Reyna respirava aceleradamente, suor escorrendo por sua testa. Seus sentidos estavam aguçados como jamais estiveram antes. As lâminas zuniam em seu ouvido, e ela conseguia se defender da maioria dos golpes, mesmo com sua pequena adaga.

Mesmo assim, apesar de toda a proteção e da adrenalina que escorria por suas veias, encobrindo os efeitos da dor, não estava ilesa. Sangue escorria pelo seu ombro esquerdo. Sentia a pele de seus dedos rasgar por conta da força com que segurava o punho de sua arma. A força das lâminas que se chocavam contra a dela não ajudavam a melhorar seus braços.

- Ali está ela! - Um homem gritou, e depois riu; um riso macabro e cruel. - Não pensei que seria tão fácil assim. - Sussurrou com sua voz grossa e rouca, mas Reyna conseguiu ouvir. Era um dos cobaias de Joffrey, sem dúvidas.

Reyna se virou com rapidez, encarando o homem, que agora vinha em sua direção. Assim como ela, ele não estava à cavalo. Ele agarrou seus braços, a prendendo por trás. Reyna o chutou, tentando conseguir liberdade, mas o homem era forte. Continuou tentando se virar, até conseguir. A pele de seus pulsos estava esfolada àquela altura.

- Acalme-se, garotinha. Comporte-se e não irei machucá-la. - O homem falou em tom zombeteiro. Seu rosto de pele oleosa era encoberto por uma sinistra cicatriz, e seus olhos brilhavam sadicamente.

- Imagino que não. - Com um puxão mais forte e ignorando a onda de dor que passou por seu pulso, Reyna se soltou de seu aperto. O socou, sua adaga passando pelo seu rosto, o sangue espiralando. - Talvez não esteja vivo para fazê-lo. - Ela derrubou o cadáver do homem no chão.

Continuou lutando, passando por cima de homens cujo principal objetivo não era matá-la, mas capturá-la. Sua armadura não era completamente firme, profissional e efetiva - era o melhor que Heidor pôde achar -, e grandes cortes surgiam em seu corpo. Podia sentir seu sangue escorrer. Agora, sem tanta energia e adrenalina, sentia dor e cansaço. Podia sentir seus músculos arderem a cada movimento, que se tornava cada vez mais difícil, mas não desistiria até tudo aquilo acabar.

De alguma forma, apesar de tudo, conseguiu alcançar Stannis. Sabia que era ele. Uma parte de seu rosto estava visível sob seu elmo e ele lutava com fúria e imponência, tentando proteger todos à sua volta das lâminas inimigas, como se cada uma das vidas ao seu lado estivessem em suas mãos.

- Você não deveria estar aqui. - Stannis murmurou rapidamente para Reyna, sem se desconcentrar. Sua voz soava como um grunhido rouco após os fortes gritos de guerra e a exaustão.

- Não iria ficar quieta com o reino no qual cresci sendo ameaçado. - Reyna retrucou momentos antes de ter de erguer o escudo para se defender de um soldado inimigo. Logo a batalha os distanciou novamente.

Pessoas pereciam. Pessoas do exército de Joffrey e pessoas do lado de Stannis. Os gritos ecoavam. A guerra se seguia por horas a fio, e o sol se punha em um mar de sangue, fortalecendo os tons de vermelho e tingindo o céu com um tom de luto e fúria. Reyna não tinha muita consciência do que estava acontecendo. Apenas sentia e via, os sons parecendo distantes, repelidos pela dor. Seus atos eram calculados apenas pelo instinto de sobrevivência, sem serem muito pensados.

E então, Joffrey conseguiu aproximar-se de Stannis, que estava despreparado, se concentrando em outro oponente - um de seus melhores lutadores, que certamente seria recompensado por ter deixado seu irmão como doce e desejada presa para o caçador. Ora, ao que parecia, a sorte lhe sorria! Joffrey ergueu sua espada, prestes a atravessá-la pela garganta do irmão, mas não pôde fazê-lo. Antes que pudesse, uma outra espada cortou a sua.