-Eu to MORRENDO de vergonha!- Falei, enquanto Nat brincava com o meu cabelo. Minha cabeça estava apoiada no seu colo e ela tinha uma expressão sonhadora.

-Pelo refrigerante?

-Natacha, você prestou atenção em alguma coisa que eu te falei nos últimos quinze minutos?

-Se eu disser que não, vou apanhar, certo? –Ela deu um sorriso, abaixando a cabeça para me olhar. Bufei.

-Eu to falando do amigo do meu irmão. –Respondi, dando um tapa no braço dela.

-O que aconteceu? –Ela perguntou, genuinamente confusa. É inacreditável que você passa QUINZE MINUTOS contando uma coisa, e a jumenta não escuta uma palavra do que você fala. Minha melhor amiga é uma retardada.

-Eu cheguei em casa e tirei a blusa ensopada, só que o amigo do Vince estava aqui.

-E ele te viu? Só de sutiã? –Ela perguntou, segurando a risada. Concordei com a cabeça. –Que mico!

-Olá meninas. –Vince falou, batendo a porta de casa atrás dele. Meu lindo irmão usava uma bermuda e uma blusa branca sem manga, deixando os braços malhados de fora. Quem vê o jeito que eu falo do meu irmão acha que eu sou apaixonada por ele. Nat mordeu o lábio inferior, me fazendo soltar uma risada. –Ela já te contou do mico de hoje?

-Qual deles? –Nat perguntou, voltando ao estado natural de confusão dela.

-Teve mais que um? –Vince perguntou, e eu percebi que o palhaço também estava segurando o riso.

-Ela tomou um banho de refri na escola hoje. –Vince não aguentou e soltou uma risada.

-Sério isso?

-Vou deixar os dois ai falando mal de mim e vou para a cozinha comer alguma coisa. –Resmunguei, levantando e seguindo em direção a cozinha, deixando os dois na sala. Vejam bem, eu não estava realmente com fome, mas nem morta eu ia ficar lá, com o Vince babando a Nat e a Nat babando o Vince. Eu tenho mais o que fazer, né? Minha paciência não é de ferro não.

Fui a cozinha, fiz uma lasanha daquelas de micro-ondas, comi a lasanha e ainda tomei sorvete. Eu devo ter levado uns trinta ou quarenta minutos fazendo isso.

Quando eu voltei, meu caro irmão e minha cara melhor amiga estavam se agarrando no sofá.

-Que cena amável.- Murmurei, fazendo os dois se afastarem num pulo, ofegantes. O rosto da Nat estava mais vermelho do que aquela vez que ela dormiu na piscina sem passas protetor, e vamos combinar, aquilo era BEMMMM vermelho. –Ah não, não parem por minha causa. Eu estarei lá em cima vendo Doctor Who. –Nat soltou um gritinho agudo, me fazendo rir. Eu já esperava essa reação.

-Não, não e não. Sem mim, você não vê Doctor Who. –Ela falou, abraçando Vince pelo pescoço.

-E você quer que eu fique fazendo nada enquanto vocês dois ficam se pegando? –Perguntei, vendo meu irmão corar. Tenho que confessar que era bem engraçado fazer isso.

-Eu sou o único que nunca assistiu Doctor Who nesse planeta? –Ele perguntou, para ninguém em especial, e Nat o olhou, quase ofendida. Depois seu rosto se iluminou com um sorriso.

-Podíamos fazer uma maratona Doctor Who. –ela sugeriu, animada. –Começar da primeira temporada com o nono Doctor.

-Olha, se a gente começasse da terceira, eu ia achar muito estranho. –Vince resmungou, com um pouco de sarcasmo na voz. Nat o ignorou.

-Amanhã não tem aula! –Ela exclamou, como se isso tivesse acabado de lhe ocorrer. Feriados, como eu amo eles.

-Amém. –Respondemos os três em coro.

-Ok, ok. Eu faço a pipoca, vocês arrumam os colchões. – Falei, indo em direção a cozinha (DE NOVO) –Sem ficar se pegando. –Falei, me voltando para eles, a apontando o dedo ameaçadoramente, o que não deu muito certo, por que eles começaram a rir.

 Voltei cinco minutos depois com dois baldes de pipoca com manteiga e os dois já tinham arrumado tudo, e estavam sentados no colchão conversando.

-Preparado para ver a melhor série da sua vida? –Nat perguntou, meio eufórica como sempre.

-Nós vamos assistir Castle? –Ele perguntou, recebendo um olhar mortal de Natacha. Vincent tem um amor enorme por Castle. –O que foi? Você disse que vamos assistir a melhor série da minha vi....

-NUNCA. COMPARE. DOCTOR WHO. COM. CASTLE! –Ela falou, entredentes.

-Não é justo. –Choraminguei. –São séries muito diferentes, não dá pra comparar.

-Claro que dá, tipo comparar Law and Order com Grey`s Anatomy. –Ele me olhou, com um sorriso idiota. Ele sabe meu amor por Grey`s. Dei um tapa nele, acertando sem querer a Nat.

-VADIA! –Ela exclamou, pegando o travesseiro das costas e tentando me acertar com ele, mas eu já tinha fugido. Corremos a sala toda, eu fugindo e ela tentando me acertar.

Cai no colchão, ofegante, e tomei uma travesseirada na cabeça. Nós três caímos nas gargalhadas.

Depois de quase cinco minutos de risadas constantes, me estomago já estava doendo e meus olhos lacrimejando.

Nos ajeitamos nos colchões, Nat se sentando do lado de Vince, e eu no canto. Vincent passou o braço sobre o ombro da Nat e nesse momento eu senti que ia sobrar legal essa noite. Não que eu tivesse alguma dúvida sobre isso antes.

No meio do segundo episódio, eu já estava começando a cochilar. Na estava com a cabeça no ombro de Vince e ele acariciava seus cabelos carinhosamente. Essa parada já tá ficando melosa de mais para mim. Eu nem me incomodo do fato de serem a minha melhor amiga e o meu irmão se pegando, só que eu não preciso ficar vendo isso. Vamos lá, eu tenho mais o que fazer.

Eu tinha certeza que do fim desse episódio não passava. Vince já tinha começado a distribuir beijos no rosto e na extensão do pescoço de Nat, que ria feito boba.

Momento da Emy se retirar.

Levantei, deixando os dois, que nem perceberam a minha saída. Subi, indo na direção do meu quarto. Chegando lá, me joguei na cama, afundando a cabeça no travesseiro e comecei a pensar nos eventos que tinham acontecido hoje.

Marvel esbarrando em mim, Daniel, Heiva com ciúmes, Daniel, tomei um banho de refrigerante, Daniel, Vince e Nat se pegando, Daniel, Daniel, Daniel...

Meus deusese, por que o rosto do Daniel não saia da minha cabeça? Eu nem conhecia o garoto direito. Eu mal tinha falado com ele por quinze minutos, e na maior parte do tempo, morrendo de vergonha.

Fechei os olhos, esperando que a imagem do rosto de Daniel sumisse na minha cabeça, mas, só pra contrariar, ela apareceu mais nítida ainda. Quando percebi, eu já estava dormindo.

De verdade, eu não me entendo.