se meteram ontem? Um minuto estavam bem na minha frente e no outro tinham sumido e depois… - Finnick parou de falar. Suas mãos sobre a mesa se fecharam em punhos enquanto suas bochechas começavam a ficar vermelhas, espalhando a cor por todo o rosto. 

Merda, ela sabia o que aquilo significava. 

_ Cassete! Eu vou matar aquele… 

_ Finnick, meu anjo, mamãe ainda irá lavar sua boquinha com sabão. - Antes que o loiro pudesse completar a frase, a adorável e delicada voz de Effie Everdeen entrou na cozinha instantes antes da própria passar pela porta. 

_ Desculpe mãe. Só que eu descobri que meu melhor amigo é um tremendo filho da puta que come… - Ele parou de falar assim que sentiu um chute forte debaixo da mesa. Finnick mordeu a língua, segurando um possível xingamento. 

_ Vai trabalhar hoje, mãe? - Katniss lançou, na tentativa de manter seu irmão de boca fechada. A ultima coisa que precisava no momento era de um interrogatório vindo de Effie. 

_ Tenho plantão hoje, mas prometo voltar cedo para jantar com os dois. Quero saber como foi a festa ontem. - Ela sorriu docemente. 

_ Aposto que Katniss tem histórias melhores para contar do que as minhas. - Finnick murmurou baixo o suficiente para apenas a morena ouvir. 

_ Comportem-se os dois. Tem comida na geladeira, fiz ontem. Por favor, tentem não botar fogo em nada. - Effie passou pelos dois, dando-lhes beijos nas testas. 

_ Você diz como se tivéssemos cinco anos, mãe. 

_ As vezes parecem que tem, filho. - Effie suspirou, antes de sair da cozinha mais uma vez. Finnick esperou até que ouvisse a porta da sala batendo para lançar um olhar significativo em cima da irmã. 

_ Não me olhe assim, Finnick! Você não é nenhum santo para vir com sermão em cima de mim. Além do mais, Annie já por você ontem a noite, fique tranqüilo. - Ela bufou baixo. 

_ Foi por isso que foram embora ontem, não foi? Você não queria ficar perto dele. 

_ Não queria ficar perto de você. Sabe que não consigo esconder nada, não gosto nem de imaginar o que você faria com ele. 

_ Vou quebrar a cara dele ainda. 

_ Aposto que ele nem lembra o que aconteceu, isso é completamente desnecessário. - Ela engoliu a seco, balançando a cabeça. Por que raios sentia seu coração apertado quando cogitava essa possibilidade? Não seria como se Peeta chegasse para ela e a pedisse em namoro por causa do que aconteceu ontem. 

Isso não aconteceria, nem em um milhão de anos. 

_ Nada que um soco não faça-o se lembrar. Abriguei-o debaixo do meu teto. - Finnick e seu dom de ser dramático. _ Aquele traidor!

_ Quem é traidor? - Katniss travou a respiração e sentiu seus olhos se arregalarem diante a terceira voz que surgiu na cozinha. 

Antes que ela pudesse desejar que o chão se abrisse sobre seus pés para sumir dali, uma nova figura passou pela porta. 

Este porém, estava com uma imensa cara amassada. De cabelos bagunçados, cara de sono e blusa branca apertada, ele estava a visão do paraíso. 

_ Um filho da puta aí. - Finnick respondeu, com seu típico sorriso cínico, fazendo Katniss revirar os olhos. 

Pensar em uma saída rápida da cozinha, de preferencia sem ser percebida, era um ótimo objetivo de vida. 

Ela se levantou, pegando a caneca que jazia seu liquido já frio e, antes que pudesse dar um único passo, sentiu seu olhar sobre ela. 

_ Bom dia, Kats - Peeta murmurou, sentando-se no banco ao lado do dela. 

Mantenha a voz firme. E não encare, sob possibilidade alguma, os olhos azulados dele. Eram o ponto para seu hipnotismo. E não seria nada legal ficar sem palavras na frente do irmão. 

Aquilo tudo já era constrangedor demais sem isso. 

_ Bom dia, Peeta. - Ela respondeu, sentindo suas bochechas corarem. Abaixou rapidamente o olhar e, por um breve segundo, sentiu-se tentada a encara-lo e tentar descobrir se havia alguma lembrança. 

_ Dormiu bem, Mellark? Imagino que sim, depois da noite passada. - Katniss sentiu uma enorme necessidade de matar o irmão naquele momento. 

Bufou alto, lançando um último olhar mortal para o mais velho, antes de se retirar na cozinha. Não queria participar daquela possível conversa, não mesmo.