Quando a conheceu, ela estava sendo atacada por manequins que ganharam vida por força extraterrestre que ele combatia. Segurou em sua mão e disse uma única palavra: “Corra!” Ela atendeu prontamente o seu chamado e já ali, confiou nele cegamente. Quando a convidou para acompanhá-lo a bordo da Tardis, viajando pelo tempo e pelo universo, ela rejeitou de primeira, hesitante, mas ele voltou e a convidou de novo.

E ela aceitou.

Viajaram até o fim do mundo. Seguraram as mãos e comeram batata frita, vendo os restos da Terra em brasas rodeando a estação onde estavam. Foram ao passado, e aos confins do universo. Participaram da Segunda Guerra Mundial, enfrentaram daleks. Rose se surpreendia com o mundo dele, enquanto ele era inundado por uma avalanche de humanidade e paz. Ela o transformava.

Porém ele mudou.

Não só mentalmente. Seu corpo se regenerou depois que ela olhou diretamente para o vórtex temporal da Tardis. Ela absorveu todo o poder,se entitulou Bad Wolf para o salvar. Se tornou uma deusa poderosa, a ponto de transformar a nave imperial dalek em pó, e trazer a vida ao seu amigo Cap Jack Harkness. Porém, era humana. Foi aí que a beijou pela primeira vez, sentindo seus lábios sobre os seus e retirando o poder que a consumia. Ele mudou, mas ela não o abandonou.

Ele se apaixonou.

Era um Time Lord, isto é, um Senhor do Tempo. Sentia as rotações da Terra sob os seus pés, via as linhas do tempo e seus cruzamentos e finais, não morria, nem envelhecia. Possuía dois corações que pulsavam em seu peito, e que agora só possuíam uma única razão de existir. Rose. Ela o dominava com seu olhar aguçado, com sua mente brilhante. O seu sorriso inundava de alegria o seu ser e não precisava de muito para ser feliz. Ele podia afirmar que estando com ela, se tornava invencível. O doctor já havia visto de tudo em 900 anos de existência, e por isso só cria nela, pelo milagre que realizava todos os dias em sua própria vida.

Mas as paredes se fecharam.

O grande muro que separava a dimensão real dos outros universos alternativos se fechou, separando-os. Matando uma parte deles que apenas existia na presença do outro. Não havia Doctor sem sua Rose. Sentir a parede lisa, branca e imponente a sua frente, sabendo que o que mais precisava estava do outro lado do universo, separado por um vazio infernal apenas lhe trazia dor. Pura e intensa como nunca antes experimentara. Já havia perdido um planeta inteiro, uma raça completa, porém nunca haviam lhe tirado o ar de seus pulmões como agora. O seu sorriso aberto, sua alegria se fora sem nem um adeus.

E ele queimou um Sol para se despedir.

Só havia aquele método para dizer adeus: enviar uma mensagem holográfica. Apenas uma imagem para um último encontro com a pessoa que o transformara tanto. Ela estava linda, mas chorava por sua separação abrupta. Voltou a trabalhar no shopping, e ajudava o Torchwood daquele universo por conhecer uma ou outra coisinha sobre aliens. Ele sentia orgulho dela, mas era dominado por um sentimento egoísta de mantê-la para si, viajando na Tardis. Algo que não mais poderia realizar. E quando ela disse que o amava, pela primeira vez cogitou dizer aquelas três palavras intensas até para um senhor do tempo. Mas ele sentia cada uma delas dentro de si, em cada ato, em cada crença. Aquelas palavras faziam parte dele desde o primeiro momento, o primeiro toque de mãos.

Porém o portal se fechou.

E as palavras que o dominavam morreram na garganta, embaladas pelas lágrimas que escorriam de seus olhos e de seu coração partido. A solidão nunca o engolfara de modo mais brutal como agora que conhecia o real sentido do amor. E ele tinha de continuar vivendo... O mundo e todo o universo que o cercava necessitavam dele, apesar de seu sofrimento. Ele não fora feito para ser feliz para sempre, mas conhecera a felicidade. E a felicidade atendia pelo nome de Rose.

Sua Rose.