Harry Potter e o Retorno dos Herdeiros escrita por Mateus Henrique


Capítulo 29
Capítulo 29 - O roubo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/25833/chapter/29

 Nostálgico, Harry contemplava o teto do dormitório da Grifinória. Uma semana... Esse era seu prazo até que sairia definitivamente da escola. Não tinha reais razões para voltar. Não era genial a ponto de ser professor...
  Pela milionésima vez (ou assim pareceu), Harry vasculhava a lembrança na esperança de encontrar um qualquer requisito de quem fosse o herdeiro de Hufflepuff. O máximo que conseguira, porém, fora refletir sobre a estátua que McGonagall lhe dera, imaginando se ali estaria guardado o segredo que tanto temia.
 -Eu já te disse - Hermione repetia constantemente. - Dê uma olhada na penseira que Dumbledore lhe deu. Vai lhe ajudar a pensar.
  Enquanto observava os cabelos flamejantes de Helga Hufflepuff em sua estátua agora guardada secretamente na tábua solta no soalho juntamente da espada e da penseira, o garoto era obrigado a aceitar que Hermione deveria ter razão. Ele sabia quem era o herdeiro de Helga. Mas esse conhecimento, no momento, estava perdido, enclausurado no meio de bilhões de lembranças que a ocultavam, impedindo-lhe de ter certeza.
  Ultimamente, Harry, juntamente dos amigos e de Gina, passava grande parte do tempo com Hagrid, que agora também estava informado dos segredos íngremes de Hogwarts, de seus fundadores e, mais atualmente, seus herdeiros.
 -Harry, por favor, não se preocupe com isso - dizia Hagrid desatento. - Hogwarts é muito bem protegida. Ninguém consegue entrar sem a permissão do diretor e, é claro - ele estufou o peito do tamanho de uma lombada de touro -, sem que eu lhe abra o portão.
 -Mas Hagrid, achamos que Colapogge esteja em Hogwarts... - Hermione parecia cansada.

 -O Bicuço deve estar com fome - disse Hagrid, tentando mudar de assunto. - Vou dar algo pra ele comer. Já volto.
 Hagrid saiu pela porta de madeira do casebre.
 Houve alguns instantes de silêncio entre eles.
 -O Hagrid está querendo se enganar - disse Hermione, preocupada.
 -Sabe de uma coisa - disse Harry de repente. - Acho que vou seguir seus conselhos, Hermione, e fazer uma visita à penseira.
 Hermione sorriu para ele.
 -E você está certo, Harry. Já têm alguma idéia de onde Rey Colapogge possa estar escondido?
 Harry balançou a cabeça.
 -Não - disse com sinceridade.
 Hermione, porém, tirou da bolsa de contas um pesado livro encadernado de capa dura.
 -Eu andei pesquisando nesses últimos dias... E já tenho uma idéia de onde ele possa estar se escondendo.
  Harry, que a muito não escutava uma notícia animadora, se levantou de repente, sentindo um sorriso brotar em seu rosto sem seu consentimento.
 -Mas eu não posso garantir nada! - Hermione apressou-se a dizer, percebendo a euforia de Harry com a notícia.
 -Mesmo assim já é um grande passo. Se descobrirmos onde ele está se escondendo, poderemos chamar o Ministério da Magia!
 Hermione balançou a cabeça.
 -Não acho que seja prudente, Harry.
 -Por que? - perguntaram Rony, Gina e Harry, em uníssono. No canteiro de abóboras, Harry entrava com Bicuço na Orla da Floresta.
 -Não é óbvio? A maioria dos bruxos do Ministério sabe quem foi Colapogge. Ao mandar uma carta a eles, acharão que é uma piada.
 -Não se explicarmos tudo na carta!
  -Harry, imagine que enviemos essa carta ao Ministério. Teremos que explicar tudo sobre as Horcruxes! Caso contrário, como os convenceremos de que um bruxo que viveu há mais de setecentos anos possa ainda estar vivo?
 -Criar Horcruxes não e o único meio de viver eternamente - lembrou Rony. Hermione o encarou ameaçadoramente. - Os bruxos do Ministério poderiam pensar que ele usou uma Pedra Filosofal.

 -Impossível – disse Gina. – A última Pedra Filosofal que existiu foi destruída há sete anos.
 Mais uma vez o silêncio.
  -Concluindo – disse Hermione. – Não podemos mandar uma carta ao Ministério os informando tudo sobre as Horcruxes. Aliás, ninguém pode saber que sabemos sobre Rey Colapogge! Vocês não entendem? Colapogge pode se transformar em uma águia. Uma águia. Se enviarmos ao Ministério uma carta, ela pode ser facilmente interceptada por ele. Se isso acontecer, ele vai saber que estamos caçando suas Horcruxes!
  -Ela têm razão – disse Rony em alto e em bom som. Harry percebeu que era mais pra por um ponto final na conversa do que concordar com a namorada.

 Decidindo que não poderia esperar mais, Harry resolvera engolir o orgulho e seguir o conselho de Hermione. Estava debruçado no chão do Salão Comunal, sozinho. Esse seria o último final de semana que os alunos do sétimo ano de Hogwarts passariam no vilarejo de Hogsmeade, mas, naquele instante, era de mínima preocupação. Aproveitara que o castelo estaria vazio e iniciava sua busca através das memórias mais apagadas que tivesse.
 Ele já vira, ao que parecia, metade de todas as suas lembranças. Aprendera com Hermione de como retira-las, colocando em forma do familiar vapor gélido e trancafiando em um frasco de vidro. Havia, ao lado da penseira enrustida, cerca de dez vidros contendo uma lembrança cada, uma mais longa do que a outra. Encostou a ponta da varinha de azevinho na têmpora, e instantes depois arrastou a lembrança do dia em que estivera pela primeira vez em Azkaban, meses atrás. Colocou o conteúdo dentro da penseira rúnica e mergulhou mais uma vez ao desconhecido.

 No instante em que os pés do garoto se descolaram do chão, ele viu, no fundo de um imenso túnel de lembranças o primeiro piso do castelo de Hogwarts. Ao aterrissar magicamente na escada de mármore que descia para a entrada do castelo no Saguão, viu que o seu outro eu aparecera correndo, seguido de Hermione em seus calcanhares, esbanjando perplexidade.
 Harry acompanhou-os até saírem pelo portão de carvalho e irem em direção aos jardins. Sua voz ecoou pelo ambiente vazio:
Hermione, onde fica Azkaban?
 O garoto viu sua própria confusão e medo no rosto da amiga. Agora ela sabia onde Harry queria ir...
O que vai fazer em Azkaban? Você enlouqueceu?
 Harry continuou enquanto eles passavam próximos da casa de Hagrid.
  Poucos diálogos depois, os dois espectros ergueram a varinha e simultaneamente convocaram suas vassouras; Saíram pelo portão que, Harry percebera agora uma coisa que não percebera antes: já estava aberto quando eles chegaram. Achou isso estranho mas prosseguiu nas pegadas dos dois.
 Logo, eles estavam em Hogsmeade, e no mesmo instante não estavam. Sentiu que a cena em sua frente se deformava, e agora o cenário era um grande deserto onde o sol da tarde na África não poderia afetá-lo.
 Harry teve que correr com todas as suas forças para acompanhar as vassouras que passavam velozes por ele, e nem assim conseguiu que elas não o despistassem. Logo, percebeu que não possuía cansaço físico. Somente quando pararam em frente a um enorme rochedo de pedra que não contrastava com o resto do ambiente ele conseguiu alcançá-los. Ao olhar para as extensões da montanha pedregulhosa, notou que Hermione provavelmente diria que fora enfeitiçada vertical e horizontalmente com um feitiço de extensão perpétua, para que estar nunca tivessem um fim e trancassem todos que quisessem passar por esse local.

 E assim eles entraram. Harry viu a amiga e a si mesmo escapando de uma labareda flamejante lançada por um grotesco e feroz dragão norueguês; Após um instante, uma nova labareda, e Harry agonizantemente se viu ser arremessado ao lado oposto da câmara escura após ter recebido uma pancada do rabo do dragão.
 Então um clarão iluminou os olhos de Harry: Uma imensa esfera de luz fora projetada no teto abobado da caverna, e finalmente ele pode ver os contornos do gigantesco dragão que ansiava a matá-lo.
 Harry tentava enfeitiçá-lo, mas era impossível acertá-lo já que, naquele momento, alcançara uma altura absurda.
 Um instante depois, ele e a amiga lançaram ao dragão um feitiço certeiro e cegante cada.
 O garoto sentiu uma pontada de remorso e agonia ao encarar os olhos do animal espirrarem sangue, fazendo poças no chão.
  Sabendo o que aconteceria a seguir, pressionou levemente os pés na pedra molhada da caverna e viu seu corpo saindo novamente na Sala Comunal.
 Sentou-se novamente no tapete empoeirado e se pôs a refletir. O dragão... A espada. Colapogge queria a espada... No entanto, foi ele que a pegou.
 O que aquela espada estava fazendo ali? Séculos e mais séculos escondidas? Como ninguém a encontrara antes?
  A única resposta plausível era que ninguém jamais conseguira passar pelo dragão antes. E mesmo assim, parecia improvável. Afinal, deveriam haver casos de bruxos tentando salvar seus entes queridos da prisão, e aquele era, por mais irônico que pareça, a ”entrada de visitantes” da prisão.

 Neste instante, as primeiras gotas do temporal que se aproximava tamborilavam na janela. Há menos de cem metros dali, o homem mutilado avaliava suas opções enquanto observava, em suas mãos cascudas e dilaceradas pelo tempo, o medalhão e a luva, na mão esquerda, ambas reluzentes de um ouro fino e puro, recantadas e lustradas pelo seu mestre mais dedicado.
 Durante alguns segundos, Colapogge contemplou a porta à sua frente. Um assomo de objetivos veio até ele como a chuva que entrava pela janela entreaberta às suas costas, molhando sua capa de viagem. Isso terá que ser feito...
  Enfiando a mão no bolso da varinha, ele apanhou a sua varinha. Uma das varinhas mais antigas que já existiram. Mogno, 25 centímetros, Pelo de Unicórnio. Comprada de um velho gagá, há muitos anos falecido pelas mãos dele próprio, chamado Deephy Olivaras. Uma ironia tão grande... Morto por uma obra que ele mesmo construiu.
  A sala onde se encontrava no momento era a mais bem-protegida de Hogwarts. Fechada. Vazia. Apertada e bem escondida. Faltava apenas um passo. Sua magia iria retornar ao mundo, a magia que ele negara por tantos e tantos anos, devido à confissão do mesmo bruxo do qual comprara sua varinha. Poder acumulado resulta em danos maiores, e mais arriscados... Apesar de ter se passado seiscentos e tantos anos desde que obtivera à força a informação, ela era clara como a água de uma cachoeira de sua cidade natal. Por sorte, Colapogge tinha uma memória incrível para alguém da sua idade...
 E então, logo faria novamente sua última e mais poderosa magia. Uma que ele mesmo criara. Apenas ele tinha conhecimento sobre tal feitiço. Nunca dissera a ninguém. A arte de multiplicar a alma... Tornar-se imortal. Com um sorriso no rosto e a excitação que antecedia o homicídio viva no peito, ele se levantou e saiu pela porta.

 Angustiado, Harry observava a última fagulha do sol de um dia claro de verão evaporar entre as nuvens arroxeadas de um novo clima tempestuoso. Trovejava forte àquela hora. O garoto perguntou-se quanto tempo demoraria para que os alunos de Hogwarts voltassem ao castelo.
 A enorme penseira rúnica jazia estirada e esquecida sobre o assoalho de madeira. Ao seu lado, havia vários frascos de lembranças, todas já visualizadas por ele, sem trazer algo algum. Harry se sentia frustrado. Um clarão seguido de um estampido fez com que ele se desse conta de que se fosse pego em tais circunstâncias iria receber perguntas embaraçosas.
 Relutante, levantou-se pesadamente do chão e correu até a janela mais próxima para olhar para o térreo. As gotas grossas do temporal bateram com força em sua nuca, e o garoto logo voltou para dentro. Lá embaixo, a professora McGonagall protegia uma trupe de alunos que voltavam correndo, dispersados entre os últimos pássaros que recuavam aos seus lares.
 -Melhor eu guardar isso... - disse Harry a si mesmo.
  Então houve um baque surdo lá embaixo. Harry imaginou que alguns dos alunos mais novos deveriam ter trombado entre si na correria.

 Calmamente, decidindo-se que não deveria se preocupar com pouco, subiu o primeiro degrau que levava aos dormitórios e parou de chofre.
 Um grito, perigosamente perto, ecoou nos arredores do sétimo andar. Com um baque, a espada e a penseira que guardaria tombaram e rolaram no chão, e Harry correu para porta.
 Porém, antes que pudesse entrar, o retrato da Mulher Gorda o surpreendeu abrindo-se, e dali entrou Hermione, o rosto lívido.
  -O que houve? - perguntou Harry rapidamente, anotando como um mal-pressário a amiga estar tão pálida. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.
 -A pro... profess... a professora... - ela caiu no choro.
  -Hermione, acalme-se! - bradou Harry enquanto a amiga derramava lágrimas no ombro de suas vestes. - O que houve? De que professora você está falando?
 Hermione secou as lágrimas na manga da blusa:
 -Ah, Harry... Aconteceu uma coisa ho-horrível... - ela parou alguns instantes para soluçar. - A professora McGonagall, Harry...
  -O que aconteceu com ela? - o pedido desesperado de Harry soou como um grito em um salão vazio. Pés arrastavam-se muito abaixo dali. As pessoas falavam aos berros. Alguém parecia se divertir.
 -Acho melhor você mesmo ver, Harry.
 A amiga saiu do Salão Comunal com Harry em seus calcanhares.
  Tenso, Harry desceu aos pulos as primeiras duas escadas, duas vezes imaginando ter visto vultos que contrariavam sua direção. Lembrou-se de pular o degrau falso e deparou com uma cena chocante, ali mesmo no saguão de entrada.
 Um corpo jazia estendido no chão. Uma poça de sangue formara-se em sua volta. O cadáver jazia com os braços e pernas abertos em ângulos estranhos. O coque em seus cabelos o distinguia aos demais. Em seu rosto, havia um óculos torto com aros de tartaruga.
 Minerva McGonagall estava morta.

 Cercando o cadáver da ex-professora, todos os alunos que foram a Hogsmeade berravam por ajuda. Durante o que pareceram longos instantes, Harry ficou pregado ao chão, meramente contemplando a cena. Então, com um solavanco, ele finalmente absorveu a realidade.
 -Vou buscar ajuda - disse ele.
 Harry subiu pelas escadas, mais veloz do que quando descera, tropeçando nos degraus, nas próprias pernas e se equilibrando com os braços esticados. Talvez, existia uma chance da professora estar viva... Precisava de ajuda urgente, e naquele momento só existia uma pessoa que poderia ajudá-lo.
  Parou, derrapando, na frente da gárgula de pedra que dava acesso à sala do diretor. Desesperado, bateu na gárgula com o punho como se chamasse por uma porta, gritando pelos quatro ventos senhas aleatórias, mas a gárgula não se mexeu.
 -Preciso falar com o diretor! - berrou Harry, dando um murro particularmente doloroso que fez os nós de seus dedos arroxearem.
  No fundo, ele sabia que o diretor não escutaria, por mais que gritasse. As paredes de Hogwarts geralmente eram muito grossas e bem protegidas. O professor Slughorn...
  Mas Harry se lembrou que o professor já estava lá embaixo na confusão, murmurando feitiços de proteção e tentando proteger os alunos.
 Ele sabia: A resposta era única. Rey Colapogge atacara novamente. Mas por quê? Por que escolhera McGonagall como seu alvo?

 Harry novamente desceu todas as escadas correndo; Parou derrapando na entrada do saguão e sua surpresa foi enorme.
  Parado ali, em sua frente, havia um homem de longas barbas negras e espessas. Seus olhos eram escuros e avermelhados. Tinha um cabelo avelã que caía-lhe sobre os ombros. Usava uma suéter de couro negra, uma longa capa de viagem e uma calça comprida. Aparentava ser muito velho, mas desprendia segurança.
 Ao seu lado, nada menos do que dez bruxos o rodeavam; Cada um tinha o mesmo símbolo gravado no blusão, na altura do peito: Uma varinha em vertical, cortada por duas letras: B e A. Sobre o símbolo, havia uma grande estrela vermelha.
 O corpo de McGonagall fora evacuado dali: Sobre ele, existia agora um manto protetor que impedia Harry de olhar novamente para a professora, o que foi uma pena; Harry queria, na verdade, se despedir dela.
 Gotas finas de sangue ainda estavam derramadas sobre o piso do saguão, onde um homem baixo e atarracado as examinava.
 -Quem são essas pessoas? - perguntou Harry a Rony, com urgência.
 -São do Ministério - respondeu o amigo entre vozes. - o de barba preta, é o Ministro.
 Harry olhou novamente ao homem.
  Sobressaltado, seus olhares se encontraram. Ele era carrancudo, a pelanca que escondia seu rosto o fazia parecer tão sombrio quanto o momento que vivenciavam. Harry desviou rápido o olhar para o que agora sabia que era o esquadrão de aurores do Ministério.

 Com cérebro trabalhando rapidamente, ele deu uma nova olhava no corpo encapado de McGonagall, nos bruxos espalhados pelo local, pela escadaria de mármore e na grande porta de carvalho que dava acesso aos jardins do castelo.
 -O que faremos agora? - perguntou Harry desesperado. - Minerva... Morta... Ela era a única que sabia do segredo, com a excessão de...
 -Hagrid - completou Hermione.
  -Como por encanto, uma massa escura e corpulenta se materializou na entrada do saguão. Hagrid entrou no recinto, trazendo uma grande enxada consigo.
 -O que está acontecendo? - indagou ele imediatamente. - Ouvi um grito. Estava carpindo o jardim e não pude deixar de ouvir...
 -Hagrid! - chamou Hermione. - Venha até aqui.
 O gigante se aproximou devagar, olhando para tudo aquilo.
 -O que está acontecendo? O qu...
  Mas suas palavras foram abafadas no instante em que seus olhos de besouro encontraram o volume encoberto que guardava o cadáver da ex-professora de Transfiguração.
 -O que...?
 -Hagrid... A professora McGonagall...
 O queixo do meio gigante caiu.
  -Mas o que é isso! - bradou ele, com a selvageria de Grope. E correu desabalado até o centro do saguão, provocando tremores. Então, três de seus homens entraram em sua frente para impedi-lo de prosseguir.
 -Saiam da frente! - urrou, erguendo a enxada. - Preciso conferir uma coisa!
 -Dê meia-volta, seu brutamontes - disse calmamente o Ministro da Magia, com a voz grave. - Ou terei de tomar providências.
  Instantaneamente todo o esquadrão de aurores virou de frente a Hagrid. Um deles tirou a enxada de sua mão acenando com a varinha, levitou-a e jogou-a pela janela, em direção ao lago.
 -Vocês não entendem! Eu preciso ver...
 E dizendo isso, deu dois passos a frente. Os aurores montaram guarda.
 -...Saiam do meu caminho! - bradou o gigante. Harry nunca o vira tão descontrolado. E então...

 Hagrid fez menção de tentar passar pelo seu bloqueio, mas um raio avermelhado acertou-o em cheio no rosto e ele caiu de costas, berrando.
 O próprio Ministro havia o azarado.
 -Não deveria ter feito isso!
 Harry agira sem pensar. Sacara a varinha do bolso das vestes e o erguera, ameaçadoramente, em direção ao Ministro.
  Mas antes que estivesse em plano de ataque, uma dúzia de feitiços o atingiram bem no peito: ele voou cerca de três metros pra trás, caindo, com um baque, no piso gelado. Sua varinha fora parar ao pé da escada, e Rony a recolheu.
 -Harry! – sussurrou Hermione em seu ouvido, assim que ele se levantou. – Não pode fazer isso! Você quer passar os seus últimos dias em Azkaban? Acalme-se... Hagrid está bem!
 O Ministro deu um passo a frente, de modo que ficasse a apenas alguns metros de Harry. O garoto agora percebeu que este usava uma bengala.
 -Ora, ora, ora. Harry Potter. Que surpresa.
  No rosto do homem havia uma expressão indefinida: um sorriso torto e repugnante. Ele falava lentamente, com sua voz gelatinosa que lembrava a um hinkypunk gripado.
 -Deve se achar muito corajoso, não é mesmo? eu já diria que não... O chamaria de inconseqüente, tolo e exibido.
  O ódio fervia em seu peito. Os amigos estavam agarrados em seus braços. Mesmo nunca tendo visto aquele homem, já sentia nojo daquele rosto.
  -Agora... – ele olhou para o esquadrão de Aurores. – Façam uma busca pelo castelo. Procurem por cada canto que puderem. Preciso dar uma palavrinha com o Sr. Potter.
 Harry entendeu aquilo como um mau agouro. Seria levado a Azkaban por um ato impulsivo?
 -Sabe... Esse instante demorou muito para chegar. Mas eu já esperava por isso.

 -Esperava pelo quê? – perguntou, tentando se soltar dos braços dos amigos. – Não me diga que sabia que Minerva McGonagall seria morta!
 O Ministro banalizou com um gesto.
 -Ah, isso são conseqüências, Potter. Você deve estar se perguntando como a sua professora foi morta, não?
 Harry o encarou nos olhos. Temia a resposta...
 -Foram setecentos, anos, Potter. O momento chegou.
  O susto da revelação fez com que Harry desse dois passos para trás; Bateu com força as costas na parede e caiu, sentado, no chão. Sua varinha escapou de sua mão. Momentaneamente sozinho, aproveitou para desarmar Rony e Hermione, que pegos de surpresa, não puderam reagir.
  -Socorro! - gritou Hermione, desesperada. Lágrimas brotavam em seus olhos. - Venha alguém aqui! Ele não é o Ministro, é um impostor, ele trabalha para o...
 -Silêncio! - gritou o Ministro, e gesticulando com a varinha, Hermione se silenciou. Harry e Rony também tentaram gritar, mas não obtiveram sucesso.
 -Eu não esperava que chegassem tão longe - disse o homem. - Rey Colapogge armou tudo muito bem para vocês. Vocês deveriam ter morrido quando o Nundu os atacou no Grimmauld Place. Não tiro o mérito de vocês... Eu mesmo não conseguiria enfrentar um bicho daqueles.
 Harry, esparramado no chão, tentou esticar o braço para a frente para apanhar sua varinha. Pelo canto dos olhos, percebeu que Rony tentava convocar a sua, e Hermione, pálida até os cabelos, parecia não ter força nem para se mexer. Neste instante, o homem caminhou e apanhou as três varinhas jogadas no chão e guardou-as no bolso.
 -Vai nos matar? - Harry repentinamente recobrou o poder da fala. novamente, temia a resposta.
  -Não. Não eu, e nem imediatamente. Você terá o direito de resposta... E acho que os outros dois ai não precisarão ser levados para o mesmo caminho.

 -Se tiver que matar um de nós, irá ter que matar a todos! - brandiu Hermione, se pondo de pé num salto.
  -SILÊNCIO! - gritou ele. Seus olhos pareciam em órbitas. - Potter! É sua última chance. Dentro de meia hora, o que você teme acontecerá. Se prepare.
 O falso Ministro jogou a varinha de azevinho no chão e, antes que Harry pudesse amaldiçoá-lo, desapareceu em uma nuvem de poeira.
 -Desgraçado! Desaparatou! - gritou Harry para os quatro cantos. Uma onda de fúria fundia-se com o medo ao olhar novamente ao cadáver de McGonagall, e a Hagrid desacordado.
 -Alguém desativou os feitiços de proteção! - disse Hermione exasperada.
  -Tudo bem, então. Tirem Hagrid do meio do caminho e tentem reanimá-lo. Ele sabe da história, e sabia de alguma coisa que desconhecíamos, pode ser importante. Hermione, não poderemos lutar sozinhos contra um exército de bruxos, então tente colocar alguns feitiços de proteção no castelo. Rony, tente avisar o máximo de pessoas possíveis sobre o que está acontecendo e tente arrumar alguma varinha. E eu... - Harry hesitou ao olhar as escadas de mármore em sua frente. - ... tenho que ir ver uma coisa.
Que burrice, a sua! disse consigo mesmo. Por que não fora mais cuidadoso? Por que não fizera as coisas direito? Colocara a vida de centenas de pessoas em risco...
  Harry subiu correndo as escadaria de mármore, encontrando apenas alguns fantasmas desocupados, e parou abruptamente em frente ao quadro da mulher gorda.
 -Bolas de neve! - disse ele. O retrato girou e ele entrou.
 Harry correu até o dormitório masculino. Uma onda de frio invadiu seu peito. Prendeu a respiração.
  No meio do dormitório, havia a penseira, e nada mais. A espada de Merlim havia sumido. O vento brisava à janela, fazendo chacoalhar as cortinas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harry Potter e o Retorno dos Herdeiros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.